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Série retrata chacina da Candelária a partir de sonhos – 30/10/2024 – Ilustrada

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Trinta anos atrás, em 23 de julho de 1993, um grupo de cerca de 50 crianças e jovens dormiam nas escadarias da Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, quando seus sonhos foram interrompidos por tiros. Para sempre, no caso de oito deles, de 11 a 19 anos, mortos naquela madrugada por policiais militares que abriram fogo e fugiram.

A chacina da Candelária chocou o país, mostrou a ação de grupos de extermínio e teve repercussão internacional. Revelou ainda uma fotografia da miséria brasileira (crianças dormindo nas ruas) e um filme da história do Brasil: eram quase todas pretas.

Esse é o fio da meada que o cineasta Luís Lomenha puxou na minissérie “Os Quatro da Candelária”.

Sem desviar das muitas brutalidades do caso, escolheu mergulhar no universo infantil de quatro integrantes do grupo. E, para jogar luz num cotidiano à margem e nos sonhos pueris de quem dormia na escadaria da igreja naquela noite, costura referências inusitadas para o tema, como Os Trapalhões, afrofuturismo, carnaval e o filme “A Fantástica Fábrica de Chocolates”.

Antes de explorar uma mistura de gêneros em uma narrativa não linear, no entanto, o primeiro episódio lembra que “a cidade do Rio de Janeiro recebeu 3 milhões de africanos escravizados durante quatro séculos de colonização europeia”, alguns dos quais ajudaram a erguer a Basílica Nossa Senhora da Candelária, a mesma onde esses seus descendentes foram assassinados em 1993.

Produzida pela Netflix, a minissérie foi baseada em relatos de sobreviventes da chacina às quais se misturaram histórias de vida do próprio Lomenha, criador e roteirista de “Os Quatro da Candelária”, cuja direção assina junto com Márcia Faria.

“A gente quis ir para um caminho de entrar na imaginação daquelas crianças e jovens. Fiz horas de entrevistas com o Wagner [dos Santos, testemunha chave do crime que buscou refúgio na Suíça], com o Snoopy e a Érica [sobreviventes da chacina], que era a mais nova do grupo, e falamos do que aconteceu mas também de seus sonhos”, explica Lomenha, 46, que encontrou ali o material para criar sua fantasia. “A gente foi muito mais fiel à ficção do que à realidade.”

Cada um dos quatro episódios da minissérie acompanha as 36 horas que antecederam os tiros da polícia na Candelária a partir de um dos quatro personagens principais da trama: Douglas, Sete, Jesus e Pipoca.

São crianças e jovens abandonados que buscavam os pais, ou filhos de pai e mãe assassinados, ou que foram para a rua para fugir de abusos dentro de casa.

“Os personagens fazem coisas absurdas, como roubar bicheiro e fábrica de chocolate. São coisas do universo infantil de quem vivia naquela vulnerabilidade. A ideia é mostrar que eles eram crianças. Humanizar essas pessoas e devolver a infância para elas.”

O elenco principal é formado por crianças e jovens não-atores que a produção buscou em todo canto e que surgem acompanhados por nomes como Antônio Pitanga, Péricles e Bruno Gagliasso, que vive um comerciante pai de família e amante de Sete, o mais velho do grupo da Candelária.

Lomenha, antes de ir para trás das câmeras, também foi um ator acidental no longa Cidade de Deus. Estava na Fundição Progresso quando foi abordado e questionado se queria fazer parte de um filme. Disse que não era ator, e ouviu: “Não precisa ser ator, só precisa ser preto”.

“Tomei um susto. Como assim? Aquilo naquela época era muito, muito raro”, lembra ele. Ele saiu da experiência de ator por acaso para fundar o projeto Cinema Nosso, uma escola popular de audiovisual criada com os diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund, e trabalhar com Walter Salles, diretor do filme que mais o marcou, “Central do Brasil”.

Igualmente, Samuel Martins interpreta Douglas em “Os Quatro da Candelária” porque foi abordado na rua pelo ator Leandro Firmino, que faz o papel do pai postiço do garoto na minissérie. “Ele me ligou e disse que tinha acabado de encontrar um moleque em São Gonçalo tocando violino dentro do ônibus que dizia querer ser ator.”

Martins, diz o diretor, se mostrou perfeito para o papel, numa empreitada que levou meses e que fez a produção se estender a dois anos por conta das restrições nas filmagens impostas a filmes com crianças no elenco.

A gente encontrou um grupo muito legal de meninos que vêm de um lugar de onde eu vim, só que no século 21, quando as coisas são mais fáceis, a mobilidade urbana é melhor e eles podem dizer que são negros e ter orgulho disso.”

A história de Douglas tem traços da biografia familiar do diretor. Os pais do personagem são assassinados dentro de casa, e por isso Douglas foge para a rua. “Meus bisavós foram escravizados e viviam na região de Campos (RJ). Após a escravização, compraram uma terra onde foram viver. E nela foram assassinados numa briga por terra. Meu avô e seus irmãos fugiram para a capital com medo de represálias”, conta Lomenha.

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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Curso de extensão da Ufac sobre software Jamovi inscreve até 26/10 — Universidade Federal do Acre

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Curso de extensão da Ufac sobre software Jamovi inscreve até 26/10 — Universidade Federal do Acre

O curso de extensão Jamovi na Prática: Análise de Dados, da Ufac, está com inscrições abertas até 26 de outubro. São oferecidas 30 vagas para as comunidades acadêmica e externa. O curso tem carga horária de 24 horas e será realizado de 20 de outubro a 14 de dezembro, na modalidade remota assíncrona, pela plataforma virtual da Ufac. É necessário ter 75% das atividades realizadas para obter o certificado.

O objetivo do curso é capacitar estudantes e profissionais no uso do software Jamovi para realização de análises estatísticas de forma intuitiva e eficiente. Com uma abordagem prática, o curso apresenta desde conceitos básicos de estatística descritiva até testes inferenciais, correlação, regressão e análise de variância.

Serão explorados recursos de importação e tratamento de dados, interpretação de resultados e elaboração de relatórios. Ao final, o participante estará apto a aplicar o Jamovi em pesquisas acadêmicas e profissionais, otimizando processos de análise e apresentação de dados com rigor científico e clareza.

 



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