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Alucinações da inteligência artificial ajudam cientistas – 29/12/2024 – Ciência

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William J. Broad

A inteligência artificial (IA) é frequentemente criticada por criar informações que parecem factuais, mas são falsas, fenômeno conhecido como “alucinações”. Esses erros plausíveis já causaram confusão em sessões de chatbots, processos judiciais e até registros médicos.

No ano passado, uma afirmação falsa de um novo chatbot do Google contribuiu para uma queda de cerca de US$ 100 bilhões no valor de mercado da empresa.

No universo da ciência, no entanto, os inovadores estão descobrindo que as alucinações da IA podem ser incrivelmente úteis. As máquinas inteligentes estão “sonhando” com realidades irreais que ajudam cientistas a rastrear o câncer, projetar medicamentos, inventar dispositivos médicos, descobrir fenômenos climáticos e até ganhar o Prêmio Nobel.

“O público pensa que é tudo ruim,” diz Amy McGovern, cientista da computação que dirige um instituto federal de IA. “Mas, na verdade, está dando aos cientistas novas ideias. Está oferecendo a eles a chance de explorar possibilidades que talvez nunca tivessem considerado.”

A imagem pública da ciência é de algo frio e analítico. Porém, as primeiras etapas da descoberta científica são muitas vezes repletas de palpites e especulações. “Tudo vale” é como Paul Feyerabend, filósofo da ciência, descreveu esse momento de liberdade criativa.

Agora, as alucinações da IA estão revitalizando o lado criativo da ciência. Elas aceleram o processo pelo qual cientistas e inventores desenvolvem novas ideias e as testam para verificar sua viabilidade. É o método científico —só que turbinado. O que antes levava anos agora pode ser feito em dias, horas ou minutos. Em alguns casos, esses ciclos acelerados de investigação estão ajudando a abrir novas fronteiras.

“Estamos explorando,” diz James J. Collins, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que recentemente elogiou as alucinações por acelerarem sua pesquisa em antibióticos inéditos. “Estamos pedindo aos modelos que criem moléculas completamente novas.”

As alucinações da IA surgem quando cientistas ensinam modelos computacionais generativos sobre determinado assunto e deixam as máquinas reorganizarem essas informações. Os resultados podem variar entre erros sutis e ideias surreais —e, às vezes, levam a grandes descobertas.

Em outubro, David Baker, da Universidade de Washington, recebeu o Prêmio Nobel de Química por sua pesquisa pioneira sobre proteínas, moléculas fundamentais para a vida. O comitê do Nobel destacou sua capacidade de criar rapidamente proteínas completamente novas, inexistentes na natureza, chamando o feito de “quase impossível”.

Antes do anúncio do prêmio, Baker comentou que os surtos de imaginação da IA foram essenciais para “fazer proteínas do zero”. A nova tecnologia, diz ele, ajudou seu laboratório a obter cerca de cem patentes, muitas voltadas para o cuidado médico. Uma delas é para um novo tratamento contra o câncer; outra, para combater infecções virais globalmente. Baker também fundou ou ajudou a criar mais de 20 empresas de biotecnologia.

“As coisas estão avançando rápido,” afirma. “Mesmo cientistas que trabalham com proteínas não sabem o quanto isso progrediu.” Quantas proteínas seu laboratório já projetou? “Dez milhões —todas novas,” ele responde. “Elas não existem na natureza.”

Apesar do apelo das alucinações da IA para descobertas, alguns cientistas consideram o termo enganoso. Para eles, as criações da IA generativa não são ilusórias, mas prospectivas —têm chance de se tornar realidade, como conjecturas feitas nas primeiras etapas do método científico. Por isso, evitam o uso da palavra “alucinação”.

Ainda assim, especialistas reconhecem que as criações da IA científica têm vantagens significativas em relação às alucinações de chatbots. Essencialmente, os impulsos criativos da IA científica estão fundamentados nos fatos sólidos da natureza e da ciência, diferentemente das ambiguidades da linguagem humana ou das falhas da internet, com seus vieses e inverdades.

“Estamos ensinando física à IA,” explica Anima Anandkumar, professora do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). Segundo ela, essa base física em fatos confiáveis gera resultados altamente precisos. Ela também observa que os modelos de linguagem de chatbots não têm um método prático para verificar a precisão de suas afirmações.

O teste final, ressalta, ocorre quando os cientistas comparam as criações digitais com a realidade física. “É preciso testar,” enfatiza Anandkumar. “Algo novo projetado pela IA precisa ser validado.”

Recentemente, Anandkumar e sua equipe usaram alucinações da IA para criar um novo tipo de cateter que reduz drasticamente a contaminação bacteriana —um problema global que causa milhões de infecções urinárias todos os anos. O modelo de IA gerou milhares de geometrias de cateter e escolheu a mais eficaz. As paredes internas do cateter possuem espinhos em forma de serrilha, que impedem as bactérias de se fixarem e subirem para infectar a bexiga dos pacientes. A equipe agora discute a comercialização do dispositivo.

Apesar de elogiar a utilidade da IA, Anandkumar evita o termo “alucinação”. No entanto, outros pesquisadores adotaram a palavra. Harini Veeraraghavan, chefe de um laboratório do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, usou o termo em um artigo sobre o uso de IA para melhorar imagens médicas borradas. Seu título inclui “MRI Alucinado” (sigla para ressonância magnética).

Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin também abraçaram o termo: “Aprendendo com Alucinações” é o título de um artigo sobre navegação de robôs. E Pushmeet Kohli, chefe da divisão científica da DeepMind, elogiou as alucinações por promoverem descobertas. Ele comentou pouco depois de dois colegas da empresa ganharem o Nobel de Química junto com Baker.

“Temos essa ferramenta incrível que consegue demonstrar criatividade,” afirma Kohli. Um exemplo, diz ele, é como um computador da DeepMind venceu o campeão mundial de Go em 2016. O ponto decisivo do jogo foi o movimento 37. “Achávamos que era um erro,” ele conta. “Mas, com o desenrolar do jogo, percebemos que era um golpe de gênio. Esses modelos conseguem produzir percepções muito novas.”

McGovern, diretora do instituto de IA, é também professora de meteorologia e ciência da computação na Universidade de Oklahoma. Ela sugere que as alucinações da IA poderiam ser descritas de forma mais técnica como “distribuições de probabilidade”, um termo antigo no mundo da ciência.

Meteorologistas, segundo ela, já utilizam IA para criar milhares de variações sutis de previsão do tempo. Essa riqueza de possibilidades permite identificar fatores inesperados que causam eventos extremos, como ondas de calor mortais. “É uma ferramenta valiosa,” conclui McGovern.



Leia Mais: Folha

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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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