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Meu livro se vingou de mim e isso é bom, diz Mohamed Sarr – 12/10/2024 – Ilustrada

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Walter Porto

Em uma das mesas mais procuradas da Flip, na tarde deste sábado, pessoas se sentaram ao longo de todas as escadas do auditório da Matriz na ânsia de ouvir a conversa do senegalês Mohamed Mbougar Sarr com o brasileiro Jeferson Tenório.

Mediados por Rita Palmeira, os autores se mostraram afinados em seus projetos literários, revelaram conhecer bem a obra um do outro e dividiram até provocações sobre futebol.

Sarr jogou na quinta uma pelada com Chico Buarque, fã de seu monumental romance “A Mais Recôndita Memória dos Homens”, e ressaltou que ganhou a partida. Tenório brincou que, se ele estivesse no outro time, o resultado seria outro, arrancando risadas da plateia.

Sarr abordou a ironia consciente de que seu livro, que ataca o histórico racista das instâncias que legitimam a literatura na França, acabou premiado por esse mesmo sistema com a maior distinção da francofonia, o Goncourt.

“A ironia atravessa o livro do começo ao fim, e eu e o personagem não estamos excluídos dessa ironia”, afirmou Sarr. “Isso é algo de que gosto muito na vida. Nada surpreende que o livro se reflita na realidade. Ele é um organismo vivo e se vingou, reagiu, e que bom que ele fez isso, porque senão eu não estaria aqui.

Há uma ambiguidade essencial na situação de escrever na língua em que você foi colonizado, disse ele. Há expectativas exóticas em cima do escritor, um inevitável “presente de grego da situação pós-colonial”.

“Você fica sempre entre o não quero e o quero ser reconhecido”, diz ele. “Isso permite ser lido por um maior número de pessoas, mas há comentários do tipo ‘só ganhou porque é africano’. Mas o reconhecimento pode tanto vir como não vir por você ser africano. A solução é confiar totalmente no que você está escrevendo.”

Tenório conversou com essa questão sob a luz do racismo à brasileira, ressaltado no seu livro mais conhecido, “O Avesso da Pele”, vencedor do Jabuti de melhor romance.

“Meu protagonista chora a morte do pai, mas é um luto coletivo, porque ele foi morto por ser uma pessoa negra. O pranto dessa morte é coletivo. Nos meus livros, quanto mais eu falo de mim, mais trago a voz coletiva de uma população que sofre com violências sistematicamente.”

Os dois escritores também se irmanaram ao ser alvo de sanhas censoras. No caso de Tenório, foi o rumoroso caso em que escolas de diversos estados orientaram contra a recomendação de “O Avesso da Pele” por causa de cenas de teor sexual supostamente inadequado. Segundo ele, esse ímpeto revela como desejo e perigo andam lado a lado.

“O desejo não é algo dócil. O conservador não sabe lidar com o dele e não quer que o outro lide, tampouco. Quer que as pessoas sejam dóceis, que sejam consumidoras e não cidadãs.”

No caso de Sarr, o alvo foi o livro “Homens de Verdade”, uma exploração de homofobia e religião no Senegal, que quando passou a ser mais lido começou a ver reações de livrarias que não queriam vendê-lo. “E o Estado disse que não poderia fazer nada.”

O que não impede que Sarr continue se dedicando a sua literatura insubmissa, sem conformação com nenhum ditame além do seu próprio processo criativo –que ele aproximou da imagem de um labirinto.

“A figura do labirinto não é de encarceramento, mas de um lugar feliz, de busca, de grande liberdade de ir em todas as direções, inclusive a becos sem saida. O importante não é a saída do labirinto, mas o centro dele. É onde se encontra alguma espécie de verdade, que talvez seja dolorosa.”



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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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