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Indígenas destacam influência dos povos originários na identidade de Manaus
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Carol Veras e Marcela Leiros – DA AGÊNCIA CENARIUM
MANAUS (AM) – Manaus é uma das cidades mais indígenas do País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2022, a capital amazonense se consolidou como o município com o maior número de habitantes indígenas, com 71,7 mil pessoas que se identificam como parte dos povos originários. A cidade ficou à frente de outros dois municípios com grande população indígena: São Gabriel da Cachoeira (AM) e Tabatinga (AM), localizados a 856 e 1.106 quilômetros distantes de Manaus, respectivamente.
Os números refletem a relevância do Amazonas como um dos principais Estados brasileiro em termos de população indígena, abrigando algumas das maiores etnias do País. Para relembrar os 355 anos da capital, a CENARIUM conversou com indígenas que exaltam a importância da cidade para a construção das suas identidades, principalmente para aqueles que não nascerem na metrópole.
Para Izabel Cristine, da etnia Munduruku, coordenadora do Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam), membro do Coletivo de Juventude Munduruku do Amazonas e doutoranda em história na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é impossível desvincular a história de Manaus da presença indígena, apesar de tentativas constantes de apagar essa herança.
“A relação entre a ideia de ser manauara e a prática de ser manauara é marcada pela tentativa constante de nos distanciarmos dos hábitos, costumes e da cultura indígena. Porém, na prática, percebemos que muitos dos nossos hábitos e crenças estão profundamente enraizados no cotidiano da cidade, incluindo a alimentação, que tem influências diretas das culturas indígenas presentes em Manaus”, afirmou.
Ela ressaltou que não nasceu em Manaus, mas assim como muitas outras famílias indígenas, sua família foi forçada a deixar seu território e construiu a vida na capital: “Minha família passa pelo mesmo processo que inúmeras outras famílias são condicionadas a passar enquanto pessoas indígenas, que é justamente a saída do território em busca de melhorias de vida. Eu moro aqui em Manaus desde criança, então me considero também desse contexto, parte dessa cidade”, explicou.
A jovem ainda relembra a presença indígena ancestral em Manaus, evidenciada por vestígios arqueológicos, como urnas funerárias e petróglifos encontrados na famosa Ponta das Lajes, além de cemitérios indígenas espalhados pela cidade. “Manaus é historicamente um território indígena“, afirmou, reforçando a importância de reconhecer essa continuidade histórica.
Diversidade e oportunidade
A presidente da Comissão de Amparo e Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Amazonas (OAB-AM), Inory Kanamari, define a cidade como um refúgio para os espíritos encantados, que buscam a capital por causa, principalmente, das oportunidades de estudo e trabalho.
Ela, natural do Seringal Aracu, no Rio Juruá, se mudou há 19 anos para Manaus em busca de crescimento profissional. A advogada destaca que a diversidade cultural da cidade se dá pela intensa influência dos povos originários.
“Bem, como indígena, eu vim atrás de educação, de estudo, e eu vejo Manaus como um local de oportunidades, em que a gente consegue ter esse misto de várias culturas“, destaca ela. “É uma cidade que proporciona estudo, cultura, diversidade cultural e até linguística, porque aqui são faladas mais de 27 línguas só na capital, contando com português, e são línguas indígenas, línguas de povos originários“.

A cacica do Parque das Tribos Lutana Kokama também compartilha o sentimento com a cidade de Manaus. A localidade é considerada o maior bairro indígena do Brasil em homologação. “Para mim, Manaus é uma cidade acolhedora e que representa a nossa cara, onde eu me sinto livre para mostrar nossa cultura indígena“, acrescenta.

Desafios de identidade e racismo estrutural
Para além das questões culturais, a pesquisadora Izabel Cristine trouxe à tona outro desafio: o racismo estrutural enfrentado pelos povos indígenas que vivem em Manaus. A historiadora salientou que, apesar de serem parte da cidade, muitos indígenas são vistos como alheios ao espaço urbano e sofrem preconceito por não corresponderem ao estereótipo do indígena do passado.
“A cidade e as pessoas aprenderam o que é ser indígena de uma forma diferente daquilo que nós somos. O que está nos livros muitas vezes é aquele indígena do século 19, do século 18, e nós somos sujeitos desse tempo”, pontuou.
Izabel Munduruku também destacou a importância de romper com estereótipos e reforçar a presença indígena nos espaços públicos de Manaus, não apenas para resgatar o passado, mas para afirmar que os povos indígenas são protagonistas do presente. “Precisamos romper com esses estereótipos e avançar essas fronteiras. É um desafio muito grande”, afirmou.

A ideia também é compartilhada por Inory, que lembra o desafio que é interagir com a área urbana sem perder a identidade originária. “É uma cidade histórica que traz ligação muito forte com a cultura indígena, e é meio que um contraste ao mesmo tempo que a gente vê essa cultura e esses estereótipos muito fortes. Muitas das pessoas negam a sua herança indígena, negam essa ligação, mas, assim, é uma cidade de oportunidade, é uma cidade que nós, enquanto povos indígenas, a gente vem para cidade buscando não se integrar, mas se interagir“, explica.
Violência
Apesar das esperanças renovadas com o fim do Governo Jair Bolsonaro e a criação do Ministério dos Povos Indígenas, 2023 manteve altos índices de violência, mortes e desassistência entre os povos indígenas no Brasil. Essa é a denúncia central do relatório “Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – Dados de 2023”, divulgado no dia 22 pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), vinculado à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O relatório apresenta que, em 2023, foram registrados 411 casos de violência contra indígenas, incluindo 208 assassinatos e 35 tentativas de homicídio. Conforme o estudo, a violência contra essas populações está relacionada a conflitos territoriais, com ataques como os promovidos por garimpeiros contra indígenas Yanomami em Roraima e no Amazonas, além de confrontos armados com povos Tembé e Turiwara, no Pará, que envolvem interesses econômicos de empresas ligadas à monocultura e à produção de óleo de dendê.
No campo da violência contra o patrimônio, o documento aponta 1.276 casos em 2023, ligeiramente abaixo dos 1.334 registrados em 2022. A maioria das ocorrências está associada à morosidade na regularização de terras indígenas, com 850 registros. Outras invasões e exploração ilegal de recursos naturais somaram 276 casos.
O Marco Temporal, aprovado no final de 2023, limita a demarcação de terras indígenas apenas àquelas que estavam sob posse ou disputa na data da promulgação da Constituição de 1988. Mesmo declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, sua aprovação no Congresso tornou-se um símbolo das disputas em torno dos direitos indígenas.
Leia também: Refugiados indígenas Warao são acolhidos no interior do Pará
Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona
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Reitora se reúne com secretário de Educação Superior do MEC — Universidade Federal do Acre
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7 de novembro de 2025A reitora da Ufac, Guida Aquino, recebeu o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Marcus David, para uma reunião com gestores, docentes e estudantes. O encontro ocorreu nessa quinta-feira, 6, na Reitoria, e teve como pauta o fortalecimento das políticas públicas voltadas à educação superior no país.
Guida ressaltou a importância da visita e do diálogo com o MEC. “É uma honra receber o secretário Marcus David na Ufac. Essa aproximação fortalece as universidades da Amazônia e reafirma o compromisso do MEC com a interiorização e a valorização do ensino público.”
Durante a visita, o secretário apresentou as novas diretrizes da Secretaria de Educação Superior (Sesu), que incluem a reestruturação administrativa do órgão, com a criação de diretorias voltadas ao desenvolvimento acadêmico, inovação e internacionalização. A proposta, segundo ele, busca aproximar o diálogo entre o MEC e as universidades federais, ampliando o apoio institucional e a eficiência na gestão.
Ele também anunciou a expansão das bolsas de permanência para estudantes indígenas e quilombolas, com o objetivo de universalizar o acesso ao programa, destacando que o orçamento voltado à permanência estudantil dobrou nos últimos anos e deve continuar crescendo. “O governo tem um compromisso claro com a permanência estudantil”, disse. “Queremos garantir que todos os alunos indígenas e quilombolas tenham acesso a esse benefício, com recursos ampliados e uma gestão mais eficiente.”
Outro ponto de destaque foi o investimento em inovação e tecnologia, especialmente com a criação e a readequação de cursos voltados à inteligência artificial (IA). O secretário ressaltou que o MEC pretende apoiar universidades que desejam modernizar seus currículos e preparar docentes para essa nova realidade.
“Estamos desenvolvendo políticas que contemplem tanto a criação de novos cursos voltados à inteligência artificial quanto à readequação dos já existentes”, pontuou. “Há uma preocupação em formar e atualizar os professores, garantindo que essa inovação alcance todas as regiões do país.”
Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Edinaceli Damasceno, e o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes.
(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)
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Ufac realiza cerimônia de inauguração do prédio do CFCH — Universidade Federal do Acre
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7 de novembro de 2025A reitora da Ufac, Guida Aquino, inaugurou, nessa quinta-feira, 6, o prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A cerimônia foi realizada na sede do centro e contou com a presença de autoridades do Ministério da Educação (MEC), gestores da universidade, docentes e estudantes. O novo espaço tem como objetivo fortalecer o ensino, a pesquisa e a extensão nas áreas de filosofia e ciências humanas, oferecendo melhores condições estruturais à comunidade universitária.
O espaço foi criado para integrar e valorizar os cursos da área, promovendo o desenvolvimento intelectual e social dos estudantes e ampliando a atuação da Ufac na formação crítica e humanista. A iniciativa contou com investimentos de R$ 5 milhões, destinados a essa e outras ações de infraestrutura na universidade, concedidos por emenda parlamentar do ex-deputado federal Leo de Brito (PT-AC), professor do curso de Direito da Ufac e atualmente na assessoria parlamentar do MEC.

“Estamos muito felizes por concretizar esse projeto que simboliza o compromisso da Ufac com a educação pública de qualidade. Agradeço ao MEC, à nossa equipe e a todos que colaboraram para que este espaço se tornasse realidade. O CFCH representa a força do trabalho coletivo e o avanço da universidade em prol da formação cidadã”, afirmou Guida.
Leo de Brito abordou sua trajetória na Ufac. “Eu tinha um discurso pronto, mas decidi falar de coração. Já estive aqui como aluno e como professor e, por isso, sinto o dever e a satisfação de contribuir para que mais jovens tenham acesso a uma educação de qualidade.”

A diretora do CFCH, Geórgia Pereira Lima, disse que o espaço é fruto da resistência e da dedicação de toda a comunidade acadêmica. “Foi uma conquista muito importante para os cursos que, por muito tempo, lutaram por reconhecimento e estrutura adequada.”
O secretário de Educação Superior do MEC, Marcus David, demonstrou estar feliz com o resultado de um esforço conjunto. “O professor Leo Brito tem se mostrado um parceiro essencial da educação e demonstra, com ações concretas, o compromisso do ministério com o desenvolvimento do ensino superior.”
Também compuseram o dispositivo de honra o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; o coordenador do curso de Jornalismo, Luan Correia, representando os coordenadores dos cursos do CFCH; a chefe do gabinete da SPU do MGI, Tânia Mara Francisco; e a secretária da atlética Perversa, do curso de História, Nataly Furtado da Silva, representando os estudantes.
(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)
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Ufac recepciona alunos ingressantes do 2º semestre de 2025 — Universidade Federal do Acre
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6 de novembro de 2025
A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Ufac, recepcionaram os discentes que ingressam no 2º semestre letivo de 2025, dos cursos de Engenharia Florestal, Engenharia Elétrica, Filosofia, Jornalismo, Letras/Espanhol, Medicina, Música, Nutrição e Saúde Coletiva. O evento ocorreu nessa quarta-feira, 5, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede.
Os novos estudantes receberam tíquete para almoço gratuito de boas-vindas no Restaurante Universitário (RU) e kit estudantil, composto por ecobag personalizada com caderno, garrafa, estojo, pen-drive e camisa. A reitora Guida Aquino ressaltou o fortalecimento acadêmico e institucional nos últimos anos. “Hoje a Ufac está presente em mais de 14 municípios e vamos abrir novos cursos de graduação e pós-graduação. Isso é resultado de muito trabalho e do reconhecimento que conquistamos.”
Ela estimulou os alunos a aproveitarem ensino, pesquisa e extensão na Ufac. “Vivam a universidade no dia a dia. Participem dos projetos culturais e esportivos, porque é isso que consolida a formação de vocês”, disse. Ela lembrou o esforço constante em busca de recursos para a instituição. “Temos ido a Brasília em busca de investimentos, não só para novos projetos, mas para garantir a manutenção da universidade. A Ufac gera empregos, forma profissionais e precisa continuar crescendo.”
Além disso, ela destacou as políticas de permanência estudantil e o funcionamento do RU. “Mantemos o preço acessível das refeições e garantimos que estudantes em situação de vulnerabilidade não paguem. Isso é parte do nosso compromisso com a permanência e a inclusão.”
O pró-reitor de Assuntos Estudantis, Isaac Dayan Bastos da Silva, reforçou o compromisso da universidade com o acolhimento e a integração dos calouros. “Hoje é um dia muito feliz. A recepção traz informações essenciais e valoriza quem faz a universidade no cotidiano”, afirmou. Ele orientou os novos estudantes a acompanharem os canais oficiais da Ufac, participarem de projetos de extensão e pesquisa e ficarem atentos aos editais de bolsas e auxílios estudantis.
Também participaram da solenidade a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno; o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; o pró-reitor de Planejamento, Alexandre Hid; o representante da UNE, Rubisclei de Abreu Maia Júnior; e a presidente do DCE, Ingrid Maia de Oliveira.
Sistema online de compras de tíquetes do RU
Durante a cerimônia, a Proaes entregou portarias de elogio à equipe responsável pela criação do sistema online de aquisição de refeições por meio de créditos, o E-Ticket, que organiza o fluxo no RU e substitui a antiga compra presencial de tíquetes. O site é acessado com a credencial ID Ufac, mediante login com CPF e senha cadastrada.
Foram homenageados o professor Daricélio Moreira Soares da disciplina Engenharia de Software 2, do curso de Sistemas de Informação; o técnico do Núcleo de Tecnologia da Informação, Wolney Pinheiro de Almeida; e os estudantes de Sistemas de Informação, Daniel Elias Santos Souza, João Félix Moreira Vidal, Joceli Franco da Anunciação e Mateus Almeida da Rocha.
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