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DNA leva à identificação de vítima canibalizada no Ártico – 12/10/2024 – Ciência

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Alexander Nazaryan

Em 1845, sir John Franklin e sua tripulação de 128 homens deixaram a Inglaterra em busca da Passagem Noroeste. E lá, na implacável extensão do Ártico canadense, eles morreram. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu.

Agora, com a ajuda de um sofisticado método de correspondência de DNA, pesquisadores identificaram os restos mortais do capitão James Fitzjames, o terceiro oficial de maior patente da expedição. Ele morreu em 1848 quando, com outros membros da tripulação, tentava escapar do gelo.

Trata-se da segunda pessoa a ser identificada da expedição e do primeiro membro da tripulação definitivamente conhecido por ter sido vítima de canibalismo.

Restos mortais e artefatos da viagem estão espalhados pela ilha do Rei Guilherme e pela península de Adelaide, no Canadá. Cada pista desenterrada leva a um renovado fascínio por um desastre que capturou a imaginação do século 19.

“Cada nova descoberta fecha um capítulo e abre uma nova página”, disse o arqueólogo Douglas Stenton, da Universidade de Waterloo. Ele publicou suas descobertas no mês passado no Journal of Archaeological Science.

Stenton e sua equipe identificaram Fitzjames combinando o DNA de um de seus descendentes diretos com um dente deixado para trás na ilha, onde o capitão e uma dúzia de outros se abrigaram após fugirem de dois navios presos no gelo.

Em 2021, os pesquisadores identificaram o suboficial John Gregory recorrendo ao mesmo método. “Embora os restos que estudamos nos sítios arqueológicos tenham sido expostos por mais de um século, havia DNA suficiente preservado para nos permitir estabelecer informações básicas para comparação”, afirmou o pesquisador.



Foi uma anomalia o que aconteceu com essa expedição. Foi o pior desastre de exploração na história do Ártico

No caso de Fitzjames, os pesquisadores contaram com a sorte de dispor de um osso da mandíbula com dentes, porque o DNA nas raízes dentárias tende a ser especialmente bem preservado.

O capitão deixou a última mensagem escrita conhecida da expedição Franklin, na qual se anunciava que 24 pessoas haviam morrido e que a tripulação sobrevivente estava abandonando os navios após passar 19 meses presa no gelo.

O que aconteceu nos meses que se seguiram permanece um mistério. Mas o consumo de carne humana parece ter sido parte da sombria realidade da tripulação. Povos locais contaram ao explorador John Rae que se depararam com evidências de profanação. Quando a notícia sobre canibalismo chegou ao público inglês em 1854, Rae foi denunciado pelo romancista Charles Dickens a pedido da viúva de Franklin.

Marcas de corte na mandíbula de Fitzjames indicam um desmembramento pós-morte, provavelmente com uma faca, de acordo com Stenton. Dos 13 restos distintos encontrados no local na ilha do Rei Guilherme, 4 guardam sinais de canibalismo.

“O assunto do canibalismo dominou o pensamento de algumas pessoas sobre o que aconteceu”, disse Stenton. Assim como a caravana Donner, que pereceu na Sierra Nevada, na Califórnia, quase exatamente na mesma época, a expedição Franklin ficou conhecida sobretudo por seu final macabro.

Os navios de Franklin, HMS Erebus e Terror, foram descobertos em 2014 e 2016, porém muito permanece desconhecido, sobretudo sobre o que causou a morte dos homens apesar de sua longa experiência e preparação.

Em um artigo anterior, Stenton e um colega calcularam que a taxa de mortalidade para a próxima expedição britânica mais mortal ao Ártico, liderada por sir Richard Collinson e com duração de mais de cinco anos, era de apenas cerca de 11%.

“Foi uma anomalia o que aconteceu com essa expedição”, disse Ken McGoogan, explorador que escreveu seis livros sobre o Ártico. “Foi o pior desastre de exploração na história do Ártico.”

McGoogan diz acreditar que os homens sucumbiram à triquinose, uma infecção parasitária, após comer carne de urso polar insuficientemente cozida. Stenton não está convencido disso. Outros sugeriram envenenamento por chumbo. “Há tantas coisas que poderiam ter contribuído para isso”, disse o pesquisador.

O destino da expedição Franklin foi popularizado pelo romance de 2007 de Dan Simmons, “O Terror”, no qual a tripulação é perseguida por uma fera sedenta de sangue. Nas primeiras páginas, Fitzjames é chamado por um rival de poodle de estimação de Franklin. Em 2018, a AMC transformou “O Terror” em uma minissérie de sucesso.

A holandesa Fabienne Tetteroo ficou fascinada pelo capitão depois de assistir ao programa. Decidida a reabilitar a reputação do explorador, ela começou a trabalhar em sua pós-graduação em história naval e está escrevendo uma biografia sobre ele.

Tetteroo usou um livro de 1924, “A História dos Gambiers”, para localizar um descendente vivo da vítima: um comerciante britânico de móveis chamado Nigel Gambier, que tem uma linhagem ininterrupta até Fitzjames pelo lado de seu pai.

No ano passado, ela compartilhou a descoberta com Stenton, que fez um teste de DNA em Gambier e o comparou com o material genético do dente de Fitzjames.

“Sinto muito que ele tenha tido um final tão difícil”, disse Gambier a uma agência de notícias canadense, referindo-se ao seu primo distante.



Leia Mais: Folha

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.

“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”

Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, recebeu, nessa segunda-feira, 22, no gabinete da Reitoria, integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Representando a liderança da entidade, esteve presente Letícia Holanda, responsável pelas relações institucionais. O encontro teve como foco a apresentação da agenda da UNE, que reúne propostas para o Congresso Nacional com a meta de ampliar os recursos destinados à educação na Lei Orçamentária Anual de 2026.

Entre as prioridades estão a recomposição orçamentária, o fortalecimento de políticas de permanência estudantil e o incentivo a novos investimentos. A iniciativa também busca articular essas demandas a pautas nacionais, como a efetivação do Plano Nacional de Educação, a destinação de 10% do PIB para a área e o uso de royalties do petróleo em medidas de justiça social.

“Estamos vivenciando um momento árduo, que pede coragem e compatibilidade. Viemos mostrar o que a UNE propõe para este novo ciclo, com foco em avançar cada vez mais nas políticas de permanência e assistência estudantil”, disse Letícia Holanda. Ela também destacou a importância da regulamentação da Política Nacional de Assistência Estudantil, entre outras medidas, que, segundo a dirigente, precisam sair do papel e se traduzir em melhorias concretas no cotidiano das universidades.

Para o vice-presidente da UNE-AC, Rubisclei Júnior, a prioridade local é garantir a recomposição orçamentária das universidades. “Aqui no Acre, a universidade hoje só sobrevive graças às emendas. Isso é uma realidade”, afirmou, defendendo que o Ministério da Educação e o governo federal retomem o financiamento direto para assegurar mais bolsas e melhor infraestrutura.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno; o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Isaac Dayan Bastos da Silva; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarina Lima de Carvalho; o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; representantes dos centros acadêmicos: Adsson Fernando da Silva Sousa (CA de Geografia); Raissa Brasil Tojal (CA de História); e Thais Gabriela Lebre de Souza (CA de Letras/Português).

 

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Tomaz Silva / Agência Brasil

Pode não parecer, mas as infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro não se limitam só aos motoristas de carros e motos — na verdade, as normas incluem também a conduta dos ciclistas. Mesmo assim, a aplicação das penalidades ainda gera dúvidas.

Nem todos sabem, mas o Código de Trânsito Brasileiro (CBT) descreve situações específicas em que ciclistas podem ser autuados, como pedalar em locais proibidos — o artigo 255 do CTB, por exemplo, diz que conduzir bicicleta em passeios sem permissão ou de forma agressiva configura infração média, com multa de R$ 130,16 e possibilidade de remoção da bicicleta.

Já o artigo 244 amplia as situações de infração para “ciclos”, nome dado à categoria que inclui bicicletas. Entre os exemplos estão transportar crianças sem segurança adequada, circular em vias de trânsito rápido e carregar passageiros fora do assento correto. Em casos mais graves, como manobras arriscadas ou malabarismos, a penalidade prevista é multa de R$ 293,47.

De fato, o CTB prevê punições para estas condutas, mas o mais curioso é que a aplicação dessas regras não está em vigor. Isso porque a Resolução 706/17, que estabelecia os procedimentos de autuação de ciclistas e pedestres, foi revogada pela norma 772/19.

Em outras palavras, estas infrações existem e, mesmo que um ciclista cometa alguma delas, não há hoje um mecanismo legal que permita a cobrança da multa.




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