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O genocídio fez com que me sentisse um estranho na minha terra natal | Conflito Israel-Palestina

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5 meses atrásem
Nasci e cresci em Bani Suheila, uma cidade de 40 mil habitantes na província de Khan Younis, em Gaza. Era um lugar onde todos se conheciam. Vivíamos numa casa grande rodeada pela minha família e por campos plantados com oliveiras e árvores de fruto. Nossa comunidade unida proporcionou uma sensação de segurança e conforto.
Quinze meses de guerra implacável destruíram este sentimento de pertença. A minha família e eu já fomos deslocados à força várias vezes e, embora ainda estejamos em Gaza, na Palestina, sinto-me um estranho.
Em dezembro de 2023, tivemos que sair de casa pela primeira vez. Fugimos para o que Israel afirmava ser uma “zona segura” na área de al-Mawasi, em Khan Younis. A confusão foi total quando chegamos e lutamos para conseguir um pequeno lugar na areia para armar uma barraca.
Estávamos cercados por pessoas que não conhecíamos. Palestinos de toda Gaza fugiram para a área. Enquanto vagava pelo acampamento, vi apenas rostos desconhecidos. As pessoas olhavam para mim com olhares ambíguos, como se perguntassem silenciosamente: “Quem é você, estranho?”
Al-Mawasi costumava ser uma praia onde meus amigos e eu gostávamos de relaxar. Foi angustiante vê-lo transformado num campo de deslocados repleto de pessoas em luto pela perda das suas casas e dos seus entes queridos.
Em Fevereiro, tivemos de fugir para Rafah. Depois de a ocupação israelita ter emitido ordens de deslocação forçada de várias partes da Faixa de Gaza, um milhão de pessoas sem-abrigo convergiram para a cidade do sul. Nós estávamos entre eles.
As suas ruas e locais públicos estavam congestionados com pessoas deslocadas que montavam tendas onde quer que encontrassem espaço. Mesmo assim, o lugar me parecia um deserto: árido e inóspito.
Minha família e eu vivíamos em uma tenda em constante miséria, como o resto dos deslocados. Eu vagava diariamente pelos becos da cidade, na esperança de encontrar comida para comprar – se tivesse dinheiro para isso. Muitas vezes, voltei de mãos vazias.
Ocasionalmente, encontrava alguém que conhecia – um amigo ou parente – o que trazia momentos de alegria seguidos de profunda tristeza. A alegria veio ao descobrir que eles ainda estavam vivos, mas rapidamente se transformou em tristeza quando me contaram que outra pessoa que conhecíamos havia sido martirizada.
Meu amigo ou parente inevitavelmente comentava sobre minha significativa perda de peso, minhas feições pálidas e meu corpo frágil. Muitas vezes admitiram que não me reconheceram à primeira vista.
Eu voltava para minha tenda com um aperto no peito, dominado por uma sensação de alienação. Eu não estava apenas cercado por estranhos, mas também me tornei um estranho para aqueles que me conheciam.
O sofrimento dos deslocados era contínuo e insuportável. Nada o superou, exceto a notícia de um novo deslocamento forçado, que geralmente vinha na forma de panfletos lançados por aviões de guerra israelenses sobre nós. Apressámo-nos a recolher os nossos pertences, sabendo que estes aviões de guerra regressariam em breve – não com mais panfletos, mas com mais bombas.
Em Abril, os israelitas lançaram panfletos informando-nos que estávamos a ser forçados a deixar Rafah. Fugimos com uma pequena sacola carregando os poucos bens que tínhamos e o fardo de tudo o que havíamos suportado: a fome, o medo e a dor de perder entes queridos.
Regressámos a Khan Younis – à parte ocidental, que Israel afirmava ser “segura” – apenas para encontrar o local destruído e desprovido de quaisquer sinais de vida. Todas as estradas, lojas, instituições educacionais e edifícios residenciais foram transformados em escombros.
Tivemos que armar nossa barraca perto de casas destruídas. Vagueei pelas ruas, olhando, incrédulo, para a escala de destruição deixada pela ocupação israelita. Já não reconhecia a cidade que costumava visitar com os meus amigos.
Em agosto, pela primeira vez desde o início da guerra, consegui chegar ao nosso bairro em Bani Suheila, a leste da cidade de Khan Younis. Achei que os sentimentos de alienação iriam acabar aí, mas não acabaram.
Caminhei entre pessoas que conhecia e que me conheciam, mas os olhares estranhos persistiram – não porque não me reconhecessem, mas porque eu parecia muito pior do que alguma vez me tinham visto. Eles me olharam com espanto, como se eu tivesse me tornado outra pessoa. Seus olhares apenas aprofundaram meus sentimentos de alienação, solidão e perda.
Lutei para compreender a destruição e o desaparecimento de todos os lugares e marcos que outrora definiram minha cidade natal. A casa onde cresci foi reduzida a cinzas em consequência de um grande incêndio causado por bombardeamentos. Lá dentro estava cheio de escombros, nossos pertences se transformaram em algo parecido com pedaços de carvão.
Hoje, depois de 15 meses de guerra, ainda estamos deslocados. Onde quer que eu vá, as pessoas me perguntam: “Oh, deslocado, de onde você é?” Todo mundo olha para mim com um olhar estranho. Perdi tudo e tudo o que me resta é a única coisa que desejei abandonar durante esta guerra: o sentimento de alienação. Tornei-me um estranho em minha própria terra natal.
As opiniões expressas neste artigo são do próprio autor e não refletem necessariamente a posição editorial da Al Jazeera.
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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.
Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.
Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.
Amor e semente
Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.
Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.
E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.
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Cantos de agradecimento
E a recompensa vem em forma de asas e cantos.
Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.
O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.
Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?
Liberdade e confiança
O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.
Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.
“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.
Internautas apaixonados
O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.
Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.
“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.
“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.
Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:
Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok
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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.
No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.
“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.
Ideia improvável
Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.
“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.
O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.
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A ideia
Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.
Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.
E o melhor aconteceu.
A recuperação
Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.
Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.
À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.
Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.
“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.
Cavalos que curam
Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.
Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.
Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.
“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”
A gente aqui ama cavalos. E você?
A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News
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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.
O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.
O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.
Da tranquilidade ao pesadelo
Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.
Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.
A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.
Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.
Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.
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Caminho errado
Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.
“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.
Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.
Caiu na neve
Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.
Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.
Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.
“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”
Luz no fim do túnel
Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.
De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.
“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.
A gentileza dos policiais
Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.
“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.
Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!
Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:
Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni
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