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Cotas e meritocracia: mitos e verdades na educação brasileira – 11/12/2024 – Sou Ciência
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11 meses atrásem
Maria Angélica Pedra Minhoto, Soraya Smaili, Pedro Arantes, Weber Tavares da Silva Junior
Para iniciar, um alerta é imprescindível: a reserva de vagas para o ingresso nas Universidades Federais é prioritariamente social, e não racial.
A legislação é muito clara: a população negra que fez o ensino médio em escolas privadas não tem direito a cotas. O critério racial presente na lei só ocorre como subcota, isto é, vem no interior da reserva geral para a escola pública e leva em conta os dados proporcionais do Censo Populacional do IBGE sobre cor, raça e etnia em cada estado da federação.
Se houver 100 vagas de ingresso em um curso, 50 serão destinadas a toda a população interessada e as outras 50 serão reservadas para pessoas que estudaram em escolas públicas, sejam elas brancas, indígenas, pardas, pretas ou quilombolas, com ou sem deficiência. Se o último Censo do IBGE apontar que 20% da população de um determinado estado é negra, então, 20% das vagas reservadas para estudantes de escolas públicas serão destinadas a candidatos negros: no caso, das 100 vagas, apenas 10 seriam reservadas para a população negra que estudou em escolas públicas.
Esclarecido esse ponto, vamos ao debate principal.
Em 2023, segundo o Censo Escolar do Inep, havia no 3º ano do ensino médio 2.053.636 estudantes matriculados, 14,1% em escolas privadas (288.953) e 85,9% em públicas (1.764.683). Já a sinopse da Educação Superior do mesmo ano mostra que existiam 658.273 vagas para o ingresso em Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), sendo mais de 90% (597.492) na modalidade presencial.
Nesse cenário, é possível verificar que, em 2023, os 288.953 potenciais concluintes do ensino médio privado puderam disputar “com folga” uma das 298.746 vagas presenciais de ampla concorrência das IFES. Do outro lado, a disputa foi expressivamente mais difícil, pois a metade das vagas, as reservadas (298.746), tinham como potenciais concorrentes os 1.764.683 concluintes do ensino médio público.
É evidente que a disputa pelo ingresso em um curso é diferente, a depender da carreira escolhida. No entanto, de forma geral, nota-se que as vagas de ampla concorrência das Universidades Federais, em 2023, seriam suficientes para acomodar todos os potenciais egressos do ensino privado, mas não os do público. As vagas reservadas são suficientes para atender menos de 17% dos potenciais concluintes do ensino médio público. Como consequência, vemos recair sobre esses estudantes o fenômeno da hiper-seletividade, que reduz chances de fazer avançar a trajetória acadêmica de qualidade e de alcançar mobilidade social por meio da educação.
O estudante de escola pública tem, historicamente, mais necessidades que o das privadas. É mais dependente de transporte público coletivo, mora tanto nas periferias das grandes cidades quanto nas localidades rurais, falta-lhe acesso à internet, a bibliotecas e equipamentos culturais, sofre potencialmente mais problemas nutricionais e tem pais com menor escolaridade. Nessas condições, pode-se dizer que demonstra maior “mérito” ao ingressar na educação superior pública do que um estudante de elite, que nunca enfrentou tais dificuldades, sempre frequentou as ditas melhores escolas e alcançou o mesmo resultado.
A verdade é que a lei de cotas tornou o ambiente das IFES mais diverso e plural, refletindo melhor a realidade brasileira. No entanto, como observou o escritor Jeferson Tenório ao analisar as manifestações preconceituosas dos estudantes da PUC-SP em novembro de 2024, a Lei de Cotas fez com que os estudantes brancos da classe média perdessem o que entendiam como “o seu direito” às vagas nas Universidades Federais, ou, como disse o escritor, eles perderam o privilégio de ser medíocres.
A guisa de concluir, àqueles que insistem em afirmar, repostando de forma acrítica, que as cotas pioraram a qualidade do ensino, ou que alunos cotistas têm piores desempenhos que seus colegas ingressantes pela ampla concorrência, sugere-se o acesso e a análise de dados educacionais e a leitura de diversos estudos publicados sobre o tema. De especial interesse, pode ser o Painel de Cotas do SoU_Ciência.
Embora algumas notas obtidas no Enem possam ser menores entre cotistas, especialmente no ingresso em cursos concorridos, os dados de desempenho acadêmico mostram que quase não há diferença entre cotistas e não cotistas quando caminham no curso. Necessário mesmo é que a sociedade brasileira supere o seu racismo e preconceito e se beneficie da diversidade, da potência e da criatividade intelectual de toda a sua população.
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Curso de Letras/Libras da Ufac realiza sua 8ª Semana Acadêmica — Universidade Federal do Acre
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16 horas atrásem
4 de novembro de 2025O curso de Letras/Libras da Ufac realizou, nessa segunda-feira, 3, a abertura de sua 8ª Semana Acadêmica, com o tema “Povo Surdo: Entrelaçamentos entre Línguas e Culturas”. A programação continua até quarta-feira, 5, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede, com palestras, minicursos e mesas-redondas que abordam o bilinguismo, a educação inclusiva e as práticas pedagógicas voltadas à comunidade surda.
“A Semana de Letras/Libras é um momento importante para o curso e para a universidade”, disse a pró-reitora de Graduação, Edinaceli Damasceno. “Reúne alunos, professores e a comunidade surda em torno de um diálogo sobre educação, cultura e inclusão. Ainda enfrentamos desafios, mas o curso tem se consolidado como um dos mais importantes da Ufac.”
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou que o evento representa um espaço de transformação institucional. “A semana provoca uma reflexão sobre a necessidade de acolher o povo surdo e integrar essa diversidade. A inclusão não é mais uma escolha, é uma necessidade. As universidades precisam se mobilizar para acompanhar as mudanças sociais e culturais, e o curso de Libras tem um papel fundamental nesse processo.”

A organizadora da semana, Karlene Souza, destacou que o evento celebra os 11 anos do curso e marca um momento de fortalecimento da extensão universitária. “Essa é uma oportunidade de promover discussões sobre bilinguismo e educação de surdos com nossos alunos, egressos e a comunidade externa. Convidamos pesquisadores e professores surdos para compartilhar experiências e ampliar o debate sobre as políticas públicas de educação bilíngue.”
A palestra de abertura foi ministrada pela professora da Universidade Federal do Paraná, Sueli Fernandes, referência nacional nos estudos sobre bilinguismo e ensino de português como segunda língua para surdos.
O evento também conta com a participação de representantes da Secretaria de Estado de Educação e Cultura, da Secretaria Municipal de Educação, do Centro de Apoio ao Surdo e de profissionais que atuam na gestão da educação especial.
(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)
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A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) comunica que estão abertas as inscrições até esta segunda-feira, 3, para o mestrado profissional em Administração Pública (Profiap). São oferecidas oito vagas para servidores da Ufac, duas para instituições de ensino federais e quatro para ampla concorrência.
Confira mais informações e o QR code na imagem abaixo:
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Atlética Sinistra conquista 5º título em disputa de baterias em RO — Universidade Federal do Acre
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5 dias atrásem
31 de outubro de 2025A atlética Sinistra, do curso de Medicina da Ufac, participou, entre os dias 22 e 26 de outubro, do 10º Intermed Rondônia-Acre, sediado pela atlética Marreta, em Porto Velho. O evento reuniu estudantes de diferentes instituições dos dois Estados em competições esportivas e culturais, com destaque para a tradicional disputa de baterias universitárias.
Na competição musical, a bateria da atlética Sinistra conquistou o pentacampeonato do Intermed (2018, 2019, 2023, 2024 e 2025), tornando-se a mais premiada da história do evento. O grupo superou sete concorrentes do Acre e de Rondônia, com uma apresentação que se destacou pela técnica, criatividade e entrosamento.
Além do título principal, a bateria levou quase todos os prêmios individuais da disputa, incluindo melhor estandarte, chocalho, tamborim, mestre de bateria, surdos de marcação e surdos de terceira.
Nas modalidades esportivas, a Sinistra obteve o terceiro lugar geral, sendo a única equipe fora de Porto Velho a subir no pódio, por uma diferença mínima de pontos do segundo colocado.
(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)
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