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Direito a voto a negros era informalmente vedado até 1985 – 17/11/2024 – Poder

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Matheus Tupina, Priscila Camazano

Eleitores negros tiveram seu direito de votar e serem votados historicamente negado até 1985, ano que marcou a redemocratização, apesar das regras existentes não explicitarem uma exclusão deste segmento da sociedade nos pleitos.

O principal mecanismo para a supressão deste grupo era o impedimento a analfabetos, existente até a transição para a atual Constituição. Ainda houve outros instrumentos, como a exclusão de pessoas em situação de rua, além do voto censitário no Império, que definia pela renda quem poderia ir às urnas.

A marginalização do eleitorado negro também atrapalhava candidaturas que representavam esse segmento, que tinham dificuldades para serem registradas, e caso eleitos, de conseguir a diplomação e tomar posse.

A maioria dos textos constitucionais brasileiros não possuía nenhuma restrição expressa ao direito de votar e ser votado por critérios étnico-raciais. Há, inclusive, casos excepcionais de ascensão política de pessoas negras em diferentes contextos históricos do país.

No Império, foi eleito Antônio Pereira Rebouças, o primeiro deputado negro do Brasil. Ele se declarava pardo e conseguiu o cargo pela primeira vez em 1828. Em 1909, Monteiro Lopes foi o primeiro congressista preto da República, mas que só foi empossado após articulação da sociedade por sua diplomação.

Petrônio Domingues, professor de história da Ufes (Universidade Federal de Sergipe), se dedicou a pesquisar a trajetória de Monteiro Lopes. Ele cita o deputado como um exemplo das dificuldades históricas de pessoas pretas e pardas em ingressar no cotidiano da política institucional brasileira.

“A legislação não impedia as pessoas das classes populares de se candidatarem, mas, na prática, era impossível elas serem reconhecidas”, afirmou.

Lopes se candidatou para o cargo de intendente –correspondente ao cargo de vereador– e se elegeu em 1903. Segundo Domingues, era alvo de racismo por colegas do Legislativo.

Foi candidato à Câmara dos Deputados, e elegeu-se na segunda tentativa. Foi então que se tornou tema dos jornais. “Ele foi sufragado nas urnas, mas ficou aquela interrogação se seria reconhecido pela comissão de verificação, responsável por homologar ou não o resultado”, afirma o pesquisador.

Segundo o historiador, Monteiro Lopes iniciou uma campanha nacional mobilizando a sua base: os trabalhadores, a população negra, as associações beneficentes, e a população da zona portuária do Rio de Janeiro. “No final, ele foi reconhecido e a imprensa deu também ampla repercussão”, afirma Petrônio.

O político assumiu a vaga na Câmara em 1909, mas ficou pouco tempo no cargo, pois morreu em 1910.

No mesmo contexto chegou ao cargo máximo do país Nilo Peçanha, que assumiu a Presidência após a morte do titular Afonso Pena. O político sofreu ofensas racistas frequentes ao longo de sua vida pública e evitava falar sobre a cor da sua pele.

“É uma figura importante por mostrar esse mascaramento, ou seja, a tentativa de não parecer negro, que foi típico do mulato aqui no Brasil. A imprensa o ridicularizava”, diz Muniz Sodré, professor emérito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em entrevista para a Folha.

Estes exemplos tornaram-se realidade apesar dos sistemas políticos existentes. A Constituição de 1824, a primeira do Brasil e a única do Império, tinha como método formal de restrição dos direitos políticos a renda, que precisava ser alta para os padrões à época para poder acessar a urna e para candidatar-se.

O texto ainda impedia os escravizados libertos de participarem politicamente, mas não os ingênuos —filhos livres nascidos de uma mãe escravizada após a Lei do Ventre Livre—, o que gerou uma série de discussões sobre o acesso ao direito de representar e ser representado por este grupo.

Antes mesmo de inaugurar a primeira República, a Câmara e o Senado aprovaram em 1881 a Lei Saraiva, exigindo o letramento para a representação política. Ruy Barbosa, autor do projeto de lei, afirmava que escravizados, mendigos e analfabetos não deveriam votar por não saber identificar o bem comum.

Esses bloqueios afetavam majoritariamente a população negra, que não foi integrada à sociedade após a escravidão devido à ausência de reformas de Estado que os inserissem na lógica produtiva brasileira, o que os deixou em situação de rua e sem escolarização.

Domingues reiterou a importância do impedimento a analfabetos como fator que excluía a população negra da vida política nacional.

“O atraso da população negra em votar e ser votada tem a ver com a legislação eleitoral que impedia os analfabetos de votar. A concepção elitista dos legisladores brasileiros que associavam pessoas ‘conscientes’ e ‘com discernimento político’ à alfabetização.”

Apenas em 1985 foi aprovada uma proposta de emenda à Constituição de 1967, em vigor à época, autorizando o voto dos que não sabiam ler ou escrever.

Luana Barbosa, mestre e doutoranda em ciência política pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), argumenta que estes impedimentos sociais, que barraram os direitos políticos da população negra, eram justificados pelo mito da democracia racial.

Ela vê a democracia como um instrumento capaz de subverter as lógicas políticas e sociais existentes, e diz que o período atual conseguiu manter pessoas pretas e pardas com algum grau de representação por meio da sociedade civil.

Essa lógica se repete com as candidaturas negras, que desafiam o contexto atual, de maioria branca na política. “As pessoas negras são maioria no país, e a coletivização de candidaturas, os líderes de bairro e a sociedade civil garantiram a representação deste grupo.”



Leia Mais: Folha

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Adolescente que perdeu família em tragédia doa R$ 1 milhão para outras vítimas; ganhou em vaquinha

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Barby, essa idosa da Inglaterra, já resgatou mais de 10 mil animais e venceu 3 vezes o câncer. - Foto: Barby Keel

Transformar a dor em solidariedade. Após perder parte da família em um ataque trágico durante um festival cultural, esse adolescente doou aproximadamente R$ 1 milhão (US$ 266 mil), a maior parte do valor arrecadado na vaquinha feita para ele no GoFundMe. Os beneficiados são justamente outras vítimas do mesmo ataque.

A vida de Andy Le, de 16 anos, dos Estados Unidos, mudou da noite para o dia. A tragédia aconteceu durante o festival Lapu Lapu Day, no dia 26 de abril, quando um motorista jogou um SUV contra uma multidão no Canadá.

A vaquinha online foi criada para ajudar Andy, que perdeu o pai, a irmã e a madrasta. Emocionado, o jovem agradeceu as doações em um vídeo postado na internet e disse que queria compartilhar a ajuda que recebeu com outras famílias que também sofreram. Olha que ser humano!

Dor de um sobrevivente

Andy, além de perder três pessoas da família, precisou lidar com a comoção pública em torno do caso.

Segundo Toan Le, tio do adolescente, “a vida de Andy virou do avesso”, disse em entrevista ao National Post.

Mas mesmo em meio à dificuldade de recomeçar, ele encontrou forças, e ainda mostrou uma empatia incrível.

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Do luto à generosidade

A página criada no GoFundMe arrecadou mais de US$ 392 mil (aproximadamente R$ 2 milhões).

Mesmo com a campanha focada em ajudar Andy com os custos do funeral da família e a educação dele, o jovem surpreendeu a todos ao doar parte do valor, US$ 266 mil, para outras vítimas.

“Gostaria de agradecer a todos que doaram para minha campanha no GoFundMe e, do fundo do meu coração, muito obrigado a todos… Eu realmente aprecio cada um de vocês e sei que muitas outras famílias também estão sofrendo, e é por isso que gostaria de doar US$ 266.000 para outras vítimas da minha campanha no GoFundMe”, disse Andy em um vídeo postado no YouTube.

Morar com os avós

O garoto contou ainda que vai morar com os avós, que ajudaram a criar o menino.

O governo da Colúmbia Britânica declarou 2 de maio como o dia oficial de luto pelas vítimas do ataque.

A polícia prendeu Kai-Ji Adam Lo, de 30 anos, e o acusou de oito homicídios em segundo grau.

Veja o vídeo de agradecimento do garoto:

Andy perdeu Richard Le (47), a companheira dele Linh Hoang (30) e a pequena Katie Le, de 5 anos. - Foto: Arquivo pessoal Andy perdeu Richard Le (47), a companheira dele Linh Hoang (30) e a pequena Katie Le, de 5 anos no ataque. – Foto: Arquivo pessoal



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Mulheres que viajam sozinhas terão desconto de 15% em hotéis do Brasil; veja lista

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Ney Matogrosso será enredo para o carnaval 2026 da Imperatriz Leopoldinense. O anúncio foi feito em vídeo nas redes. - Foto: O Dia

Mulheres ganham incentivo para viajar. Elas terão desconto de 15% em vários hotéis do Brasil se viajarem sozinhas. A ideia é estimular o turismo, com segurança, a partir de um acordo do Ministério do Turismo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional).

O benefício é aplicável a diárias na categoria “single” em hotéis participantes. Para usufruir do desconto, a mulher deve apenas, no momento da reserva, informar que está viajando sozinha.⁠

A iniciativa inédita traz a tarifa promocional aplicada nos hotéis da rede associada à ABIH que aderirem à campanha. A campanha é válida, inclusive durante grandes eventos ou feriados.

De onde vem o dinheiro

A campanha vai até março de 2026.

O Fungetur é um instrumento de financiamento vinculado ao Ministério do Turismo que proporciona a empreendedores privados acessar até R$ 15 milhões, com juros de até 5%, mais o INPC anual e até 5 anos de carência.

Para acessar o benefício, é necessário registro no Cadastur, que permite ao prestador de serviços turísticos atuar legalmente no setor.

Confira aqui a lista de hotéis que vão dar descontos.

A inscrição é obrigatória para meios de hospedagem, agências de turismo, transportadoras turísticas, organizadoras de eventos, parques temáticos, acampamentos turísticos e guias de turismo-MEI (Microempreendedor Individual).

Outras atividades podem ter o cadastro em caráter opcional, segundo Ministério do Turismo.

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Incentivos às empresárias

As empresárias, por sua vez, terão também benefícios.

Elas poderão suspender por até seis meses os pagamentos de financiamentos já realizados e terão até seis meses para pagamento da primeira parcela de novos empréstimos.

O acesso facilitado ao crédito poderá ajudar as mulheres empreendedoras a conciliar a maternidade com a carreira profissional, ampliando suas oportunidades de crescimento no mercado.

Confira aqui a lista Agentes Financeiros participantes.

Mulheres que queiram viajar sozinhos no Brasil terão um desconto de 15% em vários hotéis, a lista pode ser vista aqui no Só Notícia Boa. Aproveite! Vai até março de 2026 a campanha. Foto: Freepik Mulheres que queiram viajar sozinhas no Brasil terão um desconto de 15% em vários hotéis, a lista pode ser vista aqui no Só Notícia Boa. Aproveite! Vai até março de 2026 a campanha. Foto: Freepik



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Papamóvel de Francisco vai virar clínica para atender crianças de Gaza; último desejo do papa

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Barby, essa idosa da Inglaterra, já resgatou mais de 10 mil animais e venceu 3 vezes o câncer. - Foto: Barby Keel

O legado de compaixão do Papa Francisco segue surpreendendo o mundo. O papamóvel, usado por ele em tantas viagens ao redor do mundo, agora vai ganhar um novo destino: vai ser transformado em uma unidade móvel de saúde para atender crianças na Faixa de Gaza.

A iniciativa foi revelada pelo Vaticano no dia 4 de maio e, segundo a nota oficial, era o último desejo do pontífice. O veículo vai ser todo equipado com suprimentos de primeiros-socorros e deve percorrer os cantos mais isolados da Faixa de Gaza, num ato para levar fé e esperança às famílias atingidas pela guerra.

“Com o veículo, podemos alcançar crianças que hoje não têm acesso a cuidados de saúde, crianças feridas e desnutridas. Esta é uma intervenção concreta e capaz de salvar vidas num momento em que o sistema de saúde em Gaza entrou em colapso quase total”, disse Peter Brune, secretário-geral da Caritas Suécia.

O pedido do papa

Nos últimos meses de vida, o Papa Francisco expressou o desejo de ajudar as crianças de Gaza.

Ele confiou a missão à Caritas Jerusalém, uma organização que atua na região.

Hoje, quase um milhão de crianças estão deslocadas em Gaza. Para elas, o papamóvel representa uma chance de cura.

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Clínica sobre rodas

O antigo veículo do Papa vai ser equipado com itens essenciais de saúde: testes rápidos, vacinas, kits de sutura, antibióticos, instrumentos de exames e outros suprimentos médicos.

Além disso, o automóvel vai levar médicos e paramédicos até as pessoas que necessitam.

Em vida, o Papa Francisco costumava dizer que “crianças não são números. São rostos, nomes, histórias. E cada uma delas é sagrada”.

Como último presente, ele transformou as palavras em ação.

Nunca esquecer

O papamóvel adaptado representa um gesto de humanidade, segundo o secretário da Caritas.

“Este veículo representa o amor, o cuidado e a proximidade demonstrados por Sua Santidade pelos mais vulneráveis, que ele expressou durante toda a crise”, contou Anton.

Para Brune, o automóvel “não é apenas um veículo. É uma mensagem de que o mundo não se esqueceu das crianças em Gaza.”

O carro vai ser equipado com suprimentos médicos e deve chegar aos lugares remotos de Gaza. - Foto: Vatican News O carro vai ser equipado com suprimentos médicos e deve chegar aos lugares remotos de Gaza. – Foto: Vatican News



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