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Como os moldavos lutaram corajosamente contra a intromissão russa nas eleições – e defenderam a democracia | Paula Erizanu

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Paula Erizanu

HTendo vivido na Grã-Bretanha durante 12 anos, regressei à minha Moldávia natal em 2022 porque estava preocupado que a guerra da Rússia em Ucrânia iria se espalhar pelo meu país. Graças à resistência ucraniana, o céu ainda está limpo na Moldávia. Mas nas últimas semanas que antecederam a segunda volta presidencial entre o atual pró-europeu Maia Sandu e o antigo procurador-geral Alexandr Stoianoglo, apoiado pela Rússia, senti como se pudesse perder o meu país mais uma vez.

A escala da interferência nestas eleições moldavas não tem precedentes. Conforme relatado por excelentes jornalistas independentes no país, as nossas agências de aplicação da lei alegou a existência de um esquema de compra de votos em grande escala na primeira volta, dirigido por Ilan Shor – um oligarca fugitivo apoiado pela Rússia, que nega qualquer irregularidade.

Antes do segundo turno, jornalistas e outros teria recebido ameaças de morte em romeno quebrado, fingindo estar em nome da equipe de Sandu. No dia das eleições, as assembleias de voto mais populares em toda a Europa para os moldavos estrangeiros tiveram a sua votação interrompida por ameaças de bomba. Os servidores da Comissão Central Eleitoral sofreu um ataque cibernético temporário. A polícia disse ter “provas razoáveis” de transporte ilegal organizado de eleitores na Rússia, Bielorrússia, Azerbaijão e Turquia; pessoas da Transnístria, a região a leste do país, que faz fronteira com a Ucrânia e é controlada pela Rússia, admitiu ter sido transportado.

Além da suposta fraude, a internet, principalmente o TikTok, foi inundado com desinformação anti-Europa antes do referendo da UE em 20 de Outubro.

Apesar de tudo isso, Sandu venceu. “Eles não podem roubar tanto quanto nós podemos votar” foi um dos slogans informais desta campanha. No período que antecedeu a segunda votação, a polícia informou diariamente o país sobre as suas detenções e apreensões de dinheiro relacionadas com o esquema de compra de votos. Isso ajudou algumas pessoas percebem que receber pagamento por votos era ilegal e não apenas uma forma de obter dinheiro grátis. Também ajudou a mobilizar 380 mil pessoas na capital Chișinău – mais do que em 2020 – e um número sem precedentes de 330 mil moldavos na diáspora, que representavam quase 20% do número total de eleitores, para votarem. Ambos os eleitorados votaram amplamente em Sandu.

O Partido Socialista pró-Rússia (PSRM), que apoiava Stoianoglo, disse que não reconhecia os resultados eleitorais e que Sandu seria apenas o “presidente da diáspora”. No entanto, 70% dos votos que recebeu veio de dentro do país.

Enquanto morei no Reino Unido, fiquei horas na fila para votar nas eleições moldavas nas várias assembleias de voto que o estado abriu em Londres. Em 2016 quando Sandu concorreu pela primeira vez contra o líder do PSRM Igor Dodon e perdeu para ele com milhares de outros concidadãosnão pude votar porque a assembleia de voto ficou sem boletins de voto. Algumas pessoas vieram de centenas de quilômetros de distância para votar.

Presidente pró-ocidental da Moldávia, Maia Sandu, vence segundo mandato – vídeo

A diáspora da Moldávia é relativamente nova e porosa. As pessoas começaram a sair em grande número na década de 2000quando o presidente Vladimir Voronin governou o país com muitos membros importantes do PSRM. Os seus primeiros destinos foram a Rússia, a Itália ou Portugal, onde realizaram trabalhos difíceis na construção ou na assistência, para sustentar as suas famílias. (A minha professora de história foi cuidar dos cães de uma estrela italiana para pagar as propinas universitárias do seu filho.) Desde então, como os pais e avós de muitas pessoas nasceram quando a Moldávia fazia parte da Roménia, cerca de um milhão de moldavos obtiveram o romeno. cidadania – incluindo a dois candidatos presidenciais, Sandu e Stoianoglo.

Os passaportes da UE abriram caminho para que moldavos como eu beneficiassem de melhores oportunidades de estudo e de trabalho em toda a Europa, enviando remessas vitais de volta para casa. Neste momento, cerca 1 milhão de moldavos vivem no exterior e 2,8 milhões vivem no país. Todo mundo tem familiares trabalhando no exterior.

Tal como eu, várias pessoas também regressaram da diáspora para abrir os seus próprios negócios ou aderir a organizações privadas ou não governamentais existentes, bem como a instituições estatais. Sandu fez isso em 2012, deixando seu cargo muito mais bem remunerado no Banco Mundial para se tornar ministra da Educação. Natalia Gavrilița, que conheci em 2018 num grupo activista moldavo chamado FreeMoldova em Londres, deixou o trabalho de desenvolvimento para se tornar ministra das finanças e depois primeira-ministra. A lista continua.

Desde a invasão em grande escala da Ucrânia, muitos moldavos da diáspora em Rússia voltaram para casa. Nas regiões de Gagauzia e Transnístria, de maior língua russa, as pessoas começaram a emigrar para a Polónia e a República Checa. Enquanto viajava no autocarro Chișinău-Praga para a pequena cidade romena de Sibiu, na semana passada, à minha frente um homem ouvia propaganda russa. O segundo motorista, por sua vez, fez um discurso de Sandu enquanto descansava. As redes sociais polarizaram a sociedade moldava – tal como o mundo inteiro. A propaganda russa é boa a realçar estas clivagens.

A Moldávia demonstrou resiliência no recente referendo da UE e nesta votação presidencial. Mas dado que o país é uma república parlamentar, a grande batalha será no próximo ano nas eleições parlamentares. Até lá, a aplicação da lei terá de controlar os esquemas de compra de votos. Deve haver uma melhor regulamentação das mídias sociais. E os moldavos pró-europeus têm de colaborar e comunicar melhor do que os propagandistas russos.

  • Paula Erizanu é uma jornalista e escritora moldava que vive em Chisinau

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Leia Mais: The Guardian

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MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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MUNDO

Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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