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Como o genocídio destruiu o nosso mar | Conflito Israel-Palestina

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Em junho, vi o mar pela primeira vez desde o início da guerra, mas não foi um encontro feliz. O exército israelita tinha acabado de emitir uma ordem repentina de evacuação da área onde estávamos, por isso tivemos que fugir para a “área segura” da praia em az-Zawayda.

Na pressa de partir e morar, não levamos nada além dos documentos – nem roupa para trocar, nem cobertores para colocar no chão; sem panelas, panelas ou utensílios para cozinhar. Pagamos mais de US$ 100 por lonas plásticas para que pudéssemos montar uma barraca e tentar nos instalar, enquanto nos sentíamos expostos e vulneráveis.

As semanas seguintes que passamos na praia me fizeram odiar o mar. O que antes era um local de relaxamento e diversão tornou-se um local de tristeza, raiva e frustração, à medida que enfrentávamos a dura rotina da nossa vida na tenda. Cada dia era repleto de desespero, fome e doença. Percebi que este genocídio está destruindo não apenas vidas e corpos humanos, mas também tudo o que costumava nos trazer felicidade e alegria.

Quando a praia era um lugar divertido para se estar

Antes da guerra, eu costumava ir para o mar quando me sentia estressado por causa dos estudos, das provas ou do excesso de trabalho. Às vezes, eu caminhava à beira-mar às 7h, curtindo o chilrear dos pardais e ouvindo meus podcasts favoritos.

Também fui à praia depois do trabalho com meus colegas. Íamos a um restaurante à beira-mar e nos divertíamos muito lá. Foi um ótimo lugar para relaxar e aproveitar a brisa fresca.

As famílias também adoraram o mar. Ir à praia no fim de semana seria um assunto elaborado. As crianças ficavam animadas um dia antes de uma viagem à praia, arrumando seus equipamentos de natação e brinquedos de praia. Os pais preparavam cadeiras de praia, toalhas e muitas frutas e outros petiscos.

No dia da viagem, as famílias levantavam-se cedo para as orações do fajr e partiam o mais rápido possível em pequenos ônibus ou carros que alugavam. Quem chegasse cedo teria a oportunidade de ver os pescadores descarregando na praia o seu pescado: montes de douradas, sardinhas, salmonetes, entre outros.

Logo após chegarem, as famílias tomavam café da manhã na praia. O cardápio sempre incluía homus cremoso e falafel crocante, tomilho, azeite, azeitonas verdes, pão pita quente e chá fumegante. Essas comidas e bebidas são deliciosas, não importa onde sejam apreciadas. Mas havia algo de particularmente especial em saboreá-los olhando o mar, respirando o ar puro e ouvindo as ondas.

As crianças passavam a manhã brincando na água, empinando pipas e construindo castelos de areia, deixando a imaginação criar seus próprios mundinhos. Os pais brincavam com os filhos ou relaxavam nas cadeiras de praia.

Por volta do meio-dia, começariam os preparativos para o almoço. O cheiro de churrasco enchia a praia. Carne escaldante seria servida junto com saladas frescas feitas de tomate, cebola, pimentão verde e salsa. Enquanto isso, os vendedores tentavam os banhistas com milho grelhado e maçãs doces.

Em algum momento apareciam camelos e cavalos, oferecendo passeios para crianças e adultos. Haveria vôlei de praia, futebol, surf (se as ondas permitissem) e muita natação.

O dia na praia não terminaria ao pôr do sol. Ao anoitecer começava a música, o canto e a dança. Alguns pegavam tablas, batiam um ritmo e cantavam; outros tocavam suas músicas favoritas em seus telefones ou alto-falantes portáteis. Jovens e velhos se divertiam até meia-noite antes de voltar para casa para um banho rápido e uma noite de sono tranquila.

Um acampamento de desespero na costa

Quando chegamos à praia em az-Zawayda, não havia alegria alguma. Em vez disso, vimos rostos pálidos e enrugados, cheios de tristeza e desespero. A costa estava lotada, mas não com banhistas. Pessoas famintas e exaustas que perderam lares, entes queridos e esperança viviam em tendas em condições desumanas. Não houve risos e música, houve apenas tristeza e luto. Ficou claro que a guerra genocida ceifou não apenas vidas, mas também o próprio espírito do povo.

Sob o sol escaldante do verão, havia pouco alívio do calor. Algumas pessoas sentavam-se no mar esperando se refrescar. Aqueles acampados em tendas voltadas diretamente para o sol corriam maior risco de exaustão pelo calor e insolação.

A praia não possuía quase nenhuma infraestrutura para sustentar os milhares de pessoas acampadas nela. Havia banheiros improvisados ​​que quase não ofereciam privacidade e que irradiavam mau cheiro, especialmente à noite. Era difícil encontrar água doce e tínhamos que caminhar longas distâncias para conseguir apenas um galão. Doenças, incluindo diarreia, hepatite e gripe, eram galopantes – e também pragas como moscas e escorpiões. Todo o lugar estava coberto de lixo.

Os restaurantes foram substituídos por vendedores em barracas improvisadas, vendendo falafel, café e chá ou pão a preços quatro a cinco vezes mais elevados do que antes da guerra.

Podíamos ver pescadores, determinados a sustentar as suas famílias famintas, a enfrentar o mar e o fogo das canhoneiras e dos soldados israelitas, mas regressavam com muito pouca pesca nas águas pouco profundas.

Passámos duas semanas nesta praia de desespero, partilhando a miséria dos outros residentes deslocados.

Um mar frio e impiedoso

Saí da praia, mas meus pensamentos permaneceram com as pessoas que conheci lá. À medida que o inverno se aproxima, fico pensando na nova onda de miséria que os deslocados daquela praia enfrentarão.

O calor do verão, as doenças e os insetos serão substituídos pelas doenças e sofrimentos do inverno. Nem mesmo os remédios ou vitaminas mais simples estão disponíveis para ajudar a curar resfriados ou gripes, o que pode ser uma sentença de morte para os exaustos e famintos.

As tendas improvisadas onde muitas pessoas vivem não as protegerão dos ventos gelados e das fortes chuvas. As noites trazem um frio devastador que penetra nas poucas roupas que as pessoas têm, deixando muitos, especialmente recém-nascidos e crianças pequenas, vulneráveis ​​à hipotermia. O aquecimento é incrivelmente caro; quase não se encontra gás, enquanto a madeira está disponível, mas ao preço de US$ 9 o quilograma (duas libras).

Já se passaram quatro meses desde que saímos da praia do desespero. Mas ainda me lembro do som do mar. As ondas batiam com fúria na praia, o vento soprava mas não trazia alívio. Quase parecia que o mar também se voltara contra nós.

As opiniões expressas neste artigo são do próprio autor e não refletem necessariamente a posição editorial da Al Jazeera.



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Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação da Ufac realizou a solenidade de abertura da 3ª Jornada das Profissões. O evento ocorreu nesta sexta-feira, 26, no Teatro Universitário, campus-sede, e reuniu estudantes do ensino médio de escolas públicas e privadas do Estado, com o objetivo de aproximá-los da universidade e auxiliá-los na escolha de uma carreira. A abertura contou com apresentação cultural do palhaço Microbinho e exibição do vídeo institucional da Ufac.

A programação prevê a participação de cerca de 3 mil alunos durante todo o dia, vindos de 20 escolas, entre elas o Ifac e o Colégio de Aplicação da Ufac. Ao longo da jornada, os jovens conhecem os 53 cursos de graduação da instituição, além de laboratórios, espaços culturais e de pesquisa, como o Museu de Paleontologia, o Parque Zoobotânico e o Complexo da Medicina Veterinária.


Na abertura, a reitora Guida Aquino destacou a importância do encontro para os estudantes e para a instituição. Segundo ela, a energia da juventude renova o compromisso da universidade com sua missão. “Vocês são a razão de existir dessa universidade”, disse. “Tenho certeza de que muitos dos que estão aqui hoje ingressarão em 2026 na Ufac. Aproveitem este momento, conheçam os cursos e escolham aquilo que os fará felizes.”

A reitora também ressaltou a trajetória do evento, que chega à 3ª edição consolidado, e agradeceu as parcerias institucionais que possibilitam sua realização, como a Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE) e a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM). “Sozinho ninguém faz nada, mas juntos somos mais fortes; é assim que a Ufac tem crescido, firmando-se como referência no ensino superior da Amazônia”, afirmou.
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, explicou a proposta da jornada e o esforço coletivo envolvido na organização. “Nosso objetivo é mostrar os cursos de graduação da Ufac e ajudar esses jovens a identificarem áreas de afinidade que possam orientar suas escolhas profissionais. Muitos acreditam que a universidade é paga, então esse é também um momento de reforçar que se trata de uma instituição pública e gratuita.”

Entre os estudantes presentes estava Ana Luiza Souza de Oliveira, do 3º ano da Escola Boa União, que participou pela primeira vez da jornada. Ela contou estar animada com a experiência. “Quero ver de perto como funcionam as profissões, entender melhor cada uma. Tenho vontade de fazer Psicologia, mas também penso em Enfermagem. É uma oportunidade para tirar dúvidas.”


Também compuseram o dispositivo de honra o pró-reitor de Planejamento, Alexandre Hid; o pró-reitor de Administração, Tone Eli da Silva Roca; o presidente da FEM, Minoru Kinpara; além de diretores da universidade e representantes da SEE.



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Enanpoll — Universidade Federal do Acre

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publicado:
26/09/2025 14h57,


última modificação:
26/09/2025 14h58

1 a 3 de outubro de 2025



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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.

“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”

Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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