NOSSAS REDES

ACRE

Joana Fomm: Quero os trabalhos que fiz comigo, diz atriz – 30/11/2024 – Ilustrada

PUBLICADO

em

Num apartamento no Alto Leblon, uma moradora que recém completou 85 anos e pouco sai de casa, obedece a uma rotina: ligar a televisão, todas as noites, no canal Viva para assistir à reprise da novela “Corpo a Corpo”, de Gilberto Braga.

Seria uma rotina comum a tantas mulheres no Brasil se a espectadora em questão não fosse intérprete de uma das protagonistas da trama. Trata-se da atriz Joana Fomm, que dá vida à Lúcia Gouveia, uma decadente socialite do Jet Set internacional, que tenta fazer a filha agarrar um milionário na novela “Corpo a Corpo” para garantir o seu futuro.

De volta à Globo nesta segunda (2), com a reprise de “Tieta” no “Vale a Pena Ver de Novo”, e afastada da TV após uma década de participações esparsas —seu último papel foi uma participação na série “Sob Pressão”, em 2019— Fomm não tem na vilã de “Corpo a Corpo” uma de suas personagens preferidas.

“A Lúcia Gouveia é meio boba. Ela faz umas maldades bobas, se comunica de uma forma boba, não se impõe”, diz a atriz de voz suave, vestida numa roupa branca que condiz com seus cabelos hoje e contradiz com os figurinos coloridos de suas adoráveis megeras. “A Yolanda era pior, mais má.”

“Yolanda”, para os noveleireiros menos avisados, é Yolanda Pratini, a vilã de “Dancin’ Days”, de 1978, primeira novela de Gilberto Braga no horário das 20h. Um papel que caiu nas mãos da atriz após um desentendimento entre o diretor da trama, Daniel Filho, e a atriz Norma Bengell, que viveria a megera.

O que seria apenas uma substituição deu início a uma tradição. Com sua altivez e olhar que dizia mais que as falas, talento só encontrado em Bette Davis, Fomm ajudou a criar uma escola de vilãs por meio de Yolanda. Um mundo de mulheres capazes das piores ações com as melhores intenções, da qual fazem parte personagens como Odete Roitman, vivida por Beatriz Segall, em “Vale Tudo”, também de Braga. “Ela [Yolanda] era muito má, seca, decidida. Adorava a personagem, estudei muito, me envolvi muito.”

Yolanda era a irmã mais velha de Júlia Mattos, a ex-presidiária em busca de redenção, interpretada por Sônia Braga. As duas irmãs disputavam os holofotes da sociedade carioca, dentro e fora das discotecas, e o amor de Mariza. Vivida por Glória Pires, a garota era filha biológica de Júlia e fora criada por Yolanda. Das ironias da vida: Fomm ela própria foi Mariza. Como relata em sua biografia, “Minha História É Viver” a atriz foi criada pela tia, Alice, e seu marido, Arthur Fomm, de quem adotou o sobrenome.

Fomm recorda de uma de suas primeiras gravações da novela. “Quando eu apareci em cena, inventei que ela queimava o cigarro na boca.” Concluída a gravação, o diretor pediu para que a cena fosse refeita, achando que o lábio queimado fosse um erro. Até se inteirar que Fomm “fez de propósito”. “Eu fazia uma personagem que estava muito nervosa.”

Um momento da novela que a atriz guarda com carinho —e que, aliás, é uma das cenas mais lembradas da teledramaturgia— é o confronto final entre Júlia e Yolanda, no último capítulo. As duas irmãs discutem por causa da educação de Mariza, trocam acusações e se agridem. Caídas no chão, ofegantes, se abraçam, choram e se reconciliam. “Eu acho lindo aquilo. Misturou tudo. Misturou o final da novela, a despedida minha, da Sônia, a despedida do público, da personagem. Foi muito emocionante.”

A Lúcia Gouveia de “Corpo a Corpo” nasceu do sucesso da personagem de “Dancin’ Days”. Reprisada pela primeira vez, a trama de 1984 tem sido uma oportunidade para a atriz se lembrar dos amigos. “Fiquei emocionada em ver aquela gente amiga. Ver Lauro Corona, o Caique Ferreira foi o que me emocionou mais.”

Os dois atores morreram por Aids —Ferreira em 1994, e chegou a escrever um livro sobre o assunto. Corona, que havia sido genro de Yolanda em “Dancin’ Days”, morreu em 20 de julho de 1989, aos 32 anos. “Acho uma maldade ele ter morrido. Foi uma morte injusta. Quem o acompanhou mais foi a Glória Pires”, diz. A atriz, que havia feito par romântico com o ator em “Dancin’ Days” e “Direito de Amar”, era muito amiga do galã. “Foi uma época muito triste.”

As dores não apagam as boas lembranças do período, que deixam saudade na atriz. Dez anos depois de Yolanda, interpretou a beata Perpétua, em “Tieta”, também disponível no Globoplay. Icônica, a vilã deu início a outra tradição de antagonistas, desta vez marcadas pelo humor. “A minha preferida atualmente é Perpétua. Eu me diverti fazendo.”

Outra saudade da novela é o ator Armando Bógus, morto em 1993, a quem Fomm cita mais de uma vez na entrevista. “Era um grande amigo”, diz. As saudades, porém, não se resumem a Bógus. “Sinto saudades de tudo. Os amigos que eu não tenho mais, alguns morreram, outros mudaram de profissão.”

Ainda assim, mantém contato com alguns colegas. Entre eles, Glória Pires, intérprete da Maria de Fátima, de “Vale Tudo”, uma espécie de jovem Yolanda Pratini. “A gente se fala muito. Sou muito próxima dela”, diz, com um sorriso que demonstra todo o carinho pela atriz que interpretou Mariza. Minha filha, né?”

Nos anos 1990, a atriz atuou em produções do SBT, que pretendia competir com a TV Globo na produção de novelas. Os papéis foram rareando a partir da década seguinte. Em 2007, estava tudo pronto para Fomm voltar a uma novela de Gilberto Braga, onde viveria a vilã Marion. Mas um câncer de mama impediu a retomada da parceria.

Curada da doença, que a obrigou a retirar os seios, foi diagnosticada com uma disautonomia, doença que afeta o sistema nervoso. “[A saúde] está bem, felizmente. Na medida do possível”, afirma a atriz. Na época da entrevista, ela se recuperava de uma gripe que deixou sua voz mais fraca, mas não a impediu de falar sem dificuldade por quase uma hora.

Em 2013, Fomm foi desligada da TV Globo pela segunda vez —a primeira havia sido em 1992. A segunda demissão a abalou. “Fiquei sim, magoada. Eu fiz sucesso, não sei o que o foi. Cada emissora tem seu jeito, não sei.”

Sua carreira, entretanto, não se resume à TV. Nos anos 1960, estreou no cinema. A personagem que lembra com mais carinho nessa arte é a cantora e compositora Dolores Duran, que interpretou em “A Noite do Meu Bem” (1968), escrito e dirigido por Jece Valadão. Atuou também, entre outros, em “Todas as Mulheres do Mundo” (1967), de Domingos Oliveira, e “Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade.

Sua trajetória teatral reúne também momentos importantes. Formada pela escola Martins Pena, teve aulas com Jorge Kossovski, que foi aluno do russo Constantin Stanislavski, responsável por influentes teorizações da arte de atuar. Estreou, em 1958, numa montagem no Teatro Municipal do Rio que reunia amadores e profissionais, entre os quais Nicette Bruno e Paulo Goulart.

Nos anos 1960, mudou-se para São Paulo e se juntou à trupe do Teatro de Arena. Embarcou na busca pelo modo brasileiro de representar e na missão de trazer as questões do país para o palco. Sua trajetória teatral foi marcada por autores como Woody Allen, Harold Pinter e Lilian Hellmann.

Quando a censura começou a recrudescer, afetando a qualidade da produção teatral e cinematográfica, foi trabalhar como jornalista no “Última Hora”, o revolucionário jornal de Samuel Wainer. Seu primeiro entrevistado foi o ator Grande Otelo, com quem atuou em “Macunaíma”.

No final de 1979, Fomm lançou um livro de contos, “À Hora do Café”, publicado pela Editora Cultura, da extinta livraria de mesmo nome. Fora de circulação, o livro é composto por contos breves, de estilo seco, que remetem ao teatro e ao jornalismo e guardam certa atmosfera rodriguiana. Um dos contos, “O Adultério”, foi adaptado para o cinema, com Otávio Augusto, Suzana Faini e Laura Cardoso.

Aos 85 anos, a intérprete de Yolanda não pretende viver de lembranças. “Sinto muita falta de trabalhar, muita, muita. Gosto muito de cinema, gostaria de fazer de novo”, diz Fomm, fã de Bette Davis, Joan Crawford e Ingrid Bergman.

A atriz tem apenas sua aposentadoria como fonte de renda e leva uma vida modesta. “Não consegui [formar um patrimônio]. Queria mais dinheiro e mais trabalho.” Quem cuida dela e de sua vida financeira é o filho, o ator Gabriel Fomm.

Fomm afirma já não ter disposição para o teatro, dado o esforço físico, mas gostaria de fazer uma vilã que a surpreendesse. Confessa ser pouco simpática aos remakes. “[Por] ciúme. Não quero que mexam nas minhas coisas, quero que as coisas que fiz fiquem comigo.”

Leia Mais

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

ACRE

Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.

Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.

O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

//www.instagram.com/embed.js



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

MAIS LIDAS