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PEC das Praias volta à pauta do Senado, mas deve dividir atenções com a Reforma Tributária; veja perguntas e respostas

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PEC das Praias volta à pauta do Senado, mas deve dividir atenções com a Reforma Tributária; veja perguntas e respostas

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pautou a discussão da proposta de emenda à Constituição que prevê o fim da propriedade exclusiva da União sobre terrenos de marinha, conhecida como PEC das Praias para esta quarta-feira (leia perguntas e respostas abaixo).

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O tema, porém, terá que dividir as atenções com a regulamentação da Reforma Tributária, que pode ter o relatório entregue na mesma comissão nesta semana. Além disso, a polêmica em torna do tema, polarizado entre oposição e base governista, deve levar a entraves na pauta.

O PT e o governo devem pedir vista, ou seja, mais tempo para analisar a proposta, estendendo debate por pelo menos mais uma semana.

A proposta é relatada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O retorno da discussão na CCJ ocorre em meio a campanha de Alcolumbre para a eleição à presidência da Casa no próximo ano.

— Acho complicado pautar esse tema agora. A semana será sobre Reforma Tributária — disse o líder do União Brasil, Efraim Filho (União-PB).

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O texto prevê a transferência integral dos chamados terrenos de marinha aos atuais ocupantes, sejam particulares, ou de estados e municípios. Hoje, por compartilharem a propriedade desses terrenos com a União, que detém 17% do valor, os moradores dessas áreas pagam duas taxas para a União, chamadas de Foro e Laudêmio. O texto acaba com o pagamento desses impostos.

Em relatório divulgado em julho deste ano, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) acrescentou um parágrafo que garante a continuidade do acesso público e gratuito às praias. O trecho não estava no texto original e ambientalistas temiam que a transferência de propriedade dos terrenos próximos a faixa de areia pudesse levar à privatização de intervalos de areia.

“As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica, não sendo permitida qualquer forma de utilização do solo que impeça ou dificulte o acesso da população às praias, nos termos do plano diretor dos respectivos municípios”, afirma trecho acrescentado pelo relator.

— Isso não impede o avanço da Reforma (Tributária). É um tema antigo e precisa de uma decisão do Parlamento. Proprietários de imóveis existentes na costa do Brasil deixarão de pagar essas taxas anuais e as pessoas mais pobres terão direito ao título definitivo de suas propriedades, podendo deixar de herança para seus filhos e netos. O governo é contra a PEC porque perde arrecadação — disse o senador.

A transferência de propriedade seria gratuita quando feita para habitações de interesse social, com população de baixa renda, e para estados e municípios. Para demais proprietários, a transferência seria paga, de acordo com padrões a serem estabelecidos pela União. Nas áreas não ocupadas, a propriedade continuaria sendo da União.

— A posição do governo é contra a proposta. Se aprovar uma proposta dessa, um país com as praias que tem, tem possibilidade de sombreamento das praias, comprometimento do meio ambiente — disse o líder interino do governo, Otto Alencar (PSD-BA).

O texto do relator ainda permite que ocupações não registradas em órgãos federais, ou seja, que não pagam impostos, também sejam regularizadas, desde que estejam ocupando o local por pelo menos cinco anos antes da aprovação da lei. Como uma adaptação do usucapião.

Ambientalistas argumentam que, sem a proteção da legislação federal uniforme para todo o país, pode haver o risco de grandes empreendimentos que ocupem áreas inteiras frente a trechos de praia, com possível degradação de biodiversidades, além de sombreamento excessivo nas faixas de areia. Os terrenos de marinha estão localizados em áreas ambientalmente frágeis, como mangues, restingas, campos de dunas e resquícios de Mata Atlântica.

O tema saiu da discussão política e mobilizou influenciadores e personalidades, como Luana Piovani e o jogador Neymar, que chegaram a bater boca e trocar ofensas pelas redes sociais. Flávio Bolsonaro foi às redes defender o texto e afirmou que a história sobre privatização era “narrativa da esquerda”. Com a volta do tema na agenda no Senado, Piovani voltou às redes sociais para repercutir a discussão, e pedir que a socidade “permaneça atenta” sobre o debate.

Á época, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, declarou que o Palácio do Planalto era contra a PEC. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também criticou o texto, e citou impactos ambientais que podem vir a partir da aprovação da medida, mas afirmou que o Congresso Nacional tem uma “dinâmica própria”.

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Entenda em 12 pontos a proposta no Senado.

O que dizem os defensores da PEC das Praias?

Defensores da proposta veem potencial de desenvolvimento econômico nas regiões e maior arrecadação para a União, que no ano passado recolheu R$ 1,1 bilhão relativo a taxas de 564 mil imóveis nessas áreas.

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O que dizem os críticos da PEC das Praias?

Já os críticos argumentam que, fora do guarda-chuva da Superintendência Patrimonial da União, aumentam as possibilidades de fechamento de acessos a praias, desmatamento e outros riscos ambientais.

— Esses terrenos, importantes pela proteção da biodiversidade, ficarão mais suscetíveis à especulação imobiliária — diz Juliana de Melo, professora de direito ambiental da Universidade Federal do Ceará.

O que determina a PEC das Praias?

A PEC determina que as regras incidam apenas sobre as áreas já ocupadas, e que as desocupadas sigam sob posse da União. O governo Lula se posicionou contra o projeto.

Veja perguntas e respostas sobre a PEC das Praias

O que prevê a PEC das Praias?

A transferência da posse integral dos terrenos de marinha — hoje compartilhada pela União e pelos proprietários dos imóveis — a seus ocupantes, sejam estados, municípios ou particulares.

Qual a principal justificativa dos defensores da PEC?

A regularização de imóveis pertencentes à União nos terrenos de marinha. Segundo Flávio Bolsonaro, relator da proposta, a intenção é “acabar com o pagamento de taxas absurdas”. Hoje, por compartilharem a propriedade desses terrenos com a União, que detém 17% do valor, os moradores dessas áreas pagam duas taxas para a União, chamadas de foro e laudêmio.

Moradores dos terrenos de marinha são considerados proprietários de imóveis?

Eles são juridicamente conhecidos como “enfiteutas”, o que garante o “direito de uso privativo e posse permanente daquele bem que na realidade pertence à União”. A propriedade permanece sendo, a rigor, da União, “porque a área de praia é fundamental para a segurança nacional”.

A PEC vai privatizar as praias?

O texto não trata de praias, que são bens públicos de uso comum do povo, com acesso livre ao mar garantido. Isso não mudaria na lei. No entanto, ambientalistas argumentam que, sem a proteção da legislação federal uniforme para todo o país, pode haver o risco de grandes empreendimentos que ocupem áreas inteiras frente a trechos de praia, conseguirem autorizações municipais para fechamento de acessos a praias ou de supressão de vegetação de restinga com maior facilidade. As leis urbanísticas não seriam alteradas, mas construtoras e redes hoteleiras passariam a ser as únicas proprietárias de terrenos nesse espaço, o que poderia no futuro garantir maiores permissões de intervenções.

Como aconteceria a venda dos terrenos?

A PEC diz que a transferência aconteceria mediante uma venda, mas não há detalhes. A negociação precisaria ser com a União. Segundo o texto, o poder público deverá tomar providências — como uma nova lei de regulamentação da PEC — em dois anos.

O morador será obrigado a comprar a parte federal?

O texto não deixa claro essa obrigação nem fala em prazos ou valor. Mas como a intenção é extinguir os terrenos de marinha, entende-se que moradores precisarão adquirir os 17% do terreno hoje pertencentes à União.

Estados e municípios também poderão ter a posse dos terrenos?

A PEC transfere os terrenos da marinha a estados e municípios, gratuitamente, onde eles já forem ocupantes, por exemplo, com equipamentos públicos.

Há necessidade de uma PEC para regularização fundiária desses terrenos?

Não. A regularização já é possível através da SPU, mas defensores do projeto dizem que a União não tem o devido controle e nunca registrou a totalidade dos imóveis em terrenos de marinha.

Como fica a situação de moradores de comunidades tradicionais ou de favelas em terrenos de marinha?

Segundo a PEC, moradores de áreas de habitação social terão a transferência dos terrenos de forma gratuita, mas não há detalhes do processo. Na SPU, não há informações precisas de quantas áreas de especial interesse social ficam em terrenos de marinha no Brasil. Por isso, críticos do projeto alertam para os riscos de insegurança jurídica e de remoção de moradores de favela ou de comunidades ribeirinhas tradicionais.

Quais são os principais riscos de impactos ambientais apontados?

Os terrenos de marinha estão localizados em áreas ambientalmente frágeis e relevantes, com uma rica biodiversidade, como mangues, restingas, campos de dunas e resquícios de Mata Atlântica. Portanto, se houver afrouxamento da proteção, por exemplo, com resorts como único proprietário de terrenos com restingas e dunas, impactos podem ser graves.

Quanto a União ganharia com transferência de terrenos?

Não há informações disponíveis sobre essa estimativa. Juristas alertam que é importante ter noção desses números antes de pautar o projeto, para se calcular o impacto diante da perda de arrecadação com as taxas.

Quantos imóveis em terrenos de marinha existem hoje no país?

Segundo o Ministério da Gestão e Inovação, há 564 mil imóveis registrados. O governo arrecadou, em 2023, R$ 1,1 bilhão com as taxas de foro e laudêmio. A pasta estima que o valor poderia ser cinco vezes maior, com um total de quase 3 milhões de construções nas áreas próximas ao mar, mas que não foram oficializadas. Hoje, 20% dos valores arrecadados são repassados para os municípios.

Regras atuais para os terrenos de Marinha

  • Praia: É a praia como conhecemos, a faixa de areia, que continua sob domínio da união.
  • Faixa de Segurança: Faixa de 30 metros a partir do final da praia (quando acaba areia) para dentro do continente. Dentro da faixa de segurança hoje é proibido um particular ter a propriedade plena de um terreno de marinha. Mas, se estiver fora da faixa de segurança, já é possível a aquisição junto à SPU sob determinadas condições.
  • Terreno acrescido de Marinha: São porções de terras que também pertencem à União e anteriormente eram cobertas pelo mar ou eram mangues e canais que foram aterrados após a demarcação da Linha de Preamar Média (LPM), em 1831. Um exemplo é o Aterro do Flamengo.
  • Terreno de Marinha: Área criada para proteção da soberania nacional na época do Império. É uma faixa de 33 metros para dentro do continente a partir da Linha de Preamar Média (LPM), que considera as marés máximas de 1831. Esse ano foi tomado como referência para dar segurança à demarcação, pois, considerando o avanço das marés ao longo dos anos, o Terreno de Marinha poderia aumentar cada vez mais. Além da costa, a faixa de 33 metros serve para margens de rios e lagos que sofrem influência do mar.

Como ficará se a PEC for aprovada

  • O que acontece com quem já tem imóvel/propriedade em Terrenos de Marinha? Hoje 17% desse imóvel pertence à União. Com a PEC, o proprietário (seja particular, ou estados e municípios) fica autorizado a comprar a porcentagem restante e assim ter o domínio pleno do imóvel, deixando de pagar taxas de foro e laudêmio. O texto da PEC não deixa claro se o proprietário será obrigado a comprar, mas diz que haverá um prazo de dois anos para adoção de providências pelo poder público.
  • O que acontece com moradores de favelas ou de áreas de baixa renda que ocupam esses terrenos? A PEC diz que haverá a transferência gratuita dos terrenos no caso das áreas de habitação de interesse social. Mas não dá detalhes sobre como será o processo.
  • E os terrenos da Marinha hoje totalmente desocupados? Continuam com a União. A PEC estabelece um marco temporal e diz que o domínio pleno só será possível a quem ocupa os terrenos da Marinha na data da promulgação da PEC. A União mantém domínio em áreas não ocupadas e onde há serviço público ou unidades de conservação ambiental. O texto não menciona qualquer regra sobre acesso a praias, mas críticos alertam que, sem a proteção da União, aumenta o risco de privatização de acessos, a partir de leis municipais mais brandas.

A reportagem foi produzida com informações prestadas pelos especialistas:

  • Vinicius Custodio, doutor em direito pela USP
  • Juliana de Melo, professora de Direito Ambiental do Instituto de Ciências do Mar, da Universidade Federal do Ceará (LABOMAR/UFC)
  • David Zee, oceanógrafo da UERJ
  • Leticia Camargo, assessora técnica do Painel Mar

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Bia Haddad bate Andreeva avança no Australian Open – 16/01/2025 – Esporte

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Bia Haddad bate Andreeva avança no Australian Open - 16/01/2025 - Esporte

Beatriz Haddad Maia, 17ª do mundo, sofreu em sua estreia no Australian Open para bater de virada a argentina Julia Riera, 146ª, e admitiu um desempenho ruim. Na segunda rodada, nesta quinta-feira (16), teve uma atuação muito mais sólida diante da russa Erika Andreeva, número 86, e avançou com facilidade à terceira rodada.

A brasileira de 28 anos precisou de 1h21 para triunfar por 2 sets a 0, parciais de 6/2 e 6/3. Em seu terceiro confronto com Erika no circuito, repetiu o resultado dos dois anteriores, com uma superioridade que ficou clara na 1573 Arena, no complexo Melbourne Park, em Melbourne, na Austrália.

Bia voltará à quadra, no horário brasileiro, na madrugada de sexta (17) para sábado (18). Enfrentará a vencedora do confronto entre a britânica Katie Boulter, 35ª na lista da WTA (a associação das tenistas profissionais), e a russa Veronika Kudermetova, 75ª.

Contra Andreeva, a paulistana se impôs no primeiro set, com golpes bem mais pesados do que os da oponente. A russa até começou bem a segunda parcial, com uma quebra de saque, em momento de descontração da adversária, porém a ordem logo foi restabelecida.

“Hoje, eu consegui fazer um jogo muito mais lúcido, a tranquilidade e a calma foram importantes. Tentei impor meu tênis, ser protagonista. Saquei e devolvi de maneira melhor”, afirmou à ESPN a brasileira. “Agora é seguir firme. A gente só passou mais uma pedrinha do torneio. Vamos ver o que vem pela frente.”



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Eleição alemã será um teste para Sahra Wagenknecht e BSW – DW – 16/01/2025

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Eleição alemã será um teste para Sahra Wagenknecht e BSW – DW – 16/01/2025

A conferência do partido no fim de semana passado em Bonn, no oeste da Alemanha, foi ainda mais especial para a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW): o partido participará de sua primeira eleições federais em fevereiroe esta foi a sua oportunidade de apresentar o seu manifesto.

Fundada em janeiro de 2024, o BSW passou pelo ensaio geral com louvor: em setembro eleições nos estados da Alemanha Oriental de Brandemburgo, Saxónia e Turíngia, o BSW obteve 12%-16% dos votos, eclipsando o partido de esquerda socialista, do qual atraiu muitos dos seus parlamentares estaduais e federais.

Apesar disso, Wagenknecht teme que o partido que leva o seu nome não consiga atingir o limite de 5% no eleições antecipadas para o Bundestag. Isto porque apenas cerca de 10 milhões dos 59 milhões de eleitores elegíveis da Alemanha vivem no Leste, menos de um quinto do eleitorado. No Ocidente, o apoio ao BSW é significativamente menor.

Eleições europeias como referência para o BSW

Isto já ficou evidente nas eleições europeias de junho de 2024, quando o BSW recebeu 6,2% dos votos alemães, e as diferenças regionais eram enormes: no leste, o apoio situou-se entre pouco menos de 13% e pouco mais de 16%, mas no a oeste, o BSW recebeu muito menos apoio, com uma média bem abaixo de 5%. Apenas no pequeno estado do Sarre (um milhão de habitantes) e na cidade-estado de Bremen (580.000 habitantes) ultrapassou este limiar.

O BSW está analisando números semelhantes nas próximas eleições para o Bundestag. De acordo com as últimas sondagens de opinião, o BSW não tem margem para erro: a sua classificação nas sondagens ronda os 5% necessários para entrar no parlamento alemão.

Extrema esquerda? Extrema direita? O que é o BSW da Alemanha?

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Sahra Wagenknecht critica a mídia

Na conferência do partido em Bonn, a fundadora do BSW, Wagenknecht, atribuiu os fracos resultados das pesquisas à falta de cobertura da mídia: “Acho que é bastante antidemocrático”, disse ela à emissora pública BR pouco antes da convenção.

Mas uma olhada nos talk shows políticos televisivos das emissoras alemãs ARD e ZDF mostra um quadro diferente: com 12 participações, Wagenknecht foi o político mais convidado para essas emissoras públicas em 2024.

Apesar das sondagens, a líder do BSW parecia confiante e combativa em Bona: ela lembrou ao seu público que é um partido jovem e ainda não tem um eleitorado central. Muitas pessoas ainda não sabem em quem querem votar, disse Wagenknecht. “Estamos apenas começando esta campanha.” A plataforma partidária adoptada na convenção estabelecerá agora as bases.

O BSW se considera o único partido da paz

Neste manifesto recém-criado, o BSW descreve-se como o único “partido da paz” no Bundestag alemão que é consistente na sua oposição ao actual aumento de armas, bem como ao fornecimento de armas em zonas de guerra.

No entanto, esse tem sido há muito um princípio central do Partido da Esquerda socialista, ao qual Wagenknecht e muitos dos seus apoiantes de longa data viraram as costas.

A razão para a divisão foram as suas opiniões opostas sobre a política de asilo e migração. Embora o Partido da Esquerda seja o único partido representado no Bundestag que se opõe à adopção de políticas de asilo mais rigorosas, o BSW exige, entre outras coisas, que os procedimentos de asilo sejam realizados fora da União Europeia, nos chamados países terceiros seguros, e que os refugiados criminosos sejam deportados. .

Palavras duras sobre asilo e migração

Em termos de conteúdo e retórica, algumas passagens do programa eleitoral do BSW assemelham-se às de outros partidos, incluindo a Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido com elementos de extrema-direita.

O programa BSW critica o “fluxo descontrolado de pessoas” e afirma que pouco se sabe sobre as biografias destes imigrantes ou a sua vontade de integração. “A política ingênua de acolhimento de imigrantes nos últimos anos já levou a um aumento desproporcional de crimes com armas brancas, crimes sexuais e terrorismo de motivação religiosa”, afirma o manifesto eleitoral do BSW.

Sobre a questão de como A guerra da Rússia na Ucrânia deveria ser encerrado, há alguma sobreposição com o Partido de Esquerda. O BSW quer um cessar-fogo sem condições prévias e alerta contra o tropeço numa nova corrida armamentista. “Não devemos nos preparar para a guerra na era nuclear”, disse ela. “É necessária uma nova política de desescalada. As guerras terminam através de negociações.”

Manifestantes na conferência BSW em Bonn
Manifestantes fora da conferência do partido descrevem Wagenknecht como “o fantoche de Putin”Imagem: Marcel Fürstenau/DW

Críticas ferozes à operação militar de Israel

Desde o ataque a Israel por o grupo islâmico Hamas em 7 de outubro de 2023, o BSW descreveu o Oriente Médio como um “barril de pólvora”. Afirmou que todas as grandes potências da região estão a travar os seus conflitos nas costas da população.

“O que começou como uma autodefesa de Israel contra o massacre do Hamas transformou-se há muito tempo numa campanha implacável de vingança e extermínio por parte do governo de Netanyahu contra mulheres e crianças na Faixa de Gaza”, diz o seu manifesto eleitoral.

O BSW também rejeita o aumento dos gastos militares: “A narrativa de que a Bundeswehr foi ‘cortada até aos ossos’ é um mito. Os gastos militares alemães mais do que duplicaram desde 2014 e ascenderam a quase 90 mil milhões de euros (92 mil milhões de dólares) em 2024.”

A Alemanha atingiu agora a meta acordada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de investir 2% da sua produção económica no seu orçamento de defesa.

Não mencione o Partido de Esquerda

Se o BSW e a sua candidata oficial a chanceler, Sahra Wagenknecht, conseguissem o que queriam, a Alemanha desarmaria-se. É questionável se o novo partido será capaz de se comprometer com isto no próximo Bundestag, e se o BSW não conseguir entrar no Bundestag, seria uma derrota pessoal para o seu fundador.

Enquanto isso, o Partido da Esquerdao antigo partido de Wagenknecht, poderá até conseguir chegar ao Bundestag sem ultrapassar a barreira dos 5%. Para o fazer, teria de ganhar diretamente pelo menos três círculos eleitorais, como fez o Partido da Esquerda em 2021. Conseguiu assim receber quase 40 assentos no Bundestag, embora a sua percentagem de votos tenha sido de apenas 4,9%. Wagenknecht foi um dos que se beneficiou com isso e conseguiu entrar no parlamento como um desses representantes.

No final da convenção eleitoral do partido, a líder do BSW mostrou-se optimista ao apelar aos cerca de 600 delegados para entrarem na campanha eleitoral: “Agora vamos lutar juntos! Pois faremos do dia 23 de Fevereiro um enorme sucesso!”

Este artigo foi traduzido do alemão.

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Keir Starmer elogia parceria ‘mais próxima do que nunca’ com a Ucrânia em visita a Kiev | Ucrânia

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Keir Starmer elogia parceria 'mais próxima do que nunca' com a Ucrânia em visita a Kiev | Ucrânia

Pippa Crerar Political editor

Keir Starmer viajou para a Ucrânia para se encontrar com Volodymyr Zelenskyy pela primeira vez desde que entrou em Downing Street, saudando uma parceria “mais próxima do que nunca” dias antes de Donald Trump regressar à Casa Branca.

Os dois países assinarão um acordo de parceria para aprofundar a relação de defesa existente, com mais assistência militar a Kiev, em meio a preocupações de que os EUA possam começar a diminuir o seu apoio.

Trump, que retornará ao cargo na segunda-feira, repetiu frequentemente sua promessa de trazer o conflito para dentro Ucrânia para uma conclusão rápida. Espera-se que ele se encontre com o líder russo, Vladimir Putin, no início da sua presidência.

Zelensky instou os aliados ocidentais da Ucrânia “não deixar cair a bola” e continuar a fornecer apoio militar de longo prazo ao seu país em apuros, alertando que desligar a tomada “só irá convidar a mais agressão, caos e guerra”.

Espera-se que Starmer discuta quais garantias de segurança o Reino Unido pode oferecer a Kiev, incluindo a possibilidade de as tropas britânicas fazerem parte de uma força de manutenção da paz no pós-guerra.

“A ambição de Putin de afastar a Ucrânia dos seus parceiros mais próximos tem sido um fracasso estratégico monumental. Em vez disso, estamos mais próximos do que nunca e esta parceria levará essa amizade ao próximo nível”, disse Starmer.

“O poder das nossas amizades de longo prazo não pode ser subestimado. Apoiar a Ucrânia para se defender da invasão bárbara da Rússia e reconstruir um futuro próspero e soberano é vital para a base de segurança deste governo e para o nosso plano de mudança.”

Zelenskyy, no entanto, disse no início deste mês que as garantias de segurança para Kiev só seriam eficazes se Washington as fornecesse, e que um cessar-fogo sem tais garantias apenas daria à Rússia tempo para se rearmar.

A visita de Starmer ocorre depois de ele ter discutido a direção do conflito após o retorno de Trump com o presidente francês, Emmanuel Macron, no Checkers na semana passada. Os dois líderes discutiram a importância de oferecer garantias de segurança à Ucrânia, segundo fontes francesas.

A “parceria de 100 anos” entre a Ucrânia e o Reino Unido também se destina a impulsionar os laços económicos em áreas não militares, como a ciência e a tecnologia. Starmer anunciará £ 40 milhões para a recuperação econômica, que o governo disse que criaria oportunidades para as empresas britânicas.

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O financiamento será direcionado a empresas que apoiam a economia verde e a grupos marginalizados, incluindo mulheres e veteranos. Baseia-se no apoio de 12,8 mil milhões de libras que o Reino Unido já deu à Ucrânia, incluindo 7,8 mil milhões de libras em assistência militar e apoio contínuo a infra-estruturas energéticas.

“Isto não se trata apenas do aqui e agora, trata-se também de um investimento nos nossos dois países para o próximo século, reunindo o desenvolvimento tecnológico, os avanços científicos e os intercâmbios culturais, e aproveitando a inovação fenomenal demonstrada pela Ucrânia nos últimos anos durante gerações. por vir”, disse Starmer.

“Através desta parceria estamos a criar uma economia forte que funciona para o povo britânico, um país seguro que protege os nossos interesses internos e externos, e uma sociedade próspera.”



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