AMAZÔNIA
A REDE DE MARINA SILVA: Quando ela deixará de ser a eterna herdeira?

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7 anos atrásem

Marina Silva herdou o espólio social de Chico Mendes quando o ambientalista foi assassinado. E não capitalizou. Em seguida recebeu o legado político de Eduardo Campos e, mesmo assim, não conseguiu levar adiante a sua candidatura. Desta vez, assumirá os votos da esquerda que iriam para Lula. Ela irá desperdiçar novamente esse precioso trunfo?
Que a ex-senadora Marina Silva possui luz própria é inegável. A intensidade do brilho é que poderia ter sido mais vigorosa, se a presidenciável da Rede não fosse pródiga em desperdiçar as oportunidades que, não raro, desabam em seu colo. Mais precisamente, os espólios políticos herdados quase que de bandeja, ao longo de sua trajetória política. Cavalo encilhado não passa duas vezes, reza o provérbio popular. Marina já extrapolou a cota. Recebeu a visita da sorte duas vezes. Foi assim na década de 80, quando despontou como liderança no vácuo da popularidade do ex-líder seringueiro Chico Mendes e, em 2014, quando deslanchou na corrida presidencial a partir do trágico acidente aéreo envolvendo o ex-governador Eduardo Campos. Nas duas ocasiões, frustrou aliados e apoiadores que apostavam todas as fichas em vôo mais altos da política acreana. Agora, como numa reprise, Marina morena se pinta para a guerra eleitoral com importante vantagem sobre seus oponentes. Desponta como a principal beneficiária da saída de Lula da disputa pelo Planalto nas eleições de outubro. Sem o ex-presidente na disputa, ela alcança 16% das intenções de voto e fica muito perto de uma vaga no segundo turno.
Apesar do cenário favorável, nem a Rede, sua legenda, e nem a própria Marina traçaram estratégias para fidelizar o eleitorado órfão a partir da saída do petista do páreo. “O voto não está em uma cesta do Lula ou da Marina. O eleitor dá seu voto e depois recolhe para si próprio. Ele tem que votar em quem acredita”, desdenha a própria pré-candidata. O deputado Aliel Machado (Rede-PR) vê com naturalidade a transferência de votos de Lula para Marina Silva, por terem histórias de vida parecidas. Mas reconhece que é preciso consolidar essa herança para construir uma candidatura forte. “Apesar de a Marina ser uma candidata conhecida, hoje ela é maior que a Rede. O partido é pequeno, mas ela tem muito potencial e força política. Precisa consolidar isso”, afirmou.
Os obstáculos
Com estilo discreto, muito criticado por opositores que a acusam de só aparecer em ano eleitoral, Marina terá que superar pelo menos três barreiras para se firmar como legatária dos votos de Lula: pouco tempo de propaganda no rádio e na televisão, estrutura partidária frágil e menos recursos para financiar a campanha – a Rede deve receber cerca de R$ 10,7 milhões do fundo eleitoral, o 22º maior valor entre os 35 partidos registrados no TSE. Para isso, nas últimas semanas, os articuladores de sua candidatura entabularam conversas na tentativa de ampliar o leque de alianças. Se não lançarem candidatos próprios, o PPS e o PSB são alvos em potencial. Setores do partido defendem a união com legendas com as quais ela se coligou em 2014: PHS, PSL e PRP. O problema é que o PSL já está de casamento marcado com Jair Bolsonaro, que hoje margeia os 20% nas pesquisas, restando apenas o papel passado. “É cedo para afirmar, mas não vejo a Marina como favorita nesta eleição”, cravou Murilo Hidalgo, do Instituto Paraná Pesquisas.
O maior obstáculo, no entanto, reside no próprio comportamento da ex-ministra do Meio Ambiente. “É uma pessoa maravilhosa, séria e encantadora. Mas não é fácil lidar com ela, politicamente falando. A postura, muitas vezes, é de anti-candidata”, reclama um conhecido apoiador. Ela pouco viaja pelo País, aparece de vez em quando em programas de televisão e se comunica mal com o eleitorado. Quando demonstra desenvoltura, o faz pelas redes sociais. É naquele ambiente que Marina se sente mais confortável para disparar ataques aos partidos tradicionais. “PT, PSDB, PMDB e DEM precisam de quatro anos sabáticos para reler seus programas. São partidos que deram suas contribuições, mas se perderam no apego ao poder”, escreveu.
A vocação de herdeira de Marina começou no Acre, na década de 80, quando ela conheceu o líder seringueiro Chico Mendes, então presidente do Sindicato dos Seringueiros de Xapu. Foram muito amigos e companheiros de luta por anos. Juntos, fundaram CUT do Acre, em 1985. No ano seguinte, Marina se filiou ao PT e compôs chapa com Mendes: ela se candidatou à deputada federal e ele a deputado estadual. Ambos foram derrotados. E o movimento dos seringais desidratou. Na eleição de 1988, Marina se elegeu vereadora por Rio Branco. No mesmo ano, Chico Mendes foi assassinado. Em 2014, Marina era a vice na chapa do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Um acidente aéreo levou à morte de Campos ainda no início da campanha. Marina, então filiada ao PSB, assumiu o posto e concorreu à Presidência. Cresceu nas pesquisas e, em alguns cenários, apareceu em segundo lugar, à frente de Aécio Neves (PSDB-MG). Apesar de conquistar 22 milhões de votos, não chegou ao segundo turno. Mudar a história é possível, mas exigirá da candidata mais do que apenas gerir um legado que ela sempre deixou escapar por entre os dedos.
A trajetória de Marina
Infância difícil
Nascida em um seringal próximo a Rio Branco, no Acre, em 1958, Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de Lima é filha de um seringueiro e uma dona de casa. Vivendo em meio à precária produção de borracha, sobreviveu a doenças como hepatite, leishmaniose e malária. Aos 16 anos, mudou-se para a capital acreana onde foi alfabetizada pelo Mobral.
Entrada na política
Professora de ensino médio, Marina debutou no movimento sindical e fundou a CUT no seu estado ao lado do ativista Chico Mendes. Filiou-se ao PT na década de 1980. Na primeira eleição da qual participou, em 1986, foi derrotada na disputa por uma vaga na Câmara Federal. Dois anos depois, elegeu-se vereadora de Rio Branco.
Senadora precoce
Depois de um mandato como deputada estadual, Marina foi eleita ao Senado Federal. Com apenas 36 anos, tornou-se a senadora mais jovem da história da República.
Eleições 2010 e 2014
Lançou-se candidata à Presidência da República pelo PV. Apesar da pouca estrutura, conquistou o coração de quase 20 milhões de eleitores.Em 2013, tentou registrar no TSE a Rede Sustentabilidade, mas não conseguiu a aprovação. Filiou-se, então, ao PSB, sendo incorporada à chapa de Eduardo Campos como candidata a vice. Após a morte do pernambucano, em trágico acidente aéreo, assumiu a cabeça de chapa. Chegou a liderar as pesquisas, mas despencou na reta final e não chegou nem ao segundo turno. Por Tábata Viapiana.
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LIVRO E CULTURA: Vidas em fluxo à beira do rio Araguaia

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5 meses atrásem
11 de dezembro de 2024Livro de Francisco Neto Pereira Pinto apresenta as mudanças do meio ambiente e os aspectos intrínsecos da humanidade a partir da história de uma família ribeirinha.
À beira do Araguaia, a vida transcorre no mesmo ritmo da corrente. Ali, as águas são companheiras de uma família ribeirinha que atravessou casamentos, nascimentos e mortes ao lado de um dos maiores rios do país. Unidos por laços sanguíneos e um lar, pai, mãe, filho, filha e até os gatos se tornam os protagonistas da obra publicada por Francisco Neto Pereira Pinto, que convida os leitores a olharem para seus mundos internos a partir de experiências típicas da floresta amazônica.
Os 14 contos desta coletânea podem ser lidos de forma independente, mas juntos formam um mosaico da cultura daqueles que fazem da pesca artesanal, da pequena produção rural e do empreendedorismo familiar seus principais meios de sustento. Com uma linguagem poética, regionalista e experimental, os textos evocam uma memória ancestral sobre as tradições do Norte brasileiro.
A casa de Ana e Pedro no alto da ribanceira parecia ter sido feita para uma conquista como somente aquela cheia poderia impor. Uma noite espessa, pesada, úmida, escura e esvoaçante e a casa lá, com um candeeiro de chama nervosa e intensa, alimentada por azeite de mamona e pavio de algodão. (À beira do Araguaia, p. 43)
Sob o olhar ribeirinho, o autor atravessa questões essenciais do contexto social, ambiental e político do país. Entre as páginas, retrata a partida dolorosa de um pai que decide trabalhar com o garimpo em busca de melhores condições econômicas; as consequências da pesca predatória; os efeitos da destruição da natureza no cotidiano; e a história da Guerra do Araguaia. Temas como diferenças de gênero, racismo, saúde mental e luto também são abordados com um rigor estético que perpassa desde a escrita até as pinturas em acrílico de John Oliveira.
Com apresentação de Neide Luzia de Rezende, professora da Universidade de São Paulo, o livro reúne contos que se desdobram de forma similar a um romance. Sem uma linha cronológica definida, as histórias retratam as vidas de Ana e Pedro, que aparecem como protagonistas ou secundários em diferentes momentos; dos filhos Eve e Téo, com conflitos específicos entrelaçados a gênero e educação na contemporaneidade; além dos gatos Calíope e Dom, presentes para representar a força das relações entre humanos e animais.
Sobre o lançamento, que aconteceu no dia 3 e dezembro de 2024, no auditório da Reitoria, na Universidade Federal do Norte do Tocantins, em Araguaína, Francisco Neto Pereira Pinto comenta: “o projeto foi uma maneira de revisitar minhas memórias de menino, porque vivi até os 15 anos em uma vila à beira do Araguaia. Cresci ali, mas hoje vejo o rio secando, o meio ambiente sendo degradado e como isso afeta os ribeirinhos. Meu livro chama atenção para essa realidade. Tenho um desejo muito forte de preservar uma cultura que parece estar desaparecendo”.
FICHA TÉCNICA
Título: À beira do Araguaia
Autor: Francisco Neto Pereira Pinto
Editora: Mercado de Letras
ISBN: 978-6586089769
Páginas: 88
Preço: R$ 41
Onde comprar: Amazon
Booktrailer no Youtube
Sobre o autor: Francisco Neto Pereira Pinto é professor, escritor e psicanalista. Doutor em Ensino de Língua e Literatura e graduado em Letras – Português / Inglês, leciona no programa de pós-graduação em Linguística e Literatura da Universidade Federal do Norte do Tocantins e nos cursos de Medicina e Direito do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos. Membro da Academia de Letras de Araguaína – Acalanto, publicou os livros: “Sobre a vida e outras coisas”, “O gato Dom”, “Você vai ganhar um irmãozinho”, “Saudades do meu gato Dom” e À beira do Araguaia.
Redes sociais do autor:
Instagram: @francisconetopereirapinto
LinkedIn: Francisco Neto Pereira Pinto
Youtube: @francisconetopereirapinto
Site do autor: https://francisconetopereirapinto.online/
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Tarauacá engaja-se no Programa Isa Carbono para fortalecer Políticas Ambientais

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5 meses atrásem
6 de dezembro de 2024Tarauacá se destacou como um dos municípios engajados nas consultas públicas para atualização do Programa Isa Carbono, iniciativa vinculada ao Sistema de Incentivo a Serviços Ambientais (Sisa). Representantes das comunidades ribeirinhas, extrativistas e povos indígenas participaram do fórum organizado pelo Instituto de Mudanças Climáticas (IMC). Durante o evento, foram discutidos temas como REDD+, mercado de crédito de carbono e financiamentos climáticos, com vistas a garantir uma repartição justa de benefícios socioambientais.
O fórum incluiu a criação de Grupos de Trabalho específicos para as comunidades tradicionais, que apresentou propostas ajustadas às particularidades locais. Entre os encaminhamentos, foi pactuada a produção de materiais didáticos de fácil compreensão para os participantes, o que reforça o compromisso do governo em promover uma participação verdadeiramente inclusiva. A iniciativa foi amplamente elogiada por líderes comunitários, que enfatizaram o respeito às salvaguardas socioambientais e aos direitos das populações tradicionais.
Esse marco evidencia o protagonismo de Tarauacá na preservação ambiental e na luta contra o desmatamento ilegal. O sucesso da iniciativa dependerá da continuidade do diálogo entre governo e comunidades, com atenção especial à execução das políticas deliberadas no fórum. A mobilização comunitária fortalece não apenas a conservação ambiental, mas também a construção de uma economia sustentável para a região.
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Morre em Rio Branco, Acre, vítima de problemas respiratórios causados por queimadas

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8 meses atrásem
6 de setembro de 2024Rio Branco, AC – Uma pessoa morreu hoje na capital do Acre, Rio Branco, em decorrência de complicações respiratórias agravadas pela poluição causada pelas queimadas que afetam a região. De acordo com informações fornecidas pelas autoridades de saúde locais, a vítima, um morador da cidade, já apresentava um quadro respiratório debilitado, que se agravou devido à elevada concentração de fumaça e partículas no ar, resultado dos incêndios florestais.
A morte aconteceu em meio a uma crise ambiental que vem assolando o estado nas últimas semanas, com um número crescente de queimadas, que não só destroem áreas da floresta amazônica, mas também afetam gravemente a qualidade do ar. A Secretaria de Saúde do Acre alertou a população sobre o risco elevado de doenças respiratórias, especialmente entre crianças, idosos e pessoas com comorbidades.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou, nos últimos dias, um aumento significativo no número de focos de calor na região, o que contribuiu para a densa camada de fumaça que cobre Rio Branco e outras áreas do estado. Especialistas indicam que a poluição provocada pelas queimadas é altamente prejudicial, podendo desencadear e agravar doenças pulmonares e cardiovasculares.
Familiares da vítima relataram que ela vinha enfrentando dificuldades respiratórias nos últimos dias, e apesar de procurar atendimento médico, o agravamento de sua condição foi inevitável. “As queimadas têm prejudicado a saúde de todos nós, e, infelizmente, hoje perdemos alguém querido por causa disso”, lamentou um dos familiares. O nome da vítima não foi divulgado.
As autoridades locais estão em alerta e já solicitaram apoio do governo federal para conter as queimadas e promover o atendimento às vítimas dos efeitos da poluição. Enquanto isso, a população de Rio Branco segue convivendo com os impactos das chamas, sem uma previsão clara de quando a situação será controlada.
A morte registrada hoje reflete um problema mais amplo que afeta grande parte da Amazônia, com consequências que vão além da destruição ambiental, atingindo diretamente a saúde pública e a qualidade de vida dos habitantes da região.
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