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Bióloga vira guia para passar mais tempo na Antártida – 22/12/2024 – Ciência

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5 meses atrásem
Phillippe Watanabe
“O que é vida?”
Essa questão guia a carreira e a vida de Emanuele Kuhn, 45, que participa de um projeto da USP e faz parte da expedição internacional cujo objetivo é completar a circum-navegação da Antártida.
Em busca de uma resposta desse tamanho, e sentindo que a sua própria vida e casa estão na Antártida, a bióloga e microbiologista foi atrás de formas de passar o maior tempo possível no continente gelado —apesar de dizer não ser uma psicrófila, ou seja, quem tem predileção pelo gelo.
Para ficar mais tempo ali, deixou o universo de pesquisa acadêmica um pouco de lado e se dedica, atualmente, a uma forma de turismo expedicionário antártico —e no Ártico, em parte do ano—, a partir do qual consegue fazer educação ambiental.
A pesquisadora-guia-turística-educadora-ambiental diz que nunca sentiu que a Terra fosse o seu planeta. Queria ir em busca de um planeta em que se sentisse mais em casa. E a Antártida é “um mundo dentro do nosso planeta”.
Lá se achou e é lá que busca diferentes formas de vida, que conseguem viver em ambientes extremos. Emanuele conta, no Diário da Antártida desta semana, como é a vida extrema na Antártida.
Antártida é minha casa. Aqui é o meu lugar. Se pudesse, teria uma casinha aqui. Eu sinto muita necessidade de estar aqui.
Como pesquisador, você vem e passa 1 ou 2 meses e o resto do ano passa enjaulado em um laboratório, em frente ao computador. Como a vida inteira levei alunos para o campo, eu decidi tentar qualquer tipo de trabalho que me mantivesse por mais tempo possível na Antártida. Esse [turismo] foi um dos que surgiram.
Trabalho com uma empresa americana de expedições polares. De novembro a março, estou na Antártida, e de maio a agosto, no Ártico. Educando pessoas. Dou aula a bordo de navios, falo de baleias, de pinguins, de micro-organismos, de mudanças climáticas, de vida em ambientes extremos, de astrobiologia, falo de extremófilos.
Fazemos um turismo educacional. Não chamamos nem de turismo, e sim de expedição. Expedição você vai e vive com o ambiente ao seu redor. A gente vai para a península antártica. Lá temos um programa, que vamos tentar seguir. Se o tempo permitir, conseguimos descer [para terra-firme], se não, não. A Antártida rege as nossas ações.
A questão principal da minha carreira é o sentido da vida —quase como o filme do Monty Python. O que é vida? O que é um ser vivo? O que é a definição de vida? Essas perguntas não têm respostas únicas.
Quando você procura um ser vivo, antes disso, tem que definir o que está procurando.
Desde os 13 anos, quando vi uma reportagem na revista Superinteressante sobre Fasciíte necrosante, aquela bactéria comedora de carne, eu me perguntei: como um organismo tão pequeno pode acabar com a gente em 24 horas? Fiquei fascinada por micro-organismos nesse momento. Estamos neste planeta por causa dos micro-organismos. Eles reciclam tudo. A existência da vida na Terra é decorrente da existência de bactérias.
Mas nunca senti muito a Terra como sendo o meu planeta. Sempre quis ir para fora para procurar o meu planeta. Nisso, na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), comecei os estudos de astrobiologia, de possibilidade de vida fora do planeta. Com isso, construí minha carreira em cima de extremófilos e astrologia, de ambientes de extremos, principalmente de baixas temperaturas —o ambiente mais abundante do Universo.
Comecei a trabalhar na Antártida em 2005, com micro-organismos extremos, para entender a diversidade e a distribuição. Sempre tentando entender o que é vida.
Em 2017, saí da academia e fui para as expedições turísticas.
A Antártida é um mundo dentro do nosso planeta. É considerada, dentro do mundo acadêmico, o melhor modelo astrobiológico para o estudo de vida fora do planeta. Tudo que mandamos para fora do planeta precisamos testar. E a Antártida é o melhor modelo disso. Nós a usamos não só como modelo astrobiológico, mas para teste de equipamento.
Nos Estados Unidos, onde fiz o meu doutoramento, pelo Programa Antártico Americano, participei de um projeto da Nasa. Esse programa, agora em outubro, lançou uma sonda para Europa, uma das luas de Júpiter. E essa sonda agora vai levar seis anos para chegar à superfície de Europa para poder trazer dados.
Aqui, na expedição atual, como pesquisadora, estou com várias frentes. A primeira e principal é em relação à biodiversidade microbiana, bacteriana. A gente chama de bacterioplâncton. Então são todos os micro-organismos, de 1 a 2 mícrons de tamanho.
Estamos trabalhando com essa fração de vida microbiana, entendendo toda a complexidade da distribuição desses organismos no oceano austral e também a distribuição desses organismos através de correntes atmosféricas para dentro do continente.
Fazemos coleta de ar, de sedimento terrestre de lagos para observação de biofilmes —muito relacionado ao ambiente extremos. De solos e de neve. Micro-organismos estão em todos os lugares, então, para entender a dinâmica de dispersão, você precisa trabalhar com outros de todos os lugares.
E também tem a parte de entender como esses organismos existem em ambientes extremos. Achávamos que a Antártida fosse estéril, que não existisse vida dentro.
Nas estações de coleta a bordo, usamos o sistema chamado rosette, que são várias garrafas lançadas no oceano —podemos programar onde queremos que elas fechem. Teve uma noite em que fizemos três coletas; começou às 5 da tarde e terminou às 7 da manhã. Quanto mais fundo você vai, mais tempo a garrafa vai descer. Às vezes, levam duas, três, quatro horas para a garrafa voltar. A garrafa tem que descer 4 km.
Pensa em um elevador em um prédio de 4.000 metros. E você no elevador. Quanto tempo vai levar?
Assim que as garrafas sobem, você precisa coletar o seu material, porque tem a parte de processamento dele, que muitas vezes leva mais cinco, seis, oito horas. Teve um dia com 24 horas de trabalho sem parar.
E é a dinâmica antártica mesmo.
Como microbiologista, as dificuldades não são no ambiente. Quando você vai fazer a parte de exploração de ambientes isolados da atmosfera, quando se faz a perfuração de lagos glaciais, por exemplo, você tem que ter o máximo de cuidado possível para não contaminar esses lagos com os organismos da superfície terrestre.
Para minha pesquisa especificamente, se conseguirmos ao menos coletar as amostras de fundo de oceano —dessas garrafas de que falei—, pelo menos tentar fazer uma cobertura de 360° ao redor do continente… O sistema de oceanos é como se fosse um complexo sistema rodoviário. Tem todas essas correntes marinhas, diferentes profundidades, temperaturas, diversidades biológicas definidas através da salinidade e da temperatura.
E coleta de amostra terrestres, de neve. Quanto mais conseguir amostrar, melhor.
Se você tirar a Antártida de mim, tira o sentido da minha vida. O sentido da minha vida neste planeta, neste momento, é a Antártida. Entender o que existe aqui e fazer as pessoas se conscientizarem do que fazemos.
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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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1 semana atrásem
26 de maio de 2025
Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.
Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.
Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.
Amor e semente
Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.
Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.
E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.
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Cantos de agradecimento
E a recompensa vem em forma de asas e cantos.
Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.
O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.
Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?
Liberdade e confiança
O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.
Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.
“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.
Internautas apaixonados
O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.
Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.
“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.
“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.
Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:
Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok
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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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1 semana atrásem
26 de maio de 2025
O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.
No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.
“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.
Ideia improvável
Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.
“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.
O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.
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A ideia
Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.
Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.
E o melhor aconteceu.
A recuperação
Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.
Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.
À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.
Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.
“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.
Cavalos que curam
Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.
Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.
Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.
“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”
A gente aqui ama cavalos. E você?
A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News
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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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1 semana atrásem
26 de maio de 2025
Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.
O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.
O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.
Da tranquilidade ao pesadelo
Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.
Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.
A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.
Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.
Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.
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Caminho errado
Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.
“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.
Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.
Caiu na neve
Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.
Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.
Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.
“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”
Luz no fim do túnel
Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.
De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.
“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.
A gentileza dos policiais
Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.
“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.
Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!
Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:
Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni
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