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Relações de respeito e valorização mútua enriquecem as culturas – 31/10/2024 – Djamila Ribeiro

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Tenho tido semanas de muitos encontros em Nova York. Estou na cidade desde agosto para lecionar pelo semestre na New York University (NYU). Durante este outono, ocupo a cátedra Andrés Bello como professora convidada e tenho orçamento e equipe para organizar eventos. É uma experiência inédita para mim e uma oportunidade de construir pontes que promovam uma troca cultural mais justa, como diz Conceição Evaristo.

Com essa verba da NYU, organizo alguns eventos e tenho essa oportunidade. O primeiro evento organizado foi com Ibram X. Kendi, sobre o qual já escrevi nesta Folha. O segundo foi a mesa em português com as pensadoras, ativistas e gestoras Selma Dealdina e Alessandra Devulsky.

Dealdina organizou uma das mais importantes obras literárias por mulheres quilombolas do país e há muitos anos é articuladora política das comunidades rurais quilombolas.

Já Devulsky é acadêmica da Universidade de Montreal e é autora da obra “Colorismo”, pela coleção Feminismos Plurais. Recentemente, Devulsky foi escolhida por unanimidade para representar o Brasil no Comitê Consultivo do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra.

Tem um Brasil que nos enche de orgulho. Entre tantas alegrias dessa segunda noite, uma talvez pareça trivial para muitos, mas para mim é cada vez mais essencial: fiquei feliz em ver a audiência usufruindo de traduções simultâneas para ouvir em um idioma que não é o inglês. Esse gesto de solidariedade e disposição para aprender é raro, especialmente diante das relações assimétricas entre potências globais.

O terceiro momento significativo que vivenciei nessa cátedra foi com a filósofa panamenha Linda Alcoff, referência em meus estudos, que reflete sobre o quanto todas as áreas do saber ganham ao pluralizar as origens geográficas das fontes de trabalho. Celebro a NYU, em especial a professora Jordana Meldenson, por embarcar nessa iniciativa inspiradora que promove o movimento inverso rumo a uma equidade epistêmica.

Esse intercâmbio cultural mostra como a troca de saberes enriquece a todos. A reflexão que integra visões de lugares distintos, mas tratados com equidade, tem o potencial de avançar sobre dilemas contemporâneos, pois amplia a diversidade das perguntas que fazemos e os horizontes de respostas.

A exposição “Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil” exemplifica essa união e reforça que relações baseadas em respeito e valorização mútua enriquecem ambas as culturas. É uma oportunidade única de fortalecer laços e celebrar a ancestralidade e a criatividade da diáspora africana.

A exposição estreou em 29 de outubro e segue até 26 de janeiro, no Museu de Arte Brasileira da Faap, com mais de 130 obras de 74 artistas cujas trajetórias, embora em diferentes hemisférios, se entrelaçam desde tempos ancestrais.

Esse entendimento crescente da importância das trocas culturais só tende a se expandir. A artista visual e historiadora da arte brasileira Ana Beatriz Almeida assina a curadoria, junto com Lauren Haynes, curadora de várias mostras de impacto nos Estados Unidos.

Segundo Almeida, “nós nos deixamos guiar pelos grupos e comunidades da diáspora africana que reimaginaram o conceito de servidão nessas nações coloniais para as quais foram trazidas, contribuindo de maneira significativa para a construção da identidade nacional desses lugares. A partir da ideia de seres humanos que reinventam sua existência em um ambiente hostil, selecionamos artistas que evocam essa invenção, essa transformação e esse processo de ‘tornar-se’ como uma poderosa ferramenta, poética e estética”.

O intercâmbio da cultura negra entre Brasil e Estados Unidos é um terreno fértil para o diálogo sobre resistência, identidade e direitos civis, dados os paralelos históricos de opressão pelo sistema de escravidão e a desigualdade racial que se seguiu e as histórias compartilhadas de resistência e transformação que informam as culturas das duas nações.

Não vejo a hora de visitar. Parabenizo o diretor artístico da mostra, Marcello Dantas, por mais esse trabalho e pelo seu dedicado esforço nos museus brasileiros. Conhecemo-nos há alguns anos, quando ele me convidou para discutir o Museu de Vassouras, no vale do Café, uma região do Rio de Janeiro marcada pela rica população negra. Com inauguração prevista para 2025, esse museu, que encerra um longo ciclo de pesquisa e trabalho, será tema de uma futura coluna.

Após a passagem por São Paulo, a exposição vai seguir no Brasil, passando pelos CCBB do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e de Brasília e pelo Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador, como parte das comemorações dos 200 anos de relações entre os dois países, relação essa cada vez mais aproximada pelas experiências em comum vividas pelos grupos raciais negros de cada nação.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis.


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MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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MUNDO

Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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