NOSSAS REDES

MUNDO

Obra de Décio Pignatari tem as marcas da dissidência – 25/01/2025 – Ilustríssima

PUBLICADO

em

Claudio Leal

[RESUMO] Reedição cuidadosa oferece uma aproximação ao centro nervoso da criação de Décio Pignatari (1927-2012), autor engajado tanto na poesia de vanguarda quanto em cinema, teatro, desenho industrial e publicidade. A obra de Pignatari, segundo Augusto de Campos, ainda não foi devidamente compreendida em razão do seu temperamento agressivo e do caráter radical dos seus versos.

Doze anos depois da morte de Décio Pignatari e a pouco mais de dois anos do seu centenário, o relançamento de “Poesia Pois É Poesia” recupera a obra poética do concretista indócil, agora sem os ruídos de suas polêmicas. O livro abrange todas as faces da linguagem de Pignatari e demonstra sua destreza nos poemas em versos, antes e depois do surgimento dos manifestos da poesia concreta. Ele apontou a crise do verso, mas, desde jovem, era exímio em seu leito.

“O Carrossel” (1950), livro de estreia, incorporou o poema “O Lobisomem” (1947), cuja estranheza das imagens, do ritmo e do vocabulário despertou o interesse de Augusto de Campos. “Encontrei um cachorro na rua:/ ‘Ó cachorro, me cedes tua pele?’/ E ele, ingênuo, deixando a cadela/ Arrancou a epiderme com sangue/ Toda quente de pelos malhados/ E se foi para os campos de lua.”

Depois de conhecê-lo, Augusto o apresentaria ao irmão Haroldo, em São Paulo. Era a gênese do grupo Noigandres, que sustentou intervenções vanguardistas renovadoras dos horizontes formais (semânticos, sonoros, visuais). O trio ampliou o repertório teórico do debate poético e se empenhou em verter para a língua portuguesa poemas de Rimbaud, Apollinaire, Mallarmé, Paul Valéry, Ezra Pound, Cummings, Emily Dickinson, entre outros, além de elevar Sousândrade, Pedro Kilkerry, Oswald de Andrade e Pagu ao cânone geracional.

Dos três mosqueteiros paulistas, Pignatari tinha a prosa crítica mais beligerante e espinhenta. “decius é o cão/ pignatari – o canil”, escreveu em “Hidrofobia em Canárias”, de 1951, com a força expressiva reincidente nos ensaios. Pelo capricho da reedição, “Poesia Pois É Poesia” tem o potencial de aproximar jovens poetas do centro nervoso da criação de Pignatari, elástico em suas experiências posteriores à fase crucial do movimento.

Seu manifesto de poesia concreta apareceu em novembro de 1956 com a proposta de “uma arte geral da linguagem. propaganda, imprensa, rádio, televisão, cinema. uma arte popular”, apontando para a “transição do verso ao ideograma”. Sua arte poética tem feições variadas e envolve poemas participantes, semióticos e líricos. Na linguagem, a realidade: ele reflete a sociedade de consumo, o autoritarismo, a revolução, as desigualdades, a Guerra do Vietnã e os artifícios da publicidade.

A expressão lírica está no início e no fim de sua caminhada de poeta pactuado com o demônio da dissidência. “Apenas o amor e, em sua ausência, o amor,/ decreta, superposto em ostras de coragem,/ o exílio do exílio à margem da margem”, diz em “Noção de Pátria”, de 1951.

A nova edição aprofunda a presença espacial de “terra” (1956), “LIFE” e “beba coca cola” (1957), um dos mais célebres poemas concretos, “caviar” (1959) e “Cr$isto é a solução” (1967). O poeta e designer André Vallias se inspirou nas publicações dos anos 1950 e utilizou no projeto gráfico a fonte favorita dos concretos, Futura. Além de apresentar o livro, Augusto de Campos dividiu a supervisão editorial com Vallias, que contou com colaborações de Omar Khouri e Walter Silveira.

“O que sempre afirmei é que o Décio foi o mais inquieto, imprevisível —como acentuou o Haroldo— poeta da minha geração e de muitas outras, além de um grande artífice”, diz Augusto de Campos, 93. “Certamente ainda não foi bem compreendido, porque só se tem acentuado, em geral, a sua poesia da fase concretista, quando a sua competência como artesão do verso, tanto na fase pré como pós-concreta, é menos conhecida.”

“Seu temperamento crítico e agressivo terá contribuído para isso. Mas também a maior dificuldade dos seus textos, dado o caráter radical e complexo de sua poesia.”

Augusto propôs a reedição de Pignatari à Companhia das Letras. Encerra, assim, todo um ciclo de lealdade ao amigo. “Nunca duvidei da alta qualidade de sua poesia. Posso afirmar que foi o poeta brasileiro que mais me influenciou, desde ‘O Lobisomem’, texto que me impressionou assim que publicado na imprensa em 1948 por Sérgio Milliet, como tudo o que construiu ao longo de toda a sua poesia experimental. Era às vezes de difícil convívio, e nem sempre concordamos em tudo.”

“Mas a minha admiração pelo seu trabalho e a sua inteligência nunca se apagou. Para reunir numa só frase John Cage e Thelonious Monk, parecia estar certo mesmo quando estava errado… e a nossa amizade perdurou até os últimos dias.”

Vallias fez um cotejo das edições de 1977, 1986 e 2004, regressou a plaquetes e examinou os poemas tal como surgiram nas revistas Noigandres e Invenção. A complexidade editorial exigiu um restauro de artes e procedimentos visuais adulterados ou deteriorados.

“O poema ‘organismo’ (1960), cuja arte era do importante designer Alexandre Wollner, como o próprio Décio informava nas notas, foi refeito numa fonte digital, que, obviamente, ao ser ampliada, não ‘estourava’ os contornos, perdendo-se assim toda a graça do poema”, conta Vallias, que sugeriu a inclusão de “Noosfera” (1973) e “Oswald Psicografado por Signatari” (1981) na obra reunida.

“O leque de atuações do Décio é impressionante: ele foi, para mim, o primeiro gênio da periferia brasileira (lembrar que a Osasco de sua infância, adolescência e juventude ainda fazia parte de São Paulo)”, acrescenta Vallias. “Engajou-se não só na poesia de vanguarda, mas também no teatro, performance, pintura, desenho industrial, publicidade, crítica de TV, política e futebol. Foi cofundador, a convite de Roman Jakobson, da Sociedade Internacional de Semiótica em Paris, da qual foi um dos cinco vice-presidentes.”

“É esse Décio Total que precisa ser redescoberto pelas novas gerações. Acima de tudo, o que eu gostaria de ver reconhecido e estudado é o Décio educador. Ele largou a publicidade para se dedicar ao magistério. Foi um professor carismático, que levava seus alunos do interior para visitarem a Bienal de São Paulo.”

“Poesia Pois é Poesia”, segundo o poeta Régis Bonvicino, estimula o debate sobre linguagem. “Seu grande embate se deu com a questão do nacional-popular, porque se posicionou no campo internacional e internacional-popular (a antipublicidade). Ele estreou em 1950 com o livro ‘Carrossel’, quando o modernismo de 1922 era ainda recente”, observa.

“Suas posições e o movimento da poesia concreta lhe custaram ataques, boicotes, sabotagens, atravancando a leitura de sua poesia de alto nível. Nas conversas que tive com Décio, ele insistia que era preciso ter ideias, lutar por ideias”, diz Bonvicino.

“O poema se fazia com palavras mas igualmente com ideias. A poesia brasileira é conservadora e retornou, por inércia, ao leito dos versos discursivos, subjetivos, do verso qualquer coisa, e do poema visual mero clichê. Retornou à redundância, o que torna muito dos poetas acordes e concordantes, regidos pelas redes sociais.”

Pioneiro das teorias da comunicação no Brasil, Pignatari, que foi colunista da Folha na década de 1980, era antinacionalista e formulou a ideia de guerrilha artística, sempre móvel em seus combates bem-humorados. Ele seria chamado de “Oswald magro” por Augusto, numa alusão ao espírito fustigador de Oswald de Andrade.

Pignatari, os irmãos Campos e Ferreira Gullar, rompido com os paulistas em 1957, exerceram a mais vasta influência sobre a poesia pós-João Cabral de Melo Neto, com desdobramentos nas artes plásticas, na música popular, no teatro e no cinema.

As ideias de Pignatari eclodiram na letra de “Geleia Geral” (1968), de Torquato Neto, com música de Gilberto Gil. Antes de chegar à “Invenção” e ao grupo tropicalista, a expressão aparecera numa conversa do poeta com Cassiano Ricardo, que escrevia na revista concretista e, em 1964, numa bigamia estética, publicou na Praxis, de Mario Chamie.

Numa reunião com o grupo de “Invenção”, ao justificar a ida para o campo adversário, Cassiano cobrou uma postura menos radical. “O arco não pode permanecer tenso o tempo todo”, disse o veterano modernista. “Na geleia geral brasileira alguém tem de fazer a função de medula e osso”, reagiu Pignatari. Torquato pôs a imagem da geleia geral na canção e no título de sua coluna na Última Hora.

Medula e osso das vanguardas, Pignatari participou da criação da capa do álbum “Todos os Olhos” (1973), de Tom Zé, e inspirou o “avesso do avesso do avesso do avesso” da canção “Sampa” (1978), de Caetano Veloso, que levaria o poema “organismo” para “O Cinema Falado” (1986), seu único filme. Caetano também é um entusiasta de sua poesia lírica.

O compositor Tom Zé reconhece os estímulos múltiplos. “Todas aquelas obras do Décio dos anos 1970 eu vivia mastigando para lá e para cá, com prazer enorme. Cada descoberta, cada desalinhavo. Ó, que coisa maravilhosa! Nossa senhora. Agora que eu não posso ler muito, porque a cabeça não aguenta ler, uma das minhas grandes saudades é Décio Pignatari”, lamenta o tropicalista.

Sem desprezar o futebol na leitura da vida brasileira, o poeta abriu um manual de poesia com uma epígrafe do jogador Ademir da Guia e introduziu crônicas esportivas no jorro de uma coletânea de textos frondosos sobre linguagem. Em “Contracomunicação”, traduziu Pelé: “Sua noção perfeita de posição nasce do fato de não só saber perfeitamente onde está (e onde os demais estão) a cada momento — mesmo em lances agudos e ultra-rápidos — como de saber também onde está provavelmente (e onde os demais estarão) no lance imediatamente seguinte”.

Com o cineasta e fotógrafo Ivan Cardoso, desenvolveu sua parceria mais fecunda no cinema, ao narrar “H.O.” (1979), documentário sobre o artista plástico Hélio Oiticica, e “Bo Cage” (2012). Ainda articulou voz e roteiro em “A Marca do Terrir” (2005) e “O Universo de Mojica Marins” (1978), no qual radiografa Zé do Caixão: “Um Antonio Conselheiro de subúrbio, que fez do cinema o seu Canudos”.

O curta “Dr Dyonélio” (1978), retrato de Dyonelio Machado, autor do romance “Os Ratos”, veio de sua cabeça. Na filmagem, fumou seu primeiro baseado, oferecido por Cardoso. “Esse filme teve o envolvimento completo do Décio, que apresentou ‘Os Ratos’ ao Ivan e ao Brasil todo”, diz Julio Bressane, que o convidaria a viver Dante no longa “O Gigante da América” (1978).

“‘O Gigante’ era uma conversa paródica com a ‘Divina Comédia’. Um espírito atravessava o inferno, o purgatório e o paraíso. No início ele encontra com o Dante, que indica o caminho a seguir na selva escura. Chamei o Décio para ser Dante. Foi uma participação breve, mas sobretudo simbólica, por ele ser um indicador de caminhos.”

Bressane destaca a profundidade analítica do poeta. “Em 1973, quando fiz ‘O Rei do Baralho’, com Grande Otelo, Décio escreveu um texto importante, ‘História sem história’, com duas observações muito fortes”, lembra o cineasta. “Décio viu muito bem um fotograma prolongado no tempo. Ou seja, você vê naquela imagem alguma coisa que não veria se estivesse em velocidade. Isso é o que se chama de inconsciente ótico. Ele nota que, com a imagem do Otelo, você podia reconstituir o cinema brasileiro inteiro.”

“Décio podia mudar de opinião só para discutir com você”, sorri Ivan Cardoso, que perambulou com o amigo por Nova York em 1976. Certo dia, o artista plástico Hélio Oiticica apresentou a pintura de um verso de Rimbaud no teto de seu apartamento. Pignatari a olhou e fez uma cara de decepção.

“Ele brigou muito com Hélio. Ele achava uma merda aquela serigrafia ‘Mangue Bangú'”, conta Cardoso. “Décio era designer industrial, então achava um absurdo Hélio morar em Nova York e fazer uma serigrafia do tipo brasileira. Achava malfeita. Hélio ficou uma arara. Décio me aconselhou: ‘Volte para o Rio correndo! Você não vai arrumar nada com esse cara em Nova York, e a polícia ainda vai te prender’. Eu voltei”.

Em 1980, na morte de Oiticica, pegando a contramão de si mesmo, Pignatari fez um belo necrológio, “Hélio e a arte do agora”, aberto com a cena do enterro, descrevendo o caixão como uma “abominável obra de arte penetrável”.

Oráculo da crise da poesia, Pignatari esgrimiu e também dialogou com Ferreira Gullar. “Confundiu poesia com verso (A luta corporal): a poesia acabou. A poesia concreta veio mostrar que o que se acabara fora apenas o verso”, criticou em entrevista.

Em 2010, afetado pela doença de Alzheimer, ele desabafou em uma conversa telefônica com Ivan Cardoso: “Você se esqueceu que a arte acabou ainda no século passado? Está aí um bom título de filme que você tanto quer fazer sobre mim: a morte da poesia, um mundo que não existe mais”.

Nessa época, Augusto ouviu do amigo o vaticínio de que “a poesia acabou”. “Sim, a poesia sempre acaba. E tem que ser reinventada. Não é mais problema meu”, diz Augusto, hoje. “Cortei relações com ela (a minha poesia), no meu último livro a ser publicado, sob a denominação ‘PÓS poesia’, em fevereiro. Que o descrédito da poesia é grande, é, mas sempre foi. ‘Non multa sed multum’ [não muitas coisas, mas muito]?. Na minha idade, só entro em jogo de várzea… agora é com vocês.”

O poema “Interessere”, da década de 1980, enfeixa a duradoura arte do avesso de Décio Pignatari. “Na flor interessa o que não é flor/ Em Joyce interessa o que não é Joyce/ No concretismo interessa o que não é concretismo.”

“É verdade, o ‘concretismo é frio e desumano…’. Haroldo traduziu Homero. Décio, Dante. E eu, Arnaut Daniel. Ninguém se definiu melhor do que o próprio Décio: um ‘designer da linguagem’. O resto é poesia”, diz Augusto de Campos.

Lançamento de “Poesia Pois É Poesia”

Leitura de poemas de Pignatari e depoimentos sobre o autor, com participação de Augusto de Campos (em vídeo), André Vallias, Lenora de Barros, Arnaldo Antunes, Cid Campos, Omar Khouri, João Bandeira, Raquel Campos e Walter Silveira. Ter. (28) às 19h na Megafauna Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, República, São Paulo)



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

PUBLICADO

em

O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

Leia mais notícia boa

Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

PUBLICADO

em

Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

Leia mais notícia boa

A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

PUBLICADO

em

O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

Leia mais notícia boa

Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

//www.instagram.com/embed.js



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MAIS LIDAS