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Brasil faz biópsia de câncer de mama fora de prazo em lei – 20/10/2024 – Equilíbrio e Saúde

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Victoria Damasceno

Em julho de 2023, Aline Garcia, na época com 39 anos, sentiu um caroço no seio. Seguiu, então, a cartilha: procurou uma UBS (Unidade Básica de Saúde), conseguiu uma consulta ginecológica para o mesmo mês e, quando foi atendida, saiu de lá na fila de espera para a mamografia. Mas dois meses se passaram e o telefonema que lhe diria a data do exame não vinha. A saída foi pagar e fazer na rede particular. O resultado, porém, foi inconclusivo.

Sem saber do que se tratavam as alterações que via em seu seio, voltou à UBS. Desta vez, o médico pediu a ela uma ultrassonografia, que levou mais de um mês para ser feita.

Com o laudo em mãos, buscou atendimento de emergência na cidade que mora, Biguaçú, no interior de Santa Catarina, para acelerar o processo. Foi, então, colocada na fila de espera para mastologia.

Na consulta, às vésperas do ano novo, recebeu a notícia de que o caroço provavelmente seria câncer. Em 5 de janeiro, enfim, conseguiu fazer a biópsia. Dez dias depois recebeu o resultado: tumor maligno do tipo Luminal 2.

Entre sentir um caroço no peito e ter acesso ao exame que determinaria o câncer foram seis meses. Após o diagnóstico, mais três para começar o tratamento, em abril de 2024, no Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas) de Florianópolis (SC).

Aline faz parte de um grupo de milhares de pacientes com câncer de mama que fizeram a biópsia com atraso no Brasil. Embora lei de 2019 determine que os usuários da rede pública com suspeita de câncer tenham acesso a todos os exames necessários para o diagnóstico em até 30 dias, ao menos 87,4 mil fizeram o teste para o tumor nas mamas acima do prazo entre 2020, quando a legislação entrou em vigor, e setembro de 2024. Neste ano, 39% dos procedimentos realizados descumpriram a determinação.

A legislação, que tem como objetivo garantir celeridade no diagnóstico, se somou à Lei 12.732, sancionada em 2013, que assegura aos pacientes o primeiro tratamento em até 60 dias após o resultado positivo. No caso de Aline, os dois prazos foram violados.

Em Santa Catarina, 36% dos pacientes que realizaram a biópsia histopatológica, determinante para o diagnóstico, fizeram-na fora do prazo entre janeiro e setembro de 2024. O estado com o pior indicador é o Amazonas, onde 81% realizaram o exame em 31 dias ou mais. O Rio Grande do Sul tem o melhor indicador, com 9% .

A Secretaria de Saúde do Estado de Santa Catarina contesta os dados disponibilizados pelo DataSUS e afirma que dos 2.552 exames realizados, apenas 12 foram feitos fora do prazo. Os dados da ferramenta do Ministério da Saúde indicam que foram feitos 930 procedimentos em 31 dias ou mais.

A pasta também diz que cumpriu os prazos determinados em lei no tratamento de Aline Garcia.

Descobrir o câncer de mama em estágio inicial aumenta as chances de cura e dá mais possibilidades de tratamento, segundo especialistas.

Para a mastologista Maira Caleffi, presidente da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), o tempo determinado pela lei é adequado –problema maior, diz, é que nem sempre é cumprido. Segundo a profissional, que é também membro do conselho da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC, na sigla em inglês), a demora para o diagnóstico de câncer faz com que o tumor seja descoberto em estágio avançado, o que dificulta o tratamento.

“O SUS está atrasado por mais de 10 anos para o tratamento de tumores maiores. Então, o que a gente está falando? Se o gargalo da entrada da biópsia, da imunohistoquímica, fosse mais rápido, nós íamos conseguir tratar pacientes mais cedo, onde o tratamento não é tão defasado quanto no avançado”, disse ela à Folha no Congresso Mundial do Câncer, realizado de 17 a 19 de setembro em Genebra (Suíça).

Segundo Caleffi, a rede pública brasileira lida melhor com casos iniciais, uma vez que estágios avançados podem pedir uma combinação de tratamentos que nem sempre estão à disposição. “Não é só a droga em si. Por exemplo, a gente sabe que hoje em dia há disponibilidade de tipos de radioterapia que não existem no SUS. Os tratamentos têm muito menos sequelas e estão disponíveis na rede privada brasileira.”

Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu às perguntas sobre ações realizadas pela pasta para diminuir o tempo de espera para o exame.

Para a psicóloga oncológica Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, a demora para o diagnóstico final compreende, não apenas a espera pela biópsia, mas um processo que inclui filas para especialistas, como ginecologista e mastologista, e para exames, como a mamografia e ressonância. A demora no atendimento, diz, faz com que pacientes esperem meses, até anos, para saberem se têm ou não a doença.

“Elas estão perdendo a chance. Pra mim é a palavra mais forte, pra gente não falar perdendo a vida, que também é a verdade. Porque tem uma coisa que mexe muito, que são os tratamentos que você tem a hora certa pra dar”, disse a profissional, que também atuou como palestrante no Congresso Mundial do Câncer.

Com o diagnóstico tardio, segundo Holtz, o tratamento se torna mais difícil em diversas camadas. “Você gera um desgaste físico, emocional. A pessoa chega lá e o que deveria ser um primeiro, ou talvez um segundo passo, vira o décimo.”

A jornalista viajou à convite da Roche



Leia Mais: Folha

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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