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Não há nada de manso ou brando no parto: por que os artistas homens higienizaram a Virgem Maria? | Arte

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6 meses atrásem
Katy Hessel
Ho quanto você sabe sobre a Virgem Maria? Vá a qualquer país católico, igreja, instituição ou museu europeu e a sua imagem será inescapável – como a mulher idealizada, obediente, casta e bonita. Com as mãos entrelaçadas, ou na pose da Madona com o Menino, como rainha dos céus, ou humildemente sentada na natureza, ela é retratada em azul, simbolizando a pureza, cheia de piedade em seu papel deliberadamente subserviente.
A Virgem Maria é talvez a “figura feminina” mais famosa e mais bem documentada do planeta. Mas ela também está envolta em mistério e cercada de contradições: humana e divina, rainha e serva, mãe e virgem. Poderíamos atribuir isso à sua história – ou à sua falta de história – considerando que, apesar de sua presença onipresente, sua aparição é tão breve e sua voz tão silenciosa na Bíblia?
Lucas e Mateus falam do nascimento de Cristo. Em Mateus, ela fica em silêncio, enquanto em Lucas ela fala três vezes, incluindo seu discurso poderoso o Magnificat. Em Mark e John, ela aparece duas vezes. No entanto, em toda a Bíblia, não há detalhes sobre seu nascimento, morte, aparência ou idade. Embora ela seja considerada o ser humano mais próximo de Deus e do Filho, não nos é dada nenhuma história de Maria. Os únicos “detalhes” fora do seu papel como mãe de Cristo são dados no Evangelho de Tiago, um texto apócrifo do século II. Maria é mencionada mais vezes no Alcorão do que no Novo Testamento.
Por que a história dela está tão ausente? Porque os escritores dos Evangelhos pretendiam contar a história de Jesus Cristo, não da sua mãe, e isso permitiu que os pais da igreja e os teólogos criassem as suas próprias elaborações e fabulações. Os artistas também fizeram suas próprias interpretações.
Descrito por Hilary Mantel como a “improbabilidade no cerne da vida espiritual; um paradoxo, não polinizado, mas fecundo, acima da natureza, mas também contra a natureza”, Maria foi reinventada de acordo com as necessidades da sociedade. Mantel diz que sua natureza de mãe e virgem “foi única pela divindade, uma chance singular para a carne feminina manchada se tornar aceitável para os homens celibatários que estavam encarregados de ir ou não para o céu”.
Se olharmos para as representações dela na arte, parece que Mary também se transformou visualmente nesse estado. No século IX, ela era um ícone bizantino, brilhando no teto celestial da Hagia Sophia, em Istambul. Na obra gótica Maestà do pintor Cimabue, do século XIII, ela estava entronizada em um mundo dourado brilhante. Em 1310, ela foi retratada na revolucionária Madonna Ognissanti de Giotto – uma obra pensada para marcar o ponto de entrada da arte renascentista, celebrada por seu hábil naturalismo e efeitos tridimensionais. Retratada sem a rigidez e achatamento anteriores, a carne corporal de Maria é evidente sob suas vestes.
Nos séculos seguintes, ela tornou-se cada vez mais humanizada. Por volta de 1500, sua imagem havia sido consolidada no Ocidente como uma mulher de pele clara, de classe média ou alta, vestida de azul, adoravelmente apaixonada por seu bebê, a caminho de se tornar o que seria considerado a mulher idealizada: obediente, subserviente, santo e, claro, “manso e brando”.
Mas e a perspectiva de Mary? Como ela se sentiu? As histórias que a arte nos conta foram quase sempre contadas por homens – e especialmente por Maria. Quase por definição, falta uma perspectiva feminina, deixando os espectadores com ideias distorcidas. Então isso Natal Estou pensando em Mary – mas através dos olhos de mulheres artistas.
Na Itália, em 1613-14, Artemisia Gentileschi pintou sua Madona com o Menino. Sua Maria é humilde (sentada em uma cadeira simples de madeira) e divina (ostentando uma auréola fina e dourada), mas ela também é de alguma forma identificável. Vestida de rosa, em vez de azul puro, ela é mostrada tentando, mesmo lutando, amamentar uma criança carnuda e contorcida de cabelos dourados. Sua expressão parece cheia de amor e ternura, mas será que seus olhos estão fechados (e seu cabelo, ao contrário de outras representações, não é perfeito) porque, como qualquer mãe, ela está exausta? A representação de Gentleschi está a mundos de distância da imagem de aço, quase robótica, de Jean Fouquet. Díptico Melunc 1452.
Mas, a meu ver, a representação mais rica e complexa é de Paula Rego. Em 2002, a pedido do então presidente de Portugal, Jorge Sampiao, ela reinventou e recuperou a história de Maria. Pretendendo contar os episódios da perspectiva de uma mulher real, ela disse: “Como você atualiza a história? De certa forma, você não pode, mas o que você pode fazer é ver isso do ponto de vista de uma mulher… na verdade, de Maria contando a história.”
Colocando Maria acima de Cristo, Rego deu vida real às experiências de Maria. A sua Anunciação, que mostra um anjo de asas fofas entregando a mensagem a uma jovem, ansiosa e tímida Maria, faz muitas perguntas. Como teria sido para ela? Ela queria passar por isso? Ela estava pronta? Quantos anos ela tinha? Rego vestiu Mary com uniforme escolar e usou a neta de 12 anos como modelo. “Ela está assustada, mas aceita”, disse Rego, que como mãe teve uma experiência de gravidez em primeira mão, ao contrário de todos aqueles artistas homens.
Noutra obra, Natividade, Rego mostra uma Maria cansada, agarrada à barriga inchada e deitada sobre outro anjo, de olhos fechados e cheia de dor. A artista nos faz perguntar: por que a realidade de algo como o parto tem sido tão negligenciada nas representações artísticas da história de Maria? Não é interessante que seu único “ato” tenha sido dar à luz, mas não há obras que a retratam realmente fazendo isso? No passado mês de Julho, numa igreja em Linz, alguém ficou tão horrorizado com a ideia de a Virgem Maria dar à luz que decapitou uma escultura por Esther Strauss mostrando exatamente isso.
Por que parece tão radical? Será porque finalmente estamos vendo esse momento infinitamente pintado da perspectiva da mãe?
Da próxima vez que você assistir a uma peça de Natal, ou contemplar uma pintura da Madona com o Menino em uma galeria ou em um cartão de Natal, pense em Maria. O que ela está passando? Quais são os pensamentos dela? A mundos de distância daqueles de uma mulher de rosto inexpressivo, como este na Catedral de Ely. Vamos dar arbítrio a Maria. As histórias das mulheres são importantes – e as perspectivas das mulheres também.
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MUNDO
Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.
Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.
Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.
Amor e semente
Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.
Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.
E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.
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Cantos de agradecimento
E a recompensa vem em forma de asas e cantos.
Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.
O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.
Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?
Liberdade e confiança
O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.
Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.
“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.
Internautas apaixonados
O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.
Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.
“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.
“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.
Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:
Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok
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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.
No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.
“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.
Ideia improvável
Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.
“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.
O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.
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A ideia
Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.
Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.
E o melhor aconteceu.
A recuperação
Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.
Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.
À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.
Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.
“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.
Cavalos que curam
Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.
Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.
Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.
“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”
A gente aqui ama cavalos. E você?
A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News
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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.
O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.
O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.
Da tranquilidade ao pesadelo
Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.
Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.
A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.
Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.
Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.
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Caminho errado
Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.
“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.
Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.
Caiu na neve
Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.
Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.
Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.
“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”
Luz no fim do túnel
Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.
De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.
“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.
A gentileza dos policiais
Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.
“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.
Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!
Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:
Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni
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