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Txai Suruí faz pregação pela floresta e seus povos na Flip – 13/10/2024 – Ilustrada

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Fernanda Mena

Quando contou para uma parente, durante um encontro de comunidades indígenas em Paraty, que voltaria à cidade para a Flip, a ativista Txai Suruí, 27, ouviu: “Você também vai vender artesanato?”.

A pergunta parecia óbvia para sua interlocutora. Durante a festa literária, as calçadas das ruas principais do centro histórico de Paraty ficam tomadas de cestos coloridos, brincos e colares de miçangas, cocares e animais da floresta entalhados em madeira comercializados por indígenas.

Geralmente, o nosso povo não é da porta para dentro, da janela para dentro, mas é vendendo artesanato da porta para fora”, constata Txai, que é colunista da Folha e lança seu primeiro livro, “Canção do Amor” (Elo), na Flip.

“É uma responsabilidade fazer essa cobrança: eu não posso ser a única onde os meus não têm voz para falar. Quero abrir portas para ocuparmos esse lugar que é de construção do imaginário de nação como autores reconhecidos, pensadores e filósofos. Queremos esse lugar da intelectualidade também.”

Na ausência de seus pares nas mesas da festa literária, Txai se multiplicou. Esteve em duas mesas da programação principal e em vários debates e leituras da programação paralela da Flip. Falou de política e de eleições municipais, de marco temporal e de direitos indígenas, de seca e de desmatamento, de ativismo e de resistência.

“Falei um montão”, brincou ela na abertura da mesa extraordinária, Cessar o fogo, que dividiu com o analista ambiental Pablo L.C.Casella, autor de “Contra o fogo” (Todavia). “É o fogo que queremos combater ou são as pessoas que estão colocando fogo ilegal na mata?”, disse ela, que é uma das fundadoras do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e que ganhou notoriedade internacional ao discursar na abertura da Conferência da ONU pelo Clima de 2021, em Glasgow (Escócia).

Em sua peregrinação pelos debates, de cocar e chinelos, que coloca de lado para deixar os pés no chão durante as conversas, Txai apresentou seu discurso contundente sobre a luta dos povos originários pela preservação da natureza e convidou o público a acordar para a urgência da defesa da floresta.

“A luta dos povos indígenas é a luta pela floresta, pela vida. Vocês não querem viver?”, provocou ela na manhã deste sábado na Casa das Histórias, onde foi entrevistada pelo cineasta e autor João Moreira Salles, que apresentou trecho do documentário inédito “Minha Terra Estrangeira”, com lançamento previsto para 2025.

O filme dialoga com “Entreatos”, documentário de Salles que acompanhou a campanha de Lula para a presidência em 2002, e investiga o tipo de personagem político produzido pelo Brasil 20 anos depois, para o bem ou para o mal.

Para o bem, havia alguém como a Txai, um caso típico de uma geração que vem na esteira de políticas públicas bem sucedidas e da tomada de consciência política de quem entra na faculdade pela primeira vez”, conta o cineasta, que assina em correalização com o coletivo Lacapoy, de jovens cineastas indígenas do mesmo povo Paiter-Suruí de Txai, de Rondônia. O filme acompanha por 40 dias, em 2022, a campanha eleitoral para deputado federal do pai de Txai, o Cacique Almir Suruí, ao mesmo tempo em que a câmera de Salles registra a militância internacional da jovem liderança indígena em Nova York.

“Para quem é do campo democrático, a vitória de Bolsonaro naquelas eleições seria trágica e provavelmente sacrificaria a democracia brasileira. Só que a gente sabe que isso tem volta porque, depois de 21 anos de ditadura, foi possível recuperar a democracia”, explica Salles. “Mas ao acompanhar a Txai e o mundo dela, percebi que essa era uma questão existencial, de sobrevivência. E estar ao lado de pessoas para quem aquela eleição não era apenas uma questão de adiar a democracia, mas de abreviar a morte, foi uma experiência bastante radical pra mim.

“Durante a tarde de sábado, Txai esteve ao lado do jornalista Tiago Rogero, autor do podcast “Projeto Querino”, que virou livro pela editora Fósforo, em debate na Casa Folha mediado pela jornalista Paola Ferreira Rosa e intitulado “A nova história do Brasil”.

“A mesa dá ideia da luta compartilhada que negros e indígenas travaram juntos. Não existiria Brasil sem as pessoas negras nem sem as pessoas indígenas”, disse Rogero.

Txai contou a história de seu avô, que teve o primeiro contato com pessoas não-indígenas já adulto, nos anos 1960, e que enfrentou madeireiros em Rondônia na base do arco e flecha.

“Hoje é através da caneta que eles vêm nos matar, com projetos de morte como o da PEC 48, que quer inserir a tese do marco temporal na nossa constituição. Isso num país que nunca fez revolução agrária nem reparação histórica com nosso povo.

“Foi seu pai, Almir Suruí, quem lhe ensinou que a luta de seu povo não deveria ser mais com arco e flecha, mas com celulares e internet.

Quando Txai ainda era criança, Almir viajou à Califórnia para um encontro indígena e resolveu bater na porta do Google. “Ele dizia que não sabia nada de tecnologia, e que o Google não sabia nada de floresta. E sugeriu uma parceria de troca de conhecimentos”, conta a filha orgulhosa. “Ele sempre foi um visionário. E o apelo deu certo!”

A aldeia de Txai recebeu uma equipe da big tech para um treinamento. “Ensinaram a gente a mexer em e-mail, no Google Earth e em todas essas coisas do Google. E a gente construiu um mapa etnográfico da terra indígena Sete de Setembro, enxergou de onde vinham as ameaças ao território e começamos nosso projeto de reflorestamento.

“Foi sua mãe, a ativista Ivaneide Bandeira Cardozo, conhecida como Neidinha Suruí, que insistiu para que ela estudasse inglês e que batalhou para mandar a Txai para uma temporada na Irlanda, onde estudou a língua.

“Não são muitos os indígenas que falam inglês. E isso abriu muitas portas para mim e me permitiu alcançar outros lugares do mundo e levar para o mundo a nossa mensagem”, conta.

Nessas andanças, Txai fala da realidade do estado de Rondônia. “Se fala muito que o agronegócio carrega o Brasil. É uma falácia porque o agronegócio se beneficia de subsídios do governo e não devolve isso para sociedade”, afirma, citando o exemplo local.

“A cidade de Porto Velho tem o maior rebanho bovino do Brasil e foi classificada como a capital do país com os piores índices de desenvolvimento humano. A gente passou dois meses queimando e respirando fumaça, e ninguém fez nada. Quem está queimando? Por que está queimando? É para fazer pasto. Então, proteger os territórios que têm floresta é também a principal solução. E os principais locais que tem floresta em pé são as terras indígenas.”



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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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Curso de extensão da Ufac sobre software Jamovi inscreve até 26/10 — Universidade Federal do Acre

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Curso de extensão da Ufac sobre software Jamovi inscreve até 26/10 — Universidade Federal do Acre

O curso de extensão Jamovi na Prática: Análise de Dados, da Ufac, está com inscrições abertas até 26 de outubro. São oferecidas 30 vagas para as comunidades acadêmica e externa. O curso tem carga horária de 24 horas e será realizado de 20 de outubro a 14 de dezembro, na modalidade remota assíncrona, pela plataforma virtual da Ufac. É necessário ter 75% das atividades realizadas para obter o certificado.

O objetivo do curso é capacitar estudantes e profissionais no uso do software Jamovi para realização de análises estatísticas de forma intuitiva e eficiente. Com uma abordagem prática, o curso apresenta desde conceitos básicos de estatística descritiva até testes inferenciais, correlação, regressão e análise de variância.

Serão explorados recursos de importação e tratamento de dados, interpretação de resultados e elaboração de relatórios. Ao final, o participante estará apto a aplicar o Jamovi em pesquisas acadêmicas e profissionais, otimizando processos de análise e apresentação de dados com rigor científico e clareza.

 



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