NOSSAS REDES

ACRE

Betty Milan monta peça inspirada por Lacan em Nova York – 27/10/2024 – Ilustrada

PUBLICADO

em

Ubiratan Brasil

Entre 1973 e 1978, a escritora e psicanalista Betty Milan morou em Paris onde fez análise com Jacques Lacan, que subverteu a psicanálise, devolvendo-a à virulência de seus primórdios.

Foi um processo vigoroso, que redirecionou a vida e os estudos de Betty, inspirada a escrever o livro “O Papagaio e o Doutor” (Record) e a peça “Adeus, Doutor“, adaptada para o cinema nos EUA e que ganha agora uma montagem no teatro Jeffrey and Paula Gural, em Nova York, em cartaz até 3 de novembro.

Com o título “Goodbye, Doctor”, o espetáculo acompanha a trajetória de Seriema, brasileira descendente de imigrantes libaneses que, depois de sofrer dois abortos espontâneos, se divorcia do marido e se refugia em Paris. Lá, conhece Lacan, com quem inicia uma análise aprofundada, que lhe permite descobrir os segredos enterrados em seu inconsciente, denominado na peça como “The Voice”.

“O texto é estruturado em torno das sessões e mostra claramente como Lacan trabalhava”, conta Milan, que, para a montagem americana, retrabalhou a dramaturgia com Robert McKee, especialista em escrita criativa que reforçou a questão de gênero.

O nome da protagonista foi inspirado em uma ave comum no Cerrado, especializada em limpar terrenos. “Aqui Seriema é a personagem que não consegue ser mãe. É uma mulher complexa, vítima da xenofobia graças à descendência árabe e também de ‘autoxenofobia’, que a impede de conhecer a maternidade”, diz a psicanalista. “A personagem tem algo de andrógino e só aceita a feminilidade graças à análise.”

Escrita em 2008, “Adeus, Doutor” recebeu diversas leituras dramáticas antes de chegar ao palco, como a que reuniu a atriz Bete Coelho e o encenador José Celso Martinez Corrêa em 2010.

“Vivemos um momento crucial, histórico e político, para trazer aos palcos americanos essa peça. A palavra dela tem um poder visceral. A subjetividade feminina é revelada por meio da personagem que eu interpreto, Seriema”, diz a atriz brasileira Barbara Riethe, também produtora do espetáculo em parceria com a companhia Psykout! Theatre, fundada pelo ator, músico e produtor americano Ian Melamed, intérprete da voz do inconsciente.

“Falar de imigração, da cultura brasileira e do empoderamento feminino nos EUA hoje é dar voz a muitas outras mulheres e expor, pelo teatro, a luta pela liberdade de ser quem se é.”

Barbara é dirigida por outra brasileira, Débora Balardini, fundadora do único grupo de teatro brasileiro em atuação em Nova York, o Group Dot BR. Também é reconhecida por seu trabalho humanitário dedicado ao empoderamento das mulheres.

Com a montagem, elas vivem o desafio de desvendar os mistérios de Lacan, interpretado pelo americano Jerry Topitzer. Já a personagem Maria, que criou Seriema e a relembra de suas origens e espiritualidade, é vivida pela jamaicana Dianne Dixon.

“Lacan subverteu a psicanálise com a ideia de que o inconsciente é estruturado como linguagem. Subverteu também a teoria e a prática. Antes dele, o analista interpretava atribuindo um significado ao que o paciente dizia. Lacan cortava a fala do analisando em um determinado ponto e deixava que ele interpretasse o corte”, diz Milan.

Quem se analisava com ele não era um paciente, mas um analisando, devia fazer a própria análise, se debruçar sobre o ocorrido na sessão para rememorar a sua história e evitar que ela se repetisse”, segue ela, que incentivou a figurinista Sarah Constable a criar modelos reveladores da transformação de Seriema a partir da releitura brasileira de peças criadas por ícones como Yves Saint Laurent e Coco Chanel. “No início, ela veste calças compridas e, no final, já está de vestido.”

A revolução lacaniana influenciou não apenas os temas escolhidos por Betty, mas também seu estilo, especialmente a oralidade. “Meus textos são rápidos, escritos para serem ouvidos”, diz ela, que aprovou a versão cinematográfica de Richard Ledes, que se inspirou no clássico filme mudo “A Paixão de Joana D’Arc“, dirigido por Carl Theodor Dreyer em 1928.

“Já a peça tem uma grande dramaticidade”, diz, decidida a não manter mais Lacan como norte de seu trabalho. “Foi um périplo que durou 50 anos. Acho que agora acabou.”



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

ACRE

Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação da Ufac realizou a solenidade de abertura da 3ª Jornada das Profissões. O evento ocorreu nesta sexta-feira, 26, no Teatro Universitário, campus-sede, e reuniu estudantes do ensino médio de escolas públicas e privadas do Estado, com o objetivo de aproximá-los da universidade e auxiliá-los na escolha de uma carreira. A abertura contou com apresentação cultural do palhaço Microbinho e exibição do vídeo institucional da Ufac.

A programação prevê a participação de cerca de 3 mil alunos durante todo o dia, vindos de 20 escolas, entre elas o Ifac e o Colégio de Aplicação da Ufac. Ao longo da jornada, os jovens conhecem os 53 cursos de graduação da instituição, além de laboratórios, espaços culturais e de pesquisa, como o Museu de Paleontologia, o Parque Zoobotânico e o Complexo da Medicina Veterinária.


Na abertura, a reitora Guida Aquino destacou a importância do encontro para os estudantes e para a instituição. Segundo ela, a energia da juventude renova o compromisso da universidade com sua missão. “Vocês são a razão de existir dessa universidade”, disse. “Tenho certeza de que muitos dos que estão aqui hoje ingressarão em 2026 na Ufac. Aproveitem este momento, conheçam os cursos e escolham aquilo que os fará felizes.”

A reitora também ressaltou a trajetória do evento, que chega à 3ª edição consolidado, e agradeceu as parcerias institucionais que possibilitam sua realização, como a Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE) e a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM). “Sozinho ninguém faz nada, mas juntos somos mais fortes; é assim que a Ufac tem crescido, firmando-se como referência no ensino superior da Amazônia”, afirmou.
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, explicou a proposta da jornada e o esforço coletivo envolvido na organização. “Nosso objetivo é mostrar os cursos de graduação da Ufac e ajudar esses jovens a identificarem áreas de afinidade que possam orientar suas escolhas profissionais. Muitos acreditam que a universidade é paga, então esse é também um momento de reforçar que se trata de uma instituição pública e gratuita.”

Entre os estudantes presentes estava Ana Luiza Souza de Oliveira, do 3º ano da Escola Boa União, que participou pela primeira vez da jornada. Ela contou estar animada com a experiência. “Quero ver de perto como funcionam as profissões, entender melhor cada uma. Tenho vontade de fazer Psicologia, mas também penso em Enfermagem. É uma oportunidade para tirar dúvidas.”


Também compuseram o dispositivo de honra o pró-reitor de Planejamento, Alexandre Hid; o pró-reitor de Administração, Tone Eli da Silva Roca; o presidente da FEM, Minoru Kinpara; além de diretores da universidade e representantes da SEE.



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

Enanpoll — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

enanpoll-event.jpg

Notícias


publicado:
26/09/2025 14h57,


última modificação:
26/09/2025 14h58

1 a 3 de outubro de 2025



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.

“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”

Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

MAIS LIDAS