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Política e fome: Gaza toma conhecimento da decisão de Israel de proibir a UNRWA | Notícias das Nações Unidas

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Até esta manhã, Hussam Abu Ghaban, de 38 anos, não tinha ouvido falar da decisão do Knesset israelita de proibir a agência da ONU responsável pelo bem-estar da sua família.

Agora, com o Knesset israelita a aprovar dois projetos de lei que proíbem a agência de Israel e impedem a sua capacidade de trabalhar em Gaza, a família não sabe o que fazer.

Alguém no campo próximo, operado pela Agência de Assistência e Obras da ONU (UNRWA), tinha mencionado isso, mas Abu Ghaban não sabia do que acabou por ser um voto esmagador do Knesset a favor da proibição, apesar da indignação internacional.

‘As pessoas passariam fome’

A preocupação no rosto de Abu Ghaban era inevitável enquanto ele avaliava a notícia. Ele, a sua esposa Ola e os seus oito filhos fugiram do campo de refugiados de Shati, no norte da Faixa de Gaza, no início de Novembro, para as proximidades relativamente seguras de um campo em Deir el-Balah mantido pela UNRWA.

Hussam Abu Ghaban, 38, Deir el-Balah, Gaza (Hussein Owda/UNRWA)

Superlotado e com poucos recursos, o campo representa um pequeno apoio aos 1,9 milhões de pessoas deslocadas em Gaza.

“O apoio da UNRWA tem sido crucial”, disse Abu Ghaban a um tradutor.

“Eles fornecem serviços essenciais, como saúde, educação e alimentação, bem como administram o acampamento”, disse ele, descrevendo como a família de 10 pessoas, reduzida a viver em uma tenda, dependia da agência da ONU para o número cada vez menor de itens essenciais que passar pelos postos de controle israelenses.

Abu Ghaban não sabia como a família sobreviveria sem o apoio que a agência da ONU tem dado a gerações deles desde que foram desenraizados da sua aldeia de Hiribya para dar lugar ao novo estado de Israel na Nakba (catástrofe) de 1948.

Hussam Abu Ghaban e a sua família passaram a confiar na UNRWA
A família Abu Ghaban no campo de deslocados de Deir el-Balah. Como família, estão deslocados desde 1948 (Hussein Owda/UNRWA)

Desde então, impedidos de regressar por Israel, a sua deslocação tornou-se geracional.

Abu Ghaban lutou para imaginar a vida sob os ataques brutais de Israel a Gaza sem o apoio da ONU.

“Os refugiados lutariam para sobreviver”, disse ele. “As pessoas passariam fome e isso poderia levar ao aumento da violência”, disse ele sobre um enclave que descreveu como já dominado pela fome, pelo medo e pela instabilidade.

A vida já é difícil, disse ele. Não havia espaço no acampamento oficial quando chegaram. Agora eles existem na sua periferia, embora ainda sob os cuidados da ONU.

Abu Ghaban apontou para a folha de plástico que a UNRWA tinha fornecido para cobrir a sua tenda. Ele ainda não tinha nada que tornasse o chão de terra áspero seguro para seus filhos, o mais novo com apenas seis anos.

A vida em Deir el-Balah já é bastante difícil para os jovens, explicou Abu Ghaban. “Eles agora são forçados a se concentrar apenas na sobrevivência, mas posso ver que ainda se lembram da vida anterior. As atividades recreativas da UNRWA ajudam a aliviar um pouco a tensão.

“As crianças ainda expressam suas esperanças através do desenho”, disse ele, apontando para o esboço infantil na parede da tenda de uma família voltando para casa.

Um desenho de uma das crianças deslocadas de Hussam mostra a família voltando para casa
Baseando-se na tenda onde a família Abu Ghaban se abriga, Deir el-Balah (Hussein Owda/UNRWA)

A impotência da ajuda

A legislação que poderá travar grande parte da ajuda prestada à família Abu Ghaban tornar-se-á lei 90 dias após o ministro das Relações Exteriores de Israel informa a ONU.

Além disso, sem nenhuma agência humanitária alternativa prevista na legislação para substituir a UNRWA, as consequências para aqueles que estão presos em Gaza serão catastróficas.

Dentro do enclave, a UNRWA actua como o que o seu porta-voz Jonathan Fowler descreveu como a “espinha dorsal” da operação humanitária internacional em Gaza.

Sem a UNRWA, essa operação de ajuda em Gaza seria desfeita, disse ele.

Em Gaza, a situação nunca foi tão desesperadora. Na região norte, com acesso estritamente controlado pelos militares israelenses, a fome paira sobre todos à medida que as preocupações internacionais sobre um cerco à área, negado pelo governo israelita, continuam a crescer.

Khan Younis
epa11581588 Palestinos deslocados internamente participam de uma reunião para arrecadar alimentos doados por uma instituição de caridade, no campo de Khan Younis, em 3 de setembro de 2024 (Haitham Imad/EPA)

Caso a capacidade da UNRWA de operar no território fosse interrompida, a prestação da assistência limitada que ainda penetra partes de Gaza também seria interrompida, disse Fowler à Al Jazeera.

“Tal movimento de um estado membro da ONU contra uma organização mandatada pela Assembleia Geral da ONU é sem precedentes e perigoso”, disse Fowler.

“Isso… viola as obrigações do Estado de Israel sob o direito internacional… (e) seria um revés para os esforços de paz sustentáveis ​​e para alcançar uma solução diplomática para o conflito israelo-palestiniano de décadas”, acrescentou.

“Não resistir às tentativas de intimidar e minar as Nações Unidas no território palestiniano ocupado acabará por comprometer o trabalho humanitário e de direitos humanos em todo o mundo.”

A política da fome

A campanha de longa data de Israel contra a UNRWA intensificou-se durante a guerra de Israel em Gaza e inclui uma lista de acusações ainda não comprovadas de apoio aos combatentes do Hamas.

Durante todo o tempo, a UNWRA esforçou-se por trabalhar no terreno em Gaza para ajudar a mitigar os efeitos de uma campanha militar israelita. considerado pelo Tribunal Internacional de Justiça na sua decisão de Janeiro um potencial caso de genocídio.

No entanto, euface à pressão internacional, sem paralelo durante os 13 meses de guerra total em Gazao Knesset israelita votou esmagadoramente pela proibição da agência, potencialmente colapsando toda a frágil rede de ajuda que até agora conseguiu sustentar o que resta da população de Gaza.

Até mesmo o aliado mais próximo de Israel, os Estados Unidos, reconheceu a gravidade da situação. Falando no início desta semana, um funcionário do Departamento de Estado reconheceu tanto a terrível situação humanitária em Gaza, especialmente no norte, como o papel da UNRWA na sua mitigação.

Uma das redatoras da legislação israelense que proíbe a UNRWA, Yulia Malinovsky, rejeitou as preocupações dos EUA, que forneceram a Israel cobertura diplomática inabalável e armamento durante a sua guerra em Gaza, como representando uma interferência inaceitável nos assuntos internos de Israel.

Ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir
Uma captura de tela mostra o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, falando no complexo da mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém Oriental ocupada, em 17 de julho de 2024 (AFPTV/AFP)

“Parabenizo e agradeço aos membros do Knesset de todo o espectro político por aprovarem as leis que esta noite puseram fim à contínua desgraça da cooperação com a UNRWA”, o provocador de extrema direita e ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, disse.

“Quem prejudicar a segurança do Estado de Israel, o Estado de Israel irá prejudicá-lo”, acrescentou.

“Essa lei não era popular apenas em Israel – o fato de ela ser aprovada era considerado um simples fato”, disse Ori Goldberg, analista de Tel Aviv, à Al Jazeera.

“Era óbvio. Isto une Israel oficial e não oficial na sua completa indiferença à situação dos palestinos.”

Goldberg continuou, descrevendo as motivações subjacentes à legislação como mais sinistras do que aquilo que chamou de “ódio” ao movimento de colonos de Israel que procurava desapropriar e até matar palestinianos.

“Isso é muito pior”, disse ele, “isso é indiferença. Israel simplesmente não se importa com os palestinos.”

Falando do desafio do Knesset face aos apelos internacionais à contenção, Goldberg disse: “Demos um passo mais perto do objectivo final de Israel, alcançar total impunidade para tudo o que quiser fazer, quando quiser, livre de a comunidade internacional.”



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Ufac recepciona estudantes de licenciaturas que farão o Enade — Universidade Federal do Acre

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Ufac recepciona estudantes de licenciaturas que farão o Enade — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufac realizou, nesta sexta-feira, 24, no Teatro Universitário, a recepção aos alunos concluintes dos cursos de licenciatura que participarão do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), neste domingo, 26.
O evento teve como objetivo acolher e motivar os estudantes para a realização da prova, que tem grande importância para a formação docente e para a avaliação dos cursos de graduação. Ao todo, 530 alunos participarão do Enade Licenciaturas este ano, sendo 397 em Rio Branco e 133 em Cruzeiro do Sul.
Participam do Enade Licenciaturas os concluintes dos cursos de Física, Física EaD, Letras/Português, Letras/Inglês, História, Geografia, Ciências Biológicas, Química, Matemática, Matemática EaD, Pedagogia, Ciências Sociais, Filosofia e Educação Física.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, que representou a reitora Guida Aquino, destacou o papel da universidade pública na formação docente e o compromisso social que acompanha o exercício do magistério. “A missão de quem se forma nesta instituição vai além do diploma. É defender a educação pública, a democracia e os direitos humanos. Vocês representam o que há de melhor na educação acreana e brasileira. Cada um de vocês é parte da história e da luta da Ufac.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou o caráter formativo do exame e o compromisso da universidade com a qualidade da educação. “O Enade é mais do que uma prova. Ele representa uma etapa importante da trajetória de cada estudante que trilhou sua formação nesta universidade. É um momento de reflexão sobre o aprendizado, o esforço e o legado que cada um deixa para os próximos alunos.”
Ela reforçou que o desempenho dos estudantes é determinante para o conceito de cada curso e destacou a importância da participação responsável. “É fundamental que todos façam a prova com dedicação, levando o nome da Ufac com orgulho. Nós preparamos esse encontro para motivar, orientar, e entregar um kit com lanche, água, fruta e caneta, ajudando os alunos a se organizarem para o domingo.”
A pró-reitora lembrou ainda que a mesma ação está sendo realizada no campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, com o apoio da equipe da Prograd e dos coordenadores locais. “Lá, os alunos estão distribuídos em três escolas, e nossa equipe vai acompanhá-los no dia da prova, garantindo o mesmo acolhimento e suporte.”

O evento contou com apresentação cultural da cantora Luzienne Lucena e do Grupo Vibe, do projeto Pró-Cultura Estudantil, formado pelos acadêmicos Gabriel Daniel (Sistemas de Informação), Geovanna Maria (Teatro) e Lucas Santos (Música).
Também participaram da solenidade a diretora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Grace Gotelip; e os coordenadores de cursos de licenciatura: Francisca do Nascimento Pereira Filha (Pedagogia), Lucilene Almeida (Geografia) e Alcides Loureiro Santos (Química).

 



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Ufac promove ação de autocuidado para servidoras e terceirizadas — Universidade Federal do Acre

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Ufac promove ação de autocuidado para servidoras e terceirizadas — Universidade Federal do Acre

A Coordenadoria de Vigilância à Saúde do Servidor (CVSS) da Ufac realizou, nesta quinta-feira, 23, o evento “Cuidar de Si É um Ato de Amor”, em alusão à Campanha Outubro Rosa. A atividade ocorreu no Setor Médico Pericial e teve como público-alvo servidoras técnico-administrativas, docentes e trabalhadoras terceirizadas.

A ação buscou reforçar a importância do autocuidado e da atenção integral à saúde da mulher, indo além da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e do colo do útero. O objetivo foi promover um momento de acolhimento e bem-estar, integrando ações de valorização e promoção da saúde no ambiente de trabalho.

“O mês de outubro não deve ser apenas um momento de lembrar dos exames preventivos, mas também de refletir sobre o cuidado com a saúde como um todo”, disse a coordenadora da CVSS, Priscila Oliveira de Miranda. Ela ressaltou que muitas mulheres acabam se sobrecarregando com as demandas da casa, da família e do trabalho e acabam deixando o autocuidado em segundo plano.

Priscila também explicou que a iniciativa buscou proporcionar um espaço de pausa e acolhimento no ambiente de trabalho. “Nem sempre é fácil parar para se cuidar ou ter acesso a ações de relaxamento e promoção da saúde. Por isso, organizamos esse momento para que as servidoras possam respirar e se dedicar a si mesmas.” 

O setor mantém atividades contínuas, como consultas com clínico-geral, nutricionista e fonoaudióloga, além de grupos de caminhada e ações voltadas à saúde mental. “Essas iniciativas estão sempre disponíveis. É importante que as mulheres participem e mantenham o compromisso com o próprio bem-estar”, completou.

A programação contou com acolhimento, roda de conversa mediada pela assistente social Kayla Monique, lanche compartilhado e o momento “Cuidando de Si”, com acupuntura, auriculoterapia, reflexologia podal, ventosaterapia e orientações de cuidados com a pele. A ação teve parceria da Liga Acadêmica de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e da especialista em bem-estar Marciane Villeme.

 



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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufac realizou, nesta terça-feira, 21, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede, a abertura do Fórum Permanente da Graduação. O evento visa promover a reflexão e o diálogo sobre políticas e diretrizes que fortalecem o ensino de graduação na instituição.

Com o tema “O Compromisso Social da Universidade Pública: Desafios, Práticas e Perspectivas Transformadoras”, a programação reúne conferências, mesas temáticas e fóruns de discussão. A abertura contou com apresentação cultural do Trio Caribe, formado pelos músicos James, Nilton e Eullis, em parceria com a Fundação de Cultura Elias Mansour.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, representou a reitora Guida Aquino. Ele destacou o papel da universidade pública diante dos desafios orçamentários e institucionais. “Em 2025, conseguimos destinar R$ 10 milhões de emendas parlamentares para custeio, algo inédito em 61 anos de história.”

Para ele, a curricularização da extensão representa uma oportunidade de aproximar a formação acadêmica das demandas sociais. “A universidade pública tem potencial para ser uma plataforma de políticas públicas”, disse. “Precisamos formar jovens críticos, conscientes do território e dos problemas que enfrentamos.”
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou que o fórum reúne coordenadores e docentes dos cursos de bacharelado e licenciatura, incluindo representantes do campus de Cruzeiro do Sul. “O encontro trata de temáticas comuns aos cursos, como estágio supervisionado e curricularização da extensão. Queremos sair daqui com propostas de reformulação dos projetos de curso, alinhando a formação às expectativas e realidades dos nossos alunos.”
A conferência de abertura foi ministrada pelo professor Diêgo Madureira de Oliveira, da Universidade de Brasília, que abordou os desafios e as transformações da formação universitária diante das novas demandas sociais. Ao final do fórum, será elaborada uma carta de encaminhamentos à Prograd, que servirá de base para o planejamento acadêmico de 2026.
Também participaram da solenidade de abertura a diretora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Grace Gotelip; o diretor do CCSD, Carlos Frank Viga Ramos; e o vice-diretor do CMulti, do campus Floresta, Tiago Jorge.



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