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Exame com ‘Fora Dilma’ ilustra guerra entre governo e médicos

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10 meses atrásem
BBC Brasil

Crédito, ABr
- Author, Camilla Costa e Ricardo Senra
- Role, Da BBC Brasil em São Paulo
Era só mais um exame oftalmológico de rotina: “A!”, “F!”, “W!”, repetia o paciente, enquanto tentava enxergar letras cada vez menores. Ao receber o resultado impresso de suas taxas de miopia e astigmatismo, porém, os olhos do paciente saltaram: “Fora Dilma”, dizia em letras maiúsculas um trecho do laudo médico.
O caso aconteceu na segunda semana de setembro, dentro da clínica de olhos da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte – hospital cujo atendimento é 100% vinculado ao SUS.
Após a eclosão da história, descoberta pelo jornal mineiro O Tempo, a entidade divulgou uma carta pública, pedindo desculpas à presidente e candidata à reeleição pelo PT Dilma Rousseff, e anunciou abertura de sindicância para investigar o que considerou um “ato de sabotagem” contra a instituição.
As investigações sobre o caso continuam, mas fontes ouvidas pela BBC Brasil afirmaram que dificilmente o responsável será identificado, já que a máquina utilizada para imprimir os resultados dos exames é manuseada por pelo menos dez profissionais.
De qualquer forma, o episódio ilustra a crise entre parte da classe médica e o governo federal, acirrada especialmente após o lançamento do programa Mais Médicos, em julho do ano passado.
A vinda de médicos estrangeiros para trabalhar na atenção básica, como parte do programa, fez com que a principal entidade de representação da classe médica (o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Ministério da Saúde passassem a viver em pé de guerra, em uma situação que se estende por mais de um ano.
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Fogo cruzado
Em meio ao fogo cruzado, os cerca de 4 mil brasileiros especialistas em medicina de família – que atendem pacientes nas periferias e nos rincões mais distantes do país e que são os personagens principais neste enredo – afirmam enxergar prós e contras no discurso de ambos os lados.

Crédito, O Tempo
Conselho e Ministério os representam – mas nenhum deles parece falar sua língua.
Entre os principais fatores de discordância entre o governo e a entidade médica estão o volume de investimentos em infraestrutura de postos de saúde, as políticas de remuneração e formação de profissionais e a vinda de médicos estrangeiros – especialmente os cubanos.
“Por um lado, o programa (Mais Médicos) tornou a atenção em saúde acessível e reduziu mortalidade. Por outro, não veio uma política de Estado de médio prazo”, pondera o pediatra e professor de Atenção Básica Luis Cutolo, que ensina na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e na Univale.
Leia também na BBC Brasil: Médica de família ‘dirige Chevette e namora Creisom’ em apostila para concurso
Nos dois extremos do comentário do professor estão as posições do governo e do CFM.
“Há cidades no interior onde pessoas morrem de pneumonia porque não têm médico nem penicilina, em pleno século 21. Ora, era necessário uma atitude urgente para fazer com que essas pessoas não morressem”, argumenta Cutolo.
“Esses médicos vieram para ocupar espaços que os médicos brasileiros não ocupavam. Mas o governo cometeu uma série de erros estratégicos: não foi claro, não debateu isso com a sociedade antes.”
Carreira
Em entrevista à BBC Brasil, o clínico Carlos Vital Corrêa Lima, vice-presidente do CFM, atacou “a falta de vontade política” para a criação de planos de carreiras e a existência de “postos carentes de condições básicas de infraestrutura” na atenção básica.
“O problema da saúde no Brasil é crônico, mas vem agonizando nos últimos 12 anos”, diz o representante da categoria, em referência aos governos petistas.
Representantes do governo, por sua vez, afirmaram que os aportes financeiros na área mais que dobraram na gestão de Dilma Rousseff.
“O Ministério da Saúde está investindo fortemente em infraestrutura para melhorar a rede de atenção à saúde e oferecer condições adequadas de trabalho aos profissionais. São R$ 5,6 bilhões destinados aos municípios para a construção, reforma e ampliação de 26 mil Unidades Básicas de Saúde e R$ 1,9 bilhão para construção e reforma de Unidades de Pronto Atendimento 24h”, disse o Ministério.
Hoje, de acordo com o governo, existem 37.319 equipes de saúde da família no país, cobrindo uma população de 116.417.019 pessoas.
Em resposta às cobranças de planos de carreira, o governo diz que “estimula a implantação e a reestruturação dos planos de carreira nos âmbitos estaduais e municipais” e que financia “projetos estaduais para criação de planos de carreiras, cargos e salários e para a desprecarização de vínculos trabalhistas no SUS”.
“O SUS é interfederado, tem atribuições de Estados, Municípios e da União”, diz Marcos Pedrosa, médico de família e professor da UFPE. “Para federalizar toda a mão de obra seria preciso acabar com a lei de responsabilidade fiscal, que estabelece teto para a participação da folha de pagamento do funcionalismo público no orçamento da União. Em cidades pequenas, o salário do prefeito muitas vezes é menor que o salário necessário para atrair um médico”, afirma.
Profissionais de medicina familiar entrevistados pela BBC Brasil disseram considerar a criação de planos de progressão salarial para médicos do SUS um dos pontos críticos para que mais estudantes decidissem se especializar na atenção básica. Hoje, apenas um em cada dez desses profissionais tem esta especialização – considerada a formação mais adequada para o atendimento primário de saúde.
De acordo com a Constituição brasileira, a gestão e os serviços de saúde devem ser descentralizados – portanto, a responsabilidade federal é compartilhada com Municípios e Estados.

Crédito, AFP
Estrangeiros
O médico de família Paulo Klingelhoefer de Sá, que há mais de 20 anos trabalha na atenção básica e hoje é coordenador do curso de medicina da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), opta pelo meio termo entre os discursos do governo e da entidade representativa.
“O Partido dos Trabalhadores, quando no poder, não criou condições adequadas de contratação, de salário e de condições de trabalho para o profissional. Ele teve iniciativas que foram interessantes, mas não suficientes. Se você não botar dinheiro no bolso do cara para ele ter condição de pagar as contas dele, ele não vai ficar.”
Segundo o governo, mesmo com ofertas de salários acima de R$ 20 mil, apenas 12% das vagas foram preenchidas antes da abertura do processo de cooperação com médicos estrangeiros.
Hoje, segundo o Ministério, quase 80% dos mais de 14,4 mil participantes do programa Mais Médicos vêm de Cuba. Ainda de acordo com o governo, 2,7 mil cidades são atendidas exclusivamente por cubanos.
Leia também na BBC Brasill: Desvalorizada no Brasil, saúde básica é chave do sucesso de sistema britânico
O vice-presidente do CFM novamente bate de frente. “A vinda dos cubanos é parte de um processo de sustentação econômica dessa bela ilha do Caribe”, diz Vital. “É um interesse de Cuba, haja vista a resistência natural (dos brasileiros) fundamentada pela falta de condições de trabalho”, afirma. “Por isso há dificuldade de preenchimento dos espaços.”
O ministério contra-argumenta. “(As localidades atendidas pelo programa) agora têm o médico atendendo, de segunda a sexta-feira, em tempo integral”.
Rodrigo Lima, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), critica a “ideologização” da discussão. Segundo o médico, a discussão hoje é muito mais política (direita X esquerda) do que efetivamente construtiva.
“Há um componente ideológico forte, porque as corporações médicas historicamente têm se posicionado mais à direita. E o governo anuncia que vai trazer tantos médicos cubanos, sem validar o diploma e passando o dinheiro direto para o governo cubano. Foi uma declaração de guerra”, diz.
Para o médico, o Mais Médicos “tem muitos defeitos”, mas vale a pena trabalhar para aperfeiçoá-lo.
“Temos que estar junto para construir algo que é melhor”, diz. “Fomos muito criticados dentro da corporação médica por isso.”
Leia também na BBC Brasil: ‘Já fui xingada de sudaca’, diz médica brasileira na Espanha
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Professora da Ufac é nomeada membro afiliada da ABC — Universidade Federal do Acre

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1 dia atrásem
18 de agosto de 2025
A professora da Ufac, Simone Reis, foi nomeada membro afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na terça-feira (5), em cerimônia realizada na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém (PA). A escolha reconhece sua trajetória acadêmica e a pesquisa de pós-doutorado desenvolvida na Universidade de Oxford, na Inglaterra, com foco em biodiversidade, ecologia e conservação.
A ABC busca estimular a continuidade do trabalho científico de seus membros, promover a pesquisa nacional e difundir a ciência. Todos os anos, cinco jovens cientistas são indicados e eleitos por membros titulares para integrar a categoria de membros afiliados, criada em 2007 para reconhecer e incentivar novos talentos na ciência brasileira.
“Nunca imaginei estar nesse time e fiquei muito surpresa por isso. Espero contribuir com pesquisas científicas, parcerias internacionais e discussões ecológicas junto à ABC”, disse a professora Simone Reis.
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Reitora assina contrato de digitalização de acervo acadêmico — Universidade Federal do Acre

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5 dias atrásem
14 de agosto de 2025
A reitora da Ufac, Guida Aquino, assinou o contrato de digitalização do acervo de documentos acadêmicos. A ação ocorreu na tarde de quarta-feira, 13, no hall do Núcleo de Registro e Controle Acadêmico (Nurca). A empresa responsável pelo serviço é a SOS Tecnologia e Gestão da Informação.
O processo atende à Portaria do MEC nº 360, de 18 de maio de 2022, que obriga instituições federais de ensino a converterem o acervo acadêmico para o meio digital. A medida busca garantir segurança, organização e acesso facilitado às informações, além de preservar documentos físicos de valor histórico e acadêmico.
Para a reitora Guida Aquino, a ação reforça o compromisso institucional com a memória da comunidade acadêmica. “É de extrema importância arquivar a história da nossa querida universidade”, afirmou.
A decisão foi discutida e aprovada pelo Comitê Gestor do Acervo Acadêmico da Ufac, em reunião realizada no dia 7 de julho de 2022. Agora, a meta é mensurar o tamanho dos arquivos do Nurca para dar continuidade ao processo, assegurando que toda a documentação esteja em conformidade legal e disponível em formato digital.
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Ufac inaugura Sala Aquário no Restaurante Universitário para acolhimento sensorial — Universidade Federal do Acre

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6 dias atrásem
13 de agosto de 2025
A Ufac, por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes) inaugurou, nesta quarta-feira, 13, no Restaurante Universitário (RU), a Sala Aquário, um espaço de acomodação sensorial com estímulos reduzidos, destinado a oferecer mais conforto e inclusão, especialmente para pessoas neurodivergentes ou com hipersensibilidade a ruídos, luminosidade ou odores.
A reitora Guida Aquino destacou que o espaço atende a uma reivindicação antiga e reafirmou o compromisso institucional com a inclusão. “Seguiremos apoiando nossos estudantes neurodivergentes para que tenham as condições necessárias de permanecer na universidade e concluírem seus cursos. É fundamental que encontrem aqui um ambiente que facilite sua trajetória acadêmica”, disse.
O ambiente foi adaptado a partir de uma demanda apresentada pelo Coletivo Atípico da Ufac, e pode ser utilizado por qualquer pessoa que necessite de um local mais silencioso e com menor fluxo de pessoas para realizar suas refeições, sem a necessidade de identificação específica além do procedimento já exigido para acesso ao RU.
A diretora de Apoio Estudantil, Cydia Menezes Furtado, explicou que a iniciativa surgiu a partir do diálogo com estudantes autistas, que relatavam desconforto com o alto volume de pessoas e sons no restaurante. “O RU serve, em média, 1.800 a 2.000 refeições no almoço, em um espaço com acústica que potencializa o barulho. Além disso, temos apresentações culturais no palco externo e transmissões de rádio, o que aumentava os estímulos. A Sala Aquário foi pensada para oferecer esse momento de conforto durante as refeições”, afirmou.
Representando o coletivo estudantil, a acadêmica de Letras Libras e integrante do Coletivo Atípico da Ufac, Érika Sales Aguiar, reforçou a importância do novo espaço. “Não se trata de querer se excluir, mas de evitar a sobrecarga de estímulos que pode causar crises. Este ambiente garante mais silêncio e conforto, e representa um avanço na inclusão e na acessibilidade dentro da universidade”, declarou.
Participaram ainda da inauguração o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Isaac Dayan Bastos da Silva; a pró-reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas, Filomena Maria Oliveira da Cruz; o pró-reitor de Planejamento, Alexandre Ricardo Hid; e representantes da comunidade acadêmica.
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