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Enquanto o 4B conquista o mundo, a Coreia do Sul enfrenta uma reação contra o feminismo | Coréia do Sul

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Raphael Rashid in Seoul

UMDonald Trump garantiu a vitória no Eleição presidencial dos EUAum fenômeno inesperado começou a virar tendência nas redes sociais: jovens mulheres americanas declarando seu compromisso para “4B”, um movimento feminista sul-coreano marginal que defende a rejeição do casamento, parto, namoro e sexo.

O movimento despertou intenso interesse global, com milhões de visualizações no TikTok e publicações virais X anunciando-o como uma revolução dos direitos das mulheres.

Ainda dentro Coréia do Sul em si, o quadro é mais complexo e em alguns lugares o movimento feminista está sob ataque.

“Eu nunca tinha ouvido falar do 4B até recentemente”, diz Lee Min-ji, um funcionário de escritório em Seul que ficou surpreso com toda a atenção internacional. “Eu entendo de onde vem toda a raiva, mas não acho que evitar todos os relacionamentos com homens seja a solução.”

Park So-yeon, editora profissional em Seul, diz que não namora porque está priorizando sua vida profissional.

“Assim como eu, a maioria das minhas amigas estão mais focadas em suas carreiras do que em namorar agora, mas isso não é por causa do 4B, é apenas a realidade de ser uma jovem profissional na Coreia”, diz ela.

Resistindo a uma sociedade desigual

O nome 4B deriva de quatro palavras coreanas que começam com “bi” (que significa “não”): bihon (sem casamento), bichulsan (sem parto), biyeonae (sem namoro) e bisekseu (sem sexo). Tal como aconteceu com os movimentos feministas “separatistas” do passado4B representa uma rejeição das relações heterossexuais como forma de resistir às estruturas patriarcais.

O movimento surgiu em meados da década de 2010 em meio ao crescente ativismo feminista online na Coreia do Sul, um país onde as mulheres enfrentam a maior disparidade salarial entre homens e mulheres entre os países da OCDE e discriminação persistente.

Vários incidentes de grande repercussão galvanizaram o activismo feminista nos últimos anos. Em 2016, um mulher foi assassinada perto da estação Gangnam por um homem estranho que disse ter feito isso porque as mulheres o “ignoraram”. O caso gerou protestos em todo o país contra violência motivada pela misoginia.

Os crimes sexuais digitais alimentaram ainda mais o movimento feminista, desde filmagens ilegais generalizadas até câmeras escondidas à última epidemia de Pornografia deepfake gerada por IA visando mulheres jovens.

Ativistas online também desafiaram a Coreia do Sul exigentes padrões de beleza. Em 2018, algumas jovens começaram a postar vídeos destruindo produtos de maquiagem e cortando o cabelo curto, no que ficou conhecido como “escapar do espartilho”movimento.

Mas tem havido uma reação negativa, a tal ponto que a própria palavra “feminismo” se tornou praticamente se tornou uma calúnia na Coreia do Sul, com conotações muito distantes das visões ocidentais de defesa da igualdade de género.

“Ao contrário da longa história do Ocidente com movimentos feministas, a Coreia está a experienciar estas mudanças de uma forma muito comprimida”, diz Gowoon Jung, professor assistente de sociologia na Universidade da Coreia. “Isso levou muitos a ver o feminismo apenas na sua forma mais radical.”

O presidente Yoon Suk Yeol, que assumiu o cargo em 2022, caminhou parcialmente para a vitória sobre o sentimento antifeministacortejando jovens eleitores descontentes do sexo masculino, negando a existência de discriminação estrutural de género e prometendo abolir o ministério da igualdade de género do país.

“4B é mais uma declaração feminista que representa as queixas e frustrações das jovens feministas digitais em relação à sociedade coreana”, explica Minyoung Moon, professora de sociologia na Universidade Clemson que estuda feminismo online na Coreia do Sul. “No entanto, a sua natureza radical contribuiu para graves reações adversas, com muitos jovens e algumas mulheres equiparando todas as feministas a pessoas que odeiam os homens, o que aprofunda as divisões sociais.”

Lee Jeong-eun, que mora em Busan, diz que as mulheres abertamente feministas enfrentam reações adversas online e offline. “Você é tratado como o diabo”, diz ela.

Este medo não é infundado: no ano passado, uma funcionária de uma loja de conveniência em Jinju foi atacado violentamente por um homem que presumiu que ela era feminista simplesmente porque tinha cabelo curto, levando a uma decisão judicial que reconheceu pela primeira vez a misoginia como motivo de crime de ódio.

Este ambiente hostil levou muitas jovens coreanas a praticar que estudiosos como Moon e Jung chamam de “feminismo silencioso” – abraçar os princípios feministas em particular enquanto evitando a identificação pública com o movimento.

Um impacto difícil de medir

O cenário digital da Coreia do Sul desempenha um papel crucial na expressão do movimento 4B. Os fóruns online anónimos e as redes sociais servem como espaços protegidos para o discurso feminista que pode ser difícil de expressar abertamente. A natureza online do movimento, no entanto, torna quase impossível medir a verdadeira escala ou impacto do 4B.

Dentro da própria Coreia do Sul e antes da vitória de Trump, o 4B tinha recebido relativamente pouca atenção do grande público, embora a nível internacional alguma cobertura mediática tenha tentado ligar o 4B à Coreia do Sul. taxa de natalidade recordeque atingiu 0,72 filhos por mulher em 2023. Isso pode ser problemático, diz Moon.

“A baixa taxa de fertilidade na Coreia é uma questão complexa e não se pode simplesmente argumentar que o boicote dos homens pelas mulheres coreanas leva a uma baixa taxa de natalidade”, diz Moon.

A taxa de natalidade tem sido caindo por décadas e é frequentemente atribuído a factores como o carga econômica da criação dos filhos, altos custos de habitação, intensa competição educacionale mudando prioridades. “A desconfiança e a frustração das mulheres com a sociedade coreana podem ter alguma relação cultural com isso, mas não há nenhuma correlação comprovada”, diz Moon.

Para Jung, a atenção global dada ao 4B reflete uma mudança na forma como os movimentos feministas viajam globalmente. “Muitos movimentos sociais asiáticos foram historicamente influenciados pelo Ocidente, como vimos com o Movimento #MeToo”, ela diz.

“Agora estamos vendo movimentos originados na Coreia influenciando potencialmente as sociedades ocidentais.”



Leia Mais: The Guardian

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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.

Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.

O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

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