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Vinho velho é sempre melhor do que o novo? – 17/11/2024 – Tinto ou Branco

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Tânia Nogueira

Adoro vinhos velhos. Gosto da cor granada, um vermelho já amarronzado, dos aromas de terra e couro, da sensação dos taninos amaciados pelo tempo. Gosto de pensar na história da garrafa, de lembrar como eram o mundo e minha vida no ano em que eles foram produzidos. Amo. Então, claro, fiquei super feliz ao ser convidada para participar de uma pesquisa sobre a capacidade de guarda dos vinhos argentinos, realizada pelo Catena Institute of Wine em colaboração com a University of California Davis (ou UC Davis).

O fato de serem vinhos da Bodega Catena Zapata acrescentou uns pontos a mais para a minha felicidade. Com sorte, eu conseguiria provar alguma garrafa feita antes de Nicolás Catena, considerado por muitos como o inventor do vinho argentino como ele é hoje. Em 2013, fiz uma entrevista longa com Nicolás e perguntei para ele se os vinhos argentinos eram realmente piores antes de ele lançar o seu primeiro malbec varietal com o enólogo americano Paul Hobbs em 1994.

Catena, é claro, o homem fino que é, disse que não, que era um estilo diferente. Não iria menosprezar o trabalho de seu pai e de tantos antes dele. Para mim, no entanto, sempre restou a dúvida. Em 1994, eu já era bastante adulta e antes disso tinha tomado muitos Don Valentin, um tinto argentino considerado muito bom nos anos 1980, especialmente o lacrado. Eu gostava muito, mas isso não quer dizer nada. Nessa época, eu gostava também de Concha y Toro Reservado e Mateus Rosé. Como seria de fato o vinho argentino do período a.C (antes de Catena), como diz Ciro Lila, o dono da importadora Mistral que traz os vinhos da Catena para o Brasil?

“É uma degustação técnica”, me informou a Cláudia, que cuida da comunicação da Mistral. Contou que seríamos 20 especialistas, escolhidos por nosso conhecimento técnico (fiquei toda orgulhosa!), a degustar às cegas tintos e brancos de diferentes idades para dar nosso parecer. A pesquisa está sendo reproduzida em algumas cidades do mundo e tem por objetivo, além de avaliar a capacidade de envelhecer bem dos vinhos argentinos, entender os descritores de vinhos envelhecidos, que palavras usamos para nos referir a suas características.

Que responsabilidade! A UC Davis é a principal escola de vitivinicultura dos Estados Unidos e o Catena Institute, uma instituição privada de bastante prestígio, fundada por Laura Catena, a filha de Nicolás Catena que hoje compartilha com ele a direção do grupo. Será que eu poderia ajudar de alguma forma?

Realmente, a degustação foi bastante técnica. Nada de social como costumam ser as degustações que frequento. Fiquei isolada num apartamento do hotel Tivoli da Alameda Santos e tive 40 minutos cronometrados para julgar 14 amostras de vinhos. Não tive nenhuma informação sobre os vinhos que estavam nas taças. Via apenas que eram quatro brancos e 10 tintos.

Em um tablet, tive de responder três perguntas sobre cada um deles. A primeira pedia que dissesse o quanto gostei do vinho numa escala que ia de “detestei” até “achei excelente”. A segunda, que avaliasse se aquele vinho estava no seu auge, se já tinha passado ou de quanto tempo ele precisava para chegar no seu melhor momento. E terceira pedia que descrevesse brevemente o vinho.

Amei o primeiro branco, um vinho evidentemente envelhecido, com aromas de frutas secas, brioche. Gostei bastante de vários tintos. Não gostei muito dos últimos brancos. Teve apenas um tinto que não gostei. Achei bastante amargo, com muito aroma de pimentão verde, gosto e cheiro de remédio, de ervas maceradas, taninos muito rudes. Um outro, eu achei que já estava passado, mas dava para ver que tinha sido um bom vinho. Confesso, no entanto, que não me preocupei em anotar o que achei de cada amostra para depois, quando ficasse e sabendo o que era o que, conferir. Estava focada em cumprir o tempo.

Quando terminei, veio a social. Fui levada ao restaurante do hotel, onde pude ver as garrafas e voltar a provar delas. Não, não havia nenhum vinho do período a.C., mas quase. Havia uma garrafa de Catena Cabernet Sauvignon Reserve 1990, um vinho do início da era d.C., já que Nicolás assumiu a bodega em 1985, após a morte do pai. Era o vinho do qual eu não tinha gostado, aquele de taninos rudes. Claro, com isso, não dá para ter certeza de que todo vinho argentino era pior antes de Catena, mas é um indício.

Descobri que provamos também aquele primeiro varietal de malbec de 1994, do qual Nicolás tinha me falado em 2013. Adorei saber, embora tenha achado que o vinho já tinha passado do seu auge, que não tinha mais aroma de frutas, só couro, cogumelo e ervas maceradas. Na boca, no entanto, era agradável. Sem amargor. Taninos bastante redondos, como são na maioria os malbecs argentinos da era d.C..

Um dos tintos de que mais gostei foi o Adrianna Vineyard River Stones Malbec 2012. Para mim, é um ótimo exemplo de um vinho no seu auge, mas que ainda deve durar um bom tempo. Já tem aroma de couro, tabaco, mas ainda está cheio de frutas vermelhas e escuras. O pior é que não lembro se falei tudo isso na descrição que fiz no tablet.

Disso tudo, tirei algumas conclusões nada científicas. Primeiro, de fato, amo vinhos muito velhos, mas o prazer pela história talvez seja maior do que o prazer sensorial. Segundo, os sinais da idade de um vinho não são absolutos. Podem variar muito. O terceiro branco, por exemplo, que achei que era bastante velho, tinha 10 anos. Por último, mas não menos importante, comprovou-se algo triste: eu gosto de vinhos caros, hahahaha. As safras atuais do Adrianna Vineyard, meu preferido, custam mais de 2 mil reais. Imagine o de 2012!



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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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