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Filme lembra barão judeu que trouxe famílias ao RS – 15/11/2024 – Mercado

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Naief Haddad

Alguns anos atrás, em uma conversa com o médico Isaac Matone, o produtor cultural e ator Léo Steinbruch se deu conta de que sabia muito pouco sobre o passado da sua família. “Fiquei impressionado com a minha ignorância.”

Membro da comunidade judaica de São Paulo, Steinbruch é amigo de infância de um dos filhos de Matone. Mas um outro elo os aproximava. Depois de enfrentar situações degradantes no império russo, os antepassados de ambos conseguiram vir para o Brasil no início do século 20 devido ao apoio financeiro e logístico do barão de Hirsch.

Matone morreu em 2021, mas se manteve como inspiração para o projeto que Steinbruch levou adiante. Mais do que conhecer a história da família, era preciso difundir a saga desses imigrantes que, graças a Hirsch, desembarcaram no Rio Grande do Sul. “Se eu sabia tão pouco sobre tudo isso, imagine meus quatro filhos”, diz o produtor.

Começava a nascer o documentário “Terras Prometidas – A Herança da Baronesa e do Barão de Hirsch”. Recém-concluído, o filme idealizado por Steinbruch e dirigido por Olindo Estevam tem a primeira exibição pública nesta segunda (18) em São Paulo.

Em seguida, o documentário ganha sessões especiais em cidades gaúchas como Porto Alegre, Santa Maria e Erechim, além de outras projeções na capital paulista.

É o próprio Steinbruch quem, na frente da câmera, conduz essa produção ao estilo road movie. Viaja pelo Brasil e pela Europa para encontrar pessoas e localidades que possam lembrar momentos da trajetória dos seus bisavós e de tantos outros judeus naquele mesmo contexto.

Põe o pé na estrada também para saber mais sobre o homem que viabilizou esse expressivo movimento migratório.

Judeu nascido em 1831 em Munique, na Alemanha, Maurice de Hirsch era banqueiro, como o pai. Expandiu, no entanto, os negócios da família, construindo e explorando estradas de ferro.

A ferrovia que liga Viena a Istambul foi um dos seus grandes empreendimentos. Para tirar esse projeto do papel, precisou se aproximar das autoridades otomanas, uma iniciativa que levou seus detratores antissemitas a chamá-lo de Turkenhirsch, como escreveu o jornalista Jaime Spitzcovsky.

Na segunda metade do século 19, o barão tinha uma das maiores fortunas da Europa. Era dinheiro a perder de vista, mas o que, de fato, eternizou a figura de Hirsch foi a filantropia, atividade em que sempre recebeu apoio de Clara Bischoffsheim, a baronesa.

A morte do único filho do casal, Lucien, aos 31 anos, impulsionou a dedicação deles às causas humanitárias.

Em Londres, em 1891, o barão fundou a Jewish Colonization Association (JCA), uma entidade dedicada especialmente a viabilizar a emigração de judeus do leste da Europa para territórios onde pudessem viver e trabalhar com alguma tranquilidade.

Na segunda metade do século 19 e nos primeiros anos do 20 na Bessarábia (onde hoje é a Moldova e partes da Ucrânia e da Romênia), “os judeus viviam em situação de extrema pobreza. E ainda assim eram perseguidos e massacrados”, lembra o rabino Ruben Sternschein em passagem do documentário. A violência antissemita era estimulada pelo czar Alexandre 3º e por seu sucessor, Nicolau 2º.

Eram obrigados a viver em áreas delimitadas, afastadas dos centros urbanos. “Para as mulheres judias, a única maneira de entrar nas cidades era com um cartão amarelo, que as identificava como prostitutas”, conta Ieda Gutfreind, doutora em história social, em outra cena do filme.

Boa parte desses judeus deixou a Bessarábia graças à JCA. Nas suas primeiras décadas de existência, a entidade de Hirsch era um modelo de planejamento global: enviava emissários para diversas partes do mundo a fim de identificar terras férteis e, feito esse mapeamento, comprava áreas em países como Estados Unidos, Canadá, Argentina e África do Sul para receber os judeus.

No Brasil, a primeira colônia agrícola adquirida pela JCA foi Philippson, na região de Santa Maria (RS), e depois Quatro Irmãos, perto de Erechim (também RS). Cerca de 1.700 famílias se instalaram inicialmente nessas duas localidades, onde foram construídas escolas, oficinas profissionalizantes e sinagogas. Em meio a tanta gente, estavam Abraão e Beille Steinbruch, os bisavós de Léo.

O idealizador do filme conta que se emocionou especialmente ao visitar o pequeno e bem conservado Cemitério Israelita de Philippson, onde Beille foi enterrada.

Ao lado de Steinbruch nesta e em outras viagens, estava Olindo Estevam, que já dirigiu filmes como “Anita”, de 2016. Em Paris, por exemplo, eles entrevistaram a historiadora Dominique Frischer, autora da biografia “Moisés das Américas – Vida e Obra do Barão Hirsch”.

Para Estevam, a etapa mais difícil no longo trabalho de realização de “Terras Prometidas” foi a reta final, quando ele concluía a montagem do filme. “Me senti afetado pela violência no Oriente Médio”, diz ele, referindo-se à guerra entre Israel e o Hamas. A saída encontrada pelo diretor foi acentuar o tom afetivo do documentário.

“Venho de uma formação católica, sabia pouco sobre a história dos judeus. A direção desse filme ampliou meus conhecimentos sobre o judaísmo, inclusive os seus fundamentos filosóficos”, afirma Estevam.

“Me considero mais um contador de histórias do que um cineasta. Gosto da ideia do documentário como uma forma de provocar as pessoas para que elas propaguem as histórias vistas no filme e outras histórias.”

E assim, de conversa em conversa, outros tantos saberão quem foi o barão Maurice de Hirsch, tido como um dos maiores filantropos da história.



Leia Mais: Folha

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Nota da Andifes sobre os cortes no orçamento aprovado pelo Congresso Nacional para as Universidades Federais — Universidade Federal do Acre

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publicado:
23/12/2025 07h31,


última modificação:
23/12/2025 07h32

Confira a nota na integra no link: Nota Andifes



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Ufac entrega equipamentos ao Centro de Referência Paralímpico — Universidade Federal do Acre

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Ufac entrega equipamentos ao Centro de Referência Paralímpico — Universidade Federal do Acre

A Ufac, a Associação Paradesportiva Acreana (APA) e a Secretaria Extraordinária de Esporte e Lazer realizaram, nessa quarta-feira, 17, a entrega dos equipamentos de halterofilismo e musculação no Centro de Referência Paralímpico, localizado no bloco de Educação Física, campus-sede. A iniciativa fortalece as ações voltadas ao esporte paraolímpico e amplia as condições de treinamento e preparação dos atletas atendidos pelo centro, contribuindo para o desenvolvimento esportivo e a inclusão de pessoas com deficiência.

Os equipamentos foram adquiridos por meio de emenda parlamentar do deputado estadual Eduardo Ribeiro (PSD), em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro, com o objetivo de fortalecer a preparação esportiva e garantir melhores condições de treino aos atletas do Centro de Referência Paralímpico da Ufac.

Durante a solenidade, a reitora da Ufac, Guida Aquino, destacou a importância da atuação conjunta entre as instituições. “Sozinho não fazemos nada, mas juntos somos mais fortes. É por isso que esse centro está dando certo.”

A presidente da APA, Rakel Thompson Abud, relembrou a trajetória de construção do projeto. “Estamos dentro da Ufac realizando esse trabalho há muitos anos e hoje vemos esse resultado, que é o Centro de Referência Paralímpico.”

O coordenador do centro e do curso de Educação Física, Jader Bezerra, ressaltou o compromisso das instituições envolvidas. “Este momento é de agradecimento. Tudo o que fizemos é em prol dessa comunidade. Agradeço a todas as instituições envolvidas e reforço que estaremos sempre aqui para receber os atletas com a melhor estrutura possível.”

O atleta paralímpico Mazinho Silva, representando os demais atletas, agradeceu o apoio recebido. “Hoje é um momento de gratidão a todos os envolvidos. Precisamos avançar cada vez mais e somos muito gratos por tudo o que está sendo feito.”

A vice-governadora do Estado do Acre, Mailza Assis da Silva, também destacou o trabalho desenvolvido no centro e o talento dos atletas. “Estou reconhecendo o excelente trabalho de toda a equipe, mas, acima de tudo, o talento de cada um de nossos atletas.”

Já o assessor do deputado estadual Eduardo Ribeiro, Jeferson Barroso, enfatizou a finalidade social da emenda. “O deputado Eduardo fica muito feliz em ver que o recurso está sendo bem gerenciado, garantindo direitos, igualdade e representatividade.”

Também compuseram o dispositivo de honra a pró-reitora de Inovação, Almecina Balbino, e um dos coordenadores do Centro de Referência Paralímpico, Antônio Clodoaldo Melo de Castro.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)



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Orquestra de Câmara da Ufac apresenta-se no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Orquestra de Câmara da Ufac apresenta-se no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Orquestra de Câmara da Ufac realizou, nesta quarta-feira, 17, uma apresentação musical no auditório do E-Amazônia, no campus-sede. Sob a coordenação e regência do professor Romualdo Medeiros, o concerto integrou a programação cultural da instituição e evidenciou a importância da música instrumental na formação artística, cultural e acadêmica da comunidade universitária.

 

A reitora Guida Aquino ressaltou a relevância da iniciativa. “Fico encantada. A cultura e a arte são fundamentais para a nossa universidade.” Durante o evento, o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, destacou o papel social da arte. “Sem arte, sem cultura e sem música, a sociedade sofre mais. A arte, a cultura e a música são direitos humanos.” 

Também compôs o dispositivo de honra a professora Lya Januária Vasconcelos.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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