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Sabedoria milenar de árvores contrasta com degeneração política – 10/11/2024 – Marcelo Leite

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Quanto mais conheço animais humanos da estirpe de Donald Trump, mais admiro as árvores. Para quem se estuporou com a eleição norte-americana, recomenda-se a poesia encarnada em choupos trêmulos e seu perene manifesto pela existência comunitária.

A coluna não enlouqueceu, calma. É puro entusiasmo com um bosque chamado Pando, com uma legião de Populus tremuloides –choupos trêmulos– em Utah (EUA). Ele passou incólume até pela última glaciação, de 20 mil a 26 mil anos atrás, com base só na força do vínculo que as árvores mantêm entre si.

O portento se estende por 426 mil m², quase um terço da área do Ibirapuera, com 47 mil clones de um espécime que viveu entre 16 mil e 80 mil anos atrás. Todos os troncos brotaram do mesmo sistema de raízes no subsolo, elo que os torna um só organismo, o mais longevo do planeta.

“Pando” vem do verbo latino para “espalhar”, apelido algo óbvio para uma árvore que começou a se reproduzir assexuadamente antes de a humanidade praticar a agricultura. É o congênere vegetal de um superorganismo célebre, o fungo Armillaria gallica de 2.500 anos e 750 mil m² de filamentos no subsolo de Michigan.

Já se sabia que o bosque Pando resulta da clonagem incansável do choupo cujas folhas tremelicam ao vento, daí o nome da espécie, P. tremuloides. Mas não se conhecia a genética peculiar que vem possibilitando o brotamento de novos troncos, a partir da mesma rede unificada de raízes, por tantos milênios.

Um pouco do mistério se vê decifrado no artigo “Mosaico de Mutações Somáticas no Organismo Vivo mais Velho da Terra, Pando”, de Rozenn Pineau e colaboradores. Mutações somáticas são aquelas que não foram herdadas, e sim falhas de cópia do DNA na divisão sucessiva de células que faz o organismo crescer.

A complicada análise indica que mutações somáticas ocorrem com maior frequência no que se poderia chamar de periferia dos choupos, seus ramos e folhas. As raízes, que garantem a proliferação, têm taxa mutacional.

Os autores também notaram que tais mutações não resultam distribuídas de modo homogêneo pelo bosque. Elas ficam confinadas na vizinhança imediata das árvores.

A produção local de diversidade, aliada ao continuísmo genético das raízes progenitoras, seria o segredo dos clones trêmulos para se adaptar a ambientes em transformação, vicejar e dominar o terreno.

Fazer analogias entre mundo natural e sociedade humana é empresa temerária. Certa filosofia arbórea implícita nesse grau zero da vida multicelular autoriza o risco, porém.

A identidade concebida como atributo de corpos únicos e indivisos, tendo como protótipo animais humanos, se esvai quando os seres multifacetados que são as árvores –confrarias de folhas efêmeras– calham também de ser clones, como Pando.

O bosque abriga muita diversidade, como uma sociedade multicultural, mas também a comunidade indelével das raízes. Com Trump, Bolsonaro, Milei e caterva, a herança compartilhada se perde em mutações deletérias: solidariedade dá lugar ao individualismo, coexistência à agressividade, empatia à competição.

A união na pluralidade (e pluribus unum) da frondosa democracia norte-americana está sob ameaça de extinção. É torcer para suas raízes não apodrecerem de vez em quatro anos de degeneração divisiva.


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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufac realizou, nesta terça-feira, 21, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede, a abertura do Fórum Permanente da Graduação. O evento visa promover a reflexão e o diálogo sobre políticas e diretrizes que fortalecem o ensino de graduação na instituição.

Com o tema “O Compromisso Social da Universidade Pública: Desafios, Práticas e Perspectivas Transformadoras”, a programação reúne conferências, mesas temáticas e fóruns de discussão. A abertura contou com apresentação cultural do Trio Caribe, formado pelos músicos James, Nilton e Eullis, em parceria com a Fundação de Cultura Elias Mansour.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, representou a reitora Guida Aquino. Ele destacou o papel da universidade pública diante dos desafios orçamentários e institucionais. “Em 2025, conseguimos destinar R$ 10 milhões de emendas parlamentares para custeio, algo inédito em 61 anos de história.”

Para ele, a curricularização da extensão representa uma oportunidade de aproximar a formação acadêmica das demandas sociais. “A universidade pública tem potencial para ser uma plataforma de políticas públicas”, disse. “Precisamos formar jovens críticos, conscientes do território e dos problemas que enfrentamos.”
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou que o fórum reúne coordenadores e docentes dos cursos de bacharelado e licenciatura, incluindo representantes do campus de Cruzeiro do Sul. “O encontro trata de temáticas comuns aos cursos, como estágio supervisionado e curricularização da extensão. Queremos sair daqui com propostas de reformulação dos projetos de curso, alinhando a formação às expectativas e realidades dos nossos alunos.”
A conferência de abertura foi ministrada pelo professor Diêgo Madureira de Oliveira, da Universidade de Brasília, que abordou os desafios e as transformações da formação universitária diante das novas demandas sociais. Ao final do fórum, será elaborada uma carta de encaminhamentos à Prograd, que servirá de base para o planejamento acadêmico de 2026.
Também participaram da solenidade de abertura a diretora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Grace Gotelip; o diretor do CCSD, Carlos Frank Viga Ramos; e o vice-diretor do CMulti, do campus Floresta, Tiago Jorge.



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Ufac realiza cerimônia de abertura dos Jogos Interatléticas-2025 — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza cerimônia de abertura dos Jogos Interatléticas-2025 — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou a abertura dos Jogos Interatléticas-2025, na sexta-feira, 17, no hall do Centro de Convenções, campus-sede, e celebrou o espírito esportivo e a integração entre os cursos da instituição. A programação segue nos próximos dias com diversas modalidades esportivas e atividades culturais. A entrega das medalhas e troféus aos vencedores está prevista para o encerramento do evento.

A reitora Guida Aquino destacou a importância do incentivo ao esporte universitário e agradeceu o apoio da deputada Socorro Neri (PP-AC), responsável pela destinação de uma emenda parlamentar de mais de R$ 80 mil, que viabilizou a competição. “Iniciamos os Jogos Interatléticas e eu queria agradecer o apoio da nossa querida deputada Socorro Neri, que acredita na educação e faz o melhor que pode para que o esporte e a cultura sejam realizados em nosso Estado”, disse.

A cerimônia de abertura contou com a participação de estudantes, atletas, servidores, convidados e representantes da comunidade acadêmica. Também estiveram presentes o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, e o presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara.

(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)

 



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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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