Em recente entrevista ao El Confidencial, o linguista Fernando Venâncio lançou uma provocação: dentro de 50 anos, o Brasil deixará de falar o português para adotar um novo idioma, o brasileiro.
A tese, que está no centro de seu livro “Assim Nasceu uma Língua”, sustenta que as transformações culturais e linguísticas tornariam inevitável a separação completa entre o português europeu e o do Brasil.
No entanto, essa visão simplifica a complexidade das dinâmicas linguísticas e ignora forças contemporâneas que apontam para o caminho oposto: o português está evoluindo, sim, mas em direção a uma adaptação global, não à fragmentação.
O que Venâncio deixa de considerar é o papel fundamental que a globalização e a mobilidade desempenham no cenário linguístico atual. O Brasil, com sua pujante produção cultural e influência internacional, exporta diariamente seu idioma por meio de filmes, novelas, música e literatura. Esses produtos atravessam fronteiras e impactam diretamente a língua falada em Portugal e em outros países lusófonos, promovendo uma convivência e não uma ruptura.
A circulação de brasileiros e portugueses entre os dois lados do Atlântico é outro fator decisivo, criando um ambiente de integração cultural e linguística.
Hoje, redes sociais e plataformas digitais aproximam falantes de diferentes variantes, gerando uma interação constante que suaviza as diferenças regionais e reforça a unidade da língua. A comunicação transnacional entre lusófonos em um mundo hiperconectado reduz qualquer possibilidade de uma separação formal. O que vemos é a coexistência das variantes em um cenário de flexibilidade e adaptação, onde as trocas culturais enriquecem e não rompem, antes reforçam a sua essência.
As dinâmicas demográficas revelam outro aspecto crucial: o crescimento da diáspora brasileira em Portugal e em outros países lusófonos promove uma convivência que não gera segregação, mas sim uma absorção mútua. Os falantes estão constantemente reconfigurando suas formas de falar, absorvendo dialetos e expressões regionais, mas sem perder a estrutura comum que caracteriza o português como um idioma único.
O argumento de Venâncio de que as indústrias culturais tratam o português do Brasil e o português europeu como línguas distintas carece de análise mais profunda. Essas divisões são mais comerciais que linguísticas. A segmentação de traduções, por exemplo, é uma estratégia de mercado para atender públicos específicos, mas isso não significa que os falantes brasileiros e portugueses não possam se entender. Essas barreiras são muito mais estilísticas do que estruturais.
Finalmente, é importante ressaltar que o português é uma língua internacional, não binacional. Com mais de 270 milhões de falantes espalhados por todos os continentes, a língua portuguesa está em expansão, não em retração. Assim como o inglês, que possui múltiplas variantes regionais sem perder sua unidade, o português também caminha para uma padronização que respeita as variações regionais, mas que mantém uma base comum.
O que veremos nas próximas décadas não será o desaparecimento do português no Brasil, mas sua adaptação a um mundo globalizado. O futuro do português é de transformação e integração, não de separação. Com toda sua riqueza e diversidade, continuará a ser o elo que une Brasil, Portugal e todos os países lusófonos.
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