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‘Roupas importam’, diz Gay Talese – 21/01/2025 – Ilustrada

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5 meses atrásem
Sadie Stein
“Nova York é uma cidade de coisas despercebidas”, começa o ensaio que abre “A Town Without Time” (uma cidade sem tempo, em tradução livre), uma nova coleção dos escritos de Gay Talese sobre Nova York. Talese então procede a listar, com uma economia enganosa, as coisas que ele notou: vendedores de castanhas, pombos, porteiros, meninos de recados, formigas.
Ao longo de mais de seis décadas, Talese fez de sua missão não perder muito. Seja seu tema um ícone (“Frank Sinatra Está Resfriado”), um monumento (sua narrativa cinematográfica sobre a construção da Ponte Verrazzano-Narrows), o trágico ou o felino, ele sempre observou com o mesmo entusiasmo novelístico e olhar perspicaz. E, claro, ele sempre notou o que todos vestiam.
“Quando descrevo pessoas, descrevo a aparência delas”, disse Talese. “Roupas importam —especialmente quando você envelhece.”
De fato, caminhar por uma sala lotada com Talese, de 92 anos, é ser abordado por homens querendo falar sobre ternos. Em uma recente festa de fim de ano repleta de escritores, políticos e formadores de opinião, Talese, vestindo um terno cinza de lã de três peças com uma gravata de seda amarela com listras azuis, foi parado a cada poucos passos por nomes de destaque (e pelo menos um jornalista) ansiosos para discutir os pontos mais finos da alfaiataria masculina. Um jovem romancista perguntou quanto custaria um padrão sob medida em 1980.
“Três mil”, disse Talese, embora a maioria dos “50 ou 60” ternos feitos à mão em sua coleção datem dos anos 1950.
Ao longo dos anos, os ternos serviram como uma espécie de armadura: “Eu me escondia atrás das roupas”, disse Talese. Eles também foram uma propaganda. Desde os 11 anos, quando seu pai —”o James Salter dos alfaiates”— o vestiu como “uma espécie de pequeno outdoor”, usar um terno “me deu uma sensação de separação.”
Essa sensação de se esconder à vista de todos —de curar uma espécie de anonimato flamboyant— permeia “A Town Without Time”. É tentador ver Talese como um avatar de uma cidade desaparecida, em tons de sépia. Na verdade, ele sempre foi um anacronismo orgulhoso, um menino de recados de chapéu e, mesmo nos anos Gonzo de 1960 e 1970, alguém que, ele disse, nunca teve um par de jeans.
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Ele defende sua decisão. Hoje, ele e sua esposa, a editora aposentada Nan Talese, de 92 anos, vivem ao lado de um prédio médico de 16 andares. Ele vê carros pararem e pessoas saírem para ver um médico, e estão vestidos “terrivelmente, de jeans, tênis, jaquetas corta-vento”, disse ele. Se eles apenas se vestissem melhor, se sentiriam melhor, ele está convencido. “Olhe no espelho, você se sentiria melhor”, disse ele. “Você não precisaria passar tanto tempo nos consultórios médicos.”
Embora agora ele caminhe com a ajuda de uma elegante bengala italiana e tenha trocado seis noites por semana nos pontos quentes da cidade por uma vida principalmente no brownstone de Midtown onde vive desde 1957, Talese sente que sua Nova York está tão vibrante como sempre.
Como o título do seu livro sugere, você não está de luto por uma Nova York antiga. Há algo que você sente falta?
Elaine’s. Sinto falta daquele lugar. Porque hoje, a cidade dorme. P.J. Clarke’s fica aberto até tarde, mas nem sempre quero um hambúrguer. Pessoas, claro; sinto falta de George Plimpton.
Mas realmente, este bairro não mudou tanto. Conheço pessoas neste bairro, a farmácia, o alfaiate. Conheço a loja de ferragens. Como não tenho um zelador ou porteiro, alguns dos zeladores dos prédios vizinhos me ajudam. É realmente uma cidade pequena, pelo menos nesta área.
É interessante falar em termos de adições, em vez de perdas. Você diria que é um otimista?
Aos 92 anos, ter um livro lançado, e um que envolve tanto trabalho de campo… Sou uma pessoa muito grata por meu corpo e mente terem se mantido firmes.
Nada mudou. Eu apareço, falo com as pessoas, vejo seus rostos. Que vida edificante.
Você tem uma história favorita de Nova York?
Nunca ganhei prêmios como o Pulitzer, ou algo assim. Mas uma coisa de que me orgulho é minha peça sobre a Verrazzano. Quando eu estiver morto há muito tempo, alguém daqui a 35 anos vai querer saber algo sobre aquela ponte. Eu fui um cronista dos anônimos que colocaram as chaves e os parafusos. Para mim, isso foi uma grande conquista.
Costumávamos atravessar a ponte, com o capô abaixado, e aquela era “a ponte do papai”. Minhas filhas Catherine e Pamela achavam que eu era dono daquela ponte. Não contei a elas que não era por muito tempo.
Você é um jornalista por formação —um artigo sobre seus primeiros dias no The New York Times está incluído aqui— mas você diz que tira sua principal inspiração como escritor da ficção.
O que eu queria fazer era pegar a forma de conto que eu tinha em mente desde o tempo do ensino médio: Robert Penn Warren, Ernest Hemingway, D.H. Lawrence, William Faulkner, Carson McCullers, Joseph Conrad, Seymour Krim. Mary McCarthy era uma das minhas favoritas. Eu queria ser um escritor de não-ficção de contos. Não mudei meu modo de trabalhar ou pesquisar em 67 anos de escrita publicada. Sou um guardião de registros.
E você tem um arquivo famoso por ser completo.
Sim. Eu registro tudo. E, claro, minhas cartas —mas cartas não são para ser acreditadas. O que escrevi nessas cartas nem sempre é verdade.
Escrevi terrivelmente sobre meu casamento. Não posso voltar atrás. Vou manter isso lá. Mas não é verdade.
Estou quase com 93 anos. Minha esposa tem 92. Não quero deixá-la sozinha agora, mas houve momentos há 10 anos em que eu não queria estar com ela. Como você pode ser honesto? O que é honestidade?
Um tema recorrente em seus escritos sobre Nova York é o beisebol.
Quando eu era criança em Ocean City, Nova Jersey, em 1944, os Yankees de Nova York vieram para Atlantic City para o treinamento de primavera porque durante a guerra, você não podia usar gasolina para viajar mais longe.
E então os escritores esportivos vieram. Você sabe, havia sete jornais naquela época. O New York Times tinha um cara surdo chamado John Drebinger, ele tinha grandes aparelhos auditivos, não ouvia nada, mas conhecia Babe Ruth. Eu estava tão encantado com os grandes escribas que viajavam com um time. Deus, que trabalho, que trabalho.
Nova York veio para Atlantic City. Eu vi Nova York na personificação do time, e me tornei um escritor esportivo. Foi meu primeiro emprego.
E seu primeiro emprego em Nova York foi como menino de recados?
Sim. E quando eu estava no The New York Times em 1953 como menino de recados, os homens ainda usavam ternos e jaquetas e gravatas e às vezes chapéus. Especialmente muitos dos correspondentes da Segunda Guerra Mundial nos últimos anos de suas carreiras. Aqueles caras que tinham sido chefes de escritório em Paris ou Roma ou Londres estavam muito, muito bem vestidos, com alfaiates estrangeiros.
Bem, isso mudou!
Os homens não se vestem mais bem em Nova York. Você vai a um bom restaurante e as mulheres estão ótimas. Os homens se vestem terrivelmente.
Você se mudaria algum dia?
Não consigo me lembrar de um dia infeliz na cidade de Nova York. Não consigo imaginar sair daqui.
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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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1 mês atrásem
26 de maio de 2025
Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.
Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.
Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.
Amor e semente
Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.
Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.
E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.
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Cantos de agradecimento
E a recompensa vem em forma de asas e cantos.
Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.
O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.
Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?
Liberdade e confiança
O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.
Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.
“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.
Internautas apaixonados
O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.
Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.
“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.
“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.
Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:
Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok
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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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1 mês atrásem
26 de maio de 2025
O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.
No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.
“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.
Ideia improvável
Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.
“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.
O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.
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A ideia
Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.
Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.
E o melhor aconteceu.
A recuperação
Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.
Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.
À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.
Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.
“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.
Cavalos que curam
Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.
Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.
Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.
“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”
A gente aqui ama cavalos. E você?
A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News
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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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1 mês atrásem
26 de maio de 2025
Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.
O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.
O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.
Da tranquilidade ao pesadelo
Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.
Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.
A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.
Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.
Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.
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Caminho errado
Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.
“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.
Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.
Caiu na neve
Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.
Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.
Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.
“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”
Luz no fim do túnel
Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.
De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.
“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.
A gentileza dos policiais
Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.
“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.
Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!
Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:
Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni
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