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OEA foi contaminada pela polarização política, diz…

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Marcela Rahal

O representante do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos, Benoni Belli, falou em entrevista à coluna os desafios que a OEA tem tido em atuar na resolução de conflitos, como o vivido na Venezuela. “Mais recentemente, a OEA foi contaminada em grande medida pelo clima de polarização política na região e teve resultados desiguais em sua atuação. O encaminhamento do dossiê venezuelano desde 2017 revelou uma série de erros que acabaram retirando relevância da Organização nesse tema”.

O embaixador destaca a importância da OEA resgatar seu papel de mediação e prevenção de conflitos. “Isso requer retomar o estilo de liderança que o ex-Secretário-Geral Baena Soares imprimiu à Organização, ou seja, mais diplomacia e menos pirotecnia, sobretudo ao tratar de temas politicamente sensíveis que exigem manter abertos canais de diálogos com todos os interlocutores”, disse.

A Venezuela não tem mais representante na OEA, isso limita ainda mais o papel da Organização nessa questão. O país reelegeu o presidente Nicolás Maduro no dia 29 de julho e até agora o Conselho Eleitoral, responsável pela divulgação do resultado, não divulgou as atas eleitorais que comprovem a vitória do regime chavista.

A eleição venezuelana foi contestada pela oposição e por muitos países da comunidade internacional. O Brasil nunca reconheceu o resultado das eleições, mas tentou manter uma posição neutra e de diálogo, até vetar de forma informal a entrada do país como parceiro no Brics. Isso irritou Nicolás Maduro. O governo venezuelano convocou seu embaixador no Brasil para consulta e divulgou notas duras contra o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim.

Leia abaixo trechos da entrevista concedida pelo embaixador Benoni Belli.

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A OEA tem conseguido exercer uma resolução de conflitos regionais eficiente na avaliação do sr?

A OEA foi criada em 1947 justamente com o propósito de ajudar a consolidar uma região pacífica. Capturada em seus primeiros anos pela Guerra Fria, tornou-se palco da disputa do mundo bipolar da época. Nos anos 80, contudo, teve papel mais ativo, ajudou a descomprimir a situação em países da América Central. O Secretário-Geral brasileiro da OEA de 1984 a 1994, o Embaixador João Clemente Baena Soares, conferiu à Organização papel ativo, inclusive na organização da primeira missão de observação eleitoral robusta, realizada em 1990 na Nicarágua. Mais recentemente, a OEA foi contaminada em grande medida pelo clima de polarização política na região e teve resultados desiguais em sua atuação. O encaminhamento do dossiê venezuelano desde 2017 revelou uma série de erros que acabaram retirando relevância da Organização nesse tema. Em contraste com isso, a OEA foi muito útil para garantir a transição de poder pacífica e o respeito ao resultado das eleições na Guatemala no ano passado. Então, para resumir, eu diria que a OEA é relevante quando há engajamento, diálogo e diplomacia com a participação de todos os atores relevantes, ao passo que sua atuação perde densidade se há isolamento deliberado de países ou de atores específicos.

Como a OEA poderia ganhar mais relevância e em quais questões poderia ter um papel mais prático e relevante?

A OEA tem um papel prático e relevante em diversas matérias. Veja que a Organização possui quatro pilares: defesa da democracia, segurança e defesa, direitos humanos e desenvolvimento. Em todos esses, ela presta serviços importantes que merecem ser reconhecidos. O sistema de direitos humanos, com a Comissão Interamericana e a Corte, é modelo para outras regiões. A área de segurança possui uma infinidade de mecanismos de grande valia no combate ao problema das drogas, luta contra crime transnacional organizado, temas relacionados à segurança cibernética, lavagem de dinheiro e muitos outros. Só a OEA oferece uma plataforma que reúne todos os países das Américas para enfrentar desafios comuns que requerem a participação de todos. No campo do fortalecimento da democracia, destaco o papel importante das missões de observação eleitoral. O pilar do desenvolvimento é também importante por ajudar a aproximar os países em agendas positivas em áreas como educação, saúde, ciência e tecnologia, desenvolvimento sustentável. Enfim, o que falta para tornar a OEA mais relevante é resgatar seu papel de mediação e prevenção de conflitos. E isso requer retomar o estilo de liderança que o ex-Secretário-Geral Baena Soares imprimiu à Organização, ou seja, mais diplomacia e menos pirotecnia, sobretudo ao tratar de temas politicamente sensíveis que exigem manter abertos canais de diálogos com todos os interlocutores.

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Desde que foi nomeado Embaixador na OEA, como tem visto a posição brasileira em relação aos conflitos na Venezuela? Há ainda espaço para que o Brasil atue como interlocutor para resolução de conflitos regionais?

Para todos os efeitos práticos, a Venezuela não participa da OEA, então o tema normalmente tem sido tratado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que é um organismo independente e não responde aos Estados membros. Desde que cheguei ao posto, tivemos de nos posicionar como países apenas recentemente, quando se examinou projeto de resolução já no contexto pós-eleitoral. O fato da Venezuela não integrar a OEA prejudica a capacidade da Organização de mediar qualquer coisa. Por isso, fica difícil que decisões dos órgãos políticos da OEA tenham efeito real, embora possam refletir certos entendimentos mínimos e visões sobre a crise venezuelana. O Brasil busca sempre se colocar numa posição construtiva para contribuir para o diálogo. Fomos essenciais no caso da Guatemala, por exemplo. Havia uma tendência entre alguns países de partir diretamente para a pressão política mais alta, mas pedimos calma e aplicamos uma pressão calibrada, que surtiu efeito, levando o então governo a colaborar. Por ter esse perfil de compromisso com o diálogo e o direito internacional, o Brasil ajudou concretamente a viabilizar solução de consenso no caso guatemalteco, que oferece lições valiosas de como a OEA pode contribuir para superar tensões e crises institucionais.

Como as eleições americanas podem interferir no futuro da OEA?

Os EUA respondem por 50% das contribuições ao fundo regular da OEA. Também possuem peso político e econômico decisivo, o que garante capacidade de influenciar o processo decisório. Qualquer que seja o resultado das eleições, os Estados Unidos continuarão sendo atores incontornáveis na OEA. Como sempre, buscaremos um diálogo fluido com os representantes norte-americanos, já que temos interesses comuns, inclusive o fortalecimento da capacidade de atuação da OEA nos seus quatro pilares estratégicos que mencionei antes.

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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go...

Marcela Rahal

Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.

Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.

Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.

O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.



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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg...

Ludmilla de Lima

Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.

Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano. 

A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.

A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.



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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu...

Matheus Leitão

A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.

Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.

Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.

“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.

A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.

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“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana. 

A seguir as cenas dos próximos capítulos…



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