NOSSAS REDES

MUNDO

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

PUBLICADO

em

GOV

fpealvarez / Flickr

O antigo presidente do Chile, Augusto Pinochet

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes.

No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de chilenos marcharam para relembrar as mais de 40.000 de vítimas presas, desaparecidas, torturadas e executadas durante os 17 anos da ditadura de Augusto Pinochet, na qual se colocou em prática, no Chile, uma política de Estado repressiva recorrendo às violações de direitos humanos por meio de órgãos estatais já existentes e outros que foram criados para tal fim.

O que havia se iniciado como um protesto pacífico culminou, no entanto, em alguns enfrentamentos entre os manifestantes e a força pública da capital, Santiago. Ali vários indivíduos atiraram pedras contra o Palacio de la Moneda, sede do governo chileno, quebraram as barreiras de segurança e destruíram o acesso a um centro cultural localizado no edifício. As tensões são evidentes em um país que muitos especialistas descrevem como fracionado, dividido, polarizado.

O sucedido ao longo dessa comemoração inevitavelmente se assemelha a outro lamentável episódio na história do país: a onda de protestos de 2019 conhecida como protesto social de 2019, que revelou os profundos problemas sociopolíticos que persistem no Chile. Em 14 de outubro daquele ano, dia em que tudo começou, estudantes secundários e universitários se reuniram para invadir o metrô de Santiago em forma de protesto contra o aumento do preço das passagens em um dos países com o custo de vida mais alto da região. Mas isso foi só a ponta do iceberg.

Como indica o jornalista chinelo Nicolás Lazo Jerez:

Com o decorrer das horas, ficou claro que o movimento respondia a outros fatores além dessa medida pontual, porque apareceram outra série de demandas que refletiam um sentimento de descontentamento mais profundo diante das políticas do governo dos últimos trinta anos. Parte do que motivou os protestos tem a ver com a contradição de fatos pelos governos de centro esquerda em 1990 para resolver dívidas históricas a respeito das desigualdade com o que realmente ocorreu ao longo dos anos. Ainda que algumas promessas tenham sido cumpridas, principalmente em matéria de cobertura, os altos índices de desigualdade não só não foram resolvidos, como se aprofundaram.

Todo esse fato desencadeou uma série de protestos em massa, que provocou uma onda de desentendimentos de ordem pública e violência pelo país, obrigando o então presidente Sebastián Piñera a declarar Estado de Emergência e depois toque de recolher.

O protesto social de 2019 se caracterizou, ainda, pela graves violações contra os direitos humanos cometidas contra os manifestantes, incluindo abusos por parte das autoridades, prisões arbitrárias e diversos casos de violência policial, que incluíram traumas oculares e mutilações; como documentou a Anistia Internacional, estima-se que o número de vítimas pelo uso excessivo da força estatal atinge 8.000.

Um dos casos mais emblemáticos é o da atual senadora Fabiola Campillai, rosto representativo dos protestos, que perdeu a visão e o olfato devido ao uso de balas de chumbo por parte dos atiradores. Mesmo que o autor desses atos tenha sido condenado, como indica Lazo Jerez, “existem muitos outros casos que continuam impunes”.

Atualmente, 46% das causas abertas por esses atos foram arquivados por falta de provas. Por outro lado, e apesar dos compromissos feitos pelo governo de Gabriel Boric para resolver os problemas estruturais do sistema socioeconômico e avançar em direção à igualdade social, além do chamado urgente de vários setores para realizar uma reforma policial, a situação não melhorou nos anos seguintes. A título de exemplo, um Estudo Nacional de Opinião Pública realizado em novembro de 2022 indicou que 64% dos entrevistados percebem que a situação política está mal/muito mal e 55% indicam que atualmente, o Chile está “estagnado”. Da mesma forma, outra série de protestos tem tomado as diferentes cidades do país, como o “mochilaço estudantil” de março de 2023 para exigir melhores condições educacionais.

Contudo, os eventos passados e atuais do país sulista parecem ter algo em comum: a impunidade que permeia as sistemáticas violações aos direitos humanos cometidos em cada um deles e a falta de garantias das vítimas, principalmente no que se refere à justiça transitória, como o esclarecimento dos abusos cometidos durante a ditadura e o protesto social, e as medidas de reparação por essas graves atrocidades. A investigação da justiça e verdade continua sendo um tema bastante sensível para o país, na qual, inclusive, alguns setores têm começado a justificar há alguns anos a repressão ocorrida durante o regime militar.

Para avançar na reparação às vítimas depois dos protestos de 2019 criou-se uma Agenda Integral de Verdade, Justiça e Reparação às vítimas que sofreram violações aos direitos humanos. Por outro lado, também existe um plano atual para determinar o paradeiro de muitas pessoas desaparecidas durante o golpe militar, no qual tem tido avanços, apesar de que, segundo várias organizações de direitos humanos que representam as vítimas, não tem sido suficientemente eficaz em alcançar seu mandato.

O Chile ainda tem importantes dívidas para quitar com o passado, ainda deve focar-se em resolver as crescentes demandas sociais. Nesse ponto, é necessário perguntar-se: se o passado da ditadura não foi resolvido, como se pode assegurar que o processo das vítimas do protesto social não terá o mesmo destino? Embora as respostas não sejam simples, para alguns chilenos as oportunidades para refletir sobre as lições aprendidas e as propostas para o futuro parecem distantes.

Conclui Nicolás:

“Os esforços para executar um plano de responsabilização pelo ocorrido durante o protesto social são bem recentes; se não podem estar de acordo sobre algumas verdades em relação a ditadura de 50 anos atrás, o que se pode esperar em relação aos protestos? Não existe vontade política, entre outras razões, há um panorama com um forte refluxo conservador. Todas essas causas estão muito postergadas e isso também permeia o assunto relativo à ditadura”




Leia Mais: Cibéria

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

PUBLICADO

em

O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

Leia mais notícia boa

Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

PUBLICADO

em

Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

Leia mais notícia boa

A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

PUBLICADO

em

O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

Leia mais notícia boa

Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

//www.instagram.com/embed.js



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MAIS LIDAS