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Palestra ligou em Lula alerta sobre clima, diz físico – 09/11/2024 – Ambiente

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Fábio Pupo, João Gabriel

Após assistir a uma palestra sobre mudanças climáticas do físico Paulo Artaxo no Palácio do Planalto em setembro, o presidente Lula (PT) mandou chamar o pesquisador para repetir o conteúdo no dia seguinte a chefes de todos os Poderes.

Diminuição das chuvas no Centro-Oeste em 40%, conversão do Nordeste de uma região semiárida para árida e surgimento de áreas inabitáveis foram parte das previsões expostas pelo pesquisador.

Artaxo diz que naquele momento, há pouco menos de dois meses, caiu a ficha em Lula sobre os efeitos das mudanças climáticas para o Brasil.

“O Brasil tem que pensar o que fazer com os milhões de brasileiros que vivem na região nordestina que não vão ter condições de sobrevivência já no futuro relativamente próximo”, diz Artaxo em entrevista à Folha. “O Brasil, por ser tropical, vai ser um dos países mais negativamente atingidos.”

Nesta segunda-feira (11), começa em Baku, no Azerbaijão, a COP29, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, com o desafio de discutir financiamento para ações em países em desenvolvimento.

Como foi a reação de Lula a sua palestra em setembro?

Ainda não tinha caído a ficha dos potenciais impactos das mudanças climáticas para o Brasil. Enfatizei muito que a redução da precipitação no Brasil central pode tornar o agronegócio brasileiro muito menos produtivo do que em algumas décadas atrás.

Ecossistemas como o pantanal e a amazônia vão se tornar muito mais secos. Enfatizei que as mudanças climáticas são um agente muito importante para aumentar as desigualdades sociais. E, como o presidente Lula é, obviamente, muito sensível a essa questão, isso acendeu um alerta para ele.

Há no discurso do governo a ideia de que somos líderes verdes. Quão verdadeiro é isso?

Na matriz energética nacional, 80% da geração é renovável. Nenhum país chega perto. Então, desse ponto de vista, o Brasil tem um papel muito forte de liderança.

Evidentemente tem que fazer a sua lição de casa e fechar as termoelétricas a carvão do sul e fechar ou então diminuir muito o uso de petróleo nas termoelétricas movidas a óleo combustível. O mais rápido possível.

É possível conciliar a exploração do petróleo pelo Brasil, como defende o governo, com o enfrentamento da mudança climática?

O Brasil tem que acabar com a exploração de petróleo o mais rápido possível dentro das possibilidades de desenvolvimento do nosso país. Isso é o que a ciência coloca claramente. Não só o Brasil, mas todos os países.

Na reunião, várias pessoas manifestaram que o Brasil deve continuar explorando o petróleo. Isso é um erro fatal.

O sr. também mencionou na palestra expandir as áreas de conservação…

São as áreas florestais não destinadas. O Brasil tem enormes áreas da amazônia que não são nem territórios indígenas, nem parques nacionais e nem nada. É uma terra que não é de ninguém e não tem função nenhuma, então é muito fácil de ela ser ocupada ou, basicamente, servir para ilícitos.

É muito importante dar uma destinação para essas áreas, inclusive para que elas possam legalmente ser protegidas. Esse é o ponto principal.

Governo e Congresso têm se movimentado muito para incentivar biocombustíveis; mas para ações voltadas ao grande emissor brasileiro, o desmatamento, o cenário parece diferente. Como o sr. avalia?

O desmatamento é responsável por 52% das nossas emissões. Nenhum outro país tem a oportunidade de reduzir em 52% as suas emissões a um custo baixíssimo, de uma maneira rápida e com enorme retorno positivo.

É fundamental que o Brasil cumpra o seu compromisso de zerar o desmatamento até 2030. É factível.

Como o sr. sentiu a resposta de parlamentares presentes na reunião nesse ponto do desmatamento?

Evidentemente, o deputado Lira já indicou que seria muito difícil o Congresso aprovar uma legislação alterando o Código Florestal para proibir todo o desmatamento. [Mas] a ciência coloca que isso é absolutamente necessário para que o Brasil atinja os seus compromissos internacionais.

Para onde estamos caminhando em termos de temperatura?

Estamos indo para um aumento global de temperatura da ordem de 3°C [em relação ao nível pré-industrial]. É a realidade de hoje, quando o compromisso do Acordo de Paris para limitar em 1,5°C não tem a menor chance de ser atingido.

Estamos indo rapidamente para um aumento de 2°C provavelmente já nessa próxima década. Todos os cenários para 2050 e 2100 estão virando realidade muito mais cedo.

E quais as consequências para o Brasil?

O primeiro ponto, que chocou o presidente Lula, é que o Brasil, por ser tropical, vai ser um dos países mais negativamente atingidos. Dois graus para quem vive em Teresina, Palmas ou Cuiabá vai ser muito mais importante do que em Estocolmo, Oslo ou na Bélgica. Então o Brasil é um dos que mais têm a perder. E essa mensagem o presidente Lula pegou perfeitamente.

O Nordeste, que era uma região semiárida, está se tornando rapidamente uma região árida. Onde chovia 300 milímetros por ano, que é uma chuva muito pequena, agora está chovendo 200 e daqui a pouco vai chover 100. O Brasil tem que pensar o que fazer com os milhões que vivem na região nordestina que não vão ter condições de sobrevivência já no futuro relativamente próximo.

Em quanto tempo esse cenário vai se concretizar?

É impossível de estimar, porque vai depender do sucesso ou do fracasso das próximas COPs, inclusive da COP30 [em Belém, em 2025]. Pode ser 2050, 2060 ou 2090 se reduzidas drasticamente as emissões.

Mas, evidentemente, esse cenário de reduzir drasticamente e rapidamente as emissões está se tornando cada vez mais longínquo.


Raio-X

Paulo Artaxo, 70

Graduado em física, mestre em física nuclear e doutor em física atmosférica pela USP, é professor titular do Instituto de Física da USP. É também membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) e vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).



Leia Mais: Folha

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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufac realizou, nesta terça-feira, 21, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede, a abertura do Fórum Permanente da Graduação. O evento visa promover a reflexão e o diálogo sobre políticas e diretrizes que fortalecem o ensino de graduação na instituição.

Com o tema “O Compromisso Social da Universidade Pública: Desafios, Práticas e Perspectivas Transformadoras”, a programação reúne conferências, mesas temáticas e fóruns de discussão. A abertura contou com apresentação cultural do Trio Caribe, formado pelos músicos James, Nilton e Eullis, em parceria com a Fundação de Cultura Elias Mansour.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, representou a reitora Guida Aquino. Ele destacou o papel da universidade pública diante dos desafios orçamentários e institucionais. “Em 2025, conseguimos destinar R$ 10 milhões de emendas parlamentares para custeio, algo inédito em 61 anos de história.”

Para ele, a curricularização da extensão representa uma oportunidade de aproximar a formação acadêmica das demandas sociais. “A universidade pública tem potencial para ser uma plataforma de políticas públicas”, disse. “Precisamos formar jovens críticos, conscientes do território e dos problemas que enfrentamos.”
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou que o fórum reúne coordenadores e docentes dos cursos de bacharelado e licenciatura, incluindo representantes do campus de Cruzeiro do Sul. “O encontro trata de temáticas comuns aos cursos, como estágio supervisionado e curricularização da extensão. Queremos sair daqui com propostas de reformulação dos projetos de curso, alinhando a formação às expectativas e realidades dos nossos alunos.”
A conferência de abertura foi ministrada pelo professor Diêgo Madureira de Oliveira, da Universidade de Brasília, que abordou os desafios e as transformações da formação universitária diante das novas demandas sociais. Ao final do fórum, será elaborada uma carta de encaminhamentos à Prograd, que servirá de base para o planejamento acadêmico de 2026.
Também participaram da solenidade de abertura a diretora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Grace Gotelip; o diretor do CCSD, Carlos Frank Viga Ramos; e o vice-diretor do CMulti, do campus Floresta, Tiago Jorge.



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Ufac realiza cerimônia de abertura dos Jogos Interatléticas-2025 — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza cerimônia de abertura dos Jogos Interatléticas-2025 — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou a abertura dos Jogos Interatléticas-2025, na sexta-feira, 17, no hall do Centro de Convenções, campus-sede, e celebrou o espírito esportivo e a integração entre os cursos da instituição. A programação segue nos próximos dias com diversas modalidades esportivas e atividades culturais. A entrega das medalhas e troféus aos vencedores está prevista para o encerramento do evento.

A reitora Guida Aquino destacou a importância do incentivo ao esporte universitário e agradeceu o apoio da deputada Socorro Neri (PP-AC), responsável pela destinação de uma emenda parlamentar de mais de R$ 80 mil, que viabilizou a competição. “Iniciamos os Jogos Interatléticas e eu queria agradecer o apoio da nossa querida deputada Socorro Neri, que acredita na educação e faz o melhor que pode para que o esporte e a cultura sejam realizados em nosso Estado”, disse.

A cerimônia de abertura contou com a participação de estudantes, atletas, servidores, convidados e representantes da comunidade acadêmica. Também estiveram presentes o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, e o presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara.

(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)

 



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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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