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CULTURA

Paula Klien é a artista brasileira convidada para expor em mostra que fortalece laços entre Brasil e China através da arte

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A artista brasileira Paula Klien participa de exposição internacional ao lado de consagrados artistas chineses

A exposição “Pincel Oriental” abre nesta quinta 29 de novembro, e ficará até o dia 20 de janeiro de 2019 em exibição no Centro Cultural dos Correios. A mostra reúne obras sobre papel de autoria de Fan Zhibin, Fang Zhenghe, Fu Zeng, I Ban, Liu Mo e Shan Ren, adeptos da pintura tradicional chinesa, e da artista convidada Paula Klien, a única brasileira e mulher participante da mostra, cujo trabalho é desenvolvido com tinta chinesa (nanquim) e permite um contraponto pictórico com as obras dos artistas visitantes.



A convite do projeto, os artistas chineses viajaram a Ouro Preto, Salvador, São Paulo e Foz do Iguaçu, partindo do Rio de Janeiro, a fim de desenhar e pintar a flora, a fauna, paisagens naturais e urbanas e figuras humanas destas cidades. O projeto resgata, num viés contemporâneo, o espírito das expedições artísticas realizadas por pintores europeus no Brasil no século 19, como o francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) ou o alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), que imortalizaram, através de seu olhar, cenas do cotidiano brasileiro em suas obras.  

A ideia de trazer o trabalho da artista Paula Klien surgiu a partir da ligação de sua obra com a arte oriental. A artista criou uma técnica própria de característica fluida, orgânica e abstrata com chinese ink, que usa para representar vagas manchas imprecisas e tudo o que escorre sem que se possa agarrar em um mundo fugaz, sem formas definidas. Um estilo único, que oferece vastas possibilidades como meio imprevisível de rendição à espontaneidade. O silêncio, a transcendência, a entrega e a espiritualidade são fios condutores para a abrangente visão do conceito oriental de aceitação da transitoriedade. 

A pintura tradicional chinesa, conhecida como Guohua, divide-se em três categorias: pinturas de figuras, pinturas de paisagens e pinturas de pássaros e flores. A primeira enfoca a sociedade e as relações interpessoais; a segunda, a natureza e sua relação com os homens, enquanto a terceira destaca a variedade da vida natural. São ressaltados aspectos do universo e da vida humana através de formas, cores, ritmos e energia das pinceladas. Tradicionalmente é realizada sobre papel xuan, proveniente de Xuancheng, província de Anhui, feito de amoreira, bambu e juta, é fino, mole e resistente ao ataque de insetos e, por isso, muito durável. As tintas podem ser encontradas já prontas, líquidas, ou preparadas pelo artista no nhe-táe mediante raspagem de bastões sólidos de pigmentos, adição de água e mistura com a mó. Estas pinturas incluem, muitas vezes, caligrafias inspiradas pela paisagem e outras referências. Alguns dos artistas convidados também são caligrafistas, ofício considerado uma arte nobre na China.

A iniciativa deste projeto foi desenvolvida pela Associação de Academias Nacionais da China e artistas consagrados no país e promovido pelas empresas State Grid Brazil Holding, Dell’Art e Ministério da Cultura, com o objetivo de estreitar o diálogo entre a China e o Brasil. A exposição e o livro associam as magníficas paisagens de clima tropical, subtropical e temperado com a grande miscigenação de raças, dando-lhes características e estilos muito próprios através do olhar de artistas chineses.

Para Fan Zhibin, o que mais encantou foi a diversidade, “O idioma, a comida, a cultura, a aparência… Tudo parecia diferente entre o Rio, o Nordeste e o Sul… É como na China: vários povos em um grande território. Há grande diversidade de pessoas no Brasil: gente com diferentes tipos físicos, de cabelo e tom de pele”, diz o artista.

 

A Exposição e o Livro

A expedição chinesa resultou na criação de 23 novas obras que, somadas a outras 14 já existentes, estarão em exposição a partir do dia 29 de novembro no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro. A mostra ocupa dois espaços: sala com a exposição dos 6 artistas chineses e um anexo com as obras da artista carioca Paula Klien. Cada um dos seis artistas tem, em média, seis obras expostas. A curadoria é de Patrícia Toscano (CRIO.ART) e Byron Mendes.

Além da exposição, lançado um livro de arte, “Pincel Oriental”. O texto de abertura do livro é do crítico e curador de arte Enock Sacramento, membro das Associações Paulista, Brasileira e Internacional de Críticos de Arte. 

SERVIÇO:

ABERTURA (para convidados): dia 29 de novembro (5ª feira), às 19h

LOCAL: galerias B e C do Centro Cultural Correios, 2ª andar

Visconde de Itaboraí, 20 – Centro / RJ    Tel.: (21) 2253-1580

HORÁRIOS VISITAÇÃO: 3ª feira a domingo, das 12h às 19h / até 20 de janeiro

Para saber mais:

Os artistas:

PAULA KLIEN

Autodidata em desenho, pintura e fotografia, também estudou na escola de artes visuais do parque Lage (EAV) em 1982, fez laboratório com Steve McCurry – Nova Iorque, em 2006 – e estudou na Academy Kunst Gut de Belas Artes, Berlim, em 2015. A obra de Paula Klien, artista contemporânea que também trabalha com nanquim (tinta da China), porém com viés diferenciado, participa desta mostra como um contraponto em relação às obras dos artistas chineses, identificadas com a arte tradicional da China. Ela mostra outras possibilidades de uso deste material desenvolvido pelos chineses há mais de dois mil anos com nanopartículas de carvão suspensas em solução aquosa. 

Entre 2004 e 2014, Paula Klien construiu sólida carreira na fotografia. Representou o Brasil nas Bienais Internacionais de Arte em Firenze e Roma em dezembro de 2011 e janeiro de 2012. Em 2016, resgatou sua primeira manifestação artística: a pintura. Apresentou o seu novo trabalho em fevereiro de 2017, na individual de pintura intitulada “Invisibilities”, na AquabitArt Gallery em Berlim. Em março de 2017, participou da reconhecida Clio Art Fair, em Nova Iorque e, em maio, da feira arte BA em Buenos Aires. Em 2018, de volta à galeria Emmathomas, participou da mostra Desver a Arte São Paulo e da Paper Positions Berlin. 

Com um trabalho de mais de 4 metros, marcou presença na sala de estar do arquiteto João Armentano, na Casa Cor SP. Expôs mais duas vezes na Alemanha: uma coletiva na AquabitArt Gallery – Berlim, e uma no Deutsche Bank Finance – Agency Ludwigsfelde. Recentemente, a individual Extremos Líquidos, com curadoria de Marcus de Lontra Costa na Casa de Cultura Laura Alvim, no RJ. Participou da ArtRio junto à galeria Emmathomas e da Bienal de Arte de Salerno.

FAN ZHIBIN 

Nasceu em dezembro de 1972 em Hohhot City, Mongólia Interior. Formado em pinturas chinesas pelo Departamento de Artes do Leste em Nankai University, graduou-se no estúdio de pintura de figura chinesa da Luxun Academy of Fine Arts e obteve o mestrado em 2002. Acadêmico da Chinese Artists Association, supervisor de pesquisa no Departamento de Arte da Academia de Artes da Universidade de Beijing, reitor da Academia de Pintura Chinesa de Shanxi e da Youth Academy e presidente honorário da Baoding Youth Artists Association. Seus trabalhos buscam uma expressão elegante e fluida na pintura tradicional chinesa. 

FANG ZHENGHE

Nasceu em Yunxiao, província de Fujian, em novembro de 1970. Formado pelo Departamento de Arte da Faculdade de Ji Mei em 1990, obteve o grau de Mestre em Artes em 2009, quando se formou no Naning Arts Institute. Atualmente, é pintor profissional da Academia de Pintura de Pequim, também artista de nível nacional, membro da Associação de Artistas Chineses e da Associação Chinesa de Caligrafia. Fang Zhenghe mergulha na essência da pintura das Dinastias Song e Yuan. As pinturas de Fang Zhenghe conciliam tradição com inovação. 

ZENG FU 

Nasceu na Província de Fujian, China, em 1968. Formou-se na Fujian Art School em 1989. Foi editor de arte de revistas literárias. Atualmente, é pintor profissional especialmente engajado na pintura chinesa e na criação de caligrafias. 

I BAN 

Possui outros nomes artísticos como Sui Mu, Banshizhe Yi, Yu Jue, Sui Baosen. Nasceu em Jiaonan, localizada na província de Shandong, em 1968 e vive atualmente em Pequim. É́ calígrafo, pintor e colecionador. Foi convidado para ser professor na Escola de Arte da Universidade Renmin da China, é também presidente da Yujue Society, diretor do escritório de pintura contemporânea Chan e do Instituto de Pesquisa de Arte de Xi’na, Academia Chinesa de Pintura. 

LIU MO 

Mestre em História das Artes Plásticas Chinesas. Doutor em Literatura e Estudos Artísticos, pós-doutorado em História, pesquisador do Instituto de Recursos Históricos e Culturais da Universidade de Pequim, professor convidado da Escola de Pós-Graduação da Academia Nacional Chinesa de Artes. Atualmente, está voltado aos estudos de clássicos confucianos, História de Pesquisa Acadêmica Antiga e História da Arte, além de ser adepto da caligrafia e da pintura. 

SHAN REN 

Shan Ren, anteriormente conhecido como GuoZhishan, mora em Pequim e Xiamen. Pintor profissional e poeta. Possui mestrado da Universidade de Xiamen. É pintor da Academia de Criação de Pintura Chinesa do Ministério da Cultura. Suas pinturas foram selecionadas para a exposição de nomeação contemporânea de tinta chinesa. Também realizou a exposição internacional de pintores do Uzbequistão em 2017, a exposição de nomeação de jovens pintores chineses em Danqing Huamao, a exposição de caligrafia e pintura do 40º aniversário da CCPPC na Província de Fujian.

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Fotos 
1 – Tune 1, 2 e 3
2 – Pranto e Baba
3 – Rods
4 – Correnteza
5 – Silence

ACRE

Lei Paulo Gustavo: editais que somam mais de R$ 22 milhões devem ser lançados no Acre

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Governo informou que vão ser lançados editais que incluem audiovisual; outras linguagens culturais; e premiações para mestres da cultura popular e indígenas.

Capa: Lei Paulo Gustavo: editais que somam mais de R$ 22 milhões devem ser lançados no AC — Foto: Divulgação.

O governo do Acre deve lançar, nesta segunda-feira (9), editais da Lei Paulo Gustavo (LPG) que somam mais de R$ 22 milhões para execução de projetos de fazedores de cultura. O lançamento deve ser feito no Museu dos Povos Acreanos, em Rio Branco.

Os editais incluem o audiovisual (R$ 15,6 milhões), outras linguagens culturais – arte e patrimônio (R$ 4,5 milhões), e premiações para mestres da cultura popular e indígenas (R$ 1,1 milhão). Os recursos são do governo federal, via Fundo Nacional de Cultura (FNC) e Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

Segundo o governo, em maio deste ano, a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), responsável pelo processo da LPG no Acre, fez oitivas em todas as regionais do estado para garantir a participação dos segmentos culturais e com o acompanhamento do Conselho de Cultura e do Comitê Paulo Gustavo.

O presidente da FEM, Minoru Kinpara, explica que, com a publicação dos editais, a partir de terça-feira (10), os interessados já vão poder apresentar seus projetos para apreciação.

“Toda a nossa equipe está mobilizada para garantir apoio aos fazedores de cultura de todo o estado. Temos mais de cem pareceristas credenciados em todo o Brasil, que serão responsáveis pelas análises dos projetos. E é bom destacar que todos os aprovados receberão os recursos até o dia 30 de dezembro, como determina a lei”, afirmou em site oficial do governo.

Denúncia contra FGB

Um contrato da Fundação Garibaldi Brasil (FGB) no valor de R$ 200 mil com o restaurante Spetus Bar, de Sena Madureira, no interior do Acre, para operacionalização da Lei Paulo Gustavo no município de Rio Branco, foi alvo de uma denúncia encaminhada ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Após denúncias de artistas e produtores culturais de Rio Branco, a vereadora Elzinha Mendonça (PSB) questionou ao TCE que a atividade principal da empresa não corresponde ao que o contrato requer. O TCE confirmou o recebimento da denúncia.

Revoltados com a contratação, artistas do Movimento Cultural em Rio Branco ocuparam a Câmara de Vereadores de Rio Branco na semana passada, buscando respostas e transparência em relação à polêmica em torno da Lei Paulo Gustavo na capital acreana.

Durante tribuna popular na terça-feira (3), quando os artistas usaram a plenária para explicar a denúncia, houve uma confusão e músico acreano, vocalista do Los Porongas, Diogo Soares levou um mata-leão de um segurança da Casa.

Na quarta (4), o presidente da FGB, Anderson Gomes do Nascimento, apresentou documentação e explicações técnicas sobre o contrato com o restaurante para operacionalizar a referida lei. Ele disse que, diferente da denúncia, houve a participação de outras empresas no processo licitatório e que a contratada foi a que apresentou o menor preço. O gestor afirmou que a empresa, além de atuar no ramo alimentício, também desenvolve atividades no setor cultural e esportivo.

Após a repercussão negativa com relação ao processo de licitação, segundo Nascimento, o contrato foi cancelado a pedido da própria empresa.

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ACRE

Filme acreano Noites Alienígenas é exibido em cinema de Cruzeiro do Sul com entrada gratuita

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Sessão especial, seguida de bate-papo com o diretor Sérgio de Carvalho, acontecerá no Cine Romeu na próxima sexta-feira (21).

Foto: Gabriel Knoxx ao lado de Gleici em ‘Noites Alienígenas’ — Foto: Reprodução/Saci Filmes.

O Cine Romeu, em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, será palco de uma noite cultural especial com a exibição gratuita do premiado filme acreano “Noites Alienígenas”, dirigido por Sérgio de Carvalho. A sessão especial vai ser às 18 horas da próxima sexta-feira (21).

O filme “Noites Alienígenas” ganhou notoriedade ao conquistar o título de vencedor do 50º Festival de Cinema de Gramado no ano passado. Além disso, mais recentemente, a obra recebeu o Prêmio Pessoa de melhor longa-metragem no Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin), em Lisboa, Portugal, consolidando-se como uma produção de destaque no cenário cinematográfico.

A iniciativa de levar a produção para o público de Cruzeiro do Sul é do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Náuas) com apoio da Secretaria Estadual de Educação (SEE), Universidade Federal do Acre, campus Cruzeiro do Sul e Cine Romeu.

“É uma alegria imensa poder exibir Noites Alienígenas aqui em Cruzeiro do Sul, eu acho que é um filme que diz muito também do que a juventude de Cruzeiro do Sul e do interior do Acre está passando. Então, é uma honra muito grande chegar com o filme no Juruá, numa iniciativa do CAPs Náuas, exibir para alunos da rede pública de ensino, com debate depois. Tenho certeza que vai ser uma noite de muitos encontros, conversas e muita emoção também”, disse o diretor.

Serviço:

  • Exibição especial de Noites Alienígenas
  • Data: sexta-feira (21)
  • Horário: 18 horas
  • Local: Cine Romeu
  • Entrada: Gratuita

 

Premiações e exibições

O longa fez história ao ganhar cinco kikitos de ouro na 50ª edição do Festival de Cinema de Gramado nas categorias de:

  • melhor filme;
  • troféu júri da crítica;
  • melhor ator: Gabriel Knoxx (“Rivelino”);
  • melhor atriz coadjuvante: Joana Gatis (“Beatriz”);
  • melhor ator coadjuvante: Chico Diaz (“Alê”).

Prêmio Pessoa de melhor longa-metragem no Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin), em Lisboa.

Noites Alienígenas também foi selecionado para ser exibido no 76º Festival de Cinema de Cannes, na França, e no Festival de Cinema de Gotemburgo, na Suécia, em 2022.

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ACRE

Aprovado na OAB-AC, indígena se emociona ao falar da conquista: ‘defender o direito do meu povo’

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Aprovação saiu no último dia 24. Ele passou na ordem antes de finalizar o curso: ‘espero inspirar mais indígenas’.

Oitavo filho de uma família de 11 irmãos, nascido em um dos municípios mais isolados do Acre e um sobrevivente e persistente diante de preconceitos ultrapassados, mas ainda fortes na sociedade, Heliton Kaxinawá ainda está em êxtase com a aprovação na Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Acre (OAB-AC) divulgada no último dia 24.

Aos 23 anos e ainda cursando o 9º período de direito, ele diz que a aprovação é a realização de um sonho e que agora pretende ser inspiração para que outros jovens indígenas ocupem seus espaços.



Mas, até chegar a essa conquista, foi um longo caminho percorrido, começando por ter nascido em um dos municípios mais isolados do Acre, que tem pouco mais de 8,6 mil habitantes.

A Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão tem 87 mil hectares e uma cerca de 1.470 indígenas, também conhecidos como Huni Kuin que ocupam Jordão e Marechal Thaumaturgo.

“Nasci no município de Jordão, no baixo Rio Tarauacá, em um local conhecido, ainda hoje, como igarapé dos índios, porque, por residirmos lá, os moradores próximos acabaram denominando assim aquele lugar. Morei lá por um tempo e lembro que houve uma reunião de alguns moradores para tentar nos expulsar de lá porque éramos indígenas e não poderíamos morar naquele local. Após isso, fomos morar próximos à cidade Jordão, uma comunidade indígena, e de lá me deslocava para estudar na escola pública e foi lá que cresci e me criei até os 18 anos”, conta.

Movido pelo sonho

Porém, ao se formar no ensino médio, Heliton, pensando em focar mais em seus estudos e com o sonho do curso superior, decidiu morar em Rio Branco – capital acreana.

“O que me moveu para Rio Brano foi o sonho do nível superior e o gosto pelo direito nasceu em mim por uma série de questões. Uma delas foi a injustiça social que sofri, principalmente no ensino fundamental, porque era um período que eu não conseguia me encaixar em nenhum grupo. Nos trabalhos escolares eu era a única criança a não me integrar em um grupo, fazia os trabalhos sozinhos”, relembra.

Isso fez com que o estudante se tornasse, segundo ele, uma pessoa retraída e que tinha vergonha de fazer coisas que parecem simples, como, por exemplo, fazer compras.

“Eu era uma pessoa que tinha vergonha de falar, de ir ao supermercado, era uma pessoa presa em mim mesma. Só fui mudar, quando cheguei em Rio Branco e comecei a ter acesso à internet, livros e comecei a ter conhecimento. Isso tudo tem me libertado a cada dia, porque tenho aprendido a me desenvolver, falar, conversar e tive a oportunidade de cursar direito.”

Heliton faz o curso em uma faculdade particular de Rio Branco através da bolsa do Fies. Além do preconceito que teve que enfrentar, as dificuldades financeiras também pesaram nessa caminhada.

“Lembro que ao sair de casa e comunicar isso aos meus familiares, dizendo que eu iria lutar pelos meus sonhos, meus pais, quase que em lágrimas, falavam que não teriam condições de me ajudar. Me lembro que durante muito tempo, antes de eu conseguir meu primeiro estágio, ia para a faculdade com fome. Às vezes eu conseguia a passagem para ir de ônibus, mas, muitas vezes, voltava andando porque o dinheiro não dava para a volta”, conta emocionado.

Mesmo com tanta dificuldade, ele tinha o foco e determinação de conseguir chegar ao objetivo que o fez sair de casa: se formar. “Fui me dedicando, dando o meu melhor, o máximo de mim para mostrar que indígena também pode, aprende e consegue. E hoje, ao conseguir essa pequena conquista, que pra mim é grande, gigante, enorme, que era quase inimaginável há alguns anos, eu me sinto eufórico, alegre. Assim que saiu o resultado eu desabei, comecei a chorar, é indescritível o sentimento de felicidade e alegria, mas me sinto triste por saber que sou um dos poucos a conseguir”, pontua.

Heliton quando ainda morava em Jordão, no interior do Acre  — Foto: Arquivo pessoal

Heliton quando ainda morava em Jordão, no interior do Acre — Foto: Arquivo pessoal

Inspiração para jovens

Como ainda não terminou o curso, Heliton só deve pegar a carteira da OAB no ano que vem, mas, enquanto isso, ele segue se dedicando e correndo atrás do que sempre sonhou. Para ele, o que vale é o clichê de que a educação salva vidas e muda rumos.

E, ao se tornar advogado, ele não pretende esquecer suas raízes e nem seu povo. Pelo contrário, ele promete trabalhar pela manutenção dos direitos dos povos tradicionais e honrar a memória de seus ancestrais.

“Assim que formar, vou pegar minha carteira e buscar o que vim fazer: ser advogado, exercer a defesa do meu povo, ser um representante do meu povo. O que espero com isso é que cada vez mais os indígenas se sintam inspirados e mais jovens consigam o que eu consegui. Quero que me olhem e vejam que um parente que chegou na capital semianalfabeto, que falava mal, escrevia mal, alcançou o objetivo”, finaliza.

 

Amazônia Que Eu Quero

O projeto Amazônia Que Eu Quero está na sua segunda temporada, que tem como tema “Educar para desenvolver e proteger”. Após a primeira temporada, ‘Caminhos para a democracia”,- o tema escolhido para 2023 remete aos impactos do déficit de educação no Norte do Brasil e tem como objetivo chamar a atenção do poder público através de propostas para incentivar a implementação de projetos e lei que acessibilizem não só a educação, mas a conectividade e o turismo na região.

O projeto tem como premissa a discussão de assuntos fundamentais para a realidade amazônica e que têm sido deixados em segundo plano por décadas, ao mesmo tempo que propõe ampliar a capacidade de análise da população da região norte ao levantar informações da gestão pública e apontar caminhos a partir da discussão entre especialistas e a sociedade civil, despertando o senso crítico e o voto consciente dos Amazônidas.

A partir dos fóruns, câmaras de debates entre especialistas foram criadas com objetivo de criar propostas para a resolução dos problemas apresentados para cada estado da região norte. Ao fim da temporada, 50 propostas foram criadas e compuseram um caderno que será entregue a deputados, senadores e governadores dos estados da região além do presidente da república em Brasília.

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