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Irã: por que país tem tão poucos aliados em disputa contra Israel e EUA
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Quando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reunir nesta sexta-feira (11/10) pela primeira vez com o novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, haverá um tema inevitável em sua agenda: a crise no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra entre Irã e Israel.
O atual confronto entre Israel e os aliados do Irã, iniciado com o ataque surpresa e sangrento do grupo palestino Hamas em 7 de outubro de 2023, já impacta o Líbano, onde Israel combate a milícia xiita Hezbollah. O conflito ameaça atingir o Irã, após o país ter disparado centenas de mísseis contra Israel no último 1º de outubro.
A possibilidade de uma guerra aberta entre Irã e Israel preocupa a comunidade internacional, tanto por danos humanos e materiais que pode causar quanto pelos possíveis efeitos na economia global.
Teme-se que Israel ataque instalações petrolíferas do Irã ou que Teerã interrompa o fluxo de petroleiros pelo Estreito de Ormuz, por onde passa mais de 20% do petróleo consumido diariamente no planeta.
Mas o encontro entre Putin e Pezeshkian no Turcomenistão, à margem de uma cúpula de nações da Ásia Central, é especialmente importante para o Irã, um estado com poucos aliados na comunidade internacional.
“O Irã tem poucas opções porque, se deixarmos de lado seus parceiros não estatais como o Hamas ou a milícia libanesa Hezbollah, coopera com um pequeno número de Estados. Ainda assim, essa cooperação é limitada”, diz Thomas Juneau, professor da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de Ottawa, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Mansour Farhang, professor emérito de ciências políticas no Bennington College (Vermont, EUA), afirma que o Irã é um dos países “mais isolados do mundo”.
“Irã não tem nenhum estado parceiro ou aliado que se identifique com sua posição ideológica ou com sua política expansionista na região”, diz Farhang à BBC.
Esse isolamento do Irã não é novo — embora tenha sido exacerbado pelas políticas adotadas desde o triunfo da revolução islâmica em 1979 — e constitui um fenômeno que os especialistas em relações internacionais chamam de “solidão estratégica”.
Irã sozinho no mundo
Em um artigo acadêmico publicado em 2014, Juneau explicava o que é a “solidão estratégica”.
“O Irã está sozinho no mundo. Essa solidão estratégica é, principalmente, resultado de fatores estruturais inerentes à sua posição nos sistemas regional e internacional e, em grande medida, independente das ações de quem governa o país”, escreveu ele.
“Sua postura internacional não impossibilita a cooperação com outros estados, nem predetermina uma condição de conflito permanente com seus vizinhos. A solidão estratégica, no entanto, explica por que o Irã tem interesses comuns muito limitados com seus vizinhos e por que a cooperação é difícil e custosa de alcançar”, acrescenta.
Diversos fatores contribuem para o isolamento do Irã, incluindo ser o único Estado etnicamente persa no mundo.
Embora a estimativa é de que haja cerca de 50 países com maioria muçulmana, apenas em uma pequena quantidade deles a maioria da população é xiita, a vertente do Islã que predomina no Irã.
O país também é afetado por sua situação geográfica, ao estar em uma vizinhança com estados fortes e grandes ambições, que levaram a importantes guerras e rivalidades no passado.
Ao norte, em sua fronteira marítima, está a Rússia; a noroeste, está a Turquia, berço do antigo Império Otomano e um dos rivais históricos dos persas; a oeste, está o Iraque, com quem compartilha uma longa fronteira e travou uma guerra por quase uma década nos anos 1980; ao sul, encontra-se a Arábia Saudita, um país de maioria sunita que abriga as duas cidades mais sagradas do Islã e, com o Irã, é uma das duas potências de referência na região do Golfo.
Na mesma região, há vários países governados por sunitas que, além disso, têm acordos de segurança com os Estados Unidos: Kuwait, Omã, Emirados Árabes Unidos e Bahrein. Este último abriga a 5ª Frota dos EUA, enquanto o Catar sedia o quartel-general das forças americanas na área.
Outros países importantes com os quais o Irã faz fronteira são Índia, Paquistão e Afeganistão.
Como se não bastasse, no texto, Juneau destacava que “a República Islâmica não é membro de nenhuma organização regional importante nem de nenhum acordo de segurança, ao contrário de dois de seus principais rivais: a Turquia, membro da OTAN; e a Arábia Saudita, que faz parte da Liga Árabe e do Conselho de Cooperação do Golfo”.
Dos limites da geografia aos limites da política
Além das condições geopolíticas, das rivalidades históricas e das ambições de poder de cada Estado, as próprias políticas adotadas pelo Irã desde o triunfo da Revolução Islâmica contribuíram para seu isolamento internacional.
“Desde 1979, o Irã adotou uma postura de rejeição à ordem regional dominada pelos Estados Unidos. Embora Teerã tenha feito alguns esforços para mudar essa situação violentamente nos primeiros anos da revolução, desde então, tornou-se um ator revisionista com objetivos limitados, em vez de ilimitados”, explicava Juneau.
Naqueles primeiros anos, a Revolução Iraniana definiu algumas de suas diretrizes principais, como o confronto direto com Washington e o repúdio à existência do Estado de Israel.
Mansour Farhang afirma que essa política contra Israel não tinha uma base ideológica, mas era uma jogada oportunista.
“O principal objetivo do aiatolá [Ruhollah] Khomeini era exportar sua revolução. Estrategicamente, ele pensou em explorar o sentimento anti-Israel que prevalecia nos países árabes”, diz Farhang.
“Ele acreditava que atacar Israel, questionar sua legitimidade e, de fato, referir-se a Israel como um câncer que precisava ser eliminado da geografia da região o ajudaria a ganhar apoio”, continua o professor, apontando que a Revolução Islâmica era extremamente popular em seus primeiros anos entre as populações dos países árabes.
“Khomeini acreditava que enfrentar Israel seria um chamado indireto ao público no mundo árabe, o que também ameaçaria os governos árabes”, acrescenta.
Farhang explica que, naquele momento, a maioria dos governos árabes da região já havia concluído que o confronto com Israel não traria nenhum benefício.
Meses antes da Revolução Islâmica, o Egito assinou um acordo de paz com Israel, tornando-se o primeiro país árabe a reconhecer o Estado judeu. A Jordânia, que levaria mais 15 anos para fazer o mesmo, mantinha, desde a década de 1970, uma cooperação informal com Israel em questões de interesse mútuo.
Nos primeiros anos da revolução, as tentativas de Khomeini de exportar seu movimento para os países vizinhos não ajudaram a formar amizades. Um dos primeiros confrontos ocorreu com o Iraque de Saddam Hussein, onde a existência de uma maioria xiita sob um governo sunita parecia oferecer uma oportunidade para Teerã, mas que acabou resultando em uma guerra longa e desastrosa.
“Hussein era legalmente responsável por invadir o Irã, mas, politicamente, foi Khomeini quem enviou primeiro dinheiro e agentes de inteligência para promover atividades anti-Hussein no Iraque”, afirma Farhang.
Essa guerra, iniciada em 1980, poderia ter terminado em 1982, quando o Irã conseguiu expulsar as tropas iraquianas de seu território e surgiu uma oportunidade para a paz, com uma resolução aprovada por unanimidade no Conselho de Segurança da ONU, pedindo um cessar-fogo.
“Arábia Saudita e os Estados do Golfo ofereceram ao Irã US$ 20 bilhões para a reconstrução dos danos causados pela guerra, se o Irã aceitasse essa resolução da ONU, mas Khomeini rejeitou e disse que queriam ir de Karbala a Al-Quds — ou seja, do Iraque até Jerusalém. E a guerra continuou por mais seis anos”, observa Farhang.
Teerã também rompeu relações com o Egito em 1980, depois que esse país concedeu asilo ao xá deposto Mohammad Reza Pahlavi.
Mas as divergências vão além. Teerã rejeita o fato de o Egito ter feito as pazes com Israel, enquanto, no Cairo, há desconfiança quanto aos vínculos e afinidades entre o regime iraniano e a Irmandade Muçulmana egípcia.
Mais parceiros do que aliados
Se as relações com os Estados vizinhos não são as melhores, Teerã cultivou uma rede de organizações não estatais que atuam como aliadas, formando o que é conhecido como o eixo da resistência. Trata-se de uma aliança liderada pelo Irã, da qual também participa a Síria, e que inclui as milícias do Hezbollah no Líbano, o Hamas e a Jihad Islâmica em Gaza, os houthis no Iêmen, além de milícias xiitas no Iraque, Afeganistão e Paquistão, entre outros.
Essas organizações são vistas não apenas por Israel, mas também pelos Estados Unidos e pelos países árabes do Golfo, como uma ameaça. Suas ações podem ter um impacto global, como ficou evidente com os ataques dos houthis no último ano contra navios mercantes que cruzam o Mar Vermelho, obrigando as companhias de navegação a desviarem rotas, tornando-as mais longas e custosas.
Esses desvios afetaram a receita obtida pelo Egito com o trânsito de navios pelo Canal de Suez, que caiu cerca de 50% nos últimos oito meses, gerando perdas de até US$ 6 bilhões, segundo o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi.
Além dos atores não estatais, o Irã mantém relações com diversas nações — na verdade, pelo menos 162 países têm embaixada em Teerã —, mas possui poucos aliados reais, a maioria dos quais tem capacidade limitada de oferecer apoio substancial.
Os principais aliados do Irã
A Síria é considerada o único aliado real do Irã no Oriente Médio. No entanto, o governo de Bashar al-Assad tem capacidades muito limitadas para apoiar Teerã.
“O governo sírio é extremamente frágil, não controla todo o território do país e está muito focado em si devido ao legado da guerra civil. Portanto, em termos de contribuição potencial, a Síria está bastante limitada, além de servir como trampolim geográfico para o Irã projetar sua influência no Levante”, afirma Juneau.
Embora os analistas afirmem que o Irã exerce grande influência sobre o que acontece nesses países vizinhos, essa influência não se dá por meio de relações formais entre governos, mas sim através dos partidos e milícias xiitas que atuam nesses países.
O Hezbollah exerce uma autoridade de fato que é autônoma em relação ao governo do Líbano. Embora tenha legisladores no Parlamento e ministros no gabinete, o grupo não representa formalmente o governo libanês.
“No Iraque, os partidos e milícias xiitas infiltraram o governo e parte do aparato de segurança, mas sua lealdade, na prática, é mais para com seus movimentos do que para com o governo nacional”, comenta Juneau.
“O governo iraquiano, por sua vez, tenta equilibrar suas relações com o Irã e os Estados Unidos”, acrescenta.
Os laços entre Teerã e Moscou se fortaleceram nos últimos anos, especialmente após a invasão russa da Ucrânia. O Irã tornou-se um fornecedor de armamentos para a ofensiva russa, particularmente no que diz respeito a drones.
“Ambos se aproximaram muito na esfera militar e de segurança”, aponta Juneau.
Moscou tem várias formas de retribuir esse apoio, incluindo a venda dos caças SU-35 de última geração ou do poderoso sistema de defesa antiaérea S-400, que o Irã deseja há muito tempo.
A questão é que decisões desse tipo poderiam prejudicar os vínculos da Rússia com outros países importantes da região — como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos ou, evidentemente, Israel, um país com o qual Putin manteve relações cordiais e que, apesar de sua aliança com os EUA, tem se mantido até agora à margem do conflito na Ucrânia.
A China tem sido, por anos, o principal comprador de petróleo iraniano e, apesar das sanções internacionais, ainda ocupava essa posição no final de 2023, segundo a agência Nikkei. Além disso, é o maior cliente das exportações não petrolíferas do Irã.
No entanto, Pequim é uma potência com interesses globais que busca evitar que conflitos externos afetem seus negócios.
“A China é extremamente cuidadosa em equilibrar suas relações e em não se aproximar tanto do Irã a ponto de prejudicar seus vínculos com os rivais de Teerã. O país não quer ter um papel importante na política e segurança do Oriente Médio porque deseja focar no lado comercial e evitar ser impactada por essas disputas”, explica Juneau.
Mansour Farhang concorda: “A China mantém excelentes relações comerciais com todos os países da região. Sua política externa no Oriente Médio é semelhante à de um empresário ou comerciante”, afirma.
A Coreia do Norte e o Irã mantêm uma longa história de trocas de armas por petróleo, que remonta à década de 1980, durante a guerra Irã-Iraque.
Pyongyang enviava armamentos e mísseis, enquanto Teerã fornecia petróleo e fertilizantes.
Especialistas acreditam que o míssil iraniano de médio alcance Shahab-3 é uma versão desenvolvida a partir do míssil norte-coreano No Dong 1, adquirido pelo Irã na década de 1990.
Essa relação persiste até hoje, mas com limitações devido às fortes sanções que ambos os países enfrentam.
“Irã e Coreia do Norte colaboram há anos em questões como a evasão de sanções e a produção de armamentos, mas a Coreia do Norte é um estado muito pobre com um papel reduzido no Oriente Médio, de modo que os benefícios para o Irã são limitados”, alerta Juneau.
VENEZUELA, CUBA, NICARÁGUA E BOLÍVIA
Na América Latina, o Irã já mantinha uma relação antiga com Cuba, forjada no âmbito do Movimento dos Países Não Alinhados.
No entanto, os laços mais estreitos foram desenvolvidos nos últimos anos, principalmente devido ao estabelecimento de uma aliança com a Venezuela e seus parceiros da ALBA, que incluem a própria Cuba, além da Nicarágua e Bolívia.
Esses países compartilham com Teerã um forte sentimento de rejeição aos Estados Unidos e costumam apoiar-se mutuamente no campo diplomático, coordenando suas posições em diferentes organizações internacionais.
No entanto, sua utilidade prática para o Irã é limitada.
“O apoio deles é simbólico, nada além disso. Os líderes iranianos e desses países adoram se reunir e fazer conferências de imprensa criticando os EUA e afirmando que são parceiros na luta contra o colonialismo, imperialismo, etc”, afirma Juneau.
“Mas, na prática, do ponto de vista militar e de segurança, podem ajudar o Irã em sua luta contra Israel e os Estados Unidos? Acho que a resposta é, em grande parte, não.”
Dessa forma, no cenário atual, parece que o apoio mais importante e poderoso que o Irã pode receber virá da Rússia.
Nesse ponto, no entanto, os especialistas divergem em suas avaliações.
Farhang acredita que, se a crise com Israel escalar. Moscou — assim como Pequim — optará por fazer apelos por cessar-fogo, evitando envolvimento direto no conflito.
Juneau, por outro lado, acha que Moscou pode dar um passo à frente. “Rússia e Irã já mantêm um comércio muito produtivo em termos de armas, tecnologia e troca de informações. Eles fazem isso na Ucrânia. Caso a tensão entre Irã e Israel continue, não tenho dúvidas de que essa colaboração prosseguirá e poderá se intensificar”, observa.
Diante dessa incerteza, será necessário acompanhar de perto o encontro desta sexta-feira entre Putin e Pezeshkian em busca de sinais sobre até onde Moscou estaria disposto a ir.
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Uma a cada cinco pessoas no Brasil mora de aluguel
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12 de dezembro de 2024 Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil
Uma a cada cinco pessoas no Brasil mora de aluguel. Essa porcentagem, que era 12,3% em 2000, vem crescendo desde então e, em 2022, alcançou a marca de 20,9%. Os dados são da pesquisa preliminar do Censo Demográfico 2022: Características dos Domicílios, divulgada nesta quinta-feira (12), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A maior parte dos domicílios alugados é ocupada por pessoas que vivem sozinhas (27,8%) ou famílias monoparentais (35,8%), ou seja, em que apenas um dos pais é responsável pelos filhos – na maioria dos casos, a responsável é a mãe.
Em apenas um município, Lucas do Rio Verde (MT), mais da metade da população residia em domicílios alugados (52%). Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, a maior proporção da população residindo em domicílios alugados foi registrada em Balneário Camboriú (SC), 45,2%, e a menor, em Cametá (PA), 3,1%.
“É difícil apenas pelo Censo a gente ter uma interpretação da causalidade que motivou essa transformação, mas o que a gente pode dizer é que é um fenômeno nacional”, diz o analista da divulgação do Censo, Bruno Mandelli.
“Tradicionalmente, no Brasil, o aluguel é mais comum em áreas de alto rendimento. Então, Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina são regiões que tradicionalmente apresentam uma proporção maior da população residindo em domicílios alugados. Mas a gente aponta um aumento [dos aluguéis] em relação a 2010, em todas as regiões do país”, explica.
Em 1980, 19,9% da população morava de aluguel. Essa porcentagem caiu para 14,1% em 1991 e 12,3% em 2000. Em 2010, houve um aumento, para 16,4% e, em 2022, a tendência se manteve, alcançando 20,9%.
Segundo o estudo, os aluguéis são também a opção da população mais jovem. A participação dos domicílios alugados demonstra crescimento expressivo na passagem da faixa de 15 a 19 anos para a faixa de 20 a 24 anos, atingindo a maior participação, para as pessoas de 25 a 29 anos – 30,3% dessa faixa etária estão em moradias alugadas.
“Essas faixas etárias coincidem com idades típicas de processos muitas vezes associados à saída do jovem da casa de seus pais, como ingresso no mercado de trabalho ou no ensino superior. Nas faixas etárias seguintes, a proporção decai gradualmente, até atingir o menor valor, 9,2%, no grupo de idade mais elevada (70 anos ou mais)”, analisa a publicação.
Domicílios no Brasil
A pesquisa é relativa aos chamados domicílios particulares permanentes ocupados. Não inclui moradores de domicílios improvisados e coletivos, tampouco domicílios de uso ocasional ou vagos.
Segundo os dados do Censo, no Brasil, dos 72,5 milhões de domicílios particulares permanentes ocupados no Brasil em 2022, 51,6 milhões eram domicílios próprios de um dos moradores, o que corresponde a 71,3% dos domicílios particulares permanentes ocupados, ou seja, a maior parte é de domicílios próprios.
Em relação à população brasileira, dos 202,1 milhões de moradores de domicílios particulares permanentes em 2022, 146,9 milhões moravam em domicílios próprios, representando 72,7%.
Dentre as pessoas que vivem em domicílios próprios, em 2022, 63,6% da população residia em domicílios próprios de algum morador já pago, herdado ou ganho e 9,1% em domicílios próprios que ainda estão sendo pagos.
Em números, os domicílios alugados são 16,1 milhões, o que representa 22,2% do total de domicílios particulares permanentes. Nesses domicílios, moravam 42,2 milhões de pessoas, representando 20,9% do total de moradores de domicílios particulares permanentes.
Foram identificados ainda os domicílios cedidos ou emprestados, que não são próprios de nenhum dos moradores, mas eles estão autorizados pelo proprietário a ocuparem o domicílio sem pagamento de aluguel. Essa condição de ocupação reuniu 5,6% da população brasileira em 2022. Dentro dessa categoria estão as pessoas que vivem em domicílio cedido ou emprestado por familiar (3,8%), cedido ou emprestado por empregador (1,2%) e cedido ou emprestado de outra forma (0,5%).
O restante da população (0,8%) está em domicílios que não se enquadram em nenhuma das categorias analisadas.
Resultados preliminares
Esta é a primeira divulgação do questionário amostral do Censo Demográfico 2022. O questionário foi aplicado a 10% da população e, de acordo com o próprio IBGE, os dados precisam de uma ponderação para que se tornem representativos da população nacional. Essa ponderação ainda não foi totalmente definida, por isso, a divulgação desta quinta-feira é ainda preliminar.
A delimitação das áreas de ponderação passará ainda por consulta às prefeituras, para que as áreas estejam aderentes ao planejamento da política pública. Após essa definição, serão divulgados os dados definitivos.
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Banco Central Europeu reduz taxas pela quarta vez este ano | Banco Central Europeu
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12 de dezembro de 2024 Reuters
O Banco Central Europeu reduziu as taxas de juro pela quarta vez este ano e manteve a porta aberta a uma maior flexibilização em 2025, à medida que o crescimento sofre o impacto da instabilidade política interna e do risco de uma nova guerra comercial com os EUA.
O BCE tem vindo a flexibilizar rapidamente a política monetária este ano, à medida que as preocupações com a inflação se evaporaram em grande parte e o debate passou a centrar-se na questão de saber se está a reduzir as taxas com rapidez suficiente para apoiar uma economia estagnada que está a ficar para trás em relação aos seus pares globais.
Prevendo que a inflação voltará ao seu objetivo de 2% no início de 2025 e que o crescimento permanecerá lento, o BCE baixou a sua taxa de depósito de 3,25% para 3%, em linha com as expectativas, e alterou a sua orientação, que provavelmente será tomada como uma sugestão de novos cortes nas taxas.
“A maioria das medidas de inflação subjacente sugerem que a inflação se estabilizará em torno da meta de médio prazo de 2% do Conselho do BCE numa base sustentada”, disse o BCE, eliminando uma promessa anterior de manter a política “suficientemente restritiva”.
Ao eliminar esta referência à política restritiva, o BCE sinaliza um regresso a um cenário de política pelo menos neutro, onde não estimula nem retarda o crescimento.
Contudo, este sinal foi mais fraco do que muitos economistas esperavam, especialmente tendo em conta o aviso de que a inflação interna continua elevada.
Embora “neutro” seja um termo impreciso, a maioria dos decisores políticos coloca-o entre 2% e 2,5%, sugerindo que novos cortes nas taxas estão a ocorrer antes de o BCE chegar lá.
No entanto, o banco insistiu que não estava se comprometendo com nenhuma política específica e disse que manteria a opcionalidade.
“O conselho do BCE não está pré-comprometido com uma trajetória de taxa específica”, disse o BCE.
Embora os economistas tenham sido quase unânimes na previsão da medida de quinta-feira, muitos reconheceram que um corte maior também seria justificado, dada a deterioração das perspectivas de crescimento e a rápida retração da inflação.
Estas foram precisamente as razões pelas quais o Banco Nacional Suíço cortou a sua própria taxa básica em 50 pontos base, mais do que o previsto no início do dia, levando a taxa de referência para apenas 0,5%.
O SNB disse que as tensões geopolíticas, incluindo a política comercial dos EUA, podem resultar num crescimento mais fraco e Europa também enfrentava incerteza política.
Embora nenhum decisor político do BCE tenha defendido explicitamente um corte de 50 bases antes da reunião, vários salientaram que os riscos de menor crescimento e inflação estavam a aumentar.
Estes receios foram confirmados nas próprias projecções económicas do BCE, que mostraram que o crescimento será inferior às expectativas já moderadas e que uma recuperação seria superficial e atrasada.
Com a Alemanha a enfrentar eleições antecipadas, a França a lutar para encontrar um governo estável e o novo presidente dos EUA, Donald Trump, a ameaçar com tarifas punitivas, as perspectivas são dominadas por riscos descendentes.
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O que aconteceu com a pequena Sara Sharif e a Grã-Bretanha a decepcionou? | Notícias sobre direitos da criança
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12 de dezembro de 2024Sara Sharif tinha apenas 10 anos quando foi tragicamente encontrada morta em sua casa no Reino Unido no ano passado.
Na quarta-feira, seu pai e sua madrasta foram considerados culpados por um júri em Old Bailey, em Londres, por seu assassinato, após um julgamento que ouviu sobre os anos de repetidas torturas e abusos que a criança sofreu.
Então, o que aconteceu com Sara e o que acontecerá a seguir?
Aviso: este explicador contém detalhes que podem ser angustiantes.
O que aconteceu com Sara Sharif?
O pai de Sara, Urfan Sharif, 43, motorista de táxi, e a madrasta, Beinash Batool, 30, foram condenados esta semana pelo assassinato dela em 8 de agosto de 2023, depois de abusar dela e torturá-la por pelo menos dois anos.
A decisão do tribunal ocorreu no final de um julgamento com júri que durou 10 semanas no Tribunal Criminal Central da Inglaterra e País de Gales, também conhecido como Old Bailey, em Londres.
Estes são alguns dos principais momentos de antes e durante o julgamento:
10 de agosto de 2023: Sara Sharif é encontrada morta
Sara foi encontrada morta pela polícia debaixo de um cobertor em um beliche na casa de sua família em Woking, uma cidade em Surrey, cerca de 36 quilômetros a sudoeste de Londres.
Ela morava lá com o pai, a madrasta e o tio, o irmão de Sharif, Faisal Malik, de 29 anos, que segundo a mídia britânica era um estudante da Universidade de Portsmouth que trabalhava meio período no McDonald’s. Malik foi considerado culpado da acusação menor de “causar ou permitir” a morte de Sara.
Um dia antes do corpo de Sara ser descoberto, Malik, Sharif e Batool, juntamente com cinco irmãos de Sara com idades entre um e 13 anos na altura, voaram num voo da British Airways para a capital do Paquistão, Islamabad.
Uma hora depois do voo pousar no Paquistão, Sharif telefonou para a Polícia de Surrey. A ligação durou oito minutos e 34 segundos, foi informada em audiência anterior. Durante a ligação, Sharif disse à polícia que havia “punido legalmente” sua filha. “Não era minha intenção matá-la, mas bati nela demais”, disse ele.
Ao lado do corpo dela, a polícia encontrou um bilhete manuscrito que dizia: “Fui eu, Urfan Sharif, que matei minha filha espancando” e “Não era minha intenção matá-la, mas perdi”. A carta, endereçada a quem a encontrou, concluía: “Talvez eu volte antes de você terminar a autópsia”.
15 de agosto de 2023: a autópsia de Sara é realizada
O relatório post-mortem disse que não foi possível concluir a causa precisa da morte de Sara, mas encontrou sinais de “ferimentos múltiplos e extensos, sofridos durante um longo período de tempo”, disse a Polícia de Surrey.
Em Outubro, o Dr. Nathaniel Cary, patologista forense consultor, prestou depoimento ao tribunal durante o julgamento, apresentando as suas conclusões do relatório post-mortem. Cary disse que Sara sofreu pelo menos 71 ferimentos externos antes de ser morta. Segundo a polícia, ela sofreu pelo menos 100 ferimentos internos e externos.
Isso incluía feridas e hematomas, um resultado provável de “trauma contuso repetitivo” e “impacto contundente ou pressão sólida, ou ambos”, disse Cary.
Sinais de ulceração também foram encontrados no corpo de Sara, que Cary especulou ter sido causada por queimadura. A polícia também disse ter encontrado queimaduras de água fervente nos pés de Sara, além de marcas de mordidas.
O relatório post-mortem também descobriu que Sara sofreu pelo menos 25 fraturas e um traumatismo cranioencefálico.
O tribunal ouviu que Sara sofreu abusos físicos durante mais de dois anos.
Sara foi retirada da Escola Primária St Mary em Woking duas vezes, uma em junho de 2022 e outra em abril de 2023, para estudar em casa. Os promotores disseram que Sara foi obrigada a usar o hijab a partir de janeiro de 2023, provavelmente para cobrir seus ferimentos.
A amiga de Sara, referida apenas como “Ava”, disse à Sky News num vídeo transmitido na quarta-feira que, em abril de 2023, Sara chegou à escola coberta de hematomas. “Ela me disse que caiu da bicicleta, mas eu simplesmente sabia”, disse Ava.
Ao revistar a casa da família Sharif em agosto de 2023, a polícia encontrou um taco de críquete com o sangue de Sara e capuzes de sacos plásticos do tamanho certo para colocar sobre sua cabeça. O promotor Bill Emlyn Jones KC disse que um poste de metal, um cinto e uma corda também foram encontrados perto do banheiro externo da família.
Mensagens de texto que Batool enviou para sua irmã em maio de 2021 também foram mostradas no tribunal. “Urfan deu uma surra em Sara. Ela está coberta de hematomas, literalmente espancada”, dizia uma das mensagens.
“Tenho muita pena da Sara, a pobre menina não consegue andar. Eu realmente quero denunciá-lo. No entanto, Batool nunca denunciou o abuso às autoridades.
13 de setembro de 2023: Sharif, Batool e Malik são presos
Os três adultos da casa de Sara esconderam-se no Paquistão, em casas de parentes nas cidades de Sialkot e Jhelum, no norte do país, informou a BBC.
A polícia paquistanesa, alertada pela Interpol, lançou uma busca de alto nível em todo o país para localizá-los. Após uma operação bem-sucedida na casa do pai de Sharif em Jhelum, em 9 de setembro de 2023, a polícia extraiu todas as outras cinco crianças. Um tribunal ordenou que as crianças fossem colocadas num orfanato no Paquistão, informou a BBC. Sharif e Batool não estavam presentes na casa no momento da operação.
Sharif, Batool e Malik regressaram voluntariamente ao Reino Unido em 13 de setembro. Sete minutos depois do avião aterrissar, os policiais embarcaram na aeronave e os prenderam em seus assentos de primeira classe no avião no aeroporto de Gatwick.
Vídeos separados de entrevistas policiais com Sharif, Batool e Malik – feitos em 14 de setembro de 2023 e divulgados na quarta-feira desta semana – mostram os três calados quando questionados sobre a morte de Sara e dando uma resposta de “sem comentários” à maioria das perguntas.
Em 15 de setembro de 2023, os três foram acusados pela polícia de homicídio e de causar ou permitir a morte de uma criança, e foram detidos sob custódia até julgamento.
14 de dezembro de 2023: Sharif, Batool e Malik se declaram ‘inocentes’
Todos os três se declararam inocentes de assassinato ou de causar ou permitir a morte de Sara.
13 de novembro de 2024: Sharif aceita a responsabilidade pela morte de Sara
O julgamento começou em 7 de outubro de 2024.
Sharif inicialmente negou ter participado da morte de Sara, voltando às confissões feitas durante o telefonema e ao bilhete que deixou ao lado do corpo dela.
No início do julgamento, ele disse que assumiu a responsabilidade de proteger a sua família e culpou Batool pela morte de Sara, alegando que estava a trabalhar quando o abuso ocorreu. Ele alegou que era plano de Batool fugir para o Paquistão e que Batool havia ditado sua nota de confissão. Batool e Malik não prestaram depoimento durante o julgamento.
No entanto, em 13 de novembro, Sharif finalmente assumiu a responsabilidade pelo assassinato de sua filha, dizendo aos jurados: “Aceito tudo”. Especificamente, Sharif aceitou que havia causado ferimentos e fraturas em Sara, além das marcas de mordidas e queimaduras. Ele também aceitou ter batido na filha com um taco de críquete.
“Eu não queria machucá-la. Eu não queria machucá-la”, disse ele.
Quem é a mãe de Sara Sharif?
A mãe biológica de Sara é Olga Domin, 38 anos. Ela é originária da Polônia e voltou para lá logo após a morte de Sara, tendo vivido no Reino Unido por mais de 10 anos.
O jornal britânico Daily Mail informou que Sara está agora enterrada na Polónia, perto de onde vive a sua mãe.
Depois que Sharif veio do Paquistão para o Reino Unido com visto de estudante em 2003, Domin e Sharif se casaram em 2009. Eles se separaram em 2015 depois que cada um acusou o outro de abuso durante uma batalha judicial pela residência de sua filha, Sara. No final das contas, Sharif ganhou residência em 2019.
Durante o julgamento, o tribunal ouviu que duas outras mulheres polacas, além da mãe de Sara, também denunciaram Sharif à polícia por abuso físico. Segundo a mídia do Reino Unido, uma dessas mulheres o denunciou em 2007.
Quando Sharif, Batool e Malik foram presos, a Polícia de Surrey divulgou uma atualização dizendo que Domin havia sido informado e estava sendo apoiado por policiais especializados.
Segundo o site da Polícia de Surrey, Domin prestou homenagem à filha, dizendo: “Minha querida Sara, peço a Deus que cuide da minha filhinha, ela foi levada muito cedo.
“Sara tinha lindos olhos castanhos e uma voz angelical. O sorriso de Sara poderia iluminar a sala mais escura.
“Todos que conheceram Sara conhecerão seu caráter único, seu lindo sorriso e sua risada alta.
“Ela sempre estará em nossos corações, seu riso trará calor às nossas vidas. Sentimos muita falta de Sara. Amo você, princesa.
Alguém já relatou sinais de que Sara estava sendo abusada?
Sim.
Em diversas ocasiões, durante os meses anteriores à sua retirada da escola, os professores de Sara levantaram preocupações sobre os hematomas no seu corpo junto dos serviços sociais do Conselho do Condado de Surrey. Uma investigação foi aberta, mas encerrada seis dias depois que o conselho recebeu a informação de que os pais de Sara a haviam tirado da escola.
Sharif e Batool foram denunciados aos serviços sociais ou ao sistema de monitoramento on-line de proteção infantil da escola de Sara em várias outras ocasiões, mas esses relatórios não levaram a qualquer investigação adicional.
A comissária infantil da Inglaterra, Rachel de Souza, disse à BBC que Batool e Sharif nunca deveriam ter sido autorizados a educar Sara em casa se os professores tivessem notado possíveis sinais de abuso. “Se uma criança é suspeita (vítima) de abuso, ela não pode ser educada em casa”, disse ela.
Ela acrescentou que o governo está actualmente a planear uma lei sobre o bem-estar das crianças que irá introduzir um registo de todas as crianças educadas em casa. Tal registo não existe actualmente. O comissário disse que uma isenção nas leis de agressão que permite o “castigo razoável” de crianças também deveria ser removida.
O que acontecerá a seguir?
Sharif, Batool e Malik serão sentenciados em 17 de dezembro em Old Bailey, Londres.
Quando o juiz John Cavanagh suspendeu a sentença esta semana, ele disse aos jurados que o caso havia sido “extremamente estressante e traumático”.
“Ver as imagens de Sara rindo e brincando mesmo quando ela tinha sinais de ferimentos em seu corpo e sabendo que ela era uma criança feliz na escola – ela adorava cantar e dançar – e saber o que aconteceu com ela, essas são as partes mais comoventes de o caso”, disse Libby Clark, promotora especialista do Crown Prosecution Service.
A BBC informou na quarta-feira que todos os cinco irmãos de Sara que viajaram para o Paquistão com a família permanecem no Paquistão. A mídia paquistanesa informou que três das crianças eram de Batool.
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