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Marçal repete votos de Bolsonaro e Tarcísio em bairros – 09/10/2024 – Poder

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Ana Luiza Albuquerque, Júlia Barbon

Uma sequência de casas térreas, algumas placas de “aluga-se”, poucas árvores aqui e acolá, uma hamburgueria local, um ambulante vendendo panos de prato e uma igreja. O cenário na região que mais deu votos a Pablo Marçal (PRTB) é de um típico bairro de classe média de São Paulo.

“O PT é duro, é só roubalheira”, diz o vendedor Marcelo Vieira, 43, em uma das esquinas da Vila Formosa, distrito na zona leste onde o influenciador marcou 34,6% dos votos válidos, acima de seus 28,1% totais. Ele fica dentro de uma área que não foi pintada de vermelho nem de azul no último domingo (6), e sim de amarelo.

Apesar de ter perdido para Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), Marçal venceu em grande parte da zona leste e em um pedaço da zona norte, territórios parecidos aos que deram vitória ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas eleições de 2022.

Marcelo foi um dos moradores da Vila Formosa que votou nos três nos últimos pleitos. “Eu acho a direita mais certinha, [no sentido de] que vão fazer alguma coisa. Os que estão aí não fazem”, afirma ele ao lado do carrinho onde vende desde pochete até fone de ouvido e controle remoto.

Nascido no interior do Piauí, ele concluiu o sétimo ano, chegou na capital paulista aos 13 anos e arrumou seu primeiro emprego como office boy numa papelaria. Ascendeu como vendedor em lojas de sapato e, hoje, vai trabalhar de carro e mantém os três filhos em escola particular, um deles com bolsa de estudos.

Caio Barbosa, doutor em ciência política pela USP que estudou o avanço de Bolsonaro nas regiões da cidade em 2022, avalia que o discurso meritocrático, do esforço individual em detrimento da confiança nos serviços do Estado, tem grande penetração nesses bairros. Segundo ele, Marçal levou essa narrativa, antes associada ao ex-presidente, a outro patamar.

“Ele se apresentou como esse candidato que saiu do nada e construiu fortuna. Esse discurso do ‘self made man’ acaba pegando muito o eleitorado dessa região. Ele encontrou apelo justamente em algumas classes de trabalhadores precarizados, como entregadores e motoristas de aplicativo”, diz.

Em sua tese, Barbosa concluiu que Bolsonaro herdou os votos de simpatizantes do ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf (PP) naquela área, como mostrou a Folha.

Além da Vila Formosa, Marçal registrou suas melhores votações em distritos como Vila Matilde, Mooca e Tatuapé (zona leste). Também foi bem na Vila Maria, Vila Sabrina e Tucuruvi (zona norte), pegando grande parte do “focinho” e uma das orelhas do cachorro que forma o mapa de São Paulo.

Marcada por uma população de classe média baixa, a região no geral não tem grandes vulnerabilidades e conta com infraestrutura urbana instalada, analisa Katia Canova, especialista em planejamento urbano e regional pela USP, que também destaca a reduzida participação cidadã a nível local.

Ela define o morador médio desses bairros como aquele que gasta muito tempo no transporte público para chegar ao trabalho —pelo qual é mal remunerado—, concluiu o ensino médio ou técnico e é sobretaxado. “É uma população que faz um sacrifício para ter algum diploma e se colocar no mercado, mas nunca tem grandes oportunidades de alcançar grandes salários ou posições”, afirma.

O pesquisador Barbosa complementa que esses distritos nasceram com a chegada de imigrantes no começo do século 20, que estabeleceram ali um reduto de classe média com valores conservadores. Depois de ter entrevistado os eleitores de Bolsonaro na região, ele concluiu que o conservadorismo moral ali permaneceu, mas que também ganhou impulso a defesa de valores mais liberais na economia.

Ao longo da campanha, Marçal ativou símbolos caros ao eleitor bolsonarista, aproveitando-se do baixo entusiasmo com Nunes. Ele reforçou a defesa da família patriarcal, de uma vida regida por Deus e do nacionalismo. Apresentou-se como o único candidato que combatia o sistema e até posicionou Bolsonaro como um líder que se dobrou a ele.

O discurso ganhou eco no barbeiro Antônio da Cruz, 60. “Votei no Marçal porque ele fala a verdade. Se ele tivesse ganho acredito que teria feito muita coisa, porque ele vai em cima mesmo, ele não depende de mim, de você, do outro. Ele vai e faz”, diz ele no banco de um praça na Vila Formosa, bairro onde “nasceu, se criou, casou, divorciou e casou os filhos”.

Antônio também exemplifica a conclusão da tese do “malufismo” de Barbosa. “Meu pai era malufista roxo. Ele falava: não tem político melhor que o Maluf”, relembra.

O político conhecido pelo bordão “Rota na rua” remonta ao discurso de ordem replicado pelo governador Tarcísio, pupilo do bolsonarismo, mais de 20 anos depois.

Essa narrativa pode ter aderência em agentes de forças de segurança, pequenos comerciantes afetados pela violência e moradores de periferia, afirma Jorge Chaloub, professor de ciência política na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que pesquisa as novas configurações da direita no Brasil.

Segundo ele, a linha dura na segurança é um dos fatores que atraem o eleitor de classe média de Bolsonaro, mas difere um pouco do público nesse segmento de Marçal, que parece mobilizar mais o eleitorado jovem e não vinculado ao emprego formal.

Chaloub pondera que a classe média baixa é muito diversa e pode ter diferentes razões para apoiar um ou outro, o que precisaria ser estudado mais a fundo. Uma dessas diferenças, por exemplo, são as nuances da pauta libertária, afirma.

Apesar de ter no seu entorno pessoas como o ex-ministro Paulo Guedes, a adesão do ex-presidente ao ultraliberalismo foi lateral, enquanto para a persona política de Marçal o tema é central. “É o predomínio de outra linguagem política. É o influencer que está o tempo todo monetizando.”

O barbeiro Antônio é um dos que diz não gostar de Bolsonaro, apesar de gostar do autodenominado ex-coach. Votou em Lula e em Tarcísio em 2022, e vai optar por Boulos no segundo turno porque quer uma mudança.

“Outro dia o Nunes foi lá na minha igreja [evangélica] com o Tarcísio, mas não falou nada. Isso acaba desanimando a gente”, afirma, apesar de dizer que não considerou nas urnas a religião.

Colaborou Augusto Conconi, de São Paulo



Leia Mais: Folha

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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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