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Oscar Nakasato defende idosos da impaciência em ‘Ojiichan’ – 02/11/2024 – Ilustrada

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Diogo Bachega

Já faz duas décadas que Oscar Nakasato criou interesse pela terceira idade, mas é agora, depois de passar dos 60 anos, que ele publica “Ojiichan”, um livro sobre o envelhecimento.

“Nihonjin”, primeira obra do escritor e vencedora do prêmio Jabuti, partiu de uma pesquisa sobre os descendentes de japoneses na literatura brasileira. Na época, ele havia constatado que esses personagens quase não apareciam entre os grandes livros nacionais e, quando davam as caras, eram retratados de forma bidimensional. Seu livro, então, buscou preencher a lacuna.

Apesar de “Ojiichan” retratar personagens nikkeis, isto é, japoneses e descendentes que vivem fora do Japão, o livro se centra em outras duas questões, a velhice e a memória familiar.

Após completar 70 anos, Satoshi é aposentado compulsoriamente e obrigado a parar de ensinar biologia a alunos de uma escola pública. Pouco depois, ele perde sua filha, sua casa e é forçado a criar uma nova vida em um pequeno apartamento com Kimiko, sua mulher que tem Alzheimer.

Nakasato passou a olhar com mais atenção para a terceira idade na virada do milênio, quando seu pai, que morreu em 2002, desenvolveu a mesma doença que aparece no livro.

“A partir daí, comecei a me interessar bastante pelas questões relacionadas à terceira idade, porque percebi que as pessoas dão pouca importância a isso”, afirma. “Parece que são consideradas pessoas que não têm mais o querer. Nós acabamos decidindo por elas. Durante vários anos, isso me incomodou bastante, e o romance é fruto disso.”

Esse sequestro do poder de escolha já está no primeiro capítulo do livro, quando a filha de Satoshi manda cortar, sem consultá-lo, uma antiga jabuticabeira que fazia sombra em seu quintal. Na mesma cena, ela ainda o surpreende com novos móveis que comprou no cartão dele para repaginar a casa que dividem.

“Eu sou bastante crítico em relação a como a sociedade trata o velho. Ele não volta a ser criança, a pessoa envelhece e carrega toda uma história”, afirma. “Eu não quero meus filhos dizendo para mim o que eu tenho que fazer. É lógico que depois de uma certa idade a gente vai criando algumas dependências, mas eu quero tomar decisões.”

Nakasato, ao conversar com o repórter, revela os pedaços da realidade que compõem sua história. Uma jabuticabeira parecida já existiu no quintal da casa em que sua mãe mora ainda hoje, e ele mesmo teme o dia em que, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, será impedido de lecionar.

Em reportagens sobre a terceira idade no Japão, encontrou histórias sobre idosos solitários, com pouco contato com a família, que formam comunidades em condomínios. Da mesma fonte, descobriu a apreensão de uma senhora que temia morrer em seu apartamento e ninguém perceber e passassem dias até seus vizinhos serem alertados. Ele também leu sobre empresas que oferecem atores que fingem ser netos e filhos de idosos para fazê-los companhia.

A partir de tantas referências, da vida e da arte, Nakasato olhou para a velhice em sua complexidade. “Não tem um modo só de viver a terceira idade, e cada um tem que encontrar a melhor forma possível.”

O escritor diz que a mídia, especialmente a que trabalha com imagem, centraliza demais a juventude, o que faz com que todo mundo queira se manter jovem a todo custo. Ele já teve o costume de tingir o cabelo, mas parou de lutar contra os fios brancos e passou a valorizar as rugas.

Como alguém que convive muito com pessoas mais novas e admira seu vigor —ele diz ser um professor que escreve, não um escritor que dá aulas—, ele lamenta que elas se isolem entre si e convivam pouco com os mais velhos.

“Eu até entendo que as pessoas muitas vezes vão envelhecendo e se acomodando com aquilo que parece que foi produzido para ser do mundo dos idosos”, diz.

“Muitas vezes quem tem mais idade acaba delegando aos mais novos aquilo que eles têm preguiça de fazer. ‘Eu não consigo mais aprender, baixa esse aplicativo para mim’ e assim por diante. Então, até entendo um pouquinho essa falta de paciência dos mais jovens. Mas acho que seria interessante encontrar um ponto de equilíbrio.”

Bem-resolvido com a velhice, Nakasato prepara surpresas para os leitores —entre elas, um novo livro de não ficção ao estilo da Nobel Svetlana Aleksiévitch, com depoimentos de pessoas que passaram pela pandemia. Em paralelo, “Nihonjin”, seu primeiro livro, ganha uma nova edição pela Fósforo no próximo ano.

“Eu tenho muita pena de morrer, porque eu tenho certeza de que não vou conseguir realizar tudo o que eu quero. Assim, eu tenho muitos planos, sabe?”



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Nota da Andifes sobre os cortes no orçamento aprovado pelo Congresso Nacional para as Universidades Federais — Universidade Federal do Acre

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publicado:
23/12/2025 07h31,


última modificação:
23/12/2025 07h32

Confira a nota na integra no link: Nota Andifes



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Ufac entrega equipamentos ao Centro de Referência Paralímpico — Universidade Federal do Acre

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Ufac entrega equipamentos ao Centro de Referência Paralímpico — Universidade Federal do Acre

A Ufac, a Associação Paradesportiva Acreana (APA) e a Secretaria Extraordinária de Esporte e Lazer realizaram, nessa quarta-feira, 17, a entrega dos equipamentos de halterofilismo e musculação no Centro de Referência Paralímpico, localizado no bloco de Educação Física, campus-sede. A iniciativa fortalece as ações voltadas ao esporte paraolímpico e amplia as condições de treinamento e preparação dos atletas atendidos pelo centro, contribuindo para o desenvolvimento esportivo e a inclusão de pessoas com deficiência.

Os equipamentos foram adquiridos por meio de emenda parlamentar do deputado estadual Eduardo Ribeiro (PSD), em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro, com o objetivo de fortalecer a preparação esportiva e garantir melhores condições de treino aos atletas do Centro de Referência Paralímpico da Ufac.

Durante a solenidade, a reitora da Ufac, Guida Aquino, destacou a importância da atuação conjunta entre as instituições. “Sozinho não fazemos nada, mas juntos somos mais fortes. É por isso que esse centro está dando certo.”

A presidente da APA, Rakel Thompson Abud, relembrou a trajetória de construção do projeto. “Estamos dentro da Ufac realizando esse trabalho há muitos anos e hoje vemos esse resultado, que é o Centro de Referência Paralímpico.”

O coordenador do centro e do curso de Educação Física, Jader Bezerra, ressaltou o compromisso das instituições envolvidas. “Este momento é de agradecimento. Tudo o que fizemos é em prol dessa comunidade. Agradeço a todas as instituições envolvidas e reforço que estaremos sempre aqui para receber os atletas com a melhor estrutura possível.”

O atleta paralímpico Mazinho Silva, representando os demais atletas, agradeceu o apoio recebido. “Hoje é um momento de gratidão a todos os envolvidos. Precisamos avançar cada vez mais e somos muito gratos por tudo o que está sendo feito.”

A vice-governadora do Estado do Acre, Mailza Assis da Silva, também destacou o trabalho desenvolvido no centro e o talento dos atletas. “Estou reconhecendo o excelente trabalho de toda a equipe, mas, acima de tudo, o talento de cada um de nossos atletas.”

Já o assessor do deputado estadual Eduardo Ribeiro, Jeferson Barroso, enfatizou a finalidade social da emenda. “O deputado Eduardo fica muito feliz em ver que o recurso está sendo bem gerenciado, garantindo direitos, igualdade e representatividade.”

Também compuseram o dispositivo de honra a pró-reitora de Inovação, Almecina Balbino, e um dos coordenadores do Centro de Referência Paralímpico, Antônio Clodoaldo Melo de Castro.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)



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Orquestra de Câmara da Ufac apresenta-se no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Orquestra de Câmara da Ufac apresenta-se no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Orquestra de Câmara da Ufac realizou, nesta quarta-feira, 17, uma apresentação musical no auditório do E-Amazônia, no campus-sede. Sob a coordenação e regência do professor Romualdo Medeiros, o concerto integrou a programação cultural da instituição e evidenciou a importância da música instrumental na formação artística, cultural e acadêmica da comunidade universitária.

 

A reitora Guida Aquino ressaltou a relevância da iniciativa. “Fico encantada. A cultura e a arte são fundamentais para a nossa universidade.” Durante o evento, o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, destacou o papel social da arte. “Sem arte, sem cultura e sem música, a sociedade sofre mais. A arte, a cultura e a música são direitos humanos.” 

Também compôs o dispositivo de honra a professora Lya Januária Vasconcelos.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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