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Como os jovens urbanos de África estão a mudar a cultura política – DW – 15/12/2024

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Duas tendências moldarão o futuro de África: o rápido crescimento das cidades e seu boom juvenil. Mais de dois terços das pessoas no continente têm menos de 30 anos. E prevê-se que, a partir de 2035, a maioria destes jovens viva em cidades.

Isto também poderia mudar a situação política, diz Titus Kaloki, coordenador do projeto Cidades Justas da Fundação Friedrich Ebert (FES) em Quênia.

DW conversa com Kaloki na capital alemã, Berlim, onde participa num workshop organizado pela FES, uma fundação política alemã, sobre a participação política nas cidades africanas e o papel dos jovens.

Na oficina, Kaloki apresenta fotos de protestos massivos realizados no Quênia no início deste ano que contou com a presença principalmente da Geração Z, a geração nascida entre 1995 e 2010.

Os protestos forçaram o Presidente Guilherme Ruto parar os aumentos de impostos sobre o pão, o petróleo e a gasolina e remodelar o gabinete.

Ruto, do Quénia, retira lei fiscal criticada após protestos

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“Então, o que esses membros da Geração Z conseguiram foi começar a desmistificar coisas complexas, como leis tributárias e documentos legais – tornando-os legíveis, compreensíveis e traduzindo-os para diferentes idiomas”, diz Kaloki.

Os manifestantes não tinham uma organização central ou figura de liderança. Em vez disso, foram motivados por um problema e mobilizados através das redes sociais.

Estes jovens urbanos também estão cada vez mais conscientes da necessidade de partilhar o contexto político com os seus pares nas zonas rurais, acrescentando que o movimento continua a evoluir de reativo para proativo, diz ele.

Mais suscetibilidade ao populismo?

“Podemos certamente esperar ver mais protestos nas próximas décadas”, afirma Lena Gutheil, investigadora da Megatrends Africa, do Instituto Alemão de Desenvolvimento e Sustentabilidade.

A sua observação é que os jovens africanos urbanos evitam formas formais de participação democrática, na medida em que raramente votam ou aderem a partidos políticos. Em vez de, jovens africanos preferem protestar.

Esta é uma expressão da sua frustração, diz Gutheil. Apenas um em cada seis jovens em África tem um emprego estável, enquanto um terço está desempregado.

“O sentimento de não fazer parte da sociedade” está a espalhar-se, porque mesmo que o Estado forneça apoio, a diferença entre as suas circunstâncias e as dos bairros ricos da cidade é enorme, diz Gutheil.

Gutheil vê isto como perigoso e espera um aumento nos “apelos populistas” aos jovens que vivem em assentamentos informais do continente.

Abordando a “democracia com o estômago vazio”

Kaloki conhece a vida nesses assentamentos. Um estudo da FES de 2022 descobriu que tais bairros são resultado da divisão colonial do espaço urbano. Quase 70% dos assentamentos informais cumprem uma função económica importante e são os verdadeiros motores do crescimento, diz ele.

Infelizmente, muitos não são reconhecidos, razão pela qual não participam no processo político oficial, acrescenta, explicando que os residentes não participam nas reuniões da Câmara Municipal e evitam interagir com os políticos locais.

Quanto a Gutheil, ela acredita que “a democracia precisa de dar resultados para que as pessoas estejam mais uma vez mais convencidas de que o sistema funciona, enfatizando que os governos africanos têm o dever de fornecer infra-estruturas e bens públicos, por exemplo”.

Moradores enchem recipientes com água potável após um surto de cólera no município de Kuwadzana, na capital do Zimbábue, Harare
Muitos bairros pobres como Kuwadzana, na capital do Zimbabué, Harare, carecem de infra-estruturas inadequadas. Nesta foto de janeiro de 2024, moradores enchem recipientes com água potável após um surto de cóleraImagem: JEKESAI NJIZANA/AFP/Getty Images

Kaloki concentra-se em novas plataformas de educação cívica que explicam a importância da participação e como se envolver. Mas num comentário dirigido aos parceiros europeus, sublinha que também é necessária uma utilização justa dos recursos.

“Estamos praticando a democracia com o estômago vazio”, diz Kaloki, acrescentando que um diálogo honesto sobre as relações descolonizadas deve ser retomado.

Necessidade de financiamento estratégico

O União Europeia precisa repensar a sua abordagem à promoção da democracia, diz Kaloki, uma vez que não é suficiente promover valores democráticos.

“Mas há muito potencial para financiamento estratégico e concepção de bens e serviços públicos que podem resultar em situações vantajosas para todos”, diz ele.

Um homem em Nairóbi agarra a lateral de um microônibus matutu
Aqueles que querem ir de A a B em Nairóbi a um preço razoável “surfam” em micro-ônibus particulares chamados matutu, e às vezes têm que aguentar longos engarrafamentosImagem: Andrew Wasike/DW

Por exemplo, diz Kaloki, uma empresa europeia como Siemens poderia utilizar fundos da UE para construir transportes públicos rápidos na capital do Quénia, Nairobi. “Eles não só obteriam lucros, mas também ajudariam a cidade de Nairobi a alcançar um marco importante que desbloquearia muito mais oportunidades económicas e reduziria as perdas na economia”, afirma.

Melhores transportes públicos beneficiariam muitas pessoas, uma vez que quase 40% dos residentes da cidade têm actualmente de caminhar, acrescenta.

Há muito em jogo para o futuro. “Vejo esperança, mas também estou ansioso”, diz Kaloki. Por um lado, existe networking e valorização entre as pessoas em Nigéria e Ugandaque se inspiraram nos jovens quenianos e lançaramseus próprios movimentos de protestoque ele chama de “uma coisa boa para compartilhar de forma democrática”.

Nigéria: Protestos em todo o país contra subsídios aos combustíveis

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No entanto, Kaloki está preocupado com o autoritarismo que se instalou no Região do Sahel após golpes militares, por exemplo. A democracia em África também está sob pressão devido à crescente desinformação tanto on-line quanto off-line. Será importante prestar muita atenção à forma como os movimentos da Geração Z se mobilizam, comunicam e se protegem da desinformação e das câmaras de eco, diz ele.

Este artigo foi publicado originalmente em alemão.



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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.

Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.

O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

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