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AMAZÔNIA

Um guia para entender as civilizações perdidas da Amazônia

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Pois é, “civilizações”, no plural. Arqueólogos do Brasil e do exterior estão mostrando que o passado da Amazônia foi muito mais complexo do que se imaginava até poucas décadas atrás. Escrevi um resumão desses achados fascinantes para a revista Aventuras na Históriaque também serve de aperitivo para meu livro “1499, o Brasil Antes de Cabral” (disponível na Livraria da Folhaentre outros lugares, por um precinho camarada). Confira a reportagem abaixo — e, se possível, o livro também!

O paulista Antônio Pires de Campos era um sujeito esquisito: um bandeirante que sabia escrever, e até bem. Em 1723, ele pôs no papel um relato sobre suas aventuras em Mato Grosso, nas quais chegou até as cabeceiras do rio Tapajós, incluindo uma passagem deslumbrada sobre a região que apelidara de “Reino dos Parecis”. Vale a pena lê-la:

“É esta gente em tanta quantidade, que se não podem numerar as suas povoações ou aldeias, muitas vezes em um dia de marcha se lhe passam dez e doze aldeias (…) estes todos vivem de suas lavouras, no que são incansáveis, e as lavouras em que mais se fundam são mandiocas, algum milho e feijão, batatas, muitos ananases, e singulares em admirável ordem plantados (…) muito asseados e perfeitos em tudo que até as suas estradas fazem muito direitas e largas, e as conservam tão limpas e consertadas que se lhe não achará nem uma folha.”

Em 27 de março deste ano, arqueólogos do Brasil e do Reino Unido publicaram dados na revista científica Nature Communications mostrando que não, Pires de Campos não tinha tomado algumas cachaças a mais quando enxergou esse cenário de organização agrícola quase alemã em plena Amazônia. Imagens de satélite e escavações permitiram que os pesquisadores identificassem 81 sítios arqueológicos até então desconhecidos no Alto Tapajós (um pouquinho ao norte da região visitada pelo bandeirante). As aldeias dessa região, provavelmente construídas alguns séculos antes do contato com os europeus, abrigavam uma população combinada que ficaria entre 500 mil e 1 milhão de habitantes, calculam eles.

Os povoamentos, que chegavam a ocupar até 20 hectares (cada hectare corresponde à área de um campo de futebol) eram circulares, cercados por valas e diques defensivos, possivelmente completados com muralhas de troncos de madeira. Monumentos feitos com montes artificiais de terra (chamados de mounds, em inglês) estavam presentes em várias das aldeias, assim como estradas.

As descobertas são importantes, mas não passam de uma pecinha num quebra-cabeças que está ficando cada vez mais coerente conforme as pesquisas arqueológicas se intensificam na Amazônia. “O mais importante é que os nossos dados fecham um buraco no mapa”, diz Jonas Gregorio de Souza, pesquisador brasileiro da Universidade de Exeter (Reino Unido) que é um dos autores do novo estudo. De fato, super-aldeias que mais pareciam cidades foram identificadas na década passada a leste dos novos achados, no Alto Xingu; a oeste, no Acre, já foram achados mais de 500 geoglifos – desenhos geométricos no chão que, ao que tudo indica, são os restos de centenas de centros cerimoniais pré-colombianos.

Repare que todos os complexos arqueológicos que citei até agora ficam na periferia sul da região amazônica. Há achados igualmente intrigantes na calha principal do rio Amazonas e de seus afluentes, em lugares como a ilha de Marajó, a região de Santarém (PA) e a Amazônia Central, perto de Manaus e do célebre “encontro das águas” dos rios Negro e Solimões. Embora a presença de amazonas de verdade (as mulheres guerreiras da mitologia grega, que extirpavam um de seus seios para usar melhor o arco e só se encontravam com homens para fins reprodutivos) muito provavelmente seja fruto da imaginação hiperativa de frei Gaspar de Carvajal, dominicano espanhol que foi o primeiro cronista europeu a atravessar a região em 1542, muitos outros dados relatados por Carvajal e outros autores dos primeiros séculos são verdadeiros. Cheia de gente e de monumentos, culturalmente vibrante e economicamente dinâmica: essa era a Amazônia pré-colombiana.

Tangas e cobras

O exemplo mais bem estudado dessas civilizações amazônicas talvez seja o da região leste da ilha de Marajó. Uma série de acasos geográficos fez com que essa área fosse repleta de campos alagáveis que lembram mais o Pantanal do que a imagem que normalmente temos da Amazônia. Mais ou menos a partir do ano 500 d.C., os moradores da região desenvolveram um sistema de construção de mounds (conhecidos por lá como “tesos”) e de represas que lhes permitia escapar enxutos à fase das cheias, de janeiro a junho, e controlar o suprimento de peixes que saíam do curso normal dos rios para desovar durante a inundação.

Tudo indica que, no alto dos tesos, desenvolveu-se uma cultura aristocrática baseada no controle dos recursos pesqueiros. A arte funerária em cerâmica feita para os senhores de Marajó é uma das mais requintadas das Américas, com motivos estilizados da fauna – em especial as curvas e as escamas de serpentes como a sucuri. Tangas de cerâmica com diferentes decorações parecem ter sido usadas em cerimônias ligadas aos diferentes estágios da vida feminina, levando em conta a simbologia da fertilidade nesses desenhos. A disposição geográfica dos mounds marajoara parece ter sido cuidadosamente planejada para proteger certos tesos maiores, que seriam centros cerimoniais e de moradias aristocráticas, e cercar as represas nas quais alevinos eram criados.

Subindo o rio, nas regiões das atuais Santarém (mais a leste) e Manaus (mais a oeste), os últimos séculos antes da chegada dos europeus viram um grande crescimento demográfico, a intensificação da atividade agrícola e, principalmente, do uso dos ricos recursos pesqueiros amazônicos. Santarém, em particular, tinha “complexidade e escala urbanas”, segundo a arqueóloga americana Anna Roosevelt (sim, parentes daqueles Roosevelt presidenciais), da Universidade de Chicago em Illinois. Seriam 15 quilômetros quadrados de área construída, com a produção intensiva de cerâmica ritual e dos famosos muiraquitãs, amuletos de pedra semipreciosa esverdeada (muitas vezes no formato de anfíbios) que circulavam por boa parte da América do Sul e até pelo Caribe como objetos de alto valor – mal comparando, como se fossem iPhones mágicos.

Mas, por enquanto, as marcas mais impactantes da presença humana na floresta vêm do Alto Xingu. Michael Heckenberger, antropólogo da Universidade da Flórida em Gainesville, junto com Carlos Fausto e Bruna Franchetto, do Museu Nacional da UFRJ, mostraram que, em primeiro lugar, havia cerca de dez vezes mais povoados indígenas na região antes do século 16 e que, de quebra, as maiores entre essas aldeias eram dez vezes mais populosas que suas equivalentes modernas, chegando a ter milhares de habitantes, similares a pequenas cidades medievais ou da Grécia Antiga.

Dados de satélite mostram estruturas cuidadosamente planejadas ordenando a antiga paisagem do Alto Xingu. As maiores aldeias, que provavelmente eram centros religiosos com até dois “terreiros” para festas sagradas, serviam como ponto de partida para uma rede de estradas que as cortava nos sentidos leste-oeste, norte-sul e direções secundárias em ângulos de 45 graus. Tais estradas chegavam a ter 50 metros de largura, estendiam-se por vários quilômetros e contavam com pontes e “acostamentos” feitos com terra. Esses grandes povoados contavam ainda com muralhas de toras de madeira, controlavam o cultivo de grandes lavouras de mandioca e pomares de pequi e, tal como em outros lugares da Amazônia, lagoas artificiais para a prática da piscicultura e a criação de tartarugas, cobiçadas por sua carne e seus ovos. Levando em conta todas essas evidências, estima-se que a população amazônica na época do contato com os europeus pudesse chegar a 8 milhões de habitantes (conta que inclui as áreas do ecossistema nos países vizinhos do Brasil). Como comparação, o Brasil só chegou perto da casa dos 10 milhões de habitantes no fim do século 19.

Sementes de línguas

Uma pista crucial da importância da Amazônia como berço de civilizações vem da linguística. Entre os povos nativos da América do Sul, a diversidade de idiomas é a regra. Nosso pedaço do continente tem cerca de uma centena de famílias linguísticas, o que dá pouco menos de um quarto do total mundial. Desse conjunto, nada menos que 50% corresponde a famílias de um único membro, as chamadas línguas isoladas, que não possuem parentes conhecidos.

E daí? Bem, a comparação com o Velho Mundo pode ser instrutiva nesse aspecto. Na Europa inteira, há uma única língua isolada (o basco, na Espanha), e quase todas as falas por lá descendem do tronco linguístico indo-europeu, o qual, como o nome indica, também ocorre na Índia, no Irã e em outros lugares da Ásia. Acredita-se que as línguas indo-europeias tenham alcançado tamanho sucesso graças a alguma vantagem competitiva de que gozavam seus falantes originais – hoje, a hipótese mais aceita é a de que esse “algo a mais” em favor deles tenha sido a domesticação do cavalo, conferindo aos primeiros indo-europeus o equivalente pré-histórico de tanques de guerra.

Expansões linguísticas similares podem ser vistas no Extremo Oriente – caso dos vários dialetos chineses, falados numa área gigantesca por mais de 1 bilhão de seres humanos – e na África, onde os idiomas bantos se espalham de Camarões à África do Sul. Nesses dois exemplos, a vantagem de tais grupos parece ter vindo do desenvolvimento de pacotes agrícolas pré-históricos muito eficientes, que permitiram que os ancestrais dos Han (grupo étnico dominante da China) e dos bantos se multiplicassem mais do que seus concorrentes, derrotando e/ou assimilando as populações que estavam no seu caminho.

A diversidade linguística sul-americana indicaria que nada parecido jamais aconteceu por aqui? Mais ou menos. Por um lado, de fato, nenhum grupo talvez tenha tido vantagens competitivas tão avassaladoras quanto os indo-europeus. Mas algumas famílias linguísticas, por outro lado, têm distribuições que abarcam milhares de quilômetros e dezenas de idiomas. “Quando a gente olha com mais calma, percebe que ocorreram expansões sul-americanas que não ficam nada a dever a esses processos do Velho Mundo”, diz Jonas de Souza. E é nesse ponto que a coisa fica interessante: quase todos esses grupos têm origem amazônica.

O mais famoso é um velho conhecido de qualquer pessoa no Brasil: os Tupi e Guarani, que se espalhavam por quase toda a costa brasileira (e um bom pedaço da uruguaia), bem como por pedaços substanciais do Paraguai e trechos da Amazônia, no começo do século 16. É praticamente certo, com base nos dados de diversidade linguística, que esse grupo tenha surgido na atual Rondônia alguns milênios antes do nascimento de Cristo.

Já as etnias da família linguística Aruak (que pode ter surgido no noroeste da Amazônia ou em outros locais da bacia) têm distribuição geográfica ainda mais ampla, da Bolívia ao Caribe. Os Taino, primeiros indígenas com quem Colombo topou em 1492, pertenciam a esse grande grupo; aliás, um estudo genético recente mostrou que eles eram parentes próximos dos Palikur, uma tribo que ainda vive no Amapá. E, a propósito, os mares caribenhos ganharam esse nome graças aos Carib, membros de outra família linguística de ampla distribuição e raízes amazônicas que também acabou navegando para a América Central e colonizou certas ilhas por lá. As alianças multiétnicas que hoje caracterizam o Alto Xingu envolvem principalmente grupos Aruak e Carib; acredita-se que um sistema parecido com o que existe hoje, mas numa escala muito maior, teria sido o responsável pela criação dos monumentos xinguanos da Idade Média, talvez sob coordenação original dos Aruak, grupo com tradição em comércio de longa distância e diplomacia em outros pontos da bacia amazônica.

A única grande família linguística nativa do atual Brasil que não tem essa associação próxima com a Amazônia é a Macro-Jê, mais típica da região central do país e de áreas do interior das regiões Sul e Sudeste (exemplos são, respectivamente, os Xavante e os Kaingang). “Mesmo assim, tenho colegas que trabalham com linguística que enxergam a maior diversidade Macro-Jê na fronteira sul da Amazônia”, aponta Souza – e essa é uma pista crucial a respeito do local de origem de uma família de idiomas: em geral, a área com a maior diversidade costuma ser o berço de um grupo, basicamente porque ele existiu ali por mais séculos e, com isso, teve mais tempo para se diversificar.

Considerando o que sabemos sobre outras expansões linguísticas mundo afora, faz sentido imaginar que as etnias amazônicas saíram na frente graças às suas práticas agrícolas, ao menos em parte. E, de fato, várias plantas importantes parecem ter sido domesticadas inicialmente na Amazônia ou em regiões próximas, espalhando-se de lá para o resto do continente. A lista inclui a mandioca, o abacaxi, o cacau, o amendoim e uma série de palmeiras frutíferas, como a pupunha – no total, calcula-se que mais de 80 espécies amazônicas acabaram sendo adaptadas para o uso humano. Além disso, o milho, vindo do México, obrigatoriamente teve de passar pelo território amazônico antes de chegar às demais regiões sul-americanas. Com tanta diversidade nas mãos, os grupos que deixaram o berço amazônico carregavam consigo um pacote tecnológico adaptado a diversos ambientes de floresta tropical – o que teria ajudado os Tupi e Guarani a colonizar regiões de mata atlântica, análogos costeiros da Amazônia, argumenta Souza.

Mistérios do colapso

Explicar o abismo entre o passado revelado pela arqueologia e o chamado presente etnográfico – ou seja, as condições relativamente modestas das sociedades amazônicas nos últimos séculos – envolve certa dose de conjecturas. Mais uma vez, é importante não enxergar a Amazônia como um único grande bloco civilizacional: até onde sabemos, cada região tinha sua própria dinâmica econômica e política, e não faz sentido esperar que todas caminhassem juntas.

Em Marajó, por exemplo, os aristocratas construtores de tesos parecem ter deixado de controlar os recursos pesqueiros e a vida ritual do leste da ilha cerca de dois séculos antes do primeiro contato com os europeus. Nessa época, cessam tanto o planejamento de novas estruturas monumentais quanto a produção em massa da arte marajoara “clássica”. Por quê?

Não está claro – há quem fale em flutuações climáticas que poderiam ter alterado o regime das cheias e, portanto, o controle dos recursos ligados a esses eventos do qual dependiam as chefias de Marajó. Mais ou menos na mesma época, as pistas trazidas pela cerâmica apontam para a chegada de forasteiros de idioma Aruak à ilha, o que pode ter ocasionado conflitos (apesar da fama de bonzinhos dos canoeiros Aruak) e alguma forma de caos político. Por outro lado, alguém mais cético e mal-humorado poderia observar que mudança climática e tribos invasoras são os mais tradicionais curingas da pesquisa arqueológica, invocados de modo meio genérico toda vez que algum processo catastrófico misterioso precisa ser explicado. Sem mais e melhores dados, fica difícil apontar o que é mais provável.

Da mesma forma, o trabalho de arqueólogos como Eduardo Góes Neves, da USP, indica que o auge das grandes aldeias da Amazônia Central veio pouco depois do ano 1000 do nosso calendário. Nos séculos seguintes, há sinais sinistros de conflito e de declínio: a área ocupada em alguns sítios arqueológicos encolhe, outros ganham paliçadas, valas e até sistemas defensivos que tentam transformar a ponta de uma península em ilha, separada da terra firme. Para Neves e seus colegas, em vez de uma progressão constante rumo a uma complexidade social cada vez maior, várias regiões da Amazônia passavam por processos de natureza mais cíclica, alternando crescimento populacional e centralização política com fases de população menor, mais dispersa e mais igualitária.

Essas ressalvas são importantes, mas o fato é que, no momento do contato com os europeus, todas as evidências apontam para uma região amazônica com população relativamente densa em quase todos os lugares. Como explicar, então, as transformações que levaram à feição atual das etnias da Amazônia, com suas sociedades relativamente móveis, igualitárias e de pequena escala? Se o que vemos em outros lugares das Américas pode servir de guia, a resposta para o enigma é simples: doenças infecciosas. Com efeito, um paradoxo muito similar ao amazônico também ocorreu no vale do rio Mississipi, nos atuais Estados Unidos. Os relatos de exploradores espanhóis do século 16, confirmados pela arqueologia, também falam em grandes populações e monumentos – muitos deles são mounds, vagamente similares aos de Marajó –, mas o cenário muda radicalmente do século 18 em diante, com o desaparecimento quase completo da monumentalidade e das organizações sociais complexas. A ideia é que os primeiros contatos com os invasores ibéricos, em ambos os lugares, teriam sido suficientes para desencadear a transmissão de micróbios do Velho Mundo contra os quais não tinham defesas biológicas.

Sarampo, varíola, gripe e outros assassinos microscópicos dizimaram os povos que encontraram as primeiras expedições – e também outros grupos que nem chegaram a ver um europeu, mas tinham contatos comerciais, diplomáticos ou bélicos com os visitados por espanhóis ou portugueses. Esse telefone sem fio epidemiológico está comprovado, aliás, no caso mais documentado do Império Inca. Antes que Francisco Pizarro e seu bando de aventureiros espanhóis iniciasse a conquista desse Estado andino, uma epidemia de varíola vinda dos territórios já conquistados pela Espanha ao norte matou milhares de habitantes dos domínios incas, incluindo possivelmente o próprio imperador Huayna Capac e outros membros da família real.

Algo muito parecido deve ter acontecido na Amazônia brasileira. É inegável que os povos indígenas atuais são herdeiros de milhares de anos da adaptação humana à floresta, mas a ironia é que suas sociedades atuais também podem ser descritas como sobreviventes de um apocalipse em miniatura. Ainda vai ser preciso muito trabalho para recuperar um quadro mais completo do mundo que esses povos perderam depois de 1500. Por Reinaldo José Lopes.

AMAZÔNIA

LIVRO E CULTURA: Vidas em fluxo à beira do rio Araguaia

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Livro de Francisco Neto Pereira Pinto apresenta as mudanças do meio ambiente e os aspectos intrínsecos da humanidade a partir da história de uma família ribeirinha.

À beira do Araguaia, a vida transcorre no mesmo ritmo da corrente. Ali, as águas são companheiras de uma família ribeirinha que atravessou casamentos, nascimentos e mortes ao lado de um dos maiores rios do país. Unidos por laços sanguíneos e um lar, pai, mãe, filho, filha e até os gatos se tornam os protagonistas da obra publicada por Francisco Neto Pereira Pinto, que convida os leitores a olharem para seus mundos internos a partir de experiências típicas da floresta amazônica.

Os 14 contos desta coletânea podem ser lidos de forma independente, mas juntos formam um mosaico da cultura daqueles que fazem da pesca artesanal, da pequena produção rural e do empreendedorismo familiar seus principais meios de sustento. Com uma linguagem poética, regionalista e experimental, os textos evocam uma memória ancestral sobre as tradições do Norte brasileiro.

A casa de Ana e Pedro no alto da ribanceira parecia ter sido feita para uma conquista como somente aquela cheia poderia impor. Uma noite espessa, pesada, úmida, escura e esvoaçante e a casa lá, com um candeeiro de chama nervosa e intensa, alimentada por azeite de mamona e pavio de algodão. (À beira do Araguaia, p. 43)

Sob o olhar ribeirinho, o autor atravessa questões essenciais do contexto social, ambiental e político do país. Entre as páginas, retrata a partida dolorosa de um pai que decide trabalhar com o garimpo em busca de melhores condições econômicas; as consequências da pesca predatória; os efeitos da destruição da natureza no cotidiano; e a história da Guerra do Araguaia. Temas como diferenças de gênero, racismo, saúde mental e luto também são abordados com um rigor estético que perpassa desde a escrita até as pinturas em acrílico de John Oliveira.

Com apresentação de Neide Luzia de Rezende, professora da Universidade de São Paulo, o livro reúne contos que se desdobram de forma similar a um romance. Sem uma linha cronológica definida, as histórias retratam as vidas de Ana e Pedro, que aparecem como protagonistas ou secundários em diferentes momentos; dos filhos Eve e Téo, com conflitos específicos entrelaçados a gênero e educação na contemporaneidade; além dos gatos Calíope e Dom, presentes para representar a força das relações entre humanos e animais.

Sobre o lançamento, que aconteceu no dia 3 e dezembro de 2024, no auditório da Reitoria, na Universidade Federal do Norte do Tocantins, em Araguaína, Francisco Neto Pereira Pinto comenta: “o projeto foi uma maneira de revisitar minhas memórias de menino, porque vivi até os 15 anos em uma vila à beira do Araguaia. Cresci ali, mas hoje vejo o rio secando, o meio ambiente sendo degradado e como isso afeta os ribeirinhos. Meu livro chama atenção para essa realidade. Tenho um desejo muito forte de preservar uma cultura que parece estar desaparecendo”.

FICHA TÉCNICA

Título: À beira do Araguaia
Autor: Francisco Neto Pereira Pinto

Editora: Mercado de Letras
ISBN: 978-6586089769
Páginas: 88
Preço: R$ 41
Onde comprar: Amazon

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Sobre o autor: Francisco Neto Pereira Pinto é professor, escritor e psicanalista. Doutor em Ensino de Língua e Literatura e graduado em Letras – Português / Inglês, leciona no programa de pós-graduação em Linguística e Literatura da Universidade Federal do Norte do Tocantins e nos cursos de Medicina e Direito do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos. Membro da Academia de Letras de Araguaína – Acalanto, publicou os livros: “Sobre a vida e outras coisas”, “O gato Dom”, “Você vai ganhar um irmãozinho”, “Saudades do meu gato Dom” e À beira do Araguaia.

 Redes sociais do autor:

Instagram: @francisconetopereirapinto

LinkedIn: Francisco Neto Pereira Pinto

Youtube: @francisconetopereirapinto

Site do autor: https://francisconetopereirapinto.online/

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AMAZÔNIA

Tarauacá engaja-se no Programa Isa Carbono para fortalecer Políticas Ambientais

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Tarauacá se destacou como um dos municípios engajados nas consultas públicas para atualização do Programa Isa Carbono, iniciativa vinculada ao Sistema de Incentivo a Serviços Ambientais (Sisa). Representantes das comunidades ribeirinhas, extrativistas e povos indígenas participaram do fórum organizado pelo Instituto de Mudanças Climáticas (IMC). Durante o evento, foram discutidos temas como REDD+, mercado de crédito de carbono e financiamentos climáticos, com vistas a garantir uma repartição justa de benefícios socioambientais.

O fórum incluiu a criação de Grupos de Trabalho específicos para as comunidades tradicionais, que apresentou propostas ajustadas às particularidades locais. Entre os encaminhamentos, foi pactuada a produção de materiais didáticos de fácil compreensão para os participantes, o que reforça o compromisso do governo em promover uma participação verdadeiramente inclusiva. A iniciativa foi amplamente elogiada por líderes comunitários, que enfatizaram o respeito às salvaguardas socioambientais e aos direitos das populações tradicionais.

Esse marco evidencia o protagonismo de Tarauacá na preservação ambiental e na luta contra o desmatamento ilegal. O sucesso da iniciativa dependerá da continuidade do diálogo entre governo e comunidades, com atenção especial à execução das políticas deliberadas no fórum. A mobilização comunitária fortalece não apenas a conservação ambiental, mas também a construção de uma economia sustentável para a região.

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ACRE

Morre em Rio Branco, Acre, vítima de problemas respiratórios causados por queimadas

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Rio Branco, AC – Uma pessoa morreu hoje na capital do Acre, Rio Branco, em decorrência de complicações respiratórias agravadas pela poluição causada pelas queimadas que afetam a região. De acordo com informações fornecidas pelas autoridades de saúde locais, a vítima, um morador da cidade, já apresentava um quadro respiratório debilitado, que se agravou devido à elevada concentração de fumaça e partículas no ar, resultado dos incêndios florestais.

A morte aconteceu em meio a uma crise ambiental que vem assolando o estado nas últimas semanas, com um número crescente de queimadas, que não só destroem áreas da floresta amazônica, mas também afetam gravemente a qualidade do ar. A Secretaria de Saúde do Acre alertou a população sobre o risco elevado de doenças respiratórias, especialmente entre crianças, idosos e pessoas com comorbidades.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou, nos últimos dias, um aumento significativo no número de focos de calor na região, o que contribuiu para a densa camada de fumaça que cobre Rio Branco e outras áreas do estado. Especialistas indicam que a poluição provocada pelas queimadas é altamente prejudicial, podendo desencadear e agravar doenças pulmonares e cardiovasculares.

Familiares da vítima relataram que ela vinha enfrentando dificuldades respiratórias nos últimos dias, e apesar de procurar atendimento médico, o agravamento de sua condição foi inevitável. “As queimadas têm prejudicado a saúde de todos nós, e, infelizmente, hoje perdemos alguém querido por causa disso”, lamentou um dos familiares. O nome da vítima não foi divulgado. 

As autoridades locais estão em alerta e já solicitaram apoio do governo federal para conter as queimadas e promover o atendimento às vítimas dos efeitos da poluição. Enquanto isso, a população de Rio Branco segue convivendo com os impactos das chamas, sem uma previsão clara de quando a situação será controlada.

A morte registrada hoje reflete um problema mais amplo que afeta grande parte da Amazônia, com consequências que vão além da destruição ambiental, atingindo diretamente a saúde pública e a qualidade de vida dos habitantes da região.

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