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As capitais em que a disputa é entre democracia ve…

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Matheus Leitão

Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba, entre as 15 capitais que estão escolhendo o prefeito em segundo turno, são as cidades que merecem muita atenção na reta final desta exaustiva disputa municipal. O leitor até poderia dizer que seria mais fácil esse texto sair no dia seguinte à eleição, esperando o resultado concretizar a vontade do eleitor. O que acontece é que mesmo com chances dos candidatos da “direita democrática” vencer em Belo Horizonte e Curitiba, dado que as pesquisas apontam para isso, ao passo que Fortaleza há um empate numérico, há um claro sinal perigoso do eleitor descontente, que topa massivamente votar em candidatos com discursos absurdos, para dizer o mínimo. Marçal ficou, ao menos por enquanto, para trás, mas há muitos que ainda encarnam esse discurso disruptivo e antissistema.

Mais do que Lula versus Bolsonaro, o que está em jogo nestes lugares é a disputa entre um discurso democrático versus a chance de novas figuras do golpismo bolsonarista se destacarem em importantes capitais brasileiras. Cito as três, não só por serem grandes capitais, onde se concentram muitos eleitores, mas por estarem estrategicamente em três regiões brasileiras: Nordeste, Sudeste e Sul respectivamente.
Curitiba tem sido a maior das surpresas nestas eleições. E não é para menos. A poucas horas do fim do pleito, o candidato da máquina municipal e estadual, o atual vice-prefeito Eduardo Pimentel do PSD, está ligeiramente à frente da candidata Cristina Graeml, uma espécie de Marine Le Pen paranaense. A candidata do PMB, cujo partido local se declarou neutro na própria campanha dela, dispensa comentários em termos dos absurdos que vem falando ao longo desta eleição. Graeml claramente se coloca no pleito com um discurso separista entre uma Curitiba sem problemas no passado e uma capital cheia de desafios dadas as regiões – periféricas, claro – que surgiram ao longo dos anos. Dentre as soluções, a candidata sugere a cobrança de passagem de ônibus por quilômetro rodado, em uma espécie de “justiça” para os moradores das regiões centrais. Só faltou propor um muro decorado com fotos de Donald Trump. É estarrecedor.

Belo Horizonte é o lugar onde uma espécie de “Mamãe falei mineiro” conseguiu falar bobagem e chegar lá. Está muito próximo da vitória, embora o atual prefeito e candidato à reeleição, Fuad Noman tenha conseguido um sprint final e talvez consiga vencer, ao menos é o que dizem as pesquisas de véspera. Engler é um dos muitos jovens pupilos de Bolsonaro, assim como o candidato de Fortaleza, André Fernandes. O candidato mineiro de apenas 27 anos disputa a prefeitura pela segunda vez e dentre as pautas, claro, estão a defesa de todo rol de absurdos do ex-presidente. Ele é também, obviamente, apoiado pelo pupilo mor do bolsonarismo, o deputado federal Nikolas Ferreira. Sobre propostas se ouviu muito pouco. Um dos embates do candidato do PL com o atual prefeito foi a escrita do livro de Fuad Noman em que há cenas de um estupro de uma menor, em alusão a uma personagem que viaja para o interior e relembra momentos de sua infância. Nem a divisão entre autor e político, o candidato bolsonarista foi capaz de fazer, ou preferiu não fazê-lo, ao passo que juntou tudo em bolo só e acusou Noman de propagar pronografia.
Mais jovem ainda, com 26 anos, está o deputado federal também pelo PL, André Fernandes. O candidato à prefeitura de Fortaleza, como a maioria desses jovens com discursos moralistas, surgiu no youtube e se tornou fenômeno de audiência nas redes, logo capitaneada para a urna. Assim como Fernandes em Fortaleza, Engler e Nikolas, em Belo Horizonte, Lucas Pavanato em São Paulo, Guilherme Kilter em Curitiba e outros tantos jovens surgiram e saíram do universo online para as Câmaras, Assembleias e para o o Congresso esbravejando contra qualquer iniciativa progressista e a a favor de todo tipo de conservadorismo, se não de retrocessos como tem sido o direito ao aborto, por exemplo.

Seja qual for a decisão do eleitor, o que temos em mãos é um futuro com chances de ser muito sombrio. Claro que os tempos mudam, os pensamentos se reinventam, mas com tantos jovens despontando ao mesmo tempo em que figuram na vanguarda do atraso, é assustador pensar na (extrema) direita que virá por aí na disputa pelo poder político nos próximos anos.
O que há em Fortaleza e Belo Horizonte nas disputas pela prefeitura e o que há em muitas câmaras municipais é algo a se prestar muita atenção. Porque se em Curitiba o embate é com uma extremista já madura e na meia idade, o que há Brasil afora é uma reserva imensa de conservadorismo e retrocesso na flor da idade, prontos para as disputas futuras.

* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História(PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com esta coluna



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“Estou muito envergonhado! Isto é uma indignidade inexplicável!” (Ciro Gomes, ex-ministro da Fazenda, usando as redes sociais para reclamar da troca de Carlos Lupi por Wolney Queiroz, seu desafeto no PDT, no comando do Ministério da Previdência Social) 


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Felipe Barbosa

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A articulação para mudar quem define o teto de jur…

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A articulação para mudar quem define o teto de jur...

Nicholas Shores

O Ministério da Fazenda e os principais bancos do país trabalham em uma articulação para transferir a definição do teto de juros das linhas de consignado para o Conselho Monetário Nacional (CMN). 

A ideia é que o poder de decisão sobre o custo desse tipo de crédito fique com um órgão vocacionado para a análise da conjuntura econômica. 

Compõem o CMN os titulares dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento e da presidência do Banco Central – que, atualmente, são Fernando Haddad, Simone Tebet e Gabriel Galípolo.

A oportunidade enxergada pelos defensores da mudança é a MP 1.292 de 2025, do chamado consignado CLT. O Congresso deve instalar a comissão mista que vai analisar a proposta na próxima quarta-feira. 

Uma possibilidade seria aprovar uma emenda ao texto para transferir a função ao CMN.

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Hoje, o poder de definir o teto de juros das diferentes linhas de empréstimo consignado está espalhado por alguns ministérios. 

Cabe ao Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), presidido pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, fixar o juro máximo cobrado no consignado para pensionistas e aposentados do INSS.

A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, é quem decide o teto para os empréstimos consignados contraídos por servidores públicos federais.

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Na modalidade do consignado para beneficiários do BPC-Loas, a decisão cabe ao ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias.

Já no consignado de adiantamento do saque-aniversário do FGTS, é o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que tem a palavra final sobre o juro máximo.

Atualmente, o teto de juros no consignado para aposentados do INSS é de 1,85% ao mês. No consignado de servidores públicos federais, o limite está fixado em 1,80% ao mês.

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Segundo os defensores da transferência da decisão para o CMN, o teto “achatado” de juros faz com que, a partir de uma modelagem de risco de crédito, os bancos priorizem conceder empréstimos nessas linhas para quem ganha mais e tem menos idade – restringindo o acesso a crédito para uma parcela considerável do público-alvo desses consignados.

Ainda de acordo com essa lógica, com os contratos de juros futuros de dois anos beirando os 15% e a regra do Banco Central que proíbe que qualquer empréstimo consignado tenha rentabilidade negativa, a tendência é que o universo de tomadores elegíveis para os quais os bancos estejam dispostos a emprestar fique cada vez menor.



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