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‘Pessoa do Ártico’, russo se encanta com a Antártida – 19/01/2025 – Ciência

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Phillippe Watanabe

Mesmo a longuíssima experiência no extremo gelado do planeta não impede o maravilhamento com a realidade —também extrema— trazida pela Antártida.

O russo Nikita Kusse-Tiuz, 37, um dos cientistas-chefe da expedição de circum-navegação da Antártida, compara o seu encontro —o primeiro— com o continente gelado com a animação de uma criança ao entrar em uma loja de doces.

Há anos acostumado a passar meses no Ártico, o oceanógrafo e pesquisador do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica de São Petersburgo, menciona o encontro constante com vida animal, como pinguins, baleias e aves antárticos, como uma das diferenças centrais —e visíveis— entre os extremos gelados da Terra.

O mais aguardado, porém, era o encontro com um desajeitado ser vivo: a foca-de-weddell, uma “grande almofada gorda se comportando de maneira estranha”.

Kusse-Tiuz conta, no Diário da Antártida desta semana, como vê de perto a crise climática e como uma autoclassificada “pessoa do Ártico” tem aprendido, durante a expedição, sobre os processos e realidades antárticos, ao mesmo tempo em que lidera a equipe russa no navio.

Das expedições no Ártico, eu me lembro sobretudo das sensações constantes. Como quando estava em uma das mais longas, que durou oito meses, no inverno, em um acampamento. Havia uma camada de gelo na qual estávamos vivendo, a noite polar e centenas de quilômetros sem ninguém, só o nosso grupo. Havia a sensação de que, se algo acontecesse, ninguém poderia te alcançar e de como você é tão vulnerável.

Mas, ainda assim, está ali e se sente bem porque tudo está indo bem. Essa sensação me faz sentir confortável e é isso que às vezes gosto na expedição.

Sou uma pessoa do Ártico. Minha primeira expedição foi em 2008. Desde então, foram 20, com cerca de três, quatro meses por ano, em média. O tempo total chega a quase cinco anos. Aqui na Antártida, estou pela primeira vez. E foi quase como se estivesse nas minhas primeiras expedições ao Ártico, quando era “uau, estou abrindo um novo mundo”.

Eu estava me sentindo [ao chegar à Antártida] como uma criança em uma loja de doces, sabe? Queria ver novos animais, nova vida selvagem e esses icebergs, sobre os quais todo mundo fala. E como oceanógrafo novamente, eu estava ansioso para saber como a oceanografia difere da do Ártico.

Ainda estou me familiarizando com a oceanografia da Antártida. Aqui temos também a Alina, que é uma verdadeira oceanógrafa da Antártida e é responsável pela parte científica das expedições de oceanografia.

Por um lado, há uma grande diferença [em relação ao Ártico], e, por outro, muitos processos semelhantes. Em primeiro lugar, a Antártida é muito maior que o Ártico. No Ártico, temos um oceano interior e os mares o cercam. Na Antártida, o oposto, e isso faz uma grande diferença.

Além disso, as profundidades são diferentes. Os mares do Ártico são muito mais rasos do que aqui, e os processos são diferentes por isso. O oceano profundo do Ártico é mais como um pântano —nada realmente acontece lá. E muitos processos na Antártida ocorrem logo acima do fundo.

A temperatura e a salinidade diferem muito comparando com as do Ártico. Não vou entrar muito nos detalhes, mas isso é o que meus olhos captam quando vejo o perfil de temperatura em cada estação [de monitoramento]. Acho que só aqueles que trabalham no Ártico e na Antártida podem ver essas diferenças porque são décimos e centésimos de graus.

Mas, mesmo como uma pessoa comum, não como oceanógrafo, posso ver uma grande diferença. Primeiro a escala. A Antártida é maior, é um continente. No Ártico temos as costas de outros continentes e algumas ilhas. Temos gelo marinho e gelo terrestre em ambos os hemisférios. Mas a Antártida tem muito mais gelo terrestre. Quero dizer, as plataformas de gelo, as cúpulas de gelo, os icebergs, que são muito maiores. No Ártico, em alguns lugares você pode ver grandes icebergs e em outros não encontra nenhum. Mas na Antártida eles estão quase em toda parte e são enormes.

A outra grande diferença é a vida selvagem no Ártico, onde você pode ver muitos pássaros, como gaivotas, mais perto das ilhas onde nidificam e perto da costa. No mar aberto não é muito comum. No Ártico superior, raramente você pode vê-las. Também há algumas focas em ilhas e, às vezes, no gelo e em águas abertas. E ursos polares, com certeza, mais perto da terra e nas ilhas. No Ártico superior, apenas no gelo. Mas, principalmente, você vê apenas gelo.

Na Antártida é diferente. Primeiro, os pinguins. Eles estão quase em toda parte. Quase não há dias sem pinguins. Focas você pode encontrar com bastante frequência. E também baleias, orcas. E os pássaros aqui na Antártida são muito maiores, como os albatrozes. São enormes comparados às gaivotas vistas no Ártico. Tudo é maior, em quantidade e em tamanho.

Na expedição medimos coisas básicas, como temperatura, salinidade e também a densidade da água do mar. Além disso, medimos a direção e a velocidade das correntes. Temos o chamado CTD, que significa condutividade, temperatura, profundidade. São três sensores dos quais você pode obter os dados e, a partir deles, derivar a salinidade e a densidade. Para as correntes, temos o perfilador acústico de correntes Doppler embutido no navio, que mede as correntes o tempo todo.

A parte mais interessante da física oceânica geral da Antártida é a formação de massas de água, que depende totalmente dos mares da Antártida e das polínias [áreas de água rodeadas por gelo marinho], as águas abertas próximas à costa que interagem com a atmosfera, influenciando a formação e o derretimento do gelo e esses tipos de processos.

E também o derretimento do gelo, tanto o gelo marinho quanto o terrestre, torna a água mais ou menos salina. Essa água começa a se afastar da costa e certos processos ocorrem. A chamada água de fundo antártica se forma nessas áreas, desce a encosta e se espalha pelos outros oceanos e, por isso, influencia outras massas de água em outros oceanos.

Como toda a comunidade científica do clima já sabe, temos o aumento da temperatura em todo o globo, e essas mudanças são muito mais significativas tanto no Ártico e na Antártida. Indo ao Ártico e fazendo medições o tempo todo, podemos ver essas mudanças. O gelo marinho está ficando mais fino. Na Antártida ainda podemos ver gelo de vários anos; no Ártico mal se encontra um.

Além disso, alguns processos locais, como a formação de massas de água superficial, como as águas de inverno e verão, formam-se na superfície durante essas estações. E isso tem um efeito na bioprodutividade da água, no crescimento do fitoplâncton e do zooplâncton e, assim, na cadeia alimentar. Portanto, todos os animais que vivem na Antártida.

Eu pessoalmente gosto de focas e estava tentando ver a foca-de-weddell. E esse foi o momento que provavelmente nunca esquecerei, o momento em que a vi pela primeira vez. Elas parecem muito fofas e se comportam de maneira não muito ágil. São incapazes de te machucar. E, quando não estão no mar, apenas deitadas no gelo, são como uma grande almofada gorda se comportando de maneira estranha. Bem, quase todas as focas são assim, mas essa faz isso de maneira perfeita.

Espero que qualquer pessoa que leia isto sinta algo sobre o Ártico e a Antártida, algo que os chame a tentar se envolver nisso.



Leia Mais: Folha

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MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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