NOSSAS REDES

BOM EXEMPLO

Aos 18 anos, filha de zelador comemora aprovação em medicina na Ufac: ‘esperança de um futuro melhor’

PUBLICADO

em

Zelador aposentado disse que sempre incentivou a filha a estudar. Thainá começou medicina nesta segunda-feira (16).

Capa: Aos 18 anos, filha de zelador comemora aprovação em medicina na Ufac: ‘esperança de um futuro melhor’ — Foto: Arquivo pessoal.

Para quem começou a trabalhar aos 8 anos de idade na roça e estudou apenas quatro anos na escola, como é o caso do Raimundo Carrilho, de 77 anos, ter uma filha na Universidade Federal do Acre (Ufac) é motivo de orgulho e emoção. Mesmo não tendo acesso aos estudos, ele sempre teve consciência de que a educação mudaria a vida da filha. E agora, no último dia 9, vibrou com o primeiro dia de aula de Thainá Barros, de 18 anos, no curso de medicina. Animado, diz que a filha vai ser doutora.

Deixo de comprar coisa pra mim pra comprar pra ela, pro estudo dela não sonego nada”, conta o idoso.

De família humilde, Carrilho precisou ir pra roça aos 8 anos de idade ajudar os pais. Já adolescente chegou em Rio Branco, onde trabalhou como zelador do Mercado do bairro Seis de Agosto até se aposentar. Pai de cinco filhos, escolheu também criar Thainá, que na verdade é neta. Porém, trata ele e a mulher, Raimunda de Araújo, como pais.

Apesar de não ter tido tantas oportunidade, fez de tudo para que a filha tivesse todas. Mesmo em meio às dificuldades, sendo o único a ter renda na casa, ele sempre apostou nos estudos de Thainá. E a gente começa pela história de Carrilho, porque é dela que parte a conquista de Thainá.

‘Sempre fiz as vontades dela com estudos’

Sobre a filha, ele a define como determinada e conta que ela sempre foi muito voltada aos estudos. “É uma menina que nunca fui na escola ser repreendido por nada, nunca recebi uma pequena reclamação. Lembro que ela gostava de ler, então eu pegava livros na escola e assinava o termo de compromisso”, conta.

Thainá sempre estudou em escola pública. Nos primeiros anos estudou em uma escola do bairro onde mora, depois, por indicação de uma amiga da família, foi para o Colégio Acreano e de lá ela conseguiu ingressar no Instituto Federal do Acre (Ifac).

Ao receber a notícia de que a filha seria estudante de medicina, ele disse que se emocionou e comemorou a notícia. “Quando ela chegou dizendo que ia fazer medicina, fiquei muito alegre. Seja o que Deus quiser, quero que ela se forme. Sempre fiz as vontades dela com estudos. Uma vez queria um livro, fiz esforço para comprar, na época era R$ 65. Sempre quis incentivar e assim fui levando com a ajuda de Deus”, conta.

Ele espera que a filha consiga se formar em medicina e reforça que não se arrepende de ter ajudado em tudo que pôde. “Do dinheiro que ganho, deixo de comprar coisa pra mim pra comprar pra ela, pro estudo dela, não sonego, se eu tiver dinheiro eu dou, o que posso fazer por ela eu faço. Tenho fé que ela vai conseguir se formar”, diz.

Thainá ao lado dos avós, que tem como pais — Foto: Arquivo pessoal

Thainá ao lado dos avós, que tem como pais — Foto: Arquivo pessoal

Rotina

Thainá Barros conta que fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado. Ao se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu 2023.1), ela passou em direito e chegou a fazer um período do curso. Porém, já na segunda edição do Sisu ela entrou em medicina na terceira chamada.

Então ela trancou direito e começou medicina na segunda-feira (9). “A minha avó é dona de casa e meu avô foi zelador, mas hoje é aposentado. Quando entrei no ensino médio foi em 2020, então junto veio a pandemia e fiquei dois anos estudando on-line e já queria fazer o curso de medicina, mas sabia que ia ser um curso difícil. Os cursinhos chegam a ser R$ 2 mil por mês e não teria como pagar esse valor”, relembra.

Em 2021, no segundo ano do ensino médio, Thainá começou a estudar pelo Med Aprova, um curso gratuito dos alunos de medicina da Ufac.

“Fiz um cursinho durante o segundo ano do ensino médio, como era na pandemia, era on-line, então eu tinha como ter acesso. Fiz o Enem como treineira, já no 3º ano do Ensino Médio, como era oficial, e não tinha como continuar no Med Aprova, o meu namorado e eu dividimos um cursinho on-line, então estudei on-line mesmo.”

Thainá tinha uma rotina puxada de estudos. Ela saía de casa às 5h40, pegava o primeiro ônibus para ir para o Ifac e à tarde trabalhava em um projeto de extensão. Mesmo com os desafios, ela sempre dava um jeito de estudar nas folgas que tinha durante o dia e aproveitava a estrutura da escola para se preparar.

“Ia pro Ifac, que a aula começava às 7h, tinha meu horário de aula normal e durante o período da tarde fui bolsista em um projeto de extensão que é dentro do Ifac, que dão oportunidade para os alunos trabalharem alguns segmentos como bolsistas para terem uma renda. Durante o período da tarde para esse projeto de extensão, eu tinha aula, almoçava rapidinho, chegava mais cedo e começa a estudar os conteúdo, acabava aula, ia almoçar e já ia para o local, que tinha computadores e era um ambiente que eu conseguia estudar e estudava na hora do almoço. Quando acabava meu expediente voltava para os estudos e ficava até mais tarde”, conta.

Thainá começou medicina na segunda-feira (9) — Foto: Arquivo pessoal

Thainá começou medicina na segunda-feira (9) — Foto: Arquivo pessoal

‘Estudo era um caminho’

A estudante lembrou que é de uma família muito humilde e que desde pequena se encantou com a medicina ao precisar de tratamento médicos constantes e sempre estar em unidades de saúde.

“Desde criança observava os médicos e era um ambiente que não me assustava, conforme fui crescendo, vi que era uma profissão que podia melhorar a condição da minha família, que é bastante humilde e foi isso que foi me dando forças para conseguir minha vaga e conseguir fazer medicina.”

A jovem disse que já tinha conseguido um estágio em direito, que estava tudo certo para começar, mas foi chamada para medicina e não pensou duas vezes. Ao chegar em casa, ela contou aos avós.

“Quando cheguei em casa contei pro meu pai, ele ficou muito emocionado, foi bem emocionante, porque eles não têm o ensino completo, então sabiam que o estudo para mim era um caminho e assim vou prosseguir. Foi muito gratificante”, contou.

Postagem de Thainá relembra trajetória até chegar a Ufac — Foto: Reprodução/Instagram

Postagem de Thainá relembra trajetória até chegar a Ufac — Foto: Reprodução/Instagram

Porto seguro

Para o futuro, ela pretende terminar o curso e se tornar médica. Thainá diz que tem consciência de que o caminho não será fácil, mas que vai conseguir.

“É um curso integral, precisa ter boas condições para se manter o dia todo na universidade, a carga horária é muito puxada, então se dedica bastante para aquilo. Pra mim que, além de estudar, cuido dos meu avós é massivamente exaustivo, mas espero concluir o curso, não desistir e também espero me formar daqui 6 anos, sei que é difícil, mas que é possível, porque passei pelo mais difícil que foi a aprovação.”

Em uma postagem feita em seu perfil no Instagram, Thainá relembrou sua trajetória e disse que tirava forças sempre pensando na família.

“Minha família foi meu porto seguro, por eles não desisti, tirava forças para continuar e plantar por meio dos estudos uma esperança de um futuro melhor para aqueles que eu amo, em especial os meus avós, minha mãe e meus irmãos. Apesar dos dias de luta, chegaram os dias de glória, consegui ser aprovada no curso de direito e medicina na Universidade Federal do Acre, e estou pronta para iniciar mais um passo na minha trajetória, construindo uma vida pela qual irei me orgulhar, sei que seis longos anos estão por vir e quero me tornar médica não apenas das doenças, mas sim da alma, proporcionando o bem estar do meu próximo com amor pela vida.

Advertisement
Comentários

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

ACRE

MPAC e Polícia Militar cumprem mandados judiciais contra investigados por ameaça a desembargador

PUBLICADO

em

O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e Promotoria Criminal de Feijó, em conjunto com a Polícia Militar do Acre (PMAC), deflagrou nesta quarta-feira, 17, a “Operação Algar”, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra dois investigados no município de Feijó.

A operação faz parte do procedimento de investigação criminal instaurado pelo MPAC para apurar a prática do crime de ameaça perpetrado contra um desembargador do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC). Durante as buscas, foram apreendidas duas armas de fogo além de celulares e mídias.



Conforme informações contidas nos autos, a ameaça ocorreu em decorrência da atividade jurisdicional do desembargador no julgamento que gerou a inelegibilidade de um ex-prefeito do município.

Considerando a necessidade de aprofundar as investigações, especialmente na identificação de possíveis coautores da ameaça, o MPAC solicitou o afastamento da garantia à inviolabilidade da intimidade e do domicílio, conseguindo a expedição do mandado de busca e apreensão, com autorização para acessar dispositivos eletrônicos móveis, bem como a suspensão da posse e porte de arma dos investigados, apontados como o autor direto e mandante da ameaça, e seu irmão, apontado como possível executor.

O nome da Operação Algar faz referência ao sinônimo da palavra “cova”, pois no contexto da ameaça, foi mencionado que o desembargador seria levado “para o buraco”.

Continue lendo

ACRE

Marinha já realizou cerca de 11 mil procedimentos de saúde em comunidades isoladas da Amazônia durante a Operação Acre 2024

PUBLICADO

em

Iniciada pela Marinha do Brasil no dia 10 de janeiro, a 24ª edição da “Operação Acre” já contabiliza cerca de 11 mil procedimentos de saúde realizados em comunidades isoladas do Amazonas e do Acre, localizadas às margens do rio Juruá, na Amazônia Ocidental. Atualmente, o Navio de Assistência Hospitalar (NASH) “Doutor Montenegro”, subordinado ao Comando da Flotilha do Amazonas, encontra-se no município de Cruzeiro do Sul (AC).

Nos dias 02 e 05 de fevereiro, os atendimentos foram realizados no Bairro da Várzea, e até o dia 08, a equipe de saúde do navio atenderá os moradores do Bairro da Liberdade. As localidades foram definidas de forma estratégica durante reunião de coordenação com representantes da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (SESACRE) e as Secretarias Municipais de Saúde de Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves.



O Comandante do NASH “Doutor Montenegro”, Capitão de Corveta Ewerton Andrade de Souza, também se reuniu com representantes do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) para mapear e definir quais comunidades indígenas serão atendidas durante a Operação Acre deste ano, ao longo dos 127 dias de viagem. O navio também passará por comunidades no entorno dos municípios de Marechal Thaumaturgo, Porto Valter, Mâncio Lima e Rodrigues Alves, no Estado do Acre.

Durante a Operação Acre, são ofertados à população indígena e ribeirinha atendimentos médicos, odontológicos e de enfermagem, além de serviços como aferição de pressão arterial, exame de glicemia, testes rápidos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e dispensação de medicamentos. O navio também realiza cirurgias de pequeno porte, exames de mamografia e raio-X, e palestras educativas sobre higiene bucal.

A tripulação do NASH “Doutor Montenegro” é composta por 87 militares, sendo 26 da equipe de saúde com cinco médicos, quatro cirurgiões-dentistas, dois farmacêuticos bioquímicos, dois enfermeiros, oito técnicos em enfermagem, dois técnicos em radiologia médica, dois técnicos em higiene dental e um técnico laboratorial. O navio é subordinado ao Comando do 9º Distrito Naval e opera a partir do convênio entre o Estado, a Força Naval e o Ministério da Saúde.

Continue lendo

ACRE

FOTOS: Estudantes do Juruá, autores de melhores redações, são premiados no projeto Cidadania e Justiça na Escola

PUBLICADO

em

Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) premiou estudantes de três escolas, uma de Cruzeiro do Sul, outra em Mâncio Lima e a terceira em Rodrigues Alves

A Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) premiou, nesta segunda-feira, 27, estudantes de três unidades escolares, autores das melhores redações sobre cidadania. A atividade faz parte do encerramento do projeto Cidadania e Justiça na Escola, realizado pelo Poder Judiciário acreano, na região do Juruá.



Foram premiados estudardes da Escola São José, em Cruzeiro do Sul; da Escola Padre Edson, em Mâncio Lima; e da Escola Pedro de Melo Correia, de Rodrigues Alves.

Antes de anunciar os vencedores, a coordenadora da Infância e Juventude do TJAC, desembargadora Waldirene Cordeiro, salientou sobre a missão do Poder Judiciário do Acre em levar essas ações às escolas.

“Com esse conhecimento que o judiciário proporciona, os alunos poderão ser multiplicadores e compartilhar as informações no âmbito social, com amigos e familiares”, defendeu.

Em cada escola que ela visitou para registrar os ganhadores, interagiu com os alunos sobre o que eles aprenderam no decorrer do projeto. Na ocasião, agradeceu a cada diretor escolar e a cada professor que contribuíram para a execução do projeto.

Ela acrescentou que o objetivo do tribunal em desenvolver esta ação é justamente a aproximação do Poder Judiciário à comunidade, especificamente às escolas, aos alunos, aos professores. “E a nossa ideia é colaborar com as unidades escolares para os alunos aprenderem as garantias de direitos, os deveres, levando informação de forma leve, acessível e construir uma sociedade solidária e justa, com acesso à educação, acesso à Justiça e à cidadania”, disse.

Projeto

Com a finalidade de levar conhecimentos sobre direitos, cidadania e o funcionamento do sistema de justiça para estudantes do ensino fundamental, o projeto foi executado em diversas escolas da capital acreana e do interior do Estado com as ações educativas.

Juízas, juízes, servidoras, servidores, voluntários da Rede de Proteção da Infância e Juventude realizaram palestras nas unidades escolares e ao fim, todos os estudantes foram convidados a participar de um concurso de redação sobre o que entenderam das atividades.

A primeira escola visitada foi a São José. Nela, o diretor do Foro da Comarca de Cruzeiro do Sul, juiz de Direito Erik Fahat compartilhou que o conhecimento adquirido pelos alunos será levado para sempre.

A aluna Dafnny Victoria Costa foi a estudante que teve a melhor redação. Em seu texto, ela disserta sobre a missão do Poder Judiciário e disse feliz pela premiação. “Não esperava, mas estou muito feliz”, disse.

A diretora da Escola São José, Rosa Mônica, agradeceu ao TJAC pelo projeto e se colocou à disposição para receber outros projetos de incentivo aos alunos.

“Tenho certeza que esses alunos agora têm nova visão sobre a sociedade. Eles se dedicaram muito e adquiriram muito conhecimento”, comentou.

Após a visita à escola São José, a equipe se dirigiu ao município de Mâncio Lima, onde outros alunos foram agraciados com certificados e prêmios. Recebida pela juíza de Direito substituta Glaucia Gomes, e pelos diretores da Escola Padre Edson e da Escola Lauro Cavalcante, Tânia Maria e José Arcanjo, respectivamente, a desembargadora-coordenadora anunciou os alunos premiados.

“É um projeto de fundamental importância para a escola. Eu acredito que iniciativas como essas têm que se repetir. Porque a gente discutir essa questão de cidadania, de justiça com as nossas crianças é uma experiência que eles vão levar para o resto das suas vidas. Isso só contribui de forma significativa para a sua formação como bom cidadão”, salientou o diretor José Arcanjo.

Ysadora de Oliveira, da Escola Padre Edson, e Ana Luzia Lima, da Escola Lauro Cavalcante foram as que tiveram as melhores redações. Elas foram agraciadas com um tablete como oferecimento da Associação dos Magistrados do Acre.

O projeto Cidadania e Justiça na Escola, que chegou a sua 9ª edição promovendo a conscientização jurídica e cidadã entre os estudantes, despertando neles o senso de responsabilidade e o conhecimento sobre seus direitos e deveres, teve contribuições de parceria da Associação dos Magistrados do Acre, Ministério Público do Acre, OAB/AC, Defensoria Pública do Estado, além da Rede de Proteção da Infância e Juventude.

A agenda foi finalizada no município de Rodrigues Alves, na escola Pedro de Melo Correia, onde participaram também alunos da Escola Júlia Maria Santana. A melhor redação entre as duas escolas, foi da aluna Sophya Rodrigues, da Escola Julia Maria. Ela recebeu um telefone celular, doado pela Prefeitura de Rodrigues Alves.

Na ocasião, a juíza de Direito substituta Marilene Goulart, agradeceu aos alunos pela participação e empenho orientando a eles que a educação, o conhecimento, a expertise são fundamentais no processo de aprendizado. Participaram da solenidade, as diretoras as escolas Suelena da Silva e Cynthia Silva, além do prefeito, Jailson Amorim.

Os alunos e as escolas ganharam certificados de participação no projeto.

Continue lendo

MAIS LIDAS