POLÍTICA
Comunicação: A Culpa é do Mordomo
PUBLICADO
12 meses atrásem
Murillo Aragão
Em meio às críticas sobre a comunicação do governo, foi anunciada a nomeação de Sidônio Palmeira no lugar de Paulo Pimenta para a Secretaria de Comunicação (Secom). A mudança, no entanto, parece mais um movimento simbólico do que uma solução real, pois a questão parece ser muito mais de estratégias de comunicação do que de nomes.
O governo, tradicionalmente, se comunica muito mal, pois seu protocolo é determinado pelo binômio jornalismo-publicidade. O problema é que esses instrumentos, que outrora influenciavam o comportamento da sociedade, já não têm o mesmo peso e relevância que tinham no passado. Quando vemos que os canais fechados de notícias atingem pouco mais de 250 mil pessoas por minuto, fica comprovado o precário alcance do jornalismo tradicional. A publicidade, diante de um domínio da TV aberta, se expressa mais eficazmente se for tratada de forma segmentada.
A tática empregada atualmente é ultrapassada e ineficaz, centrando-se no despejo de dinheiro em anúncios, com a crença equivocada de que isso tornará a mídia mais favorável ou leniente. Enquanto isso, as redes sociais, que deveriam ser o coração de uma comunicação moderna, são geridas de forma precária, sem integração com o esforço governamental. A falta de uma narrativa clara e consistente se soma às infelizes declarações lacradoras, que frequentemente abalam as expectativas econômicas e políticas. Além disso, a comunicação deve ser concebida de forma estratégica.
O que fazer?
Primeiro, o governo precisa entender que sua comunicação deve ser abrangente e segmentada. Abrangente no sentido de utilizar múltiplas abordagens e instrumentos, indo além de anúncios ou patrocínios de eventos aliados. A comunicação deve incluir uma estratégia sólida nas redes sociais, que hoje são subestimadas. Mesmo com boas notícias — como o baixo desemprego, o crescimento econômico e a maior distribuição de renda — a obtusidade comunicativa do governo prevalece, criando um paradoxo: o que é bom, o governo esconde; o que é ruim, ele amplifica.
Segmentar significa levar as mensagens ao público certo, empacotando iniciativas para atingir audiências específicas. Projetos para o Nordeste devem ser amplamente divulgados na região; políticas voltadas ao agronegócio precisam ter seus próprios canais de comunicação, que nem sempre são os tradicionais. A lógica é simples: comunicar diretamente com quem importa, em vez de dispersar recursos em tentativas genéricas. Dialogar mais com formadores de opinião e, sobretudo, ouvi-los.
O grande obstáculo
O principal obstáculo está na estrutura antiquada do governo, que se acostumou com a leniência ideológica de uma parte da mídia tradicional, oscilando entre privilegiar canais de confiança ou se fechar completamente, sem dar notícias. A abrangência e a segmentação requerem procedimentos modernos, mas muitos ministros sequer compreendem que isso faz parte de uma comunicação eficaz. Tome-se como exemplo as audiências, que são ferramentas excepcionais de comunicação segmentada. No entanto, há ministros que têm horror de atender audiências e mantêm agendas desorganizadas, desperdiçando oportunidades de diálogo e de divulgação de realizações.
A situação piora ainda mais pela comunicação precária dentro do próprio governo. Ministros evitam interlocuções importantes, com atrasos constantes ou desinteresse em coordenar esforços. A falta de coesão interna impede que o governo fale com uma voz unificada, prejudicando a construção de uma narrativa consistente e consequente. Desunido e sem narrativa, o governo terá dificuldade em estruturar uma comunicação eficaz.
Portanto, o problema da comunicação do governo não é a falta de capacidade técnica, mas a leitura equivocada do que significa comunicar nos dias de hoje. Isso exige uma revolução ideológica no modelo de comunicação do governo. Sem essa mudança, a Secom continuará sendo vista como o mordomo de um equívoco que, na verdade, é cometido por todo o governo.
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POLÍTICA
A articulação para mudar quem define o teto de jur…
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8 meses atrásem
5 de maio de 2025Nicholas Shores
O Ministério da Fazenda e os principais bancos do país trabalham em uma articulação para transferir a definição do teto de juros das linhas de consignado para o Conselho Monetário Nacional (CMN).
A ideia é que o poder de decisão sobre o custo desse tipo de crédito fique com um órgão vocacionado para a análise da conjuntura econômica.
Compõem o CMN os titulares dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento e da presidência do Banco Central – que, atualmente, são Fernando Haddad, Simone Tebet e Gabriel Galípolo.
A oportunidade enxergada pelos defensores da mudança é a MP 1.292 de 2025, do chamado consignado CLT. O Congresso deve instalar a comissão mista que vai analisar a proposta na próxima quarta-feira.
Uma possibilidade seria aprovar uma emenda ao texto para transferir a função ao CMN.
Hoje, o poder de definir o teto de juros das diferentes linhas de empréstimo consignado está espalhado por alguns ministérios.
Cabe ao Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), presidido pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, fixar o juro máximo cobrado no consignado para pensionistas e aposentados do INSS.
A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, é quem decide o teto para os empréstimos consignados contraídos por servidores públicos federais.
Na modalidade do consignado para beneficiários do BPC-Loas, a decisão cabe ao ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias.
Já no consignado de adiantamento do saque-aniversário do FGTS, é o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que tem a palavra final sobre o juro máximo.
Atualmente, o teto de juros no consignado para aposentados do INSS é de 1,85% ao mês. No consignado de servidores públicos federais, o limite está fixado em 1,80% ao mês.
Segundo os defensores da transferência da decisão para o CMN, o teto “achatado” de juros faz com que, a partir de uma modelagem de risco de crédito, os bancos priorizem conceder empréstimos nessas linhas para quem ganha mais e tem menos idade – restringindo o acesso a crédito para uma parcela considerável do público-alvo desses consignados.
Ainda de acordo com essa lógica, com os contratos de juros futuros de dois anos beirando os 15% e a regra do Banco Central que proíbe que qualquer empréstimo consignado tenha rentabilidade negativa, a tendência é que o universo de tomadores elegíveis para os quais os bancos estejam dispostos a emprestar fique cada vez menor.


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