Domingo (27), 18h41. Com 99,23% das urnas apuradas, era impossível saber quem seria o próximo prefeito de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). Naquele momento Ricardo Silva (PSD), tinha 50,26% dos votos, e Marco Aurélio Martins (Novo), 49,74%, diferença que caía a cada voto contabilizado.
E a apuração, que já estava cercada de emoções nos comitês das duas campanhas, parou, devido ao atraso para a chegada de algumas urnas, o que aumentou a tensão numa cidade que já tinha visto disputas acirradas, mas nunca como a protagonizada pelos candidatos neste pleito.
Marco Aurélio estava à frente da apuração até ela atingir 27,02% das urnas, quando Ricardo virou e passou a ter uma ligeira folga. Com 87,4%, o placar mostrava 51,72% a 48,28%, mas o jogo começou a mudar nas urnas seguintes.
Uma possibilidade de virada faltando tão poucos votos seria difícil, mas não impossível –nem inédita na história da cidade–, já que as urnas que chegaram atrasadas e ainda não tinham sido apuradas eram da escola municipal Raul Machado, no bairro Santa Cruz do José Jacques, região em que Marco Aurélio tinha vencido no primeiro turno e mantinha boa performance no turno final.
Àquela altura, ecoava no meio político a até então emblemática eleição de 1996, quando o ex-ministro Antônio Palocci (PT) tentou emplacar seu sucessor, Sérgio Roxo, que tinha terminado o primeiro turno à frente do tucano Luiz Roberto Jábali (1937-2004), 37,96% a 32,45%.
Terminada a apuração no segundo turno, no entanto, Jábali venceu por 50,34% a 49,66%. Só 1.572 votos de diferença, na disputa mais apertada desde o advento do turno extra, quatro anos antes.
Em 1992, Palocci teve 24,38% dos votos no primeiro turno, atrás de Duarte Nogueira, então no PFL (28,05%), e virou no segundo turno, ao obter 52,82%.
A última vez em que Ribeirão viu disputa muito acirrada foi em 2012, quando Dárcy Vera (PSD) venceu Nogueira, já no PSDB, por 51,97% a 48,03% no turno final.
Foram intermináveis 18 minutos até que ocorresse a totalização dos votos restantes pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) neste domingo: Ricardo 131.421 votos, Marco Aurélio 130.734, só 687 votos de diferença, 50,13% a 49,87%, 0,26 ponto percentual entre os dois.
No primeiro turno, o deputado federal Ricardo obteve 48,44% dos votos válidos, ante os 24,94% do empresário, o que já foi visto no meio político como algo surpreendente.
Marco Aurélio foi anunciado como pré-candidato à prefeitura pelo Novo em fevereiro, e foi praticamente ignorado nas conversas políticas pré-campanha. Afinal, era a primeira vez que o Novo lançava um candidato à prefeitura da importante cidade, e um nome desconhecido do meio.
Mesmo durante a campanha, adversários viam como diminuta a possibilidade de Marco Aurélio, sem tempo no horário eleitoral gratuito em rádio e TV no primeiro turno, prosperar. Jorge Roque (PT) tinha conseguido reunir a frente esquerdista (PT, PC do B, PV, PSOL, Rede e PMB), e André Trindade (União Brasil) era apoiado pelo prefeito Duarte Nogueira e tinha PSDB e Cidadania ao seu lado.
Ele adotou em sua campanha a estratégia de ir para a rua o tempo todo —às vezes das 5h à 1h do dia seguinte—, mantida nas semanas finais. No fim da noite deste sábado (26), Marco Aurélio estava nas ruas, passando em mesas de bares para falar com eleitores em busca de votos de última hora.
O candidato do Novo também explorou ao máximo no segundo turno, já com tempo no horário eleitoral, a imagem de políticos do partido, especialmente o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Mas outros nomes atuaram na campanha, como o deputado federal Ricardo Salles, que passou três dias em Ribeirão participando de atos do empresário, e o ex-procurador Deltan Dallagnol, que esteve na cidade na semana decisiva.
A dez dias da eleição, pesquisa Quaest mostrava que ele era desconhecido por 47% dos eleitores, ante os 8% de Ricardo.
Após a apuração deste domingo, o candidato derrotado qualificou o resultado como um “empate”, em relação aos votos, mas como uma vitória política.
“Um desconhecido da política, nunca se apresentou de forma alguma, só como empresário, pequeno empreendedor que conseguiu vencer na vida. Sem espaço de TV e rádio no primeiro turno, apenas um grupo político, que é do partido Novo, com poucos recursos, contra um grande grupo político com mais de dez partidos, maior espaço de TV e rádio, maior recurso financeiro e com vários apoios de padrinhos políticos, inclusive do governador do estado”, disse.
Ele venceu em duas das quatro zonas eleitorais, em uma delas, a 305, que concentra votos da rica zona sul e da região central, por 59,73% a 40,27%. Na 108, venceu por 50,76% a 49,24%. Perdeu na 265 (55,21% a 44,79%) e na 266 (56,90% a 43,10%).
A curva de votos mostra que Ricardo praticamente estacionou sua votação, pois ganhou neste domingo somente 2.955 votos em relação aos 128.466 de 6 de outubro. Já Marco Aurélio quase dobrou, com 64.598 votos a mais que os 66.136 do turno inicial.
“Essa foi uma eleição que foi difícil sim, foi de muitos ataques, mas eu não vou olhar para o retrovisor, vou olhar para a frente”, disse Ricardo na comemoração de sua vitória, abraçado ao seu pai, o deputado estadual Rafael Silva (PSD), que disputou a acirrada eleição de 1996 –ficou em quinto lugar.
Ao votar neste domingo no Colégio Marista, Nogueira disse que encerrará seu segundo mandato com a consciência tranquila “e a certeza de dever cumprido” e que oferecerá o suporte necessário para Ricardo –derrotado por ele nas urnas em 2016– no período de transição.
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