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Um novo começo depois dos 60: passei a vida com vergonha do meu cabelo – agora vejo-o como um campo de força | Vida e estilo

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Paula Cocozza

Gremando, Tina Shingler não tocou no cabelo como as outras garotas tocavam nos deles. Ela não se arrumava, acariciava ou penteava – embora às vezes escondesse canetas e cigarros nele. “Eu não tinha respeito por isso, porque ninguém mais tinha”, diz ela.

Como “filho de Barnardo”, o cabelo de Shingler representou um desafio para seus pais adotivos brancos, Mary, uma dona de casa, e Jack, um mecânico semiqualificado. Ela teve uma infância bastante feliz, mas a cada poucos meses era obrigada a se ajoelhar na sala de estar em Ripon, North Yorkshire, e descansar a cabeça no colo de Mary para ser “tosquiada”. A linguagem sempre foi animalesca, diz Shingler. Era “baixar a cabeça” e saber que seu cabelo era “algo para se livrar”.

Agora com 71 anos, Shingler “cresceu” seu cabelo a tal ponto que o transformou em material para discursos motivacionais e até escreveu um “armadura”.

Foi uma viagem à Índia em 2001 que lhe abriu os olhos para a sua difícil relação com o cabelo. Onde quer que ela fosse, as crianças apontavam e riam. Ela comprou lenços coloridos para cobrir a cabeça, mas as zombarias trouxeram de volta lembranças perturbadoras.

Como disse sua mãe adotiva, o cabelo de Shingler não seria “arrumado”. Uma preocupação, porque “você tinha que se endireitar e voar direito” – ou voltar para a “casa infantil do Dr. Barnardo” você iria. Quando criança negra, filha de mãe branca, Shingler foi levado ao orfanato do Dr. Barnardo em Worcester aos 18 meses de idade. (A instituição de caridade deixou de operar lares infantis em 1988 e mudou seu nome para Barnardo’s.)

Nas peças de Natal, ela sempre foi um homem sábio, mas a coroa se recusou a ficar em sua cabeça.

Quando adolescente, ela se espalhava com gel e dormia com rolos – priorizando a adaptação aos estudos, mas onde quer que fosse, seu cabelo parecia ser o que a fazia se destacar. Já na idade adulta, ela sonhava em passar um pente bem no cabelo, em sentir seu cabelo balançar e balançar.

Depois de se formar em italiano aos 20 e poucos anos, Shingler conseguiu um emprego na embaixada italiana em Washington DC. Ela “nunca esteve no meio de tantos negros” e achou que se encaixava.

“Diga, querido, o que vamos fazer com o seu cabelo?” um colega negro americano perguntou um dia e sugeriu que Shingler – que o usava naturalmente – reservasse um relaxante. Depois de cinco horas no salão, Shingler parecia “elegante e bem penteado”. Agora o pente passou facilmente pelo cabelo dela. Mas ela se sentia mais acorrentada do que nunca.

Manter seu estilo era demorado e caro. “E eu não gostei da minha aparência”, diz ela. “Comecei a apreciar meu próprio cabelo.”

O grande desafio surgiu quando ela teve uma filha, aos 30 anos, e se viu “projetando nela todos os meus medos de infância”. A penteadeira de domingo à noite foi dolorosa para os dois.

Shingler retornou ao Reino Unido no final dos anos 80 e se estabeleceu novamente em North Yorkshire, trabalhando como assessor de imprensa do governo. Aqui ela encontrou um cabeleireiro negro profissional – que sugeriu à filha um relaxante suave, para se divertir com o cabelo. Shingler concordou, mas “fiquei muito enojada comigo mesma”, diz ela. “Eu me senti culpado.” No entanto, a sua filha, então com 10 anos, era “totalmente responsável” pelo seu cabelo – e “isso foi positivo”.

Anos mais tarde, Shingler estava folheando diários antigos. “E continuei vendo essas referências ao cabelo” ao longo das décadas – como ele era visto, como ela se sentia a respeito. Naquela época, ela tinha 63 anos e trabalhava como assistente de estudos do sexto ano, tendo abandonado uma tentativa de se aposentar na Itália.

“Pensei: ‘As crianças ainda são incomodadas por causa dos cabelos’. Isso me fez pensar sobre minha sobrevivência nos anos 60 e comecei a mapear minha experiência pessoal e como era navegar por ela.” Ela preparou uma palestra, alugou um salão local, convidou amigos para oficinas e entregou-a em escolas, bibliotecas, festivais e instituições de caridade. A resposta foi tão positiva que ela transformou o discurso em um livro.

“Estou escrevendo sobre cabelo, estou escrevendo sobre política, estou escrevendo sobre feminismo, estou escrevendo sobre justiça racial, estou escrevendo sobre acolhimento inter-racial, estou escrevendo sobre economia”, diz ela. “Sim, é cabelo. Mas para mim, e para muitas mulheres como eu, isso significa muito.” Seu cabelo, diz ela, é “um campo de força. Quase me protege. Há muita energia neste cabelo.”

Hair Apparent de Tina Shingler é publicado pela Biteback (£ 20). Para apoiar o Guardian e o Observer, compre o seu exemplar em livraria.theguardian.com. Taxas de P&P podem ser aplicadas



Leia Mais: The Guardian

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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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