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Kendrick Lamar reclama o trono do rap no novo disco ‘GNX’ – 22/11/2024 – Ilustrada

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Lucas Brêda

Muitas músicas foram lançadas por Kendrick Lamar e Drake neste ano, como parte de um enfrentamento simbólico pelo posto de maior rapper da atualidade. O americano e o canadense têm números de audiência superlativos, mas abordagens diferentes do gênero que defendem —enquanto o primeiro é um artesão das letras, um vencedor do Pulitzer, o segundo trata mais de relacionamentos e é mestre dos refrões chiclete.

Os ataques em forma de rima e batidas, parte de uma tradição do hip-hop, foram um dos grandes assuntos da música nos últimos meses, e ninguém teve dúvidas de quem saiu vencedor do confronto. Kendrick, com “Not Like Us”, conseguiu não apenas bater Drake na caneta, mas criou também um clássico instantâneo do rap, um hit que uniu a Costa Oeste americana em torno dele e rendeu nada menos que sete indicações ao próximo Grammy.

Na tarde desta sexta-feira (22), pegando todo mundo de surpresa, Kendrick lançou o disco “GNX”, que soa como se a abordagem dele para “Not Like Us” tivesse se estendido para as 12 faixas inéditas. Isso não significa que o álbum trata de Drake —na verdade, o canadense aqui quase não é assunto—, mas do estabelecimento do californiano no topo do rap contemporâneo.

Como “Not Like Us”, “GNX” é permeado por batidas diretas e graves densos e pesados que soam como pancadas na cabeça. Também como no hit indicado ao Grammy, o discurso é bem-humorado e afirmativo da grandeza de Kendrick no cenário da música atual, e o rapper usa uma abordagem brutalista, quase punk, em ganchos e refrões, em especial na repetição contagiante de sílabas, palavras ou frases curtas.

É interessante notar como Kendrick consegue ser um artista versátil sem deixar de fazer música como só ele mesmo é capaz. E também de manter uma discografia coesa não apenas na qualidade, mas na linearidade.

Em 2015, ele lançou um dos grandes discos do século, “To Pimp a Butterfly”, em que atualiza o jazz e o funk americanos com rimas intrincadas e comentários sobre o capitalismo, o racismo, a sociedade americana e as contradições dos sentimentos humanos. Dois anos depois, veio como “Damn.”, um blockbuster pop cheio de hits dançantes e baladas que cansou de tocar em festas e o levou a grandes festivais.

Há dois anos, ele emergiu da pandemia com “Mr. Morale & the Big Steppers”, um álbum denso e profundo, quase psicanalítico, em que reflete sobre o passado, o sucesso, a família e a masculinidade, entre outros assuntos. Discos como esse deram ao rapper uma fama de artista complexo e difícil de entender —mais ainda para quem não fala inglês e não consegue captar suas dezenas de referências.

“GNX” novamente vem para quebrar essa noção. Não se juntando a Rihanna ou sampleando Bruno Mars como fez em “Damn.”, mas com músicas mais curtas e uma abordagem mais crua e direta tanto dos versos quanto dos samples, melodias e faixas instrumentais.

É como se Kendrick dissesse que consegue jogar o jogo pop de Drake sem seguir tendências —característica do canadense, que já gravou até funk 150 BPM com o carioca Kevin o Chris— ou se render a modismos.

Para isso, recrutou Jack Antonoff, produtor que nos últimos anos virou queridinho de cantoras pop como Taylor Swift e Lana Del Rey. Ele assina como produtor executivo do álbum, e atuou diretamente em 11 das 12 músicas do disco, mas a sensação é que, se seu nome não estivesse nos créditos, não daria para saber que ele estava envolvido no projeto.

“Wacced Our Murals” abre “GNX” com a voz de Deyra Barrera, cantora do mariachi mexicano e um monólogo de Kendrick. Ele cospe rimas para dizer o que pensa do cenário atual sob uma melodia sinistra e sobra até para Lil Wayne —o rapper supostamente não gostou da escolha de Kendrick como atração principal do intervalo do próximo Super Bowl, a final da principal liga de futebol americano.

Ele segue a todo vapor em “Squabble Up”, em que muda o tom e a expressão da voz como se fizesse curvas acidentadas enquanto dirige com o pé fincado no acelerador. A metáfora fica clara a partir da capa e do título do álbum, tirado de um modelo de carro requintado de 1987 que mesmo com motor menos potente conseguia atingir altas velocidades mais rapidamente que carros superesportivos como a Ferrari F40.

Mesmo quando não está voando na estrada, Kendrick conduz com fluidez contagiante em “GNX”. Em “Luther”, faz um dueto com SZA enquanto sampleia a balada “If This World Were Mine” na versão de Cheryl Lynn e navega entre cordas que remetem a Quincy Jones.

Em “Man at the Garden”, celebra por cima de um piano frio a vida luxuosa que conquistou. Ele vira do avesso uma expressão popularizada por Notorious B.I.G. em “Mo’ Money, Mo’ Problems” —aqui, Kendrick quer “mais dinheiro, mais poder, mais liberdade”.

Há citações aqui e ali ao triunfo sobre Drake. Em “Hey Now”, ele começa pedindo paz interior a Buda e diz que “os negros sabem que estrangulei um GOAT”, usando a expressão em inglês para se referir a “maior de todos os tempos”, neste caso o canadense. Kendrick canta quase sussurrando como um assassino gélido e indolente.

Mas a letra mais profunda de “GNX” é “Reincarnated”, que sampleia “Made N****z”, de Tupac —maior influência de Kendrick no hip-hop, e outro ícone do gênero na Califórnia. Aqui, o baixo viaja junto com a mente do rapper, que parece estabelecer um diálogo entre Deus e o diabo ao mesmo tempo em que dialoga com o que seriam suas vidas passadas. Tupac, que aliás foi “ressuscitado” com inteligência artificial por Drake numa música (“Taylor Made Freestyle”) crítica a Kendrick, entra nesse contexto.

“Not Like Us” surge novamente nas entrelinhas. “TV Off” tem batida parecida e o mesmo produtor de “Not Like Us”, Mustard, que tem o nome berrado por Kendrick na nova música. Mesmo mais acessível, o rapper mostra que não faz questão nenhuma de perder sua aspereza.

Kendrick impressiona com a quantidade de vozes e levadas que consegue imprimir ao longo do álbum sem soar repetitivo. É algo que faz também reciclando parceiros da carreira —entre eles o produtor Sounwave e o saxofonista Kamasi Washington, que agora parece assumir o posto de arranjador—, além de SZA. Ela retorna em “Gloria”, faixa derradeira do disco, em que Kendrick trata sua caneta como sua amada em uma singela história de amor.

Como em qualquer lançamento do rapper, mais e mais referências das letras e dos samples devem surgir na internet nos próximos dias, ampliando o entendimento da obra. Ainda que desta vez ele se apresente menos hermético, seus discos sempre deixam lacunas a serem preenchidas pela digestão coletiva das músicas ao longo do tempo. Há no entanto uma questão que “GNX” não deixa espaço para dúvida —Kendrick figura no panteão dos grandes artistas deste século. Do rap, ele senta no trono.



Leia Mais: Folha

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Ufac apresenta delegação que vai para os Jubs 2025 — Universidade Federal do Acre

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Ufac apresenta delegação que vai para os Jubs 2025 — Universidade Federal do Acre

A Ufac, por meio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão (Proex) e em parceria com a Federação do Desporto Universitário Acreano (FDUA), apresentou oficialmente a delegação que representará a instituição nos Jogos Universitários Brasileiros (Jubs) de 2025. O grupo, formado por cerca de 70 estudantes-atletas e técnicos voluntários, foi apresentado em cerimônia realizada na quadra do Sesi neste sábado, 27.

A equipe, que competirá no maior evento de desporto universitário da América Latina, levará as cores da Ufac e do Acre em diversas modalidades: handebol, voleibol, xadrez, taekwondo, basquete, cheerleading, futsal e a modalidade eletrônica Free Fire. A edição deste ano dos jogos ocorrerá em Natal, no Rio Grande do Norte, entre 5 e 19 de outubro, e deve reunir mais de 6.500 atletas de todo o país.

A abertura do evento ficou por conta da apresentação da bateria Kamboteria, da Associação Atlética Acadêmica de Medicina da Ufac, a Sinistra. Sob o comando da mestra Alexia de Albuquerque, o grupo animou os presentes com o som de tamborins, chocalhos, agogôs, repiques e caixas.

Em um dos momentos mais simbólicos da solenidade, a reitora da Ufac, Guida Aquino, entregou as bandeiras do Acre e da universidade aos atletas. Em sua fala, ela destacou o orgulho e a confiança depositada na delegação.

“Este é um momento de grande alegria para a nossa universidade. Ver a dedicação e o talento de nossos estudantes-atletas nos enche de orgulho. Vocês não estão apenas indo competir; estão levando o nome da Ufac e a força do nosso estado para todo o Brasil”, disse a reitora, que complementou: “O esporte universitário é uma ferramenta poderosa de formação, que ensina sobre disciplina, trabalho em equipe e superação”.

A cerimônia contou ainda com a apresentação do time de cheerleading, que empolgou os presentes com suas acrobacias, e foi encerrada com um jogo amistoso de vôlei.

Compuseram o dispositivo de honra do evento o deputado federal e representante da Federação das Indústrias do Estado do Acre (Fieac), José Adriano Ribeiro; o deputado estadual Eduardo Ribeiro; o vereador de Rio Branco Samir Bestene; o vice-presidente da Federação do Desporto Universitário do Acre, Sandro Melo; o pró-reitor de Extensão, Carlos Paula de Moraes; a diretora de Arte, Cultura e Integração Comunitária, Lya Beiruth; o coordenador do Centro de Referência Paralímpico e Dirigente Oficial da Delegação da Ufac nos Jubs 2025, Jader de Andrade Bezerra; e o presidente da Liga das Atléticas da Ufac, Max William da Silva Pedrosa.

 



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Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação da Ufac realizou a solenidade de abertura da 3ª Jornada das Profissões. O evento ocorreu nesta sexta-feira, 26, no Teatro Universitário, campus-sede, e reuniu estudantes do ensino médio de escolas públicas e privadas do Estado, com o objetivo de aproximá-los da universidade e auxiliá-los na escolha de uma carreira. A abertura contou com apresentação cultural do palhaço Microbinho e exibição do vídeo institucional da Ufac.

A programação prevê a participação de cerca de 3 mil alunos durante todo o dia, vindos de 20 escolas, entre elas o Ifac e o Colégio de Aplicação da Ufac. Ao longo da jornada, os jovens conhecem os 53 cursos de graduação da instituição, além de laboratórios, espaços culturais e de pesquisa, como o Museu de Paleontologia, o Parque Zoobotânico e o Complexo da Medicina Veterinária.


Na abertura, a reitora Guida Aquino destacou a importância do encontro para os estudantes e para a instituição. Segundo ela, a energia da juventude renova o compromisso da universidade com sua missão. “Vocês são a razão de existir dessa universidade”, disse. “Tenho certeza de que muitos dos que estão aqui hoje ingressarão em 2026 na Ufac. Aproveitem este momento, conheçam os cursos e escolham aquilo que os fará felizes.”

A reitora também ressaltou a trajetória do evento, que chega à 3ª edição consolidado, e agradeceu as parcerias institucionais que possibilitam sua realização, como a Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE) e a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM). “Sozinho ninguém faz nada, mas juntos somos mais fortes; é assim que a Ufac tem crescido, firmando-se como referência no ensino superior da Amazônia”, afirmou.
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, explicou a proposta da jornada e o esforço coletivo envolvido na organização. “Nosso objetivo é mostrar os cursos de graduação da Ufac e ajudar esses jovens a identificarem áreas de afinidade que possam orientar suas escolhas profissionais. Muitos acreditam que a universidade é paga, então esse é também um momento de reforçar que se trata de uma instituição pública e gratuita.”

Entre os estudantes presentes estava Ana Luiza Souza de Oliveira, do 3º ano da Escola Boa União, que participou pela primeira vez da jornada. Ela contou estar animada com a experiência. “Quero ver de perto como funcionam as profissões, entender melhor cada uma. Tenho vontade de fazer Psicologia, mas também penso em Enfermagem. É uma oportunidade para tirar dúvidas.”


Também compuseram o dispositivo de honra o pró-reitor de Planejamento, Alexandre Hid; o pró-reitor de Administração, Tone Eli da Silva Roca; o presidente da FEM, Minoru Kinpara; além de diretores da universidade e representantes da SEE.



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Enanpoll — Universidade Federal do Acre

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publicado:
26/09/2025 14h57,


última modificação:
26/09/2025 14h58

1 a 3 de outubro de 2025



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