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Flip começa com samba e canto para Exu em aula-espetáculo – 09/10/2024 – Ilustrada

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Maurício Meireles

A conferência de abertura da Flip, com o escritor e professor Luiz Antonio Simas, na noite desta quarta-feira (9), em Paraty, eletrizou o público com uma aula sobre a vida e a obra de João do Rio —dando um tom festivo ao evento literário, um ano depois de uma edição marcada por viés acadêmico.

A fala do professor foi uma celebração das culturas centradas na rua e da herança africana no Brasil. O que não deixou de ser um recado a um evento literário conhecido por suas festas fechadas e preços proibitivos —neste ano, contudo, a Flip realizou uma roda de samba na praça após a abertura.

Com retórica envolvente, Simas começou sua aula contando uma narrativa mítica sobre Exu, cantando uma canção em celebração orixá, que dizia “nós saudamos o senhor dos caminhos”. “Queria trazer Exu para a Flip para que ele conduza nosso caminho e abra Paraty para a festa”, disse ele, que falou em pé e arrancou aplausos e burburinhos do público em diversos momentos.

Estava dada a tônica para um aula que falou sobre a herança africana na história do Brasil e as tentativas, no começo do século 20, de embranquecimento do país —com um apagamento cultural.

Simas, que também é babalaô no culto de Ifá, relembrou os anos de modernização urbana no Rio de Janeiro do começo do século passado, testemunhados e descritos por João do Rio em sua obra. “Essa cidade, num certo momento, resolveu que precisava ser francesa para negar que era profundamente africana”, afirmou.

O escritor lembrou ainda como o autor homenageado viu uma cidade marcada por culturas de diáspora —não só a africana, mas também a cigana e a judaica. “Toda cultura de diáspora reconstrói aquilo que foi aniquilado. Por isso não existe cultura de diáspora centrada no indivíduo. Todas elas se fundamentam na ideia de que a vida é um exercício coletivo de invenção do mundo.”

Simas não se esquivou das contradições de João do Rio e encarou temas que, se ignorados, com certeza gerariam críticas à Flip, como o olhar racista que o autor homenageado dispensa aos africanos que viviam na capital do país na sua época.

É caso do clássico “As Religiões do Rio”, no qual ele se refere a mães de santo como feiticeiras, em tom pejorativo, e descreve os negros que viviam na cidade de forma animalesca.

“João do Rio vivia entre o fascínio e o temor, o assombro com o que via e a atração irresistível”, disse Simas, que se confessou incomodado com esses trechos da obra do escritor. “Não foi imune ao seu tempo”, acrescentou, lembrando a condição de homem negro do João do Rio, que foi impedido de seguir carreira diplomática por isso.

Apesar das críticas, ele defendeu a atualidade da obra do autor, que tratou a quente das contradições da modernização do país —com temas como o desaparecimento de profissões, o trabalho informal, a participação política das mulheres e o sistema carcerário.

“Ele trata de dilemas do Brasil que estão aflorados, num país em que chamamos de intolerância religiosa o que deveria ser chamado de racismo religioso”, disse Simas.

O historiador fez, ainda, uma provocação à plateia da Flip: “Será que nós que estamos aqui não consideramos essas culturas de rua incômodas ou, com muita boa vontade, pitorescas? Ou será que é uma concessão pitoresca de um certo Brasil em que imaginamos haver uma construção consensual a respeito da identidade?”.

A conclusão de sua conferência foi uma defesa do caráter político do ato de festejar e das manifestações culturais que constroem a coletividade. Ele contou, por exemplo, um mito sobre a origem do primeiro tambor do mundo.

“Os muxicongos dizem que a humanidade é filha do tambor”, afirmou. “Beto Sem Braço dizia que o que espanta a miséria é a festa. A miséria afetiva, a miséria espiritual, a miséria afetiva e por que não a miséria econômica? Estamos abrindo caminho, botando o padê para Exu, chamando João do Rio.”

Depois da abertura, aí sim, o povo tomou a praça aberta para o Samba da Bênção, que envolveu de acordes o espaço onde a palestra era exibida pelo telão. Os sete músicos animaram centenas de pessoas com canções de Djavan, Jorge Aragão, Nei Lopes, Monarco, Zeca Pagodinho.

O público pareceu até incomodado com as cadeiras dispostas para assistir ao show, ampliando os estreitos corredores onde mal dava para ficar de pé entre as fileiras, remexendo corpo para lá e para cá. Afinal, como disse Simas, morto é quem está vivo e não dança.

Flip exibiu vídeo perdido do velório de João do Rio

Antes da aula de Simas, a Flip exibiu um vídeo perdido do velório de João do Rio, em 1921. O evento mobilizou, segundo relatos, cerca de 100 mil pessoas pela cidade —o que dava dimensão da importância do escritor naquele início de século.

O vídeo foi encontrado pelo pesquisador Antonio Venâncio, que revelou em 2019 tê-lo encontrado. Mas a gravação em si nunca veio a público. Os registros mostram multidões nas ruas do Rio, seguindo o cortejo fúnebre do autor.

“É muito emocionante, porque conseguimos ter ideia do que é uma cidade emocionada com a morte de um escritor”, disse a curadora da Flip, Ana Lima Cecilio.



Leia Mais: Folha

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Ufac recebe deputado Tadeu Hassem e vereadores de Capixaba para tratar de cursos e transporte estudantil — Universidade Federal do Acre

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A reitora da Universidade Federal do Acre (Ufac), Guida Aquino, recebeu, na manhã desta segunda-feira, 18, no gabinete da reitoria, a visita do deputado estadual Tadeu Hassem (Republicanos) e de vereadores do município de Capixaba. A pauta do encontro envolveu a possibilidade de oferta de cursos de graduação no município e apoio ao transporte de estudantes daquele município que frequentam a instituição em Rio Branco.

A reitora Guida Aquino destacou que a interiorização do ensino superior é um compromisso da universidade, mas depende de emendas parlamentares para custeio e viabilização dos cursos. “O meu partido é a educação, e a universidade tem sido o caminho de transformação para jovens do interior. É por meio de parcerias e recursos destinados por parlamentares que conseguimos levar cursos fora da sede. Precisamos estar juntos para garantir essas oportunidades”, afirmou.

Atualmente, 32 alunos de Capixaba estudam na Ufac. A demanda apresentada pelos parlamentares inclui parcerias com o governo estadual para garantir transporte adequado, além da implantação de cursos a distância por meio do polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB), em parceria com a prefeitura.

O deputado Tadeu Hassem reforçou o pedido de apoio e colocou seu mandato à disposição para buscar soluções junto ao governo estadual. “Estamos tratando de um tema fundamental para Capixaba. Queremos viabilizar transporte aos estudantes e também novas possibilidades de cursos, seja de forma presencial ou a distância. Esse é um compromisso que assumimos com a população”, declarou.

A vereadora Dra. Ângela Paula (PL) ressaltou a transformação pessoal que viveu ao ingressar na universidade e defendeu a importância de ampliar esse acesso para jovens de Capixaba. “A universidade mudou minha vida e pode mudar a vida de muitas outras pessoas. Hoje, nossos alunos têm dificuldades para se deslocar e muitos desistem do sonho. Precisamos de sensibilidade para garantir oportunidades de estudo também no nosso município”, disse.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Abreu Damasceno; o presidente da Câmara Municipal de Capixaba, Diego Paulista (PP); e o advogado Amós D’Ávila de Paulo, representante legal do Legislativo municipal.



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Professora da Ufac é nomeada membro afiliada da ABC — Universidade Federal do Acre

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A professora da Ufac, Simone Reis, foi nomeada membro afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na terça-feira (5), em cerimônia realizada na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém (PA). A escolha reconhece sua trajetória acadêmica e a pesquisa de pós-doutorado desenvolvida na Universidade de Oxford, na Inglaterra, com foco em biodiversidade, ecologia e conservação.

A ABC busca estimular a continuidade do trabalho científico de seus membros, promover a pesquisa nacional e difundir a ciência. Todos os anos, cinco jovens cientistas são indicados e eleitos por membros titulares para integrar a categoria de membros afiliados, criada em 2007 para reconhecer e incentivar novos talentos na ciência brasileira.
“Nunca imaginei estar nesse time e fiquei muito surpresa por isso. Espero contribuir com pesquisas científicas, parcerias internacionais e discussões ecológicas junto à ABC”, disse a professora Simone Reis.



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Reitora assina contrato de digitalização de acervo acadêmico — Universidade Federal do Acre

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A reitora da Ufac, Guida Aquino, assinou o contrato de digitalização do acervo de documentos acadêmicos. A ação ocorreu na tarde de quarta-feira, 13, no hall do Núcleo de Registro e Controle Acadêmico (Nurca). A empresa responsável pelo serviço é a SOS Tecnologia e Gestão da Informação.

O processo atende à Portaria do MEC nº 360, de 18 de maio de 2022, que obriga instituições federais de ensino a converterem o acervo acadêmico para o meio digital. A medida busca garantir segurança, organização e acesso facilitado às informações, além de preservar documentos físicos de valor histórico e acadêmico.

Para a reitora Guida Aquino, a ação reforça o compromisso institucional com a memória da comunidade acadêmica. “É de extrema importância arquivar a história da nossa querida universidade”, afirmou.

A decisão foi discutida e aprovada pelo Comitê Gestor do Acervo Acadêmico da Ufac, em reunião realizada no dia 7 de julho de 2022. Agora, a meta é mensurar o tamanho dos arquivos do Nurca para dar continuidade ao processo, assegurando que toda a documentação esteja em conformidade legal e disponível em formato digital.



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