NOSSAS REDES

MUNDO

Quando a ciência dialoga com saberes locais – 20/11/2024 – Ciência Fundamental

PUBLICADO

em

Ana Gualda

Uma crítica comum à academia é que as relações com as comunidades com que ela trabalha não são horizontais. Os pesquisadores chegam por lá, desenvolvem seus estudos e vão embora, sem dar um retorno a quem participou da pesquisa in loco. Logo cedo a zootecnista Zilda Souza se deu conta desse desequilíbrio, que ela passou a combater em sua própria trajetória. “Quando faço um trabalho na comunidade, eu aprendo. A gente faz uma troca e organiza tecnicamente as necessidades da comunidade. Mas são eles que sabem do que precisam, e são eles que têm as ferramentas”, ela diz.

Souza cresceu em Itaberaba, região da caatinga baiana, e já na graduação em zootecnia, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, começou a aplicar seus conhecimentos acadêmicos em trabalhos sociais e formativos na comunidade em que fica seu terreiro de Candomblé, no município de Cruz das Almas.

Na época, a região buscava o reconhecimento enquanto comunidade quilombola, e a cientista, mesmo sem saber muito sobre o processo, foi atrás de disciplinas que pudessem ajudá-la com estratégias para a demarcação do território. Munida de um GPS, foi aprendendo na prática, definindo os limites junto com a comunidade. Seus mapas foram fundamentais na delimitação do Quilombo da Baixa da Linha e em sua certificação como remanescente de quilombo, emitida pela Fundação Cultural Palmares em 2010.

Ainda pensando na realidade e nas necessidades do grupo, a cientista começou a pesquisar sobre produção de aves. Seu trabalho de conclusão de curso focou no balanço eletrolítico de rações: o intuito era descobrir como alimentar os frangos com uma ração saudável e equilibrada de modo a tornar a produção mais acessível para a alimentação e o uso da comunidade -por exemplo, nos ritos religiosos.

Na época, ela levava para casa as sobras da ração que balanceava -fazia uma mistura de ingredientes que atendia às necessidades nutricionais de forma adequada- na universidade e compartilhava com os produtores da região. Quando cursou o mestrado em ciência animal pela mesma universidade, seguiu pesquisando o frango de corte, isto é, destinado à alimentação e não à produção de ovos, e balanço eletrolítico com o objetivo de ajudar sua comunidade.

Daí ela não parou mais: estudou a alimentação das cabras -animais muito presentes no sertão-; como criá-las com qualidade e a preços acessíveis. Participou da criação do Centro Comunitário Luiz Orlando em Cachoeira –também no Recôncavo Baiano–, que promove o cinema e o rap na comunidade. Na pandemia, preocupada com a segurança alimentar, desenvolveu com o grupo o Comitê de Solidariedade Popular de Combate ao Covid-19, que implementou hortas comunitárias, evocando sua vivência de filha de agricultores. Tocou, ainda, um trabalho sobre ancestralidade com crianças negras de religiões de matriz africana que acabou virando o livro Crianças de Axé, produzido por e para elas, com o objetivo de salvaguardar a memória coletiva.

Hoje Souza colabora com o projeto Mukengi, do Instituto Mancala, na Bahia, que busca capacitar pesquisadores negros e indígenas a fazer pesquisas em C&T voltadas a suas comunidades. Pelo Mancala, atua como executora do projeto “Tecnologias sociais como instrumento de disseminação do conhecimento científico em saúde”.

O projeto é desenvolvido em parceria com a UFBA em Ilha de Maré, Lauro de Freitas e Pojuca –um quilombo, uma comunidade periférica e outra na zona rural, respectivamente– e leva tecnologias da universidade para esses espaços: por exemplo, cria hortas com os alunos e professores, fortalecendo os vínculos e reforçando a relação com a terra e a ideia de autonomia na produção do próprio alimento.

Zilda Souza -ela própria egressa da primeira edição do Mukengi- frisa: “Só trabalhei com aquilo que estava presente em minha vida. Se não fosse para mim, era para as pessoas ao redor”.

*

Ana Gualda é comunicadora e colaboradora do Instituto Serrapilheira.

O blog Ciência Fundamental é editado pelo Serrapilheira, um instituto privado, sem fins lucrativos, de apoio à ciência no Brasil. Inscreva-se na newsletter do Serrapilheira para acompanhar as novidades do instituto e do blog.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

MUNDO

Após racismo em shopping, estudantes fazem manifestação com dança em SP; vídeo

PUBLICADO

em

Esse cãozinho bastante ferido pediu socorro em uma delegacia no Recife (PE), com um chicote de moto no pescoço dele. Foi atendido na hora. Foto: PRF

Estudantes do Colégio Equipe, em São Paulo, fizeram uma manifestação contra um caso de racismo no Shopping Pátio Higienópolis. Com danças, músicas e jograis, eles pediram justiça contra o preconceito sofrido por dois adolescentes pretos. Racistas não passarão!

Isaque e Giovana, alunos da escola, foram abordados por um segurança enquanto esperavam na fila da praça de alimentação. Eles estavam acompanhados de uma colega branca, que foi abordada pela segurança e questionada se os amigos a “incomodavam”.

Nesta terça-feira (23), estudantes, professores, familiares e movimentos sociais tomaram as ruas da região próxima ao shopping. Ao som de Ilê Aiyê, música de Paulo Camafeu, as crianças deram um show e mostraram que o preconceito não tem vez!

Ato de resistência

A resposta ao caso de racismo veio uma semana depois. Com o apoio de diversos movimentos, os estudantes organizaram a manifestação potente e simbólica.

Eles caminharam pelas ruas e avenidas da região até o Shopping. Lá, leram um manifesto emocionado, que foi repetido em jogral.

Dentro e fora do estabelecimento, o recado foi bem claro: basta de racismo! “Abaixo o racismo! Justiça para Isaque e Giovana”, disse o Colégio Equipe em uma postagem nas redes.

Leia mais notícia boa

Histórico de discriminação

Não foi a primeira vez que estudantes pretos do Colégio Equipe enfrentaram preconceito no Pátio Higienópolis.

Em 2022, outro aluno foi seguido por um segurança dentro de uma loja.

A escola afirmou que tentou dialogar com o shopping na época, mas sem sucesso.

Desta vez, a resposta foi outra: “Ao final, convidamos a direção do shopping para uma reunião no Colégio Equipe. A advogada que recebeu os representantes se comprometeu a encaminhar e responder ao convite.”

Internet apoia

Postado na internet, o vídeo do protesto teve milhares de visualizações e recebeu apoio dos internautas.

“Parabéns escola! Parabéns alunos! Me emocionei aqui! Fiquei até com vontade de mudar meu filho de escola”, disse a ativista Luisa Mell.

Outro exaltou o exemplo de cidadania dos pequenos.

“Cidadania na prática! Que orgulho de toda a equipe e pais. Que orgulho desses alunos que foram solidários. Incrível!”.

O racismo tem que acabar!

Veja como foi a manifestação dos estudantes:

O recado foi certeiro: não passarão!

Uma verdadeira festa da democracia:



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Cai preço dos seguros dos carros mais vendidos no Brasil; Top 10

PUBLICADO

em

O garoto João, de 10 anos, fez um verdadeiro discurso de capitão emocionante para incentivar o time, que perdia partida de futebol em Aparecida de Goiás. - Foto: @caboverdetop/Instagra

Notícia boa para o consumidor. Enquanto tudo sobe, cai o preço dos seguros dos carros mais vendidos no Brasil. É o que revela um novo estudo divulgado esta semana.

Conduzida pela Agger, plataforma especializada no setor de seguros, a pesquisa mostrou que o custo médio para proteger os dez veículos com maior volume de vendas no país teve redução de 5,4%. Os dados foram analisados entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025.

Dentre os modelos avaliados, o Renault Kwid se destacou ao apresentar a maior diminuição no valor, com queda de 12,5%. A queda nos preços reflete uma série de fatores, desde o perfil dos condutores até as estratégias adotadas pelas seguradoras para se manterem competitivas.

Carros com maiores descontos

Entre os modelos analisados, vários apresentaram queda no valor das apólices. Veja os destaques:

  • Renault Kwid: queda de 12,5%
  • Volkswagen T-Cross: queda de 11,22%
  • Honda HR-V: queda de 8,29%
  • Fiat Argo: queda de 7,73%
  • Fiat Mobi: queda de 6,06%
  • Hyundai Creta: queda de 5,88%
  • Volkswagen Polo: queda de 1,27%
  • Chevrolet Onix: queda de 0,43%

Leia mais notícia boa

Impacto para motoristas

Para quem está pensando em contratar ou renovar o seguro, a notícia é animadora.

Com os valores mais baixos, fica mais fácil encontrar um plano acessível e que tenha boa cobertura.

Segundo Gabriel Ronacher, CEO da Agger, “é essencial que os motoristas busquem a orientação de corretores especializados para garantir a melhor cobertura e custo-benefício”, disse em entrevista à Tupi FM.

Impacto nos preços

De acordo com o estudo publicado pela Agger, quatro fatores explicam o motivo dos preços de um seguro.

O histórico do motorista é o principal. Quem não se envolve em acidentes tende a pagar menos.

A idade e o valor do carro também interferem. Veículos mais caros ou com peças difíceis de achar têm seguros mais altos.

Proprietários que moram em regiões com mais roubos ou colisões também tendem a pagar mais.

Por último, o perfil do consumidor, como idade, gênero e até mesmo hábitos de direção.

O Renault Kwid teve uma redução de mais de 12% no preço do seguro. - Foto: Divulgação O Renault Kwid teve uma redução de mais de 12% no preço do seguro. – Foto: Divulgação



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Estudantes de Medicina terão de fazer nova prova tipo “Exame da OAB”; entenda

PUBLICADO

em

O garoto João, de 10 anos, fez um verdadeiro discurso de capitão emocionante para incentivar o time, que perdia partida de futebol em Aparecida de Goiás. - Foto: @caboverdetop/Instagra

A partir de agora, é como com os bacharéis de Direito: se formou, será submetido a uma avaliação específica para verificar os  conhecimentos. Os estudantes de medicina terão de obrigatoriamente fazer uma prova, no último ano do curso, tipo exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

O exame já será aplicado, em outubro de 2025, e mais de 42 mil alunos devem ser avaliados. Será um exame nacional e anual. Porém, diferentemente do que ocorre no Direito, o resultado não será uma exigência para o exercício da profissão. O Ministério da Educação (MEC) lançou o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) para avaliar a formação dos profissionais no país.

Para os ministros Camilo Santana (Educação) e Alexandre Padilha (Saúde), o exame vai elevar a qualidade da formação dos médicos no Brasil, assim como reforçar a humanização no tratamento dos pacientes.

Como vai funcionar

A nota poderá servir como meio de ingresso em programas de residência médica de acesso direto. A prova será anual. O exame vai verificar se os estudantes adquiriram as competências e habilidades exigidas para o exercício prático e efetivo da profissão.

Também há a expectativa de que, a partir dos resultados, seja possível aperfeiçoar os cursos já existentes, elevando a qualidade oferecida no país. Outra meta é unificar a avaliação para o ingresso na residência médica.

Há, ainda, a previsão de preparar os futuros médicos para o atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde). Os médicos já formados, que tiverem interesse, poderão participar do processo seletivo de programas de residência médica de acesso direto.

Leia mais notícia boa

O que os resultados vão mudar

Os resultados poderão ser utilizados para acesso a programas de residência médica. Caberá ao estudante decidir se quer que a nota seja aplicada para a escolha do local onde fará residência.

A estimativa é de que 42 mil estudantes, no último ano do curso de Medicina, façam o exame. No total são 300 cursos no país, com aplicação das provas em 200 municípios.

O exame será conduzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em colaboração com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Segundo as autoridades, a ideia é unificar as matrizes de referência e os instrumentos de avaliação no âmbito do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) para os cursos e a prova objetiva de acesso direto do Exame Nacional de Residência (Enare).

Como fazer as inscrições

Os interessados deverão se inscrever a partir de julho. O exame é obrigatório para todos os estudantes concluintes de cursos de graduação em Medicina.

A aplicação da prova está prevista para outubro e a divulgação dos resultados individuais para dezembro.

Para utilizar os resultados do Enamed para o Exame Nacional de Residência, é necessário se inscrever no Enare e pagar uma taxa de inscrição (exceto casos de isenção previstos em edital).

Os estudantes que farão o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes e que não pretendem utilizar os resultados da prova para ingressar na residência, pelo Enare, estarão isentos de taxa, segundo o MEC.

O exame será aplicado, em outubro de 2025, e cerca de 42 mil estudantes devem fazer a prova. Foto: Agência Brasil O exame será aplicado, em outubro de 2025, e cerca de 42 mil estudantes devem fazer a prova. Foto: Agência Brasil



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MAIS LIDAS