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Tentativas de explicar vitória de Trump em 2016 retornam – 09/11/2024 – Mundo

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Na semana passada, eu comi um inseto na TV nacional. Começa assim um artigo que Sam Wang, fundador do Consórcio Eleitoral da Universidade de Princeton, publicou no jornal The New York Times dez dias após Donald Trump vencer a eleição americana de 2016.

Como tantos analistas estatísticos, ele não via a menor chance de o empresário ganhar aquele pleito contra Hillary Clinton. Então apostou: se o republicano levasse mais de 240 dos 538 votos no Colégio Eleitoral, ele degustaria a iguaria ao vivo. Trump levou 304.

Wang pagou a língua ao vivo na CNN, saboreando um “grilo ao estilo gourmet”, com mel. “A eleição deste ano me lembrará de adicionar uma boa dose de humildade no processo.”

Antes mesmo de Trump faturar a Casa Branca pela primeira vez, Dana Milbank, colunista do The Washington Post, duvidou que ele conseguisse superar outros 16 pré-candidatos dentro do partido para se tornar o presidenciável republicano. Se o empresário fosse o escolhido, ele engoliria suas próprias palavras.

Não deu outra. Um chef preparou um banquete usando como ingrediente o jornal impresso com a previsão furada de Milbank, que pediu dicas de receitas para leitores. “Dispensei as sugestões inúteis de que eu consumisse minha coluna com cianeto ou excremento”, escreveu ele à época.

Não faltou engenheiro de obra pronta para apontar como que democratas conseguiram perder para uma candidatura que “não deve ser levada a sério”, como chegou a decretar o Washington Post, e que merecia ser coberta por jornalistas de entretenimento, e não de política, segundo disse o Huffington Post no início da corrida eleitoral. O site desistiu do chiste conforme Trump ia ganhando fôlego nas pesquisas: “Não estamos mais entretidos”.

Diagnósticos vieram aos borbotões. O partido de Hillary, Joe Biden e Kamala Harris deu atenção demais a minorias historicamente oprimidas e de menos ao trabalhador branco médio, amargurado com a míngua de empregos industriais e a sensação de que o sonho americano já era. Não soube trabalhar com um eleitorado masculino ameaçado pelos avanços na luta por igualdade de gênero. Era todo ouvidos às bolhas urbanas progressistas das costas e foi incapaz de escutar o que tinha a dizer um miolo caipira com menos escolaridade e mais fé.

Não se espante se, oito anos depois, esses argumentos voltarem à superfície, incapazes de submergir só porque tanta gente preferiu ver o trumpismo como uma tromba d’água extemporânea à maré democrática. Algo que ia passar, bastava segurar firme. Continuar como está, agora, parece um abraço de afogados.

Haverá muita lição de casa a ser feita, e um amplo debate que se replica no Brasil e nos demais cantos em que o campo mais à esquerda levou uma sova eleitoral de uma direita muitas vezes radicalizada: é melhor caminhar para o centro, e tentar fazer as pazes com um eleitorado que já lhe teve mais apreço no passado, ou fincar o pé e partir para o enfrentamento ideológico?

Não há resposta óbvia para essa pergunta. Resgato aqui as palavras de David Brooks no (progressista) New York Times: “Sou moderado. Gosto quando os candidatos democratas correm para o centro. Mas devo confessar que Kamala Harris fez isso de forma bastante eficaz e não funcionou. Talvez os democratas tenham de abraçar uma perturbação ao estilo de Bernie Sanders —algo que fará com que pessoas como eu se sintam desconfortáveis.”

Não que isso seja a fórmula certa do sucesso. A única garantia, para esse polo, é que da forma como o barco vem sendo tocado, o naufrágio soa como profecia autorrealizável.

Em 2016, eu era correspondente do jornal em Nova York, incumbida de acompanhar justamente o pleito que consagraria Trump. Ninguém (a não ser metade do país) achava possível que ele fosse eleito.

Sobretudo após vir à tona um vídeo dos anos 2000 em que o republicano recomendava “pegar [mulheres] pela xoxota”, um entre tantos dos seus comentários sexistas, que atingiram de Kim Kardashian (“traseiro gordo”) a ex-adversárias políticas (“se Hillary Clinton não consegue satisfazer seu marido, o que a leva a crer que possa satisfazer a América?”).

Na ocasião, cheguei a me voluntariar, para fins jornalísticos, para trabalhar nas campanhas de Hillary e Donald. A atividade republicana se concentrou no subsolo da Trump Tower, onde ele morava numa cobertura tríplex decorada com mármore e ouro e cujo teto era coberto por uma pintura clássica.

Ali eu conheci Mike, um homem de 43 anos que trabalhou por 16 anos para a indústria automobilística. Foi demitido em 2015 e se mudou para Nova York atrás de emprego. Antes, ganhava o bastante para bancar a hipoteca de uma casa do subúrbio e, ainda que aos trancos e barracos, dar comida e lazer para a mulher e as duas filhas.

Na véspera, as meninas haviam dividido um pacote de macarrão com queijo, receita ultraprocessada de qualidade duvidosa, mais alguns biscoitos baratinhos. Michael fazia uns bicos, mas nada que lhe desse metade da renda mensal que tinha como assalariado. Queria uma vida melhor e se convenceu que, para isso, era preciso “dar uma sacudida em Washington”. Trump lhe parecia outsider o bastante.

Sua história não coube no texto que enviei à Folha há oito anos. Não sei se ele ainda gosta do republicano, nem se sua família prosperou. Queria ouvir mais do que Mike tem a dizer.



Leia Mais: Folha

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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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