NOSSAS REDES

ACRE

Entenda o que é racismo ambiental, em debate na COP29 – 14/11/2024 – Ambiente

PUBLICADO

em

Geovana Oliveira

Luciana Souza, 51, cresceu em uma comunidade de pescadores em Regência Augusta, no município de Linhares (ES). Em 2015, viu o rio Doce, que banha sua cidade, ser contaminado pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG). Ela é uma das representantes da Rede Vozes Negras pelo Clima na COP29, em Baku, no Azerbaijão.

A rede formada por mulheres negras quer pautar o racismo ambiental na conferência climática, alinhando-a a outras organizações brasileiras que participam do evento, como a PerifaConnection, o Observatório das Baixadas, a Coalizão Negra por Direitos e Geledés.

A menos de uma semana da celebração da Consciência Negra, nesta quinta-feira (14), o Pavilhão Brasil na COP29 vai receber dois painéis sobre como as pessoas negras e indígenas são prejudicadas pelos desastres ambientais. Um deles tratará do racismo ambiental nas favelas. O outro, sobre adaptação antirracista.

Segundo Luciana Souza, a prioridade da rede é garantir que as políticas climáticas, incluindo o seu financiamento, considerem questões de justiça social, gênero e raça. “É preciso reconhecer as imensuráveis desigualdades sociais vivenciadas pelas populações periféricas, faveladas, afrodescendentes e indígenas”, afirma.

A tragédia de Mariana, que afetou Luciana, é considerada um dos piores desastres ambientais do Brasil e impactou imediatamente pessoas negras, segundo estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora, publicado no final de 2015.

O grupo de pesquisa Poemas (Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade) identificou maioria negra nas comunidades mais próximas da barragem, que foram atingidas diretamente pela lama. Entre elas, Bento Rodrigues (84% de pretos e pardos), Paracatu de Baixo (80%) e Gesteira (70%).

Os pesquisadores concluíram que havia “indícios de racismo ambiental” na distribuição dos riscos associados à barragem e sugeriram um estudo aprofundado sobre a composição racial das comunidades expostas a possíveis falhas em estruturas similares.

O conceito de que minorias étnicas enfrentam os maiores riscos ambientais originou o termo “racismo ambiental”, usado pela primeira vez pelo químico Benjamin Franklin Chavis Jr, na década de 1980. Ele protestava contra depósitos de resíduos tóxicos acumulados no condado de Warren (EUA), onde a maioria da população era negra.

O que é racismo ambiental

Apesar de antigo, o termo popularizou-se recentemente no Brasil. Dados do Google Trends mostram que o interesse por racismo ambiental atingiu pico de popularidade na plataforma em janeiro de 2024, quando a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, usou o termo para referir-se às inundações que atingiram o Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense.

Na época, sua declaração foi ironizada nas redes sociais por políticos da direita, como os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Mario Frias (PL-SP), e por seus seguidores.

A Folha conversou com pesquisadores para entender o termo que tem sido aplicado a vários desastres ambientais no Brasil.

Segundo o professor Adilson Moreira, da Faculdade de Direito da FGV em São Paulo, o racismo não acontece apenas de forma “intencional, de um indivíduo contra outro”. Deve ser considerado como desvantagens impostas a um grupo racial específico e produzidas por uma série de fatores sociais.

O racismo ambiental, então, seria um conjunto de práticas sociais que, direta ou indiretamente, causam impacto negativo e desproporcional nas condições climáticas e ambientais vivenciadas por pessoas negras e indígenas no país.

De acordo com um relatório divulgado em 2022 pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas), moradores de favelas e periferias são vítimas de tragédias ambientais em uma proporção 15 vezes maior do que os residentes em áreas seguras. No Brasil, as pessoas negras representam 73% dos moradores de favelas, segundo dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo IBGE.

O problema, argumentam os especialistas, não está apenas nos desastres ambientais, como inundações e rompimentos de barragens. Mas na maior vulnerabilidade das pessoas negras e indígenas a esses eventos.

Isso acontece também por causa do “racismo intergeracional”. Moreira explica que as práticas discriminatórias que afetam um grupo em um determinado momento histórico —como deu-se no período da escravidão— tendem a afetar seus descendentes ao longo da história. Esse componente dificulta a ascensão social e a participação de integrantes desses grupos nos processos políticos decisórios.

Moreira resume o racismo ambiental como produto do acúmulo de desvantagens que existem nas diferentes dimensões da vida de pessoas negras ao longo do tempo e que tornam mais vulneráveis aos desastres ambientais.

Racismo ambiental ou injustiça ambiental?

Outro termo cunhado para afirmar que grupos já vulneráveis ficam ainda mais expostos aos desastres ambientais é “justiça ambiental”, que engloba pessoas negras, mulheres, crianças e idosos, entre outros.

Marcos Bernardino de Carvalho, professor de gestão ambiental na USP (Universidade de São Paulo), afirma que a expressão abarca diversas injustiças. “Mas quando você vê que, reiteradamente, as parcelas mais atingidas por crises socioambientais são majoritariamente compostas por pessoas pretas ou pardas, isso chama a atenção”, afirma.

“O racismo estrutural que existe socialmente se reproduz também no âmbito das consequências ambientais”, diz Carvalho.

Durante a tragédia das chuvas que inundaram o Rio Grande do Sul, em maio, pesquisa Datafolha mostrou que mais da metade (52%) dos pretos nos municípios afetados relataram algum tipo de perda com as enchentes. Entre os pardos, 40% citaram algum tipo de prejuízo. Já na população branca, a proporção foi de 26%.

“As populações marginalizadas, no caso do Brasil e de outros países, são majoritariamente negras. Acho que não é demais chamar atenção para isso e dar ênfase a essa questão”, afirma Carvalho.

O projeto Excluídos do Clima é uma parceria com a Fundação Ford.



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

ACRE

Ufac recebe 3 micro-ônibus por emenda do deputado Roberto Duarte — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Ufac recebe 3 micro-ônibus por emenda do deputado Roberto Duarte — Universidade Federal do Acre

A Ufac recebeu três micro-ônibus provenientes de emenda parlamentar no valor de R$ 8 milhões, alocadas pelo deputado federal Roberto Duarte (Republicanos-AC) em 2024. A entrega ocorreu nessa quinta-feira, 13, no estacionamento A do campus-sede. Os veículos foram estacionados em frente ao bloco da Reitoria, dois ficarão no campus-sede e um irá para o campus Floresta, em Cruzeiro do Sul.

“É sem dúvida o melhor momento para a gestão, entregar melhorias para a universidade”, disse a reitora Guida Aquino. “Quero agradecer imensamente ao deputado Roberto Duarte.” Ela ressaltou outros investimentos provindos dessa emenda. “Serão três cursos de graduação na interiorização.”

Duarte disse que este ano alocou mais R$ 2 milhões para a universidade e enfatizou que os micro-ônibus contribuirão para mobilidade dos alunos e professores da instituição. “Também virá uma van, mais cursos que vamos fazer no interior do Estado do Acre, o que vai ajudar muito a população acreana. Estamos muitos felizes, satisfeitos e honrados em poder contribuir e ajudar cada vez mais no desenvolvimento da Universidade Federal do Acre, que só nos dá orgulho.”

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

MAIS LIDAS