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Marteladas de Tarcísio mudaram ofício do artesão da Bolsa – 02/11/2024 – Mercado

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Thiago Bethônico

“Seu Osni Branco que se prepare!”, anunciou no microfone o governador Tarcísio de Freitas antes de bater o martelo no leilão do trem São Paulo-Campinas, em fevereiro deste ano. “Vamos literalmente descer a porrada.”

Após encarar brevemente as autoridades que estavam ao seu lado no palco da B3, em São Paulo, Tarcísio desferiu quatro golpes fortes e barulhentos no batedor, jogou o martelo em cima do balcão e virou de lado. Sob aplausos e câmeras dos empresários presentes, não conseguiu arrebentar a peça.

“Não quebra mais. Uma salva de palmas para o seu Osni Branco”, emendou.

Osni, 77, é o artista que há quase 40 anos faz os martelos usados em cerimônias na Bolsa de Valores. À Folha ele conta que nunca uma peça sua havia sido quebrada durante leilão, até que, em 2021, o então ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro inaugurou a prática que hoje faz questão de transformar em marca registrada na política.

“Eu fiquei chocado, não sabia o que estava acontecendo”, diz o artista, relembrando seu sentimento quando viu a cena. “Eu pensei ‘por que ele está dando essas porradas desse jeito? Será que nunca viu alguém bater o martelo?’.”

Era o leilão da concessão da Dutra, e a cena dos pedaços do martelo voando pelos ares enquanto Tarcísio desferia os golpes viralizou.

Segundo Osni, cada martelo demora pelo menos um mês para ser construído, num trabalho que ele faz questão de ser minucioso e detalhista, hábitos aprendidos no Japão, onde viveu por 20 anos.

“Eu tenho que fundir as partes metálicas, fazer o acabamento. São frações de milímetros nos encaixes, para ficar bonito, né? Se você olhar, aquilo ali é uma joia. Os encaixes são todos perfeitos. Isso demanda um tempo danado”, afirma.

No começo, a cabeça do martelo era feita de peroba-rosa, e o batedor (onde os golpes são desferidos) tinha uma espécie de gongo que trazia algo de “intrigante” para as cerimônias, segundo o artista, já que a peça era de madeira, com acolchoado de couro e emitia um som metálico. O que Osni tinha em mente ao pensar nesse formato era uma batida suave, como fazem os juízes.

Mas tudo isso mudou com Tarcísio. Com as supermarteladas, Osni alterou a madeira da cabeça do martelo para angelim-pedra e abandonou a ideia do batedor com gongo. “A base de hoje é um tanque de guerra. Eu me adaptei ao mundo militar”, brinca Osni.

Veja a evolução do resultado das marteladas no vídeo abaixo

Segundo ele, a própria Bolsa pediu uma base mais reforçada para aguentar as marteladas do governador, no que ele sugeriu usar então uma bigorna e uma marreta. “Contra a força não há resistência!”, comenta, em tom de brincadeira.

Prova disso é que, mesmo com toda a estrutura reforçada, Osni já produziu pelo menos meia dúzia de novos martelos nos últimos anos. Questionado se não é possível apenas ajustar a peça quando quebra, o artista quase se revolta. “Não me fale de refazer martelo, pelo amor de Deus! Tem que fazer tudo novo.”

Das porradas para celebrar as concessões e privatizações, Tarcísio coleciona os martelos e as peças quebradas. Durante o leilão da venda da Emae, em abril deste ano, o governador disse guardar até hoje uma placa com o anel metálico que ele quebrou ao meio em uma das marteladas.

Sobre a origem do seu trabalho como artesão oficial da Bolsa, Osni conta que foi procurado em meados da década de 1980 (o ano correto ele não se lembra) para pensar em algo que marcasse simbolicamente o início e o fim de um leilão eletrônico. Ele sugeriu o martelo, que além de ser usado nos leilões analógicos na contagem do “dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três”, carrega diversos significados simbólicos.

Na Justiça, alguns atribuem a figura do martelo à mitologia grega, pela ligação com Hefesto, deus do fogo e dos metais. Em movimentos sociais, o objeto representa o trabalho urbano e aparece no símbolo na bandeira comunista em oposição à foice, que faz alusão ao trabalho do camponês.

Mas a motivação de Osni não foi nenhuma dessas. “Poder e decisão: o martelo tem essa simbologia. Vem de Marte, o deus da guerra. Os romanos usavam até como arma, o cabo tinha dois metros de altura e eles usavam para derrubar os cavaleiros”, diz, explicando porque escolheu o martelo como símbolo dos leilões.

Mesmo vendo seu trabalho indo literalmente para o espaço por vezes, ele não se incomoda mais com as marteladas. Segundo o artista, Tarcísio ficou feliz porque ganhou uma marca, e ele, porque arrumou muito trabalho para fazer.

No leilão da Emae, por exemplo, ele foi chamado ao palco pelo governador para a cerimônia de batida de martelo. Naquele momento, Tarcísio perguntou: “posso descer a porrada?”. “Pode e deve”, autorizou Osni.

Foram três supermarteladas. A peça ficou intacta.





Leia Mais: Folha

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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufac realizou, nesta terça-feira, 21, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede, a abertura do Fórum Permanente da Graduação. O evento visa promover a reflexão e o diálogo sobre políticas e diretrizes que fortalecem o ensino de graduação na instituição.

Com o tema “O Compromisso Social da Universidade Pública: Desafios, Práticas e Perspectivas Transformadoras”, a programação reúne conferências, mesas temáticas e fóruns de discussão. A abertura contou com apresentação cultural do Trio Caribe, formado pelos músicos James, Nilton e Eullis, em parceria com a Fundação de Cultura Elias Mansour.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, representou a reitora Guida Aquino. Ele destacou o papel da universidade pública diante dos desafios orçamentários e institucionais. “Em 2025, conseguimos destinar R$ 10 milhões de emendas parlamentares para custeio, algo inédito em 61 anos de história.”

Para ele, a curricularização da extensão representa uma oportunidade de aproximar a formação acadêmica das demandas sociais. “A universidade pública tem potencial para ser uma plataforma de políticas públicas”, disse. “Precisamos formar jovens críticos, conscientes do território e dos problemas que enfrentamos.”
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou que o fórum reúne coordenadores e docentes dos cursos de bacharelado e licenciatura, incluindo representantes do campus de Cruzeiro do Sul. “O encontro trata de temáticas comuns aos cursos, como estágio supervisionado e curricularização da extensão. Queremos sair daqui com propostas de reformulação dos projetos de curso, alinhando a formação às expectativas e realidades dos nossos alunos.”
A conferência de abertura foi ministrada pelo professor Diêgo Madureira de Oliveira, da Universidade de Brasília, que abordou os desafios e as transformações da formação universitária diante das novas demandas sociais. Ao final do fórum, será elaborada uma carta de encaminhamentos à Prograd, que servirá de base para o planejamento acadêmico de 2026.
Também participaram da solenidade de abertura a diretora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Grace Gotelip; o diretor do CCSD, Carlos Frank Viga Ramos; e o vice-diretor do CMulti, do campus Floresta, Tiago Jorge.



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Ufac realiza cerimônia de abertura dos Jogos Interatléticas-2025 — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza cerimônia de abertura dos Jogos Interatléticas-2025 — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou a abertura dos Jogos Interatléticas-2025, na sexta-feira, 17, no hall do Centro de Convenções, campus-sede, e celebrou o espírito esportivo e a integração entre os cursos da instituição. A programação segue nos próximos dias com diversas modalidades esportivas e atividades culturais. A entrega das medalhas e troféus aos vencedores está prevista para o encerramento do evento.

A reitora Guida Aquino destacou a importância do incentivo ao esporte universitário e agradeceu o apoio da deputada Socorro Neri (PP-AC), responsável pela destinação de uma emenda parlamentar de mais de R$ 80 mil, que viabilizou a competição. “Iniciamos os Jogos Interatléticas e eu queria agradecer o apoio da nossa querida deputada Socorro Neri, que acredita na educação e faz o melhor que pode para que o esporte e a cultura sejam realizados em nosso Estado”, disse.

A cerimônia de abertura contou com a participação de estudantes, atletas, servidores, convidados e representantes da comunidade acadêmica. Também estiveram presentes o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, e o presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara.

(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)

 



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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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