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No Senegal, o longo trabalho de reinvenção da kora dos monges de Keur Moussa

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Irmão Marie Firmin na oficina de fabricação de kora na Abadia de Keur Moussa, Senegal, em maio de 2021.

Em 1992, as koras modernizadas pelos monges de Keur Moussa ressoaram na recepção do Papa João Paulo II em Dakar. Eles foram celebrados em Los Angeles pelos Grammy Awards concedidos a músicos do Mali Toumani Diabaté e Mamadou Diabaté. Mas a questão fundamental permanece: como pode uma congregação de irmãos Beneditinos de Sarthe vieram fazer koras numa aldeia perto de Dakar com um nome predestinado, “Keur Moussa” que significa “a casa de Moisés” em wolof?

Sem o Concílio Vaticano II, os caminhos destas pessoas religiosas e deste instrumento musical nascido há oito séculos no Império Mandinga, sem dúvida, nunca se teriam cruzado. Enquanto o mundo católico tinha os olhos fixos em Roma, em 1962, um dos fundadores do mosteiro, o Irmão Dominique, décimo terceiro e último filho de uma linha de amantes da música e músicos, viu-se “missionado” pelo seu superior: encontrar tudo o que pudesse estar em conformidade com um dos principais ensinamentos do Vaticano II e seus “liturgia na inculturação”. Em suma, africanizar o rito.

Com um gravador debaixo do braço, ele sai em busca de sons locais. “Primeiro vou a uma rádio senegalesa e ouço um indicativo de notícias com uma música muito bonitaele explicou em 2016, dois anos antes de sua morte, em um documentário na Radio France Internationale (RFI). Não era violão nem harpa. O que poderia ser? » O discípulo da ordem de São Bento desmaia diante do som cristalino que emana da kora e do seu ventre arredondado – uma cabaça –, considerado o coração deste instrumento classificado na família das harpas.

Após sua relação com o divino, a kora se torna a obsessão do irmão Dominique. “Até eu não conseguir mais dormir”ele disse. O autodidata dedica seus dias e noites a isso. Aquele que nunca aprendeu teoria musical escreveu 71 partituras para acompanhar na kora os 150 salmos cantados pelos irmãos da França e de países africanos. “Ele até compôs ao som do muezim”lembra o Irmão Jean-Marie.

Revolução tecnológica

Ao mesmo tempo, o neto do romancista René Bazin e um punhado de monges, fiéis ao seu lema, “ Ora e Labora » (“orar e trabalhar”, em latim), começou a fazer koras. Um sacerdócio. “Tivemos que mudar as técnicas tradicionais de design várias vezes”, sublinha o irmão Lazare, responsável pela oficina, onde a poeira parece dever-se tanto à marcenaria como à areia transportada por um insistente vento harmattan: “Num dia como este, a afinação é imprecisa nas koras antigas. »

O ar seco e muitas vezes o calor extremo fizeram “às vezes pulando as cordas da tripa da kora no meio da missa”, ele riu. Abram caminho para cordas de linha de pesca e não mais anéis amarrados; são instaladas chaves de madeira como as dos violinos. Mas com este maldito clima, é um esforço desperdiçado… “Eles também cederam e tivemos a ideia de colocar teclas de guitarra de metalespecifica o irmão Lazare. Aqui, novamente, eles não resistiram. A graxa das teclas endureceu e elas não puderam mais ser giradas. »

Durante os oito anos de obras de modernização, os monges de Keur Moussa serão apoiados por engenheiros da Escola Politécnica de Thiès, a cerca de vinte quilómetros de distância. Em suma, a kora é reinventada. As novidades trazidas pelos religiosos estão localizadas em um pólo ampliado para “não dobre” sob o peso de 250 kg de pressão devido ao ajuste. Agora é feito de madeira folheada, “mais resistente e sólido”, mais “mais raro por causa do desmatamento ilegal chinês”enfurece o irmão Lazare.

Finalmente, na tentativa de “acabar com a monotonia” Cantos gregorianos, o irmão Dominique teve a ideia de instalar alavancas cromáticas para tocar semitons e 42 notas com as 21 cordas, o que lhes permite “estar em menor no Advento e na Quaresma” enquanto o resto do ano“os salmos são tocados em maior”. Esta pequena revolução tecnológica garantirá o seu sucesso.

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Hoje, grandes famílias de músicos competem pelas koras dos irmãos Keur Moussa. Numerados e estrelados como os restaurantes do guia Michelin, custam entre 600 e 1.200 euros cada. Os tesouros são agora desenhados por Jean Mendy, um leigo. Em meados de dezembro, ele está ocupado embrulhando os 2.275 com espuma azul.e cópia, destino França. A história não diz se este presente um tanto imponente será colocado debaixo da árvore de Natal.

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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.

Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.

O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

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